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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

 
Movimentos 1



Apertei mais a tua mão presa na minha e senti-te súbitamente longe. Dobrei mais ainda os dedos sobre os teus quase fincando as unhas, sentindo a pele quente, os dedos compridos, firmes, toda a tua mão como que todo o teu corpo. A saudade, a distância do teu corpo, a distância da tua mão ali na minha. O teu perfil recorta-se na quase total escuridão da sala. Desvio os olhos de ti e fixo-os no écran brilhante, luminoso; o teu perfil persiste sobrepondo-se à rapariga que canta, de pés mus, com umas calças justas, prateadas, e um boné igual no alto da cabeça. Súbitamente distante encolho-me e sinto-me tão só que aperto mais os dedos sobre os teus numa espécie de arrepio e torno-te a olhar o perfil correcto desenhado e frio na obscuridade da sala. Nos meus ombros a ausência do teu braço cria um vazio, uma ferida, uma cicatriz dolorosa. Aliso com uma das mãos a saia sobre as coxas e com a outra aperto mais a tua, presa na minha.

Maria Teresa Horta in Ambas as mãos sobre o corpo, 1970.



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