quarta-feira, 16 de novembro de 2005
Édipo e o enigma
Foto de Elen Retfalvi
Quadrúpede na aurora, alto no dia
E com três pés errando pelo vão
Universo da tarde, a esfinge via
Assim o seu tão inconstante irmão,
O homem, e com a tarde um homem veio
Decifrando no espelho, com receio,
A monstruosa imagem, esse símbolo
Da sua decadência e seu destino.
Somos Édipo e de um eterno modo
A longa e tripla besta somos, tudo
O que seremos e o que fomos sendo.
Aniquilar-nos-ia ver a ingente
Forma do nosso ser; piedosamente
Deus dá-nos sucessão e esquecimento.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964
Foto de Elen Retfalvi
Quadrúpede na aurora, alto no dia
E com três pés errando pelo vão
Universo da tarde, a esfinge via
Assim o seu tão inconstante irmão,
O homem, e com a tarde um homem veio
Decifrando no espelho, com receio,
A monstruosa imagem, esse símbolo
Da sua decadência e seu destino.
Somos Édipo e de um eterno modo
A longa e tripla besta somos, tudo
O que seremos e o que fomos sendo.
Aniquilar-nos-ia ver a ingente
Forma do nosso ser; piedosamente
Deus dá-nos sucessão e esquecimento.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964