domingo, 21 de março de 2004
CADERNOS DA GRAVURA (5)
Ainda a multiplicação de imagens.
Num determinado sentido, a coisa gravada desloca-se originalmente do âmbito do objecto estético para ser antes e apenas presença testemunhal. E embora possamos encontrar alguma representação do mundo, não temos relação com nenhum sistema de representação. Só muito mais tarde, o objecto gravado se poderá enquadrar no universo dos objectos estéticos representativos. De início, tem apenas valor simbólico. Há, na sua origem uma espécie de incompatibilidade “fisiológica” com o objecto artístico. A coisa gravada é usada para marcar o lugar mas sem ostentar “vontade artística” no sentido em que Riegl usou este termo. E, como Panofsky observaria mais tarde, a existência de Kunstwollen obriga à criação de sistemas de representação. É interessante também reflectir sobre o carácter determinantemente simbólico da visão psicofisiológica primária, anterior ao desenvolvimento da representação artificial. E, se é verdade que os sistemas de representação artificial do mundo, descrições ao serviço de uma eventual narrativa, inventam um universo normalizado e matemático, também é verdade que este processo nega a visão esferóide e, embora creditando novos conceitos (infinitude, valoração homogénea, quantum continuum), pode ser lido como um processo funcional que, embora não destituído de relação com a aptidão original, de alguma forma a subjuga a um mecanismo normativo.
Podemos encontrar na história do múltiplo dois momentos que se comportam como parentes afastados. Antes de mais, a marcação simbólica do lugar é muito anterior à vontade descritiva do mesmo. E, num primeiro momento, o múltiplo, por transposição (por decalque) apodera-se do carácter simbólico do lugar e provoca a sua “mobilidade” imaginária. Num segundo momento, a descrição ou narrativa do lugar (e aqui o lugar considerado como fenómeno histórico) ganha protagonismo. Esse protagonismo existe até préviamente na marcação histórico-cronológica do lugar enquanto suporte de uma narrativa exterior. Mas, por outro lado, a descrição do lugar suscita a formação de um suporte outro e situa-se no contexto da réplica.
Num determinado sentido, a coisa gravada desloca-se originalmente do âmbito do objecto estético para ser antes e apenas presença testemunhal. E embora possamos encontrar alguma representação do mundo, não temos relação com nenhum sistema de representação. Só muito mais tarde, o objecto gravado se poderá enquadrar no universo dos objectos estéticos representativos. De início, tem apenas valor simbólico. Há, na sua origem uma espécie de incompatibilidade “fisiológica” com o objecto artístico. A coisa gravada é usada para marcar o lugar mas sem ostentar “vontade artística” no sentido em que Riegl usou este termo. E, como Panofsky observaria mais tarde, a existência de Kunstwollen obriga à criação de sistemas de representação. É interessante também reflectir sobre o carácter determinantemente simbólico da visão psicofisiológica primária, anterior ao desenvolvimento da representação artificial. E, se é verdade que os sistemas de representação artificial do mundo, descrições ao serviço de uma eventual narrativa, inventam um universo normalizado e matemático, também é verdade que este processo nega a visão esferóide e, embora creditando novos conceitos (infinitude, valoração homogénea, quantum continuum), pode ser lido como um processo funcional que, embora não destituído de relação com a aptidão original, de alguma forma a subjuga a um mecanismo normativo.
Podemos encontrar na história do múltiplo dois momentos que se comportam como parentes afastados. Antes de mais, a marcação simbólica do lugar é muito anterior à vontade descritiva do mesmo. E, num primeiro momento, o múltiplo, por transposição (por decalque) apodera-se do carácter simbólico do lugar e provoca a sua “mobilidade” imaginária. Num segundo momento, a descrição ou narrativa do lugar (e aqui o lugar considerado como fenómeno histórico) ganha protagonismo. Esse protagonismo existe até préviamente na marcação histórico-cronológica do lugar enquanto suporte de uma narrativa exterior. Mas, por outro lado, a descrição do lugar suscita a formação de um suporte outro e situa-se no contexto da réplica.