terça-feira, 4 de abril de 2006
O labirinto
Foto de Lilya Corneli
Zeus não poderia desatar as redes
de pedra que me cercam. Já esqueci
todos os homens que antes fui; segui
o caminho de insípidas paredes
que é o meu destino. Rectas galerias
que se curvam em círculos secretos
ao fim de muitos anos. Parapeitos
gretados pela erosão dos dias.
Entre a poeira tenho decifrado
rastos que temo. O ar tem-me trazido
nas mais côncavas tardes um bramido
ou o eco de um bramido desolado.
Sei que na sombra há Outro, cuja sorte
é fatigar as tão longas saudades
que tecem e destecem este Hades,
ansiar meu sangue e devorar-me a morte.
Ambos nos procuramos. Quem me dera
fosse este o dia último da espera.
J. L. Borges in Elogio da Sombra, 1969.
Foto de Lilya Corneli
Zeus não poderia desatar as redes
de pedra que me cercam. Já esqueci
todos os homens que antes fui; segui
o caminho de insípidas paredes
que é o meu destino. Rectas galerias
que se curvam em círculos secretos
ao fim de muitos anos. Parapeitos
gretados pela erosão dos dias.
Entre a poeira tenho decifrado
rastos que temo. O ar tem-me trazido
nas mais côncavas tardes um bramido
ou o eco de um bramido desolado.
Sei que na sombra há Outro, cuja sorte
é fatigar as tão longas saudades
que tecem e destecem este Hades,
ansiar meu sangue e devorar-me a morte.
Ambos nos procuramos. Quem me dera
fosse este o dia último da espera.
J. L. Borges in Elogio da Sombra, 1969.