terça-feira, 19 de outubro de 2004
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A CELEBRIDADE DO LIXO
De um lado, o secreto desejo sádico de ver as “celebridades” na pocilga a comer “lavagem”, algo de obviamente muito popular. Humilhar os ricos e poderosos, mesmo que seja apenas os pobres diabos que em Portugal passam por “celebridades”, é um desporto popular e com sucesso garantido. Do outro lado, a ganância de encontrar o ouro da manutenção da fama fútil, mesmo catando no lixo. Tudo bem. São sentimentos normais numa sociedade em que a pocilga ainda está fresca na memória de uma geração atrás, ou ainda está ao lado da casa de muita gente. A fome ainda é demasiado ancestral, para ser esquecida e a pocilga como expiação, está bem para aquelas “celebridades”, e é uma cena clássica da pornografia hard.
Transcrevo para aqui um dos mais notáveis textos de JPP dos últimos tempos, sobre a quinta das "celebridades", radiografia cortante do país que vamos sendo:
A CELEBRIDADE DO LIXO
De um lado, o secreto desejo sádico de ver as “celebridades” na pocilga a comer “lavagem”, algo de obviamente muito popular. Humilhar os ricos e poderosos, mesmo que seja apenas os pobres diabos que em Portugal passam por “celebridades”, é um desporto popular e com sucesso garantido. Do outro lado, a ganância de encontrar o ouro da manutenção da fama fútil, mesmo catando no lixo. Tudo bem. São sentimentos normais numa sociedade em que a pocilga ainda está fresca na memória de uma geração atrás, ou ainda está ao lado da casa de muita gente. A fome ainda é demasiado ancestral, para ser esquecida e a pocilga como expiação, está bem para aquelas “celebridades”, e é uma cena clássica da pornografia hard.
Eu ia mais longe e tenho uma pequena sugestão para a TVI. Num acto de magnifica justiça social e sanidade pública, podia-se levar a coisa até ao fim e deixa-los lá eternamente presos, deitar a chave da quinta ao mar alto, rodear aquilo de arame farpado e minas e armadilhas, e explicar-lhes que afinal o filme era outro e que tinham ido ao engano para a Twilight Zone. Dava-lhes uns exemplares do Huis Clos de Sartre e dizia-lhe que afinal estavam era no Inferno. O Inferno “somos nós” ou seja, são eles.
Então é que o espectáculo devia valer a pena, daqui a um ano ou dois, quando os piolhos, as unhas gretadas, a sujidade, os cabelos colados, todos os restos de cosmética e dos liftings a desagregar-se, as borbulhas e a urticária instaladas, talvez sarna e outras doenças dos pobres a aparecerem, as hormonas aos saltos ou aos saltinhos, dependendo das personagens, o homem do Marco aos murros, e acima de tudo, ó Dante, a falta de esperança de alguma vez sairem de lá. Então, as faces visíveis das “celebridades” seriam iguais ao que elas são por dentro, e o espectáculo começava verdadeiramente. A pocilga passava então de ser um nojo para uma necessidade, as batatas a terem que ser rateadas, e as cenas do Zé Maria com as galinhas a parecerem uma amável diversão campestre face ao parto das vacas e à limpeza das latrinas.
A TVI que pense nisso, mas que não se esqueça de impedir o dr. Portas de ir lá com os tanques buscar a “supertia”. O ministro foi publicamente a um bar desejar felicidades à “supertia” antes da ida para a quinta, num gesto de subtil bom gosto. Ah! Meu bom Macário Correia, como te deves sentir vingado!