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quarta-feira, 9 de novembro de 2005

 
A guerra do futuro, agora




Há muitos anos, Agostinho da Silva falava-me das guerras do futuro. Dizia-me, com aquela certeza quase profética que marcava o seu discurso, que as guerras do futuro seriam as guerras que os excluídos, os deserdados, empreenderiam contra o império. O império somos nós: o império da energia, do bem-estar, da segurança, do vislumbre do futuro. O império da imaginação, da criatividade, do sonho, instituído como realidade. O império da riqueza, por vezes do luxo mais irracional. Um império que, progressivamente, e tantas vezes de forma hipócrita, trocou os valores do humanismo por um humanitarismo piegas e ineficaz. Um império que não entendeu, a tempo e horas, a abrangência disciplinada mas benevolente e, sobretudo, os valores da dádiva sem lucro imediato. Um império que olha demais o seu próprio umbigo. Mas, principalmente, um império que esqueceu que, mais do que a finitude que nos caracteriza, a grande bitola humana chama-se sofrimento. É esta a charneira. É aqui que as coisas podem passar e passam para a ordem do insuportável. Obviamente que em tudo isto está a hipocrisia insustentável do modelo social europeu. Obviamente que em tudo isto há o aproveitamento do radicalismo islâmico. Mas não foi sempre assim que os radicais recrutaram os seus soldados? Não foi sempre explorando a insuportabilidade do sofrimento?
Agostinho da Silva tinha razão. O ataque contra o império está aí. Da parte dos excluídos, dos deserdados, da parte daqueles a quem está vedado outro sonho que não se chame vingança.



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