quarta-feira, 19 de janeiro de 2005
Cosmogonia
Foto de Robert Asman
Nem treva, nem o caos. A treva, à toa,
Requer olhos que vejam, como o ruído
E o silêncio requerem o ouvido
E cada espelho a forma que o povoa.
Nem espaço, nem tempo. Nem a viva
Divindade que ainda premedita
O silêncio anterior à primitiva
Noite do tempo, que será infinita.
O grande rio de Heraclito, o Obscuro,
Não encetou o curso oculto e lento
Que do passado flui para o futuro,
Do esquecimento flui prò esquecimento.
Qualquer coisa que sofre. Algo que implora.
Depois a história universal. Agora.
J. L. Borges in A Rosa Profunda, 1975.
Foto de Robert Asman
Foto de Robert Asman
Nem treva, nem o caos. A treva, à toa,
Requer olhos que vejam, como o ruído
E o silêncio requerem o ouvido
E cada espelho a forma que o povoa.
Nem espaço, nem tempo. Nem a viva
Divindade que ainda premedita
O silêncio anterior à primitiva
Noite do tempo, que será infinita.
O grande rio de Heraclito, o Obscuro,
Não encetou o curso oculto e lento
Que do passado flui para o futuro,
Do esquecimento flui prò esquecimento.
Qualquer coisa que sofre. Algo que implora.
Depois a história universal. Agora.
J. L. Borges in A Rosa Profunda, 1975.
Foto de Robert Asman