sexta-feira, 30 de junho de 2006
Perspectiva da Sala de Jantar
A filha do modesto funcionário público
dá um bruto interesse à natureza-morta
da sala pobre no subúrbio.
O vestido amarelo de organdi
distribui cheiros apetitosos de carne morena
saindo do banho com sabonete barato.
O ambiente parado esperava mesmo aquela vibração:
papel ordinário representando florestas com tigres,
uma Ceia onde os personagens não comem nada
a mesa com a toalha furada
a folhinha que a dona da casa segue o conselho
e o piano que eles não têm sala de visitas.
A menina olha longamente pro corpo dela
como se ele hoje estivesse diferente,
depois senta-se ao piano comprado a prestações
e o cachorro malandro do vizinho
toma nota dos sons com atenção.
Murilo Mendes in Poemas, 1930.
A filha do modesto funcionário público
dá um bruto interesse à natureza-morta
da sala pobre no subúrbio.
O vestido amarelo de organdi
distribui cheiros apetitosos de carne morena
saindo do banho com sabonete barato.
O ambiente parado esperava mesmo aquela vibração:
papel ordinário representando florestas com tigres,
uma Ceia onde os personagens não comem nada
a mesa com a toalha furada
a folhinha que a dona da casa segue o conselho
e o piano que eles não têm sala de visitas.
A menina olha longamente pro corpo dela
como se ele hoje estivesse diferente,
depois senta-se ao piano comprado a prestações
e o cachorro malandro do vizinho
toma nota dos sons com atenção.
Murilo Mendes in Poemas, 1930.
Fernand Leger
Zacheta National Gallery of Art, em Varsóvia, apresenta, até 20 de Agosto, a exposição Fernand Leger, From Painting to Architecture. A exposição mostra desenhos do período da I Grande Guerra, alguns deles subjacentes ao filme de Leger La Creation du Monde, no período 1914-1920. Podem-se ver também os projectos para murais, do período de 1925 a 1935, quando Leger trabalhou com os arquitectos Robert Mallet-Stevens e Le Corbusier. O período de 1940 a 1955 está representado pelos projectos monumentais para várias igrejas. Leger foi sempre particularmente bem recebido e apreciado na Polónia. O grupo de Lvov, por exemplo, seguidista da estética de Leger, tem influência importante nas gerações de artistas polacos do pós-guerra. A esta aura que Leger tem na Polónia não é estranho o facto de Nadia Khoddasevitch, pintora polaca influente nos círculos artísticos, ter sido a companheira de Leger a partir de finais dos anos 40.
quinta-feira, 29 de junho de 2006
Richard Pousette-Dart
O LACMA (Los Angeles County Museum of Art) apresenta, desde hoje e até 17 de Setembro, a exposição retrospectiva Transparent Reflections: Richard Pousette-Dart, Works on Paper, 1940–1992. Esta retrospectiva mostra cerca de cinquenta obras sobre papel de Pousette-Dart, um dos fundadores e, nos anos 50, proeminente membro da chamada escola de Nova York que incluía pintores como Jackson Pollock, Mark Rothko e Willem de Kooning. Pousette-Dart manteve-se sempre fiel às filiações conceptuais iniciais do chamado expressionismo abstracto norte-americano nas suas preocupações com a filosofia oriental e o pensamento transcendente.
Texto de Consulta
Foto de Henri Zerdoun
1
A página branca indicará o discurso
Ou a supressão o discurso?
A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?
O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta - o texto?
O texto é o contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?
2
O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade — texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirurgião?
O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstrato
Ou concretoabstrato?
O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?
Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto.
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.
6
A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mais difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?
Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?
7
Existe um texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os textos alheios?
(...)
9
Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.
O texto-coisa me espia
Com o olho de outrem.
Talvez me condene ao ergástulo.
O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.
Roma, 1965
Murilo Mendes in Convergência, 1963/1966.
Foto de Henri Zerdoun
1
A página branca indicará o discurso
Ou a supressão o discurso?
A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?
O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta - o texto?
O texto é o contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?
2
O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade — texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirurgião?
O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstrato
Ou concretoabstrato?
O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?
Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto.
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.
6
A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mais difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?
Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?
7
Existe um texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os textos alheios?
(...)
9
Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.
O texto-coisa me espia
Com o olho de outrem.
Talvez me condene ao ergástulo.
