segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005
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Eu
Foto de Mario Vidor
Uma caveira, o coração secreto,
Os caminhos do sangue ainda meu,
Os túneis que há no sono, esse Proteu,
As vísceras, a nuca e o esqueleto.
Sou essas coisas. Mas incrivelmente
Sou também a memória de uma espada
E a de um solitário sol-poente
Que se dissipa em ouro, em sombra, em nada.
Sou o que vê as proas neste porto;
Sou os contados livros, as contadas
Gravuras pelo tempo já cansadas;
Sou o que inveja cada homem morto.
Mais estranho é ser este que entrelaça
Palavras no aposento de uma casa.
J. L. Borges in A Rosa Profunda, 1975.
Eu
Foto de Mario Vidor
Uma caveira, o coração secreto,
Os caminhos do sangue ainda meu,
Os túneis que há no sono, esse Proteu,
As vísceras, a nuca e o esqueleto.
Sou essas coisas. Mas incrivelmente
Sou também a memória de uma espada
E a de um solitário sol-poente
Que se dissipa em ouro, em sombra, em nada.
Sou o que vê as proas neste porto;
Sou os contados livros, as contadas
Gravuras pelo tempo já cansadas;
Sou o que inveja cada homem morto.
Mais estranho é ser este que entrelaça
Palavras no aposento de uma casa.
J. L. Borges in A Rosa Profunda, 1975.