sábado, 1 de outubro de 2005
Linhas que posso ter escrito e perdido até 1922
Foto de Bogdan Jarocki
Silenciosas batalhas do ocaso
em arrabaldes últimos,
sempre antigas derrotas de uma guerra no céu,
auroras em ruínas que nos chegam
lá do fundo deserto do seu espaço
e do fundo do tempo,
negros jardins da chuva, uma esfinge de um livro
que eu receava abrir
e cuja imagem volta nos meus sonhos,
a corrupção e o eco que seremos,
a lua sobre o mármore,
árvores que se elevam e perduram
como tranquilas divindades,
a mútua noite e a tarde tão esperada,
Walt Whitman, cujo nome é o universo,
a valorosa espada de um rei
no silencioso leito de um rio,
os saxões, os árabes e os godos
que me engendraram sem saber,
serei eu essas coisas e as outras
ou são chaves secretas e árduas álgebras
do que nunca haveremos de saber?
J. L. Borges in Fervor de Buenos Aires, 1923.
Foto de Bogdan Jarocki
Silenciosas batalhas do ocaso
em arrabaldes últimos,
sempre antigas derrotas de uma guerra no céu,
auroras em ruínas que nos chegam
lá do fundo deserto do seu espaço
e do fundo do tempo,
negros jardins da chuva, uma esfinge de um livro
que eu receava abrir
e cuja imagem volta nos meus sonhos,
a corrupção e o eco que seremos,
a lua sobre o mármore,
árvores que se elevam e perduram
como tranquilas divindades,
a mútua noite e a tarde tão esperada,
Walt Whitman, cujo nome é o universo,
a valorosa espada de um rei
no silencioso leito de um rio,
os saxões, os árabes e os godos
que me engendraram sem saber,
serei eu essas coisas e as outras
ou são chaves secretas e árduas álgebras
do que nunca haveremos de saber?
J. L. Borges in Fervor de Buenos Aires, 1923.