sábado, 17 de dezembro de 2005
O instante
Foto de Lylia Corneli
Onde estarão os séculos, onde o sonho
Das espadas que os tártaros sonharam,
Onde os sólidos muros que aplanaram,
Onde a árvore de Adão e o outro Lenho?
O presente está só. Mas a memória
Constrói o tempo. Sucessão e engano
É a rotina do relógio. O ano
Nunca é menos vão do que a vã história.
Entre a aurora e a noite há um abismo
De agonias, de luzes, de cuidados;
O rosto que se vê nos desgastados
Espelhos da noite já não é o mesmo.
O hoje é fugaz é ténue e é eterno;
Não esperes outro Céu nem outro Inferno.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964.
Foto de Lylia Corneli
Onde estarão os séculos, onde o sonho
Das espadas que os tártaros sonharam,
Onde os sólidos muros que aplanaram,
Onde a árvore de Adão e o outro Lenho?
O presente está só. Mas a memória
Constrói o tempo. Sucessão e engano
É a rotina do relógio. O ano
Nunca é menos vão do que a vã história.
Entre a aurora e a noite há um abismo
De agonias, de luzes, de cuidados;
O rosto que se vê nos desgastados
Espelhos da noite já não é o mesmo.
O hoje é fugaz é ténue e é eterno;
Não esperes outro Céu nem outro Inferno.
J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964.