domingo, 4 de setembro de 2005
Braços

Foto de Lilya Corneli
Braços
de amorosa,
onde fui embalado e adormecido...
No vosso berço, cama voluptuosa,
quedo-me ainda
sonâmbulo e acordado,
lembrado e esquecido...
No vosso abraço
inda me enlaço.
Ah, porque todo o seu gosto
se continua em pétalas
que descem
ainda sobre o meu rosto
e à minha boca fria e de saudade, extática,
vêm trazer o calor
da vossa pele aromática.
Braços!
Olhando-vos a brancura,
dela, como dum céu,
oscilando no ar, com balanços de penas,
choviam outras pétalas, serenas.
De encontro a seios quentes como lumes,
já eu sorvia perfumes,
e as pétalas choviam mais,
em chuva cerrada e leve,
embranquecendo tudo,
cobrindo tudo de neve...
A sombra dessa alvura,
colunas de mármore nasciam,
erguendo eirados
sobre um claro parque
com lagos
onde os cisnes namorados,
repuxos múrmuros,
e sátiros deitados,
enlanguesciam de esperanças,
ao som de flautas ocultas
e ao ritmo de véus em danças...
Já a esta hora,
o génio da beleza
surgia a rasgar túnicas,
a descalçar sandálias,
com invisíveis, sagradas mãos silenciosas,
deixando apenas sobre as frontes
os diademas de rosas.
Edmundo de Bettencourt in Eros de passagem, 1982.

Foto de Lilya Corneli
Braços
de amorosa,
onde fui embalado e adormecido...
No vosso berço, cama voluptuosa,
quedo-me ainda
sonâmbulo e acordado,
lembrado e esquecido...
No vosso abraço
inda me enlaço.
Ah, porque todo o seu gosto
se continua em pétalas
que descem
ainda sobre o meu rosto
e à minha boca fria e de saudade, extática,
vêm trazer o calor
da vossa pele aromática.
Braços!
Olhando-vos a brancura,
dela, como dum céu,
oscilando no ar, com balanços de penas,
choviam outras pétalas, serenas.
De encontro a seios quentes como lumes,
já eu sorvia perfumes,
e as pétalas choviam mais,
em chuva cerrada e leve,
embranquecendo tudo,
cobrindo tudo de neve...
A sombra dessa alvura,
colunas de mármore nasciam,
erguendo eirados
sobre um claro parque
com lagos
onde os cisnes namorados,
repuxos múrmuros,
e sátiros deitados,
enlanguesciam de esperanças,
ao som de flautas ocultas
e ao ritmo de véus em danças...
Já a esta hora,
o génio da beleza
surgia a rasgar túnicas,
a descalçar sandálias,
com invisíveis, sagradas mãos silenciosas,
deixando apenas sobre as frontes
os diademas de rosas.
Edmundo de Bettencourt in Eros de passagem, 1982.