domingo, 31 de julho de 2005
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Portugal, trespassa-se
Muito se debatem em Portugal assuntos sobre os quais ninguém percebe nada. As escalas a que estes debates e discussões se passam muito variam mas podemos encontrá-los disseminados por quase todas as áreas do pensamento e do conhecimento, naturalmente, com mais ou menos consequências na vida das pessoas e no destino do país. Se isto é verdade para a arte ou para a religião, para a estética e para a ética, também é verdade para a ciência. Vital Moreira, no Causa Nossa, vem dizer agora, baseado num artigo do Financial Times, que chegou a hora de re-lançarmos, em Portugal, o debate sobre a energia nuclear, uma vez que somos, efectivamente, um país hiper-dependente em termos energéticos. Nos últimos tempos a coisa agudizou-se com o problema do preço do petróleo mas, no fundo, esta situação seria sempre previsível, a verdadeira questão era apenas quando.
Depois do primeiro debate público, aqui há uns anos, sobre a questão (aquando da construção das centrais nucleares espanholas) — verdadeiro exemplo da paralisia mental nacional (basta lembrarmo-nos dos cartazes de rua nas pequenas manifs e das cançonetas da esquerda verde e ecologista — nuclear, não obrigado — escusado era agradecerem), quer Vital Moreira re-lançar o debate, eventualmente público, eventualmente no seio da sociedade civil (lembremo-nos do que o Público, ainda esta semana, embora a propósito de outro assunto, considerava a sociedade civil), de um assunto que é, estritamente, do fôro científico e económico. Vamos seguramente assistir a um imenso desfile de lugares comuns, ideias feitas (há muito) e pequenas tomadas de posição de peito cheio de pseudo-nacionalismos patrióticos com a lágrima insegura e hipócrita a rolar ao canto do olho, em preocupação teatral com o futuro, segurança e qualidade de vida dos filhos. Novamente vingará o pequeno universo mental português em que a desinformação e a ignorância sempre foram excelentes pretextos para um raciocínio diminutivo e fiteiro de um povo de ateus mas de moral católica. Estou já a imaginar as declarações sensatas e patrióticas que os nossos deputados farão na Assembleia da República, as recusas, as infinitas preocupações, a proclamação panfletária de instruções ideológicas, as declarações cultas ou insensatamente estouvadas, as aflições ambientais.
Como pequena contribuição para a seriedade deste debate, mas tendo consciência, à partida, que muito poucos terão paciência para tanto e que a abordagem epidérmica é sempre mais fácil e lucrativa, proponho a leitura atenta dos últimos volumes de Progress in Nuclear Energy. Veja-se também Nuclear Energy Institute.
Muito se debatem em Portugal assuntos sobre os quais ninguém percebe nada. As escalas a que estes debates e discussões se passam muito variam mas podemos encontrá-los disseminados por quase todas as áreas do pensamento e do conhecimento, naturalmente, com mais ou menos consequências na vida das pessoas e no destino do país. Se isto é verdade para a arte ou para a religião, para a estética e para a ética, também é verdade para a ciência. Vital Moreira, no Causa Nossa, vem dizer agora, baseado num artigo do Financial Times, que chegou a hora de re-lançarmos, em Portugal, o debate sobre a energia nuclear, uma vez que somos, efectivamente, um país hiper-dependente em termos energéticos. Nos últimos tempos a coisa agudizou-se com o problema do preço do petróleo mas, no fundo, esta situação seria sempre previsível, a verdadeira questão era apenas quando.
Depois do primeiro debate público, aqui há uns anos, sobre a questão (aquando da construção das centrais nucleares espanholas) — verdadeiro exemplo da paralisia mental nacional (basta lembrarmo-nos dos cartazes de rua nas pequenas manifs e das cançonetas da esquerda verde e ecologista — nuclear, não obrigado — escusado era agradecerem), quer Vital Moreira re-lançar o debate, eventualmente público, eventualmente no seio da sociedade civil (lembremo-nos do que o Público, ainda esta semana, embora a propósito de outro assunto, considerava a sociedade civil), de um assunto que é, estritamente, do fôro científico e económico. Vamos seguramente assistir a um imenso desfile de lugares comuns, ideias feitas (há muito) e pequenas tomadas de posição de peito cheio de pseudo-nacionalismos patrióticos com a lágrima insegura e hipócrita a rolar ao canto do olho, em preocupação teatral com o futuro, segurança e qualidade de vida dos filhos. Novamente vingará o pequeno universo mental português em que a desinformação e a ignorância sempre foram excelentes pretextos para um raciocínio diminutivo e fiteiro de um povo de ateus mas de moral católica. Estou já a imaginar as declarações sensatas e patrióticas que os nossos deputados farão na Assembleia da República, as recusas, as infinitas preocupações, a proclamação panfletária de instruções ideológicas, as declarações cultas ou insensatamente estouvadas, as aflições ambientais.
Como pequena contribuição para a seriedade deste debate, mas tendo consciência, à partida, que muito poucos terão paciência para tanto e que a abordagem epidérmica é sempre mais fácil e lucrativa, proponho a leitura atenta dos últimos volumes de Progress in Nuclear Energy. Veja-se também Nuclear Energy Institute.