sexta-feira, 4 de novembro de 2005
The Unending Gift

Foto de Viktor Ivanovski
Um pintor prometeu-nos um quadro.
Agora, na Nova Inglaterra, sei que morreu. Senti, tal como outras
vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho.
Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei num lugar marcado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse ali, seria com o tempo mais uma coisa,
uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da casa; agora é
ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e de qualquer
cor e não ligada a nenhuma.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará
comigo até ao fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há
qualquer coisa de imortal.)
J. L. Borges in Elogio da Sombra, 1969.

Foto de Viktor Ivanovski
Um pintor prometeu-nos um quadro.
Agora, na Nova Inglaterra, sei que morreu. Senti, tal como outras
vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho.
Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei num lugar marcado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse ali, seria com o tempo mais uma coisa,
uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da casa; agora é
ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e de qualquer
cor e não ligada a nenhuma.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará
comigo até ao fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há
qualquer coisa de imortal.)
J. L. Borges in Elogio da Sombra, 1969.