segunda-feira, 14 de novembro de 2005
Ele
Nos olhos da tua carne é que reluz
O insuportável sol, e ela contacta
Com pó disperso ou com rocha compacta;
É o amarelo, o negro, ele é a luz.
Ele vê-os. Com os seus olhos inquietos
Contempla-te e são olhos que num reflexo
Indagam, como os olhos de um espelho,
As hidras negras e os tigres vermelhos.
Não lhe basta criar. É cada uma
Das criaturas do Seu estranho mundo:
As porfiadas raízes do profundo
Cedro e também as mutações da Lua.
Chamavam-me Caim. Por mim o Eterno
Sabe o sabor do fogo do inferno.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964.
Nos olhos da tua carne é que reluz
O insuportável sol, e ela contacta
Com pó disperso ou com rocha compacta;
É o amarelo, o negro, ele é a luz.
Ele vê-os. Com os seus olhos inquietos
Contempla-te e são olhos que num reflexo
Indagam, como os olhos de um espelho,
As hidras negras e os tigres vermelhos.
Não lhe basta criar. É cada uma
Das criaturas do Seu estranho mundo:
As porfiadas raízes do profundo
Cedro e também as mutações da Lua.
Chamavam-me Caim. Por mim o Eterno
Sabe o sabor do fogo do inferno.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964.