quinta-feira, 29 de setembro de 2005
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Para uma rua do Oeste
Foto de Lilya Corneli
Dar-me-ás uma alheia imortalidade, rua sozinha.
És sombra já da minha vida.
Atravessas-me as noites com a tua certa rectidão de estocada.
A morte — tempestade escura e imóvel — destroçará as minhas horas.
Alguém recolherá os meus passos e usurpará a minha devoção e esta estrela.
(A distância, como um longo vento, há-de flagelar o seu caminho.)
Iluminado por nobre solidão, porá o mesmo anseio no teu céu.
Pôr-lhe-á esse mesmo anseio que sou eu.
Ressurgirei no seu vindouro assombro de ser.
Em ti outra vez:
Rua que dolorosamente como uma ferida te abres.
J. L. Borges in Lua defronte, 1925.
Para uma rua do Oeste
Foto de Lilya Corneli
Dar-me-ás uma alheia imortalidade, rua sozinha.
És sombra já da minha vida.
Atravessas-me as noites com a tua certa rectidão de estocada.
A morte — tempestade escura e imóvel — destroçará as minhas horas.
Alguém recolherá os meus passos e usurpará a minha devoção e esta estrela.
(A distância, como um longo vento, há-de flagelar o seu caminho.)
Iluminado por nobre solidão, porá o mesmo anseio no teu céu.
Pôr-lhe-á esse mesmo anseio que sou eu.
Ressurgirei no seu vindouro assombro de ser.
Em ti outra vez:
Rua que dolorosamente como uma ferida te abres.
J. L. Borges in Lua defronte, 1925.