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segunda-feira, 29 de novembro de 2004

 
Do que nada se sabe

A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

J.L. Borges in A rosa profunda, 1975.



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