terça-feira, 21 de dezembro de 2004
Janela da noite
a porta do bar é a janela da noite
a luz é intensa mas não cobre a escuridão
as paredes são o nevoeiro dormitando nas ruas
e as gargalhadas transformam-se em silêncio
e as sombras em eco da música ambiente
à espera que tudo continue na mesma
logo que a manhã nasça e as mulheres suadas
retornem ao quotidiano dos lençóis lavados
por enquanto acalentamos no céu da boca
o amargo da cerveja fresca o aperto do tabaco
a conversa anónima pintada com a cor da loucura
esquecemos os copos vazios as mesas iguais e húmidas
as garrafas arrumadas por rótulos gastos nas prateleiras
e o cansaço parecido com uma árvore em pleno Outono
para nos contentarmos na voragem
de demónios de outros infernos
com a longa viagem de mais uma insónia
seguros do regresso mais do que provável
ao princípio de todas as coisas
a porta do bar é a janela da noite envidraçada
ode imersa no olhar subterrâneo dos luares beijando a terra
clareira onde os homens se misturam
na igualdade das suas sedes
rigorosamente abandonados à solidão
a que também se dá por vezes
o nome de madrugada
José António Gonçalves
a porta do bar é a janela da noite
a luz é intensa mas não cobre a escuridão
as paredes são o nevoeiro dormitando nas ruas
e as gargalhadas transformam-se em silêncio
e as sombras em eco da música ambiente
à espera que tudo continue na mesma
logo que a manhã nasça e as mulheres suadas
retornem ao quotidiano dos lençóis lavados
por enquanto acalentamos no céu da boca
o amargo da cerveja fresca o aperto do tabaco
a conversa anónima pintada com a cor da loucura
esquecemos os copos vazios as mesas iguais e húmidas
as garrafas arrumadas por rótulos gastos nas prateleiras
e o cansaço parecido com uma árvore em pleno Outono
para nos contentarmos na voragem
de demónios de outros infernos
com a longa viagem de mais uma insónia
seguros do regresso mais do que provável
ao princípio de todas as coisas
a porta do bar é a janela da noite envidraçada
ode imersa no olhar subterrâneo dos luares beijando a terra
clareira onde os homens se misturam
na igualdade das suas sedes
rigorosamente abandonados à solidão
a que também se dá por vezes
o nome de madrugada
José António Gonçalves