O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.
Roma, 1965
Murilo Mendes in Convergência, 1963/1966.
quarta-feira, 28 de junho de 2006
Ouvindo:
Miles Davis & John Coltrane- SO WHAT
Miles Davis & John Coltrane- SO WHAT
Anne
Anne qui se mélange au drap pale et délaisse
Des cheveux endormis sur ses yeux mal ouverts
Mire ses bras lointains tournés avec mollesse
Sur la peau sans couleur du ventre découvert.
Elle vide, elle enfle d'ombre sa gorge lente,
Et comme un souvenir pressant ses propres chairs,
Une bouche brisée et pleine d'eau brûlante
Roule le goût immense et le reflet des mers.
Enfin désemparée et libre d'être fraîche,
La dormeuse déserte aux touffes de couleur
Flotte sur son lit blême, et d'une lèvre sèche,
Tête dans la ténebre un souffle amer de fleur.
Et sur le linge où l'aube insensible se plisse,
Tombe, d'un bras de glace effleuré de carmin,
Toute une main défaite et perdant le délice
A travers ses doigts nus dénoués de l'humain.
Au hasard! A jamais, dans le sommeil sans hommes
Pur des tristes éclairs de leurs embrassements,
Elle laisse rouler les grappes et les pommes
Puissantes, qui pendaient aux treilles d'ossements,
Qui riaient, dans leur ambre appelant les vendanges,
Et dont le nombre d'or de riches mouvements
Invoquait la vigueur et les gestes étranges
Que pour tuer l'amour inventent les amants...
Paul Valéry in Anne, 1900.
Anne qui se mélange au drap pale et délaisse
Des cheveux endormis sur ses yeux mal ouverts
Mire ses bras lointains tournés avec mollesse
Sur la peau sans couleur du ventre découvert.
Elle vide, elle enfle d'ombre sa gorge lente,
Et comme un souvenir pressant ses propres chairs,
Une bouche brisée et pleine d'eau brûlante
Roule le goût immense et le reflet des mers.
Enfin désemparée et libre d'être fraîche,
La dormeuse déserte aux touffes de couleur
Flotte sur son lit blême, et d'une lèvre sèche,
Tête dans la ténebre un souffle amer de fleur.
Et sur le linge où l'aube insensible se plisse,
Tombe, d'un bras de glace effleuré de carmin,
Toute une main défaite et perdant le délice
A travers ses doigts nus dénoués de l'humain.
Au hasard! A jamais, dans le sommeil sans hommes
Pur des tristes éclairs de leurs embrassements,
Elle laisse rouler les grappes et les pommes
Puissantes, qui pendaient aux treilles d'ossements,
Qui riaient, dans leur ambre appelant les vendanges,
Et dont le nombre d'or de riches mouvements
Invoquait la vigueur et les gestes étranges
Que pour tuer l'amour inventent les amants...
Paul Valéry in Anne, 1900.
This is America
Desde sábado passado e até 8 de Outubro, pode ver-se no Centraal Museum, em Utrecht, a exposição This is America — Visions of the American Dream, constituída por trabalhos em vídeo, fotografia, instalações, pintura e escultura de 26 jovens autores. A exposição pretende, de alguma forma, denunciar o equívoco da massificação cultural norte-americana e do conceito de american dream.
terça-feira, 27 de junho de 2006
Reflexão N.1
Foto de Henri Zerdoun
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Murilo Mendes in Mundo Enigma, 1945.
Foto de Henri Zerdoun
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Murilo Mendes in Mundo Enigma, 1945.
segunda-feira, 26 de junho de 2006
Corte Transversal do Poema
Foto de Lilya Corneli
A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou.
Murilo Mendes in Poemas, 1930.
Foto de Lilya Corneli
A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou.
Murilo Mendes in Poemas, 1930.
domingo, 25 de junho de 2006
sábado, 24 de junho de 2006
5 Days to the End of Art
Sob este título originário de uma obra de Joseph Beuys, 5 days to the end of art, o Kunsthalle Fridericianum de Kassel organiza, desde o passado dia 3 e até 26 de Novembro um conjunto de exposições relevantes. Até 16 de Julho, Undo redo, com obras de Lucas Ajemian, Mariana Castillo Deball, Martha Colburn, Gabriel Lester, Mads Lynnerup, Jan Mancuska, Melik Ohanian, Susan Philipsz, Kirstine Roepstorff e Tino Sehgal. Esta exposição volta a colocar o problema da apropriação de material visual, escrito e sonoro, descontextualizado da sua origem e reposto com novos significados num processo de desconstrução e reconstrução.
