segunda-feira, 5 de setembro de 2005
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E all'alba morirò
Foto de Lilya Corneli
A arte erótica dos sábados
sentava-se ao café e esperava.
Na cidade humedecida para lá dos vidros
chapinhavam os pneus para os cinemas.
A bica amolecia com açúcar dentro.
Falavam mais alto, o acre dos cigarros
ficava preso ao sobretudo ao lenço
com que limpava os óculos.
Quem olharia primeiro com os olhos
fitos hesitados insistindo
no sinal assente: vamos os dois.
Para onde? O mar ao longe ouvia-se
trazido pela chuva, as luzes amarelas
cercavam as garrafas das vitrinas
com uma aura que parecia celofane.
Sem esperar o troco que
já saíam os dentes desejantes
caminhou para a porta giratória
saltou sobre poças de água
e aceitou abrigar-se ao guarda-chuva.
Trocaram nomes
podiam ser fingidos mas já eram
uma designação da carne,
uma alegria cruzando-se no frio,
o prenúncio de mãos incertas
tirando o corpo do seu escuro.
Joaquim Manuel Magalhães in Eros de passagem, 1982.
E all'alba morirò
Foto de Lilya Corneli
A arte erótica dos sábados
sentava-se ao café e esperava.
Na cidade humedecida para lá dos vidros
chapinhavam os pneus para os cinemas.
A bica amolecia com açúcar dentro.
Falavam mais alto, o acre dos cigarros
ficava preso ao sobretudo ao lenço
com que limpava os óculos.
Quem olharia primeiro com os olhos
fitos hesitados insistindo
no sinal assente: vamos os dois.
Para onde? O mar ao longe ouvia-se
trazido pela chuva, as luzes amarelas
cercavam as garrafas das vitrinas
com uma aura que parecia celofane.
Sem esperar o troco que
já saíam os dentes desejantes
caminhou para a porta giratória
saltou sobre poças de água
e aceitou abrigar-se ao guarda-chuva.
Trocaram nomes
podiam ser fingidos mas já eram
uma designação da carne,
uma alegria cruzando-se no frio,
o prenúncio de mãos incertas
tirando o corpo do seu escuro.
Joaquim Manuel Magalhães in Eros de passagem, 1982.