quarta-feira, 30 de julho de 2008
O catador
Foto de Brassaï
Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta. Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
Manoel de Barros in Tratado geral das grandezas do ínfimo.
Foto de Brassaï
Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta. Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
Manoel de Barros in Tratado geral das grandezas do ínfimo.
terça-feira, 29 de julho de 2008
A namorada
Foto de Brassaï
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
Manoel de Barros in Tratado geral das grandezas do ínfimo.
Foto de Brassaï
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
Manoel de Barros in Tratado geral das grandezas do ínfimo.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Codex Sinaiticus
Finalmente online para estudo e consulta o Codex Sinaiticus. Embora ainda com poucos versículos transcritos para inglês, o projecto internacional que coloca agora disponível o Codex Sinaiticus em linha promete continuar paulatinamente. O Codex Sinaiticus é um dos mais importantes livros do mundo. Manuscrito sobre pergaminho há mais de 1600 anos, contém a mais antiga Bíblia cristã, escrita em grego, e a mais antiga versão conhecida do Novo Testamento. O Livro do Sinai, como também é chamado, é provavelmente o único livro que sobreviveu à Antiguidade e, também por isso, documento fundamental para a História do livro.
Mantido durante séculos à guarda do Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, as folhas deste livro começam a dispersar-se em 1844, 1853 e 1859 quando Constantine Tischendorf consegue trazer da Palestina parte do livro para publicação. Em 1933, o governo soviético compra 347 folhas, hoje na posse da Biblioteca Britânica. Partes de cinco folhas continuam na posse da Biblioteca Nacional Russa em S. Petersburg. Umas outras 43 folhas estiveram todo este tempo na posse da Biblioteca da Universidade de Leipzig. Doze folhas e vinte e quatro fragmentos permaneceram no mosteiro de Santa Catarina, no Sinai, e foram recuperados pelos monges em 1975. Em Março de 2005, estas quatro entidades (Biblioteca Britânica, Biblioteca Nacional Russa de S. Petersburg, Biblioteca da Universidade de Leipzig e Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai) acordaram num projecto que visa a conservação, digitalização e transcrição de todas as páginas e fragmentos (cerca de 400) do Codex Sinaiticus. A maior curiosidade da tão aguardada transcrição prende-se com a mais antiga versão do Novo Testamento, escrita cerca de 300 anos após a Crucificação. Embora semelhante em todos os aspectos às Bíblias modernas, no Codex Sinaiticus a ordem dos textos não é a mesma: a Carta aos Hebreus está depois da Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses e os Actos dos Apóstolos entre a Pastoral e as Epístolas Católicas. Para além disto, existem dois textos que não constam das Bíblias modernas: uma epístola de autor desconhecido que, no entanto, se afirma como o apóstolo Barnabé e um outro texto, com título "O Pastor", escrito no início do século II pelo escritor romano Hermas. A ler mais aqui.
Mantido durante séculos à guarda do Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, as folhas deste livro começam a dispersar-se em 1844, 1853 e 1859 quando Constantine Tischendorf consegue trazer da Palestina parte do livro para publicação. Em 1933, o governo soviético compra 347 folhas, hoje na posse da Biblioteca Britânica. Partes de cinco folhas continuam na posse da Biblioteca Nacional Russa em S. Petersburg. Umas outras 43 folhas estiveram todo este tempo na posse da Biblioteca da Universidade de Leipzig. Doze folhas e vinte e quatro fragmentos permaneceram no mosteiro de Santa Catarina, no Sinai, e foram recuperados pelos monges em 1975. Em Março de 2005, estas quatro entidades (Biblioteca Britânica, Biblioteca Nacional Russa de S. Petersburg, Biblioteca da Universidade de Leipzig e Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai) acordaram num projecto que visa a conservação, digitalização e transcrição de todas as páginas e fragmentos (cerca de 400) do Codex Sinaiticus. A maior curiosidade da tão aguardada transcrição prende-se com a mais antiga versão do Novo Testamento, escrita cerca de 300 anos após a Crucificação. Embora semelhante em todos os aspectos às Bíblias modernas, no Codex Sinaiticus a ordem dos textos não é a mesma: a Carta aos Hebreus está depois da Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses e os Actos dos Apóstolos entre a Pastoral e as Epístolas Católicas. Para além disto, existem dois textos que não constam das Bíblias modernas: uma epístola de autor desconhecido que, no entanto, se afirma como o apóstolo Barnabé e um outro texto, com título "O Pastor", escrito no início do século II pelo escritor romano Hermas. A ler mais aqui.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
Para rir
Santos Ferreira na SIC-Notícias: (literal)
"Eu que sou um optimista... acho que quanto mais baixo está a cotação mais probabilidade há de subir".
Santos Ferreira na SIC-Notícias: (literal)
"Eu que sou um optimista... acho que quanto mais baixo está a cotação mais probabilidade há de subir".
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
Foto de Lilya Corneli
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
Manoel de Barros in O Guardador de Águas
Foto de Lilya Corneli
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
Manoel de Barros in O Guardador de Águas
sábado, 19 de julho de 2008
Mundo Pequeno
Foto de Lilya Corneli
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
Manoel de Barros in O Livro das Ignorãças.
Foto de Lilya Corneli
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
Manoel de Barros in O Livro das Ignorãças.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Marcel Duchamp
Inaugura hoje no Museu de Arte Moderna de São Paulo a exposição Marcel Duchamp: uma obra que não é uma obra de arte. É a maior exposição de Duchamp alguma vez realizada na América do Sul e reúne um conjunto de obras importantes provenientes de colecções tão distantes como o Philadelphia Art Museum, o museu da Universidade de Indiana, o Moderna Museet em Estocolmo ou o Frederick and Lillian Kiesler Private Foundation em Vienna. Ler mais aqui.
Nancy Spero
Dissidanses é o título desta retrospectiva de Nancy Spero, a ver no Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA). Spero, nascida em 1926, é uma das figuras proeminentes, nos anos 60 e 70, dos movimentos feministas e de contestação nova-iorquinos. A exposição abarca obras desde os tempos de juventude, quando ainda aluna do Instituto de Arte de Chicago, até às peças que estiveram expostas em 2007 na bienal de Veneza. A exposição estará em Barcelona até 24 de Setembro e seguirá depois para o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madrid, onde inaugurará a 14 de Outubro. Ler mais aqui.
sábado, 12 de julