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quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

 
À memória de Rafael Monteiro




Painel do Arcebispo, Museu Nacional de Arte Antiga


Ainda os painéis
"de Nuno Gonçalves"

S. Tomaz de Cantuária?


(parte 2)


A vida de S. Tomaz é narrada por Jacques de Voragine na "Lenda Dourada" (ou "Legenda Áurea"), célebre agiológio medieval. Escrita no ano de 1255, segundo se presume, cópias manuscritas circularam pelas mãos dos crentes, pobres e ricos. Quando impressa, a obra foi lida apaixonadamente. Em 1917 ainda era reeditada em Paris!
Na "Legenda Dourada" conta-se, do mártir, certo hábito que esteve na origem de milagre retumbante. Macerava-se Tomaz com invulgar cilício, pois com ele não só envolvia o tronco, mas também as pernas, até aos joelhos. Um dia, determinado sacerdote foi injustamente acusado perante o Arcebispo e por este suspenso do seu munus. Tomaz naquele dia deixara o cilício sob o leito, com a intenção de o recoser. Nossa Senhora apareceu então ao sacerdote, e assim lhe falou: vai ter com o Arcebispo, e diz-lhe que Aquela por amor de quem tu celebras missas, lhe recoseu ela própria o cilício que está sob o seu leito.

Apressou-se o sacerdote em contar a Tomaz a visão que tivera. Verificada a verdade, confirmado o prodígio, a interdição foi levantada.

Outro milagre, menos divulgado, preocupou a cristandade no primeiro quartel do séc. XIV, pois serviu a conhecida rivalidade entre Plantagenetas e Capetos — as cortes inglesa e francesa. Contêmo-lo.

Quando se exilou, Tomaz teve no seu retiro uma rara "visita": Nossa Senhora. Na Sua aparição miraculosa, não só lhe predisse a morte por violência, como lhe revelou oculto desígnio de Deus: — um Príncipe inglês (que viria a ser o quinto Rei após Henrique II) deveria ser ungido com um óleo santo, cuja virtude lhe daria poder para conquistar a Terra Santa; os sucessores daquele monarca seriam também ungidos com o precioso e divino óleo. E Nossa Senhora deu ao Arcebispo um fiolo, ou tubo de vidro, contendo o óleo santo.

O fiolo passou das mãos de Tomaz para as de um monge de Saint-Cyprien de Poitiers; aí foi cautelosamente escondido sob uma pedra, na Igreja de S. Jorge, acabando nas mãos de D. João II, duque de Barbante, cunhado de Eduardo II de Inglaterra.

No ano de 1307 o duque foi a Londres assistir à coroação, levando com ele o sagrado óleo.

Sobre a unção real está históricamente documentada a consulta então feita ao Papa João XXII por um enviado do Rei de Inglaterra: Nicolau de Stratton, dominicano, antigo provincial e depois penitenciário da diocese de Winchester.
S. Tomaz está pois ligado a um dos mais importantes actos da idade-média: a unção dos Reis.
Os milagres que sucintamente contámos, são os únicos — ao Santo referidos — que a lenda e a história registaram.

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Recapitulando:
— Tomaz (ou Tomé) assim se chamou por ter nascido no dia de S. Tomé Apóstolo;
— foi diácono;
— retirou-se para uma abadia da Ordem de Cister;
— usava invulgar cilício, milagrosamente recosido por Nossa Senhora;
— um fiolo, ou delgado tubo de vidro, com óleo santo destinado à unção dos Reis, foi-lhe milagrosamente confiado;
— ao pregar, durante as Festas do Natal, anunciou a sua morte — por defender o direito divino contra o poder real;
— a sua cabeça, quebrada com lançadas (os miolos espalharam-se pelo chão), foi a mais venerada das suas relíquias.

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Qual o étimo de Tomé (ou Tomaz)?
De origem aramaica: tôma, Tomé significa irmão gémeo (em grego: didymus).
S. João assim se refere ao Apóstolo: "Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Didymo" (XXI-2).
Quem era o gémeo do Apóstolo?

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Procuremos relacionar o enunciado com a discutida obra do desconhecido e genial pintor.
São nítidos na alva do Santo os "regaços" ou "quadratos"; igualmente a aposição do mesmo tecido nos punhos e gola. Tal uso é, na época, particular do clero inglês.
Onde, representação de clérigos portugueses envergando alvas semelhantes?
Segundo a leitura feita, e nunca contestada, das páginas do livro (que não é um evangeliário) mostrado pelo Santo, nelas está escrito:

"O Pai é maior do que eu. E eu vo-lo digo agora antes que aconteça,
para que quando acontecer o acrediteis. Já não falarei muito convosco,
porque vem o Príncipe deste Mundo e ele em mim não tem poder.
Mas para que o mundo conheça que amo o Pai e faço como Ele me
ordenou".