A partir de 28 de Junho e até 2 de Setembro, The far side, com obras de Henry VIII's Wives, Jens Kloppmann, Susanne Kutter, Julien Maire e Pia Maria Martin. Aqui, trata-se da utilização e transformação de imagens que fazem parte de contextos definidos, como imagens científicas, jornalísticas ou artísticas, imagens que produzem conhecimento ou novos sentidos.
De 2 de Setembro a 29 de Outubro, Indirect speech, com obras de Nevin Aladag, Victor Alimpiev, Stefan Constantinescu, Ciprian Muresan, Ioana Nemes, Ovekk Finn e Pablo Pijnappel.
Outras exposições serão anunciadas.
A partir de 28 de Junho e até 2 de Setembro, The far side, com obras de Henry VIII's Wives, Jens Kloppmann, Susanne Kutter, Julien Maire e Pia Maria Martin. Aqui, trata-se da utilização e transformação de imagens que fazem parte de contextos definidos, como imagens científicas, jornalísticas ou artísticas, imagens que produzem conhecimento ou novos sentidos.
De 2 de Setembro a 29 de Outubro, Indirect speech, com obras de Nevin Aladag, Victor Alimpiev, Stefan Constantinescu, Ciprian Muresan, Ioana Nemes, Ovekk Finn e Pablo Pijnappel.
Outras exposições serão anunciadas.
sexta-feira, 23 de junho de 2006
Meret Oppenheim
O Kunstmuseum de Berna apresenta, até 8 de Outubro, An Enormously Tiny Bit of a Lot, primeira grande retrospectiva da artista. Meret Oppenheim (1913 – 1985), foi uma das artistas mais importantes da arte suíça do século XX. No princípio dos anos 30 foi de Basileia para Paris onde se integrou nos grupos de vanguarda da época, tendo sido fotografada por Man Ray, o que contribuíu decisivamente para a aura e o mito criados à volta da sua personalidade. Meret Oppenheim começou por criar objectos, no âmbito de uma concepção dadaísta e surrealista, sempre com grande apoio de André Breton. Trabalhou com desenho, pintura, assemblages e escultura. Muitas das suas obras desafiam qualquer classificação formal mas expressam bem as suas opções filosóficas e literárias.
quinta-feira, 22 de junho de 2006
A Mulher e a Casa
Foto de Lilya Corneli
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
João Cabral de Melo Neto in Quaderna, 1960.
Foto de Lilya Corneli
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
João Cabral de Melo Neto in Quaderna, 1960.
quarta-feira, 21 de junho de 2006
Soviet Alternative Art (1956-1988)
O Museu de Arte Contemporânea de Thessaloniki apresenta, até 10 de Setembro, Soviet Alternative Art (1956-1988). Trata-se de obras da Colecção George Costakis que, pela primeira vez, são vistas publicamente. A exposição reúne um vasto conjunto de peças que Costakis adquiriu desde os anos 50, sempre na perspectiva de seleccionar e coleccionar obras de artistas que não se enquadravam na corrente oficial soviética do social realismo. Parte desta colecção foi adquirida directamente por Costakis, até 1977: pintura expressionista de Anatoli Zverev, obras conceptuais de Ilya Kabakov, Ivan Chuikov, Oleg Vasiliev e Sergei Shablavin, construções tridimensionais de Vladimir Yankilevski e pintura minimalista de Igor Vulokh.
A filha de Costakis, Aliki Costakis, continuou, nos anos 80, esta colecção com a aquisição de obras da geração mais jovem de artistas soviéticos como Irina Nakhova, Nicholas Ovchinnikov e Sergei Shutov.
