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terça-feira, 11 de abril de 2006

 
Millenium BCP ou Arte mal partilhada



Tenho-me deparado, com alguma frequência, com o facto de alguns senhores administradores ou directores de grandes empresas julgarem que, por dominarem plenamente o seu ofício, possuem conhecimento bastante para, não só darem opinião — regra geral erróneamente fundamentada — mas fazerem, em última análise, valer a sua vontade e decisão em áreas que lhes são absolutamente estranhas e relativamente às quais pouco ou nada entendem. O mundo da arte é frequentemente "assaltado" por estas inteligências, convencidas de que a subjectividade que lhe está associada é campo fértil para opinarem e susceptível de poder acatar passivamente decisões erróneas e, regra geral, arrogantes. O grande problema aqui é que estes poderes instituídos estão plenamente convencidos que dominam áreas de conhecimento em que não acertam uma. Este comportamento é, digamos, muito português; raramente se encontra este tipo de equívocos noutros países europeus em que administradores e directores de grandes empresas, bancos ou seguradoras há muito compreenderam que o seu sucesso se deve a "não brincarem em serviço" e por isso deixam aos profissionais de outras áreas a total responsabilidade de também "não brincarem em serviço" nas suas especialidades. Em Portugal, estas almas competentes da área bancária e financeira não só se consideram igualmente competentes, nomeadamente na área da arte como, muitas vezes, por arrogante teimosia, obrigam os seus colaboradores mais qualificados a "brincarem em serviço".
É exactamente isto que pode ser apreciado ao se visitar a exposição de excelentes obras de Júlio Resende da colecção Millenium BCP que está patente no salão nobre da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. O conjunto de obras de Resende que fazem parte da colecção do BCP é excelente, exceptuando uma série de gravuras de nível mais duvidoso. A peça fundamental da exposição é o extraordinário painél monumental Ribeira Negra que é apresentado pela primeira vez em Lisboa. Mas o que predomina nesta exposição é a sua apresentação. Quem desenhou o espaço do salão e a apresentação destas obras não faz a menor ideia do que é apresentar uma exposição de pintura e muito menos um painél como a Ribeira Negra. Conseguiram retirar ao painél a sua leitura e a sua monumentalidade. Emparedaram-no atrás de um estranho e bizarro esquema de paredes, retirando a possibilidade do recuo necessário à sua leitura. É absolutamente notório que o desenho da apresentação desta exposição é obra de amadores. Pena é que o profissionalismo e competência evidentes na área da banca não sejam, neste caso, sinónimos de inteligência e humildade em áreas para as quais não estão vocacionados nem possuem qualquer tipo de qualificação. Este é o exemplo acabado de como se estraga uma exposição. Arte mal partilhada.




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