quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006
Memória
Aplicável a diversos problemas da actualidade, o magnífico post de Tiago de Oliveira Cavaco no Voz do deserto:
O homem que se esquecia que tinha uma adundante vida sexual
Havia um homem que padecia de um problema: após ter relações sexuais esquecia-se. Ou seja. Com o orgasmo vinha não o sono mas a desmemória. A sua esposa, que até apreciava adormecer à mesma velocidade do homem, começava a preocupar-se. Isto porque durante o dia o marido vivia infeliz. Apesar de ter uma abundante vida sexual estava convencido do oposto. Que não praticava. Como a maioria dos católicos do país.
No emprego o homem pensava na noite anterior procurando vestígios de efervescência carnal e nada. Perante uma recordação nula o homem julgava-se portador de um corpo por satisfazer. Resultado: ao chegar a casa recriminava a mulher. A mulher julgava estar no meio de uma charada. Mas como era paciente atendia os pedidos e proporcionava ao queixoso marido noites de ímpar desfrute dos sentidos. No dia seguinte a cena repetia-se.
Este casal tinha, como pode ser antecipado, um índice de actividade sexual verdadeiramente invulgar. Acima de qualquer família chilena na Primavera. A ironia era a inexistência de consenso entre os próprios praticantes da modalidade. O marido, campeão de infinitas erecções, ao olhar-se ao espelho via-se pré-adolescente. Rabiscando nas valas do quotidiano possibilidades de maturação libidinal. A sua infelicidade era crescente.
Um dia o homem que se esquecia que tinha uma abundante vida sexual divorciou-se da sua mulher. Ambos à beira de esgotamentos nervosos. Junto dos seus amigos o homem justificava a quebra matrimonial por razões de incompatibilidade física. Junto das suas amigas a mulher justificava a quebra matrimonial por razões de incompatibilidade mental. Casar pode ser um acto colectivo. O divórcio é sempre individual. Uma coisa da modernidade e dos efeitos do existencialismo nas sociedades ocidentais.
Claro que há uma moral nesta história. E não tem nada a ver com supostamente o cérebro ser o verdadeiro orgão sexual. Em verdade, em verdade vos digo que o corpo é importante mas a memória é sagrada. Como teria sido diferente o destino do homem que se esquecia que tinha uma abundante vida sexual se o soubesse.
Aplicável a diversos problemas da actualidade, o magnífico post de Tiago de Oliveira Cavaco no Voz do deserto:
O homem que se esquecia que tinha uma adundante vida sexual
Havia um homem que padecia de um problema: após ter relações sexuais esquecia-se. Ou seja. Com o orgasmo vinha não o sono mas a desmemória. A sua esposa, que até apreciava adormecer à mesma velocidade do homem, começava a preocupar-se. Isto porque durante o dia o marido vivia infeliz. Apesar de ter uma abundante vida sexual estava convencido do oposto. Que não praticava. Como a maioria dos católicos do país.
No emprego o homem pensava na noite anterior procurando vestígios de efervescência carnal e nada. Perante uma recordação nula o homem julgava-se portador de um corpo por satisfazer. Resultado: ao chegar a casa recriminava a mulher. A mulher julgava estar no meio de uma charada. Mas como era paciente atendia os pedidos e proporcionava ao queixoso marido noites de ímpar desfrute dos sentidos. No dia seguinte a cena repetia-se.
Este casal tinha, como pode ser antecipado, um índice de actividade sexual verdadeiramente invulgar. Acima de qualquer família chilena na Primavera. A ironia era a inexistência de consenso entre os próprios praticantes da modalidade. O marido, campeão de infinitas erecções, ao olhar-se ao espelho via-se pré-adolescente. Rabiscando nas valas do quotidiano possibilidades de maturação libidinal. A sua infelicidade era crescente.
Um dia o homem que se esquecia que tinha uma abundante vida sexual divorciou-se da sua mulher. Ambos à beira de esgotamentos nervosos. Junto dos seus amigos o homem justificava a quebra matrimonial por razões de incompatibilidade física. Junto das suas amigas a mulher justificava a quebra matrimonial por razões de incompatibilidade mental. Casar pode ser um acto colectivo. O divórcio é sempre individual. Uma coisa da modernidade e dos efeitos do existencialismo nas sociedades ocidentais.
Claro que há uma moral nesta história. E não tem nada a ver com supostamente o cérebro ser o verdadeiro orgão sexual. Em verdade, em verdade vos digo que o corpo é importante mas a memória é sagrada. Como teria sido diferente o destino do homem que se esquecia que tinha uma abundante vida sexual se o soubesse.