quarta-feira, 21 de abril de 2004
Ainda R. Rorty
O contrário da ironia é o senso comum, já que este é o suporte dos que, sem autoconsciência, descrevem tudo o que é importante nos termos do vocabulário final ao qual eles e os que os rodeiam estão habituados. Ser de senso comum é partir do princípio que enunciados formulados nesse vocabulário final bastam para descrever e julgar as crenças, acções e vidas dos que empregam vocabulários finais alternativos. (...)
Quando o senso comum é posto em causa, os seus adeptos começam por responder generalizando e tornando explícitas as regras do jogo de linguagem que estão habituados a jogar (tal como alguns sofistas gregos fizeram e tal como Aristóteles fez nos seus textos éticos). Mas se nenhum truísmo formulado no vocabulário antigo for suficiente para enfrentar um desafio argumentativo, a necessidade de responder produzirá uma vontade de ir além dos truísmos. Nesse ponto, a conversa pode assumir um carácter socrático.(Contingency, Irony and Solidarity, Cambridge University Press, 1989).
Não é justamente esta a medida da distância que, hoje, nos impossibilita de "conversar" com o mundo islâmico (releia-se a carta de intenções publicada na Al-Quds al-'Arabi no dia 23 de Fevereiro de 1998 e aqui reproduzida no passado sábado, 17)?
E, ainda a propósito, lembro aqui aquela frase determinante de António Sérgio no prefácio da sua tradução de Os Problemas da Filosofia de Bertrand Russell (Almedina, Coimbra, 2001): A filosofia é, em não pequena parte, a luta do bom-senso contra o senso comum.
O contrário da ironia é o senso comum, já que este é o suporte dos que, sem autoconsciência, descrevem tudo o que é importante nos termos do vocabulário final ao qual eles e os que os rodeiam estão habituados. Ser de senso comum é partir do princípio que enunciados formulados nesse vocabulário final bastam para descrever e julgar as crenças, acções e vidas dos que empregam vocabulários finais alternativos. (...)
Quando o senso comum é posto em causa, os seus adeptos começam por responder generalizando e tornando explícitas as regras do jogo de linguagem que estão habituados a jogar (tal como alguns sofistas gregos fizeram e tal como Aristóteles fez nos seus textos éticos). Mas se nenhum truísmo formulado no vocabulário antigo for suficiente para enfrentar um desafio argumentativo, a necessidade de responder produzirá uma vontade de ir além dos truísmos. Nesse ponto, a conversa pode assumir um carácter socrático.(Contingency, Irony and Solidarity, Cambridge University Press, 1989).
Não é justamente esta a medida da distância que, hoje, nos impossibilita de "conversar" com o mundo islâmico (releia-se a carta de intenções publicada na Al-Quds al-'Arabi no dia 23 de Fevereiro de 1998 e aqui reproduzida no passado sábado, 17)?
E, ainda a propósito, lembro aqui aquela frase determinante de António Sérgio no prefácio da sua tradução de Os Problemas da Filosofia de Bertrand Russell (Almedina, Coimbra, 2001): A filosofia é, em não pequena parte, a luta do bom-senso contra o senso comum.