quarta-feira, 10 de novembro de 2004
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Sorry, Vasco Graça Moura...
(do artigo do DN de hoje)
Felizmente, George W. Bush ganhou as eleições presidenciais. Triunfou em toda a linha, contra as análises, as profecias, as manchetes. Contra o Partido Democrático. Contra a Europa do politicamente correcto. Contra a esquerda em geral. Contra os que anunciavam a débâcle dos neoconservadores. Contra os que, no passado, ridicularizavam sistematicamente Richard Nixon, Ronald Reagan e Bush pai, por sinal os melhores presidentes norte-americanos das últimas décadas. Contra as peregrinas sondagens feitas à opinião pública europeia e utilizadas como instrumento de campanha. Enfim, e isto dá-me um certo gozo interior, contra o Dr. Mário Soares.O eleitorado norte-americano foi clarividente. Ao contrário do que se passa na Europa, a multirracialidade norte-americana tem um sentido da cidadania. Há uma série de valores éticos e sociais que andam pelas ruas da amargura, mas que lhe são caros porque os considera naturalmente estruturantes da sociedade e John Kerry não conseguiria assegurá-los. A luta contra o terrorismo é uma tarefa imperativa e Kerry não seria capaz de levá-la a bom termo.Com todos os seus defeitos, Bush é um político incomparavelmente superior a, p. ex., Chirac, Schröder, Zapatero e outras fatigantes luminárias europeias. A intolerante Europa do politicamente correcto nutre-se de ideologias ultrapassadas, de permissividades que considera virtuosas, de conceitos de pseudotransparência, de interesses divergentes, de malabarismos, tergiversações, retóricas e clichés que não levam a lado nenhum. E agora vai ter de reajustar-se à geopolítica norte-americana dos próximos anos. O embaraço da esquerda já é patente porque percebeu isso. Fará mais uns chilreios de fim de festa e é tudo.A Europa não tem outro remédio, nem tem condições para procurá-lo. Não tem dispositivos eficazes de defesa própria. Não quer ouvir falar de efectivos militares. Não aceita tocar no seu autofágico modelo social. Não tem condições de competitividade. Não tem recursos energéticos bastantes. Não tem cidadania a sério. Não quer pensar o Médio Oriente, a não ser em termos que traduzam ostensivamente uma profunda aversão a Israel e aos Estados Unidos.Há quem diga que Bush ganhou devido ao comunicado ameaçador de Ben Laden em vésperas da eleição. Ora Ben Laden fê-lo para mostrar que, fosse qual fosse o resultado, Bush ou Kerry, republicanos ou democratas, o programa terrorista contra os Estados Unidos não iria abrandar. Ponto final. O recado era para a Europa e, sobretudo, para quem suceder a Arafat e para as agências e sequazes da Al-Qaeda no Iraque, Afeganistão e adjacências. Se beneficiou George W. Bush, isso recai na categoria da preterintencionalidade, para não dizer da pura inutilidade, uma vez que ninguém na América ignora as suas intenções.Discordo por isso da leitura que vê no gesto do chefe terrorista uma maneira de impedir um Kerry eventualmente vencedor de demover a Europa do seu alheamento, assegurando o triunfo de Bush para manter o fosso entre ele e o Velho Continente. A maioria dos governos europeus não tem estado alheada. Tem estado aliada. Tem estado do lado de Bush e não é a comunicação social e muito menos o estafado blá- -blá da esquerda que pode combater o terrorismo e resolver os problemas da Europa.Apesar de vários erros e passos em falso do seu primeiro quadriénio, Bush, ganhando as eleições, assegurou que a civilização ocidental tem alguma hipótese de futuro. Antes assim.
Bush = civilização ocidental = algumas possibilidades de futuro ?????
Francamente, Vasco Graça Moura.... não se terá excedido, no seu entusiasmo ?