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domingo, 9 de janeiro de 2005

 
Uma personalidade

sempre nova, sempre vária, o amor
dos sexos confundidos na sua con-
tradição, surge continuamente da
perfeição dos meus desejos. Qual-
quer ideia de pose lhe é forçosa-
mente estranha.


Nem sempre tenho coragem de pensar no dia seguinte
Não sou uma espada que num só golpe confunde vida e morte
Já vi grandes homens satisfeitos já conheci sonhadores pontuais
Esfolados vivos resplandecentes de dignidade homens com mãos que não eram embaladoras
Mas sim relógios de nascença
Mulheres incomunicáceis
Crianças sem idade
Diante do meu prato cervical
Davam largas ao apetite
Nada ofereciam em troca

Viviam assentes no seu próprio fundo
Interrompo com um gesto todas estas más recordações
Que põem a noite de vigília
Já me falta experiência
Outras moscas se afundam no escuro do meu coração
Os braceletes de um beijo à volta de um braço interminável
A rosácea da embriaguez sobre o bico de um seio
O redemoinho dos olhares envergonhados não me causa vergonha
Beijo fervorosamente a carne das árvores sob a casca
Busco no seio da terra as labaredas da chuva
As ágatas do calor

As minúsculas sementes de um sol de Inverno
Com odor de cinza e cor de lis
Irisadas perquisas a coberto da ignorância
Que me libertaram dessa morada onde a poeira
Perdura por modéstia por amor à ordem
Há demasiados buracos demasiados trilhos
No caminho do regresso
Aprendo jogos que não mais têm fim
Jogos de quebrar com tudo
Cantos que rasgam as cortinas da altura
Regressar seria uma queda esmagadora

Coroada pelos seus olhos
Eis a mais preciosa das cabeças
Pequena de aparência e jovem
Estamos frente a frente nada nos é invisível
Perpétuo delírio já tudo dissemos um ao outro
E tudo nos resta para dizer

Vacilas numa carícia em arco

No nosso espelho de duplo coração
Nossos desejos construirão teu corpo
Um corpo como a sede dos pássaros
Barco do veludo da tempestade
Géiser de mãos dementes
Arma contra o hábito

Que peso tem um vidro que é quebrado
As espigas da tua nudez correm-me nas veias
O breve sopro do âmbar no vazio
O arrepio dos sulcos sobre um abismo
O sangue já não larga a sua presa
A sua razão de ser vida presente
Toda a confiança
A que me mentia à múltipla
A que ao desfalecer aceitou a verdade
A verdade que eu lhe ensinava
A triste e doce verdade
De que o amor se parece com a fome com a sede
Mas nunca chega a saciar-se
Bem pode ganhar corpo sair de casa
Sair da paisagem
O seu leito é o horizonte

Como é que a minha vida dizia ela
Outra fui eu própria
Uma na vida outra em mim própria
E eu os outros
E contudo o meu corpo o meu rosto os meus olhos
O que eu vi
Ou melhor o que os outros viram
O que tu vês

Vi o sol abandonar a terra
E a terra povoar-se de homens e mulheres adormecidos

Vi voltar-se a ampulheta do céu e do mar
A ampulheta de um vestido a cair
E de um corpo nu a erguer-se
Porta aberta o ar é rei
Canta muito alto em toda a parte
Prende-se uma cepa ao vento
As paredes carregam-se de espaço
De transparente solidão

Vi uma mulher olhar para o filho recém-nascido
Como uma telha solta de um telhado
Uma criança a adiantar-se ao homem

Vi o meu melhor amigo
Abrir nas ruas da cidade
Em todas as ruas uma noite
O extenso túnel do seu desgosto
E oferecer a
Todas as mulheres
Uma rosa privilegiada
Uma rosa de orvalho
Igual à embriaguez de ter sede
Humildemente lhes pedia
Que aceitassem
Esse pequeno miosótis
Rosa resplandecente e ridícula
Na sua mão inteligente
Na sua mão em flor
O medo a opressão a miséria
Dos risinhos
Em vez de um riso apaixonado
Que transportasse para o dia de amanhã
Todas as mulheres mulher nenhuma
Essa noite inesgotável
O dia seria uma desconhecida
Ou uma morta

Em seus seios em seus olhos haviam erguido
A cidade pesada e feia
Sua cabeleira um escudo
Já desfeita extinta
Sua cabeleira uma multidão dispersa
Pelo horror das ruas inúteis

Eu vi nascer o imperceptível
A noite sonhada.

Paul Eluard in Algumas das Palavras.



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