A filha de Costakis, Aliki Costakis, continuou, nos anos 80, esta colecção com a aquisição de obras da geração mais jovem de artistas soviéticos como Irina Nakhova, Nicholas Ovchinnikov e Sergei Shutov.
terça-feira, 20 de junho de 2006
segunda-feira, 19 de junho de 2006
David Hockney
Portraits
Portraits
O Los Angeles County Museum of Art (LACMA) apresenta, até 4 de Setembro, a primeira grande exposição de David Hockney exclusivamente de retratos. Portraits permite-nos ver ou rever cerca de cinquenta anos da carreira do pintor na sua faceta de retratista. Família, amigos, amantes e auto-retratos constituem uma das vertentes mais importantes do trabalho de Hockney ao longo dos anos. Algumas das 160 peças apresentadas, quer de pintura, quer de desenho, são inéditas.
quinta-feira, 15 de junho de 2006
Com as mãos
Foto de Lilya Corneli
Com as mãos
construo
a saudade do teu corpo,
onde havia
uma porta,
um jardim suspenso,
um rio,
um cavalo espantado à desfilada.
Com as mãos
descrevo o limiar,
os aromas subtis,
os largos estuários,
as crinas ardentes
fustigando-me o rosto,
a vertigem do apelo nocturno,
o susto.
Com as mãos procuro
(ainda) colher o tempo
de cada movimento do teu corpo
em seu voo.
E por fim destruo
todos os vestígios (com as mãos):
Brusca-
mente.
Eduíno de Jesus in Os silos do silêncio, Poesia (1948-2004), 2005.
Foto de Lilya Corneli
Com as mãos
construo
a saudade do teu corpo,
onde havia
uma porta,
um jardim suspenso,
um rio,
um cavalo espantado à desfilada.
Com as mãos
descrevo o limiar,
os aromas subtis,
os largos estuários,
as crinas ardentes
fustigando-me o rosto,
a vertigem do apelo nocturno,
o susto.
Com as mãos procuro
(ainda) colher o tempo
de cada movimento do teu corpo
em seu voo.
E por fim destruo
todos os vestígios (com as mãos):
Brusca-
mente.
Eduíno de Jesus in Os silos do silêncio, Poesia (1948-2004), 2005.
quarta-feira, 14 de junho de 2006
terça-feira, 13 de junho de 2006
segunda-feira, 12 de junho de 2006
LE MOT
bolide
géranium
à la fenêtre
o u v e r t e
sur un coeur
battant
Paul Eluard in Cours naturel, 1938.
bolide
géranium
à la fenêtre
o u v e r t e
sur un coeur
battant
Paul Eluard in Cours naturel, 1938.
Allison Cortson
Na Galerie Michael Janssen de Colónia pode ser vista, até ao fim deste mês, a exposição Collecting Dust, pintura de Allison Cortson. Formalmente, Cortson aborda os limites da intervenção sobre material fotográfico e os diversos níveis de aproximação ao real. Conceptualmente, Allison Cortson revela preocupações na área da filosofia e ciência, na sugestão de grandes espaços vazios entre os objectos e na sensação de precaridade de cada momento.
sábado, 10 de junho de 2006
Yutaka Sone
Like Looking for Snow Leopard é o título desta exposição de Yutaka Sone no Kunsthalle de Berna. Sone é um artista japonês que vive e trabalha nos Estados Unidos. É difícil definir o seu discurso porque Sone não revela nem a herança da cultura japonesa, nem nenhum especial vínculo à cultura ocidental. Os seus trabalhos de desenho, performance e vídeo vivem, essencialmente, da força da própria imagem e da procura do seu próprio vocabulário poético.
Inaugura hoje e pode ser visto até 6 de Agosto.
Inaugura hoje e pode ser visto até 6 de Agosto.
Correio da... Spirit
Montes, vales, uma montanha ao fundo, terra pesada, antiga e o céu da cor da terra. Tudo estranhamente familiar.
sexta-feira, 9 de junho de 2006
Inventory
A Colecção de Anton e Annick Herbert de Ghent, na Bélgica, é uma das mais importantes colecções de arte Minimal, arte Conceptual e arte Povera. A colecção compreende um conjunto de obras adquiridas entre 1968 e 1989 representando Carl Andre, Giovanni Anselmo, Art & Language, John Baldessari, Robert Barry, Marcel Broodthaers, Stanley Brouwn, Daniel Buren, Jean-Marc Bustamante, André Cadere, Hanne Darboven, Jan Dibbets, Luciano Fabro, Gilbert & George, Dan Graham, Douglas Huebler, Donald Judd, On Kawara, Mike Kelley, Martin Kippenberger, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, Richard Long, Mario Merz, Reinhard Mucha, Bruce Nauman, Giulio Paolini, A.R. Penck, Michelangelo Pistoletto, Gerhard Richter, Thomas Schütte, Robert Smithson, Niele Toroni, Jan Vercruysse, Didier Vermeiren, Lawrence Weiner, Franz West, Ian Wilson, Heimo Zobernig. É a mostra desta colecção, com o título Inventory que pode ser vista, a partir de amanhã, e até 3 de Setembro, no Kunsthaus, em Graz.
