quarta-feira, 22 de dezembro de 2004
Dezassete haiku
1
O que disseram
a tarde e a montanha
Já o perdi.
2
A vasta noite
agora não é mais
que uma fragrância.
3
É ou não é
o sonho que esqueci
antes da alba?
4
Calam-se as cordas.
A música sabia
tudo o que eu sinto.
5
Já não me alegram
estas amendoeiras.
Tua lembrança.
6
Obscuramente
livros, estampas, chaves
seguem-me a sina.
7
Desde aquele dia
que não movi as peças
no tabuleiro.
8
É no deserto
que acontece a aurora.
Alguém o sabe.
9
A espada ociosa
sonha com as batalhas.
Meu sonho é outro.
10
O homem morreu.
Mas a barba não sabe.
Crescem as unhas.
11
Esta é a mão
que por vezes tocava
o teu cabelo.
12
Sob o alpendre
o espelho não imita
mais do que a lua.
13
Sob essa lua
a sombra que se alarga
é uma só.
14
É um império
essa luz que se apaga
ou um pirilampo?
15
A lua nova.
Ela também a vê
da outra porta.
16
Longe, um trinado.
O rouxinol não sabe
que te consola.
17
A velha mão
insiste em traçar versos
prò esquecimento.
1
O que disseram
a tarde e a montanha
Já o perdi.
2
A vasta noite
agora não é mais
que uma fragrância.
3
É ou não é
o sonho que esqueci
antes da alba?
4
Calam-se as cordas.
A música sabia
tudo o que eu sinto.
5
Já não me alegram
estas amendoeiras.
Tua lembrança.
6
Obscuramente
livros, estampas, chaves
seguem-me a sina.
7
Desde aquele dia
que não movi as peças
no tabuleiro.
8
É no deserto
que acontece a aurora.
Alguém o sabe.
9
A espada ociosa
sonha com as batalhas.
Meu sonho é outro.
10
O homem morreu.
Mas a barba não sabe.
Crescem as unhas.
11
Esta é a mão
que por vezes tocava
o teu cabelo.
12
Sob o alpendre
o espelho não imita
mais do que a lua.
13
Sob essa lua
a sombra que se alarga
é uma só.
14
É um império
essa luz que se apaga
ou um pirilampo?
15
A lua nova.
Ela também a vê
da outra porta.
16
Longe, um trinado.
O rouxinol não sabe
que te consola.
17
A velha mão
insiste em traçar versos
prò esquecimento.
J. L. Borges in A Cifra, 1981.