sábado, 25 de dezembro de 2004
Correio da Cassini (postal de Boas Festas)
O Natal da Cassini está repleto de reflexões. Tudo concorre para que assim seja: a imensa solidão; um frio "de rachar", ou seja, o Frio, propriamente dito; espaço, espaço e mais espaço; tempo que não falta - como poderia faltar quando se gira à volta de Cronos, o próprio. As reflexões da Cassini sobre a natureza das coisas, a natureza do tempo, a natureza dos pesos, das gravidades, das massas, das escalas, só é interrompida, por vezes, quando a Cassini se (nos) interroga sobre a natureza do Belo. Nesses momentos, a Cassini fotografa em cor natural aquilo que "vê", espantada: os rosas suaves com que o gigante se veste; a geometria correcta mas dinâmica que permanentemente fala; os azuis acinzentados da sombra que os seus anéis projectam na sua pele; a estaticidade de um movimento brutal. É nestes momentos que a Cassini, através do que nos diz ver, reflete sobre o Belo e o Sublime, sobre os antigos e os novos deuses e nos sugere que, afinal, tudo isto faz sentido, que é, afinal, tudo a mesma coisa, que existe, de facto, uma lógica subterrânea, que unifica e religa todas as coisas, que só há que inventar novas linguagens para que se possam fazer as perguntas que verdadeiramente interessa. As respostas estão lá, tal como estão cá. Sempre estiveram.