sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005
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Jannis Kounellis, Untitled, 1979.
Tarde como a do Juízo Final.
A rua é uma ferida aberta no céu.
Já não sei se foi Anjo ou um ocaso a claridade que ardeu longe.
Insistente, como um pesadelo, abate-se a distância sobre mim.
Um ferro avermelhado faz doer o horizonte.
O mundo está inútil, diminuído.
No céu é dia, mas a noite é traiçoeira nos valados.
Toda a luz está nos muros azuis e num alvoroço de raparigas.
Já não sei se é uma árvore ou um deus, esse que assoma à grade enferrujada.
Tantos países de uma vez: campo, o céu, as cercanias.
Hoje fui rico por causa das ruas e do ocaso esguio e da tarde transformada em espanto.
Longe, irei devolver-me à minha pobreza.
J.L. Borges in Lua defronte, 1925.
Jannis Kounellis, Untitled, 1979.
Tarde como a do Juízo Final.
A rua é uma ferida aberta no céu.
Já não sei se foi Anjo ou um ocaso a claridade que ardeu longe.
Insistente, como um pesadelo, abate-se a distância sobre mim.
Um ferro avermelhado faz doer o horizonte.
O mundo está inútil, diminuído.
No céu é dia, mas a noite é traiçoeira nos valados.
Toda a luz está nos muros azuis e num alvoroço de raparigas.
Já não sei se é uma árvore ou um deus, esse que assoma à grade enferrujada.
Tantos países de uma vez: campo, o céu, as cercanias.
Hoje fui rico por causa das ruas e do ocaso esguio e da tarde transformada em espanto.
Longe, irei devolver-me à minha pobreza.
J.L. Borges in Lua defronte, 1925.