sexta-feira, 19 de novembro de 2004
Notas sobre Simbólica
Primeiro esclarecimento
A propósito do post de Masson no Almocreve sobre a fundação da Sociedade Teosófica em 1875, faço um primeiro esclarecimento, à laia de resposta, fazendo notar o seguinte sobre este assunto:
Primeiro esclarecimento
A propósito do post de Masson no Almocreve sobre a fundação da Sociedade Teosófica em 1875, faço um primeiro esclarecimento, à laia de resposta, fazendo notar o seguinte sobre este assunto:
A fundação da Sociedade Teosófica está íntimamente relacionada com "invenção" do ocultismo. O termo "ocultismo" é muito recente. Provávelmente mais recente do que o termo "espiritismo". A denominação terá sido utilizada pela primeira vez por Alphonse-Louis Constant, mais conhecido sob o pseudónimo de Éliphas Lévi, e o mais provável é que tenha sido ele a inventar o termo. Também não tem grande importancia se foi ele a inventar o termo ou o seu significado. Sabemos que, até essa altura, se conhecia a existência de diversas ciências ditas "ocultas", mais ou menos "ocultas", de resto, pouco importantes. Sabemos também que a magia era apenas uma delas e não a totalidade como alguns autores começaram a sustentar (Papus, Traité méthodique de Science occulte, pág.324).
No entanto, Éliphas Lévi, engloba no termo "ocultismo" três elementos muito diversos que, dificilmente, poderiam formar um corpo doutrinal. A saber: a Cabala hebraica, o hermetismo e a magia. É justamente nesta indefinição de conceitos e entendimentos que surge a Sociedade Teosófica, pela mão da senhora Blavatsky e do escritor americano Albert Pike. O teosofismo continua a usar o termo "ocultismo" mas num sentido ainda mais particular e contingente. Éliphas Lévi morre em 1875, ano em que é fundada a Sociedade Teosófica. Durante alguns anos este assunto "esfria" sem resultados evidentes.
Em 1887, Gérard Encausse, sob o pseudónimo de Papus, recupera a denominação, tentando reagrupar à sua volta um conjunto de ideias dispersas que, a partir de 1890 se apresentam como um corpo conceptual monopolizador, fazendo, mais uma vez apelo ao termo "ocultismo". Data de 1890 a separação de Papus da Sociedade Teosófica. É esta a origem do "ocultismo" francês e, genéricamente, do "ocultismo" europeu moderno.
O teosofismo opõe-se, por natureza ao espiritismo, simplesmente porque, na sua génese, existe um conjunto de ideias cultas. Na realidade, boa parte da teoria teosofista apoia-se na fantasia individual, fomentada por um deficiente entendimento da tradição oriental. Os grupos teosóficos eram formados sempre (segundo os documentos existentes) por "pessoas muito honestas, sempre de grande boa vontade, ex-oficiais, comerciantes e empregados", gente cuja preparação intelectual e científica deixa muito a desejar. Tendo em conta os escritos de Papus e de Éliphas Lévi, esta mediocidade é muito surpreendente. Percebemos hoje que houve, sobretudo, um intuito de divulgação e "vulgarização". Aliás, também não é difícil entender que os argumentos e ideias presentes no teosofismo se reduzem a uma vã miragem de uma verdadeira ciência iniciática e que mesmo, a nível intelectual, não passam de uma erudição superficial de segunda ou terceira categoria. Embora o teosofismo, ao nível das ideias, se tenha afastado do espiritismo, acaba por coincidir com este na necessidade de propaganda e no seu carácter eminentemente "democrático", alheio a todo o verdadeiro esoterismo.