Não está o Arcebispo de Cantuária "falando", tal como o fez nas festas do Natal de 1170, quando profetizou a sua morte, gerada pelo conflito aberto entre ele e o "Príncipe deste Mundo"? (O Santo apresenta-se de manípulo; em 1959 o Revº Padre Dr. António Leite havia lembrado que desde há muitos séculos o manípulo "só se usa nas missas ou cerimónias com ela relacionadas").
Apontámos já as omissões havidas na transcrição dos versículos: o princípio do 28, o final do 31. Se eles estivessem completos (tal deveria verificar-se se o intuito fosse o de mostrar o Evangelho), bem diferente seria a interpretação.
No princípio do 28 está escrito: "Eu vou e venho a vós" — palavras de Jesus anunciando a Sua ressurreição; não podiam ser usadas pelo Arcebispo, nem por outro.
Termina assim o vers. 31: "Levantai-vos, vamo-nos daqui", expressão alheia ao anúncio da morte, estranha ao conflito.
As supressões são sinal certo de que, do Evangelho, só importou transcrever o que foi pintado, não o Evangelho.
As figuras centrais são iguais. Belard da Fonseca afirmou mesmo (1957) que o pintor reproduziu o retrato do Santo "por meio de decalque invertido para outro painel".
Tal duplicidade tem confundido os estudiosos. G. Kaptal escreveu não conhecer outro retábulo onde se repita uma figura em semelhante situação icónica.
As figuras, pois, são iguais, irmãs, gémeas. Mas os estudiosos ainda poderão encontrar, ao mesmo tempo, outra razão para a duplicidade. Por exemplo: dois actos, de rito ou drama.
Nossa Senhora recoseu o cilício do Arcebispo, milagre proclamado. E aos pés do Santo se pintou a corda (o cilício), não para o identificar, mas para memória do facto milagroso. (O pintor — qualquer que ele haja sido — não podia desconhecer a "Legenda Dourada", até ao Concílio de Trento cânone respeitado e seguido por pintores e escultores).
O óleo santo ao Arcebispo entregue, continha-se num fiolo ou delgado tubo de vidro; não é este, revestido de ouro, ou em estojo de ouro, a "vara" que o Santo empunha? (A "vara", símbolo de autoridade, só pode — segundo as convenções iconográficas — ser ostentada por Cristo, Moisés ou S. Pedro.).
Na mesma tábua (consideramos o facto significativo) o pintor deixou memória dos únicos milagres ligados à vida do Arcebispo.
O bocado de crâneo (a "relíquia") não é a corona ou caput sancti Thome, o mais venerado dos restos?
Teria vindo para Portugal tal relíquia? Não sabemos, nem sabê-lo importa muito. Mas sabe-se, por exemplo, que o anel "de oiro com safiras" que ao mártir pertencera, o possui D. Pedro, irmão de D. Afonso II, falecido no ano de 1255. (D. Pedro nasceu em 1187 e faleceu em 1255: No seu testamento, de 9 de Outubro de 1255, entre outras dádivas, deixa a sua "dilectíssima irmã D. Mafalda" todas as pedras preciosas e anéis, menos um "de oiro com safira, que pertencera a S. Tomaz de Cantuária, o qual destina ao Bispo de Maiorca".).
Que pode opor-se à hipótese de ser S. Tomaz, Arcebispo de Cantuária (antes diácono) a dupla figura central dos painéis? O livro do "judeu"? Talvez tal livro não seja mais do que o Talmud ou Bíblia hebraica, como já foi sugerido por alguns investigadores. Só o saberemos quando se ler o que nele está escrito, admitindo que o texto foi pintado para ser entendido. A leitura feita por Belard da Fonseca não é convincente, pois os caracteres pintados são semitas. E não entendemos os impedimentos que se têm posto à representação de um judeu entre cristãos, em Portugal no século XV. À objecção comum: não se pintava um judeu em quadro exposto num templo cristão, responderemos não haver elemento algum que permita afirmar ser o políptico destinado a uma igreja. (E é importante saber se o políptico foi pintado em Portugal, para Portugal (por encomenda), ou ofertado. Sobre estas hipóteses, sabe-se, concretamente, o quê?).


Se a reprodução destes caracteres não fosse legendada, poderia ser-se tentado a identificá-los com quaisquer duas linhas do chamado "livro do judeu"; mas os caracteres acima reproduzidos são inscrição, em velho árabe (semita), pintada num pote de farmácia sículo-muçulmano, e pode traduzir-se assim: "Glória ao vitorioso".



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