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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

 
O vazio


Foto de Robert Asman


A areia havia tomado uma tonalidade baça, amarelada, de marfim, e era pesada e húmida, pesada sem o sol, como se a Lua pesasse nos ombros e nos dedos através dela: grossa, áspera, quase dolorosa, ao mesmo tempo que mole, esponjosa, peganhenta. Tentou sacudi-la do peito, das ancas, dos cabelos. Ajoelhada, via toda aquela extensão vazia... a areia agarrava-se-lhe à pele e ela via toda aquela extensão vazia... De pé voltou-se. De pé sem mesmo o olhar mas a fixá-lo muito como se o visse, como se tivesse de inventar as palavras, como se não soubesse qualquer gesto, afinal sem sequer o fixar mas apenas olhando na sua direcção, parecendo realmente olhá-lo, mas nem o vendo, porém sentindo toda e qualquer partícula do seu corpo, repugnada. Ergueu as mãos, finalmente ergueu as mãos e aproximou-as da cara, aproximou-as da boca, mecânicamente do cabelo, de novo da boca, e deixou-as caír a aflorar as ancas, para as tornar a erguer, indecisa, agora olhando-o realmente, e não a areia, nem o mar, nem os paus das barracas, olhando-o realmente, tendo a total consciência da sua presença, da sua presença estranha de desconhecido, da sua língua estranha a que cerrara os dentes, dos seus olhos estranhos que a fitaram enquanto ia e vinha dentro de si. Curvou-se então e quase sem ruído começou a vomitar sobre a areia.

Maria Teresa Horta in Ambas as mãos sobre o corpo, 1970.



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