terça-feira, 14 de junho de 2005
Um livro
Como assinala a introdução de Mário Santiago de Carvalho, este Diálogo sobre a Felicidade, dedicado por Santo Agostinho ao seu mestre Teodoro, aconteceu realmente entre os dias 13 e 15 de Novembro do ano de 386. Sendo essencialmente um diálogo neoplatónico, Santo Agostinho lança aqui uma primeira versão de uma autobiografia que, mais tarde, será retomada e completada nas Confissões. Mas, mais fundamental, Agostinho transforma o tema da felicidade num estudo sobre o amor e o desejo na sua dimensão fenomenológica. A questão essencial que este diálogo levanta é sobre a sedução e a vertigem do abismo: que é o amor, se não existe o outro? O outro que se conhece na viagem, que se inaugura na dimensão horizontal do uso e que remete, finalmente para o desejo. Desejo — eis o nome próprio da relação e da estranheza, da proximidade que nos aflige, mas nos fascina.