quinta-feira, 8 de junho de 2006
Das avaliações
Não quero participar neste debate da avaliação dos professores porque me parece absurdo o ponto de partida para a discussão. Se o objectivo é alterar a progressão da carreira docente ou, em última análise, quebrar os elos nefastos do corporativismo, parece-me óbvio existirem procedimentos mais adequados e, também, mais frontais para o fazer. Esta ideia peregrina de considerar que os professores devem ser avaliados do "exterior" do sistema só pode partir de alguém que não faz a menor ideia de como o sistema tem vindo a funcionar. Trinta e dois anos depois do 25 de Abril, apenas dois ministros da educação, em dezenas deles, cumpriram o seu mandato. O sistema tem sido, ao longo dos anos, desfeito e refeito por reformas que se reformam sem ter tempo de entrar em vigor com excepcional paciência e profissionalismo por parte do corpo docente numa exigência de permanente adaptação, por vezes, ultrapassando os limites do razoável. E se alguém se tem preocupado pouco com a qualidade e a estabilidade do sistema, numa desequilibrada procura experimentalista de soluções avulsas, esse alguém é o poder. Quaisquer pais que tenham vivido a escola dos seus filhos nos últimos anos sabe disto. Um dos elos mais fracos do sistema nos últimos anos é justamente a classe docente a quem o poder desautorizou e retirou todos os mecanismos razoáveis para o exercício da sua função. Não está aqui, obviamente, em causa a necessidade da participação dos pais nas estratégias educativas. A avaliação dos professores, por parte dos pais, há muitos anos que é feita, sempre que há reuniões de pais, sempre que há reuniões entre pais e professores mas sempre o foi a título de orientação, de colaboração. A diferença é que, agora, se pretende que essa avaliação seja de carácter profissional e tenha consequências na vida profissional dos professores. Poder-se-ía perguntar porque é que não cabe também aos professores avaliarem a qualidade dos pais e a medida do seu empenhamento ou do abandono a que votam os seus filhos. Poderia até, esta avaliação, ter consequências pecuniárias nas famílias. O que diriam as associações de pais se saísse tal regulamentação? E se transportassemos isto para outras áreas profissionais? A medicina, por exemplo? Existirá corporação mais forte? E se houvesse regulamentação para que os médicos fossem avaliados por alguém exterior ao sistema de saúde? E se isso tivesse consequências na progressão das suas carreiras? Na realidade, estamos no limiar daquele episódio relatado por Boris Vian no Outono em Pequim: o médico que tinha sobre a sua secretária duas pilhas de papéis: a dos doentes que tinha salvo e a dos doentes que tinham morrido. A sua carreira era definida pela altura destas pilhas. Talvez o sistema educativo e a avaliação dos professores por elementos exteriores ao sistema venha a dar nisto: a carreira de cada professor definir-se-à pela altura das pilhas de papéis: a dos alunos com sucesso e a dos alunos com insucesso escolar.
Não quero participar neste debate da avaliação dos professores porque me parece absurdo o ponto de partida para a discussão. Se o objectivo é alterar a progressão da carreira docente ou, em última análise, quebrar os elos nefastos do corporativismo, parece-me óbvio existirem procedimentos mais adequados e, também, mais frontais para o fazer. Esta ideia peregrina de considerar que os professores devem ser avaliados do "exterior" do sistema só pode partir de alguém que não faz a menor ideia de como o sistema tem vindo a funcionar. Trinta e dois anos depois do 25 de Abril, apenas dois ministros da educação, em dezenas deles, cumpriram o seu mandato. O sistema tem sido, ao longo dos anos, desfeito e refeito por reformas que se reformam sem ter tempo de entrar em vigor com excepcional paciência e profissionalismo por parte do corpo docente numa exigência de permanente adaptação, por vezes, ultrapassando os limites do razoável. E se alguém se tem preocupado pouco com a qualidade e a estabilidade do sistema, numa desequilibrada procura experimentalista de soluções avulsas, esse alguém é o poder. Quaisquer pais que tenham vivido a escola dos seus filhos nos últimos anos sabe disto. Um dos elos mais fracos do sistema nos últimos anos é justamente a classe docente a quem o poder desautorizou e retirou todos os mecanismos razoáveis para o exercício da sua função. Não está aqui, obviamente, em causa a necessidade da participação dos pais nas estratégias educativas. A avaliação dos professores, por parte dos pais, há muitos anos que é feita, sempre que há reuniões de pais, sempre que há reuniões entre pais e professores mas sempre o foi a título de orientação, de colaboração. A diferença é que, agora, se pretende que essa avaliação seja de carácter profissional e tenha consequências na vida profissional dos professores. Poder-se-ía perguntar porque é que não cabe também aos professores avaliarem a qualidade dos pais e a medida do seu empenhamento ou do abandono a que votam os seus filhos. Poderia até, esta avaliação, ter consequências pecuniárias nas famílias. O que diriam as associações de pais se saísse tal regulamentação? E se transportassemos isto para outras áreas profissionais? A medicina, por exemplo? Existirá corporação mais forte? E se houvesse regulamentação para que os médicos fossem avaliados por alguém exterior ao sistema de saúde? E se isso tivesse consequências na progressão das suas carreiras? Na realidade, estamos no limiar daquele episódio relatado por Boris Vian no Outono em Pequim: o médico que tinha sobre a sua secretária duas pilhas de papéis: a dos doentes que tinha salvo e a dos doentes que tinham morrido. A sua carreira era definida pela altura destas pilhas. Talvez o sistema educativo e a avaliação dos professores por elementos exteriores ao sistema venha a dar nisto: a carreira de cada professor definir-se-à pela altura das pilhas de papéis: a dos alunos com sucesso e a dos alunos com insucesso escolar.
quarta-feira, 7 de junho de 2006
terça-feira, 6 de junho de 2006
06.06.06
Como escreve Tiago de Oliveira Cavaco: Todos os dias são do Senhor e do Demónio - o grande exemplo universal de convivência.
Como escreve Tiago de Oliveira Cavaco: Todos os dias são do Senhor e do Demónio - o grande exemplo universal de convivência.
Hubert Schmalix
Até 17 de Junho, a Hilger contemporary, de Viena, mostra pintura de Hubert Schmalix, no contexto deste movimento muito interessante, em termos europeus, de retorno à pintura. Schmalix é um dos pintores mais representativos do Neue Wilden que desde os anos setenta inovou algumas aproximações expressivas na área da figuração.
segunda-feira, 5 de junho de 2006
A ler
Hoje, a crítica de Pierre Assouline ao novo romance de Philip Roth: Complot contre l'Amérique (em português, editado pela D. Quixote, A Conspiração contra a América).
Lucio Fontana. Venezia/ New York
A Fundação Peggy Guggenheim de Veneza mostra, desde ontem, duas séries pouco conhecidas de obras de Fontana que fazem parte da Colecção Guggenheim: a série de pinturas sobre Veneza e a série de metais sobre Nova York, ambas do início dos anos sessenta. Qualquer uma destas séries foi vista pontualmente. No início de 1961, Fontana trabalhou um grupo de painéis que apelidou de série de Veneza. Estas peças foram vistas, ainda durante o ano de 1961, na exposição Arte e Contemplazione no Palazzo Grassi, em Veneza. Também em 1961, a Galeria Martha Jackson de Nova York organizou a primeira exposição individual de Lucio Fontana nos Estados Unidos. Fontana ficou fascinado por Nova York e trabalhou um conjunto de desenhos sobre a cidade que vieram a dar origem a estas peças em metal que Fontana apelidou série de Nova York. São estas duas séries que a Fundação Guggenheim mostra, até 24 de Setembro, em Veneza.
sexta-feira, 2 de junho de 2006
Foto de Lilya Corneli
MOTS
que j'écris ici
contre toute évidence
avec
le grand souci
DE TOUT DIRE
Paul Eluard in Cours naturel, 1938.
quinta-feira, 1 de junho de 2006
Foto de Henri Zerdoun
combien reste-t-il
DE CES MOTS
qui ne me menaient
à rien
Paul Eluard in Cours naturel, 1938.
DE CES MOTS
qui ne me menaient
à rien
Paul Eluard in Cours naturel, 1938.