quarta-feira, 29 de junho de 2005
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Indigência e sabedoria
Indigência e sabedoria
A indigência da alma — disse eu — não é outra coisa senão estultícia. Porque ela é o contrário da sabedoria, do mesmo modo que a morte é o contrário da vida e a felicidade da infelicidade e não existe nenhum termo médio entre elas. Assim como o homem que não é feliz é infeliz e todo o homem que não está morto vive, também é evidente que quem não é estulto é sábio. Por isso, podemos compreender que Sérgio Orata não era infeliz porque temia perder os bens da sua fortuna, mas porque era estulto. Donde se segue que seria mais infeliz se não temesse absolutamente nada perder aquelas coisas tão incertas e instáveis e que ele pensava serem bens, porque a sua segurança ter-lhe-ia vindo, não de uma forte vigilância, mas do entorpecimento da inteligência e seria infeliz por se encontrar afundado na mais profunda estultícia. Mas se aquele a quem a sabedoria falta experimenta uma grande indigência, e se aquele que domina a sabedoria não lhe falta nada, segue-se que a estultícia é uma indigência. E, do mesmo modo que todo o estulto é infeliz, também todo o infeliz é estulto. Está, por conseguinte demonstrado que a estultícia é a infelicidade, tal como a infelicidade é uma estultícia.
Santo Agostinho in Diálogo sobre a felicidade, Capítulo IV, 28.
Santo Agostinho in Diálogo sobre a felicidade, Capítulo IV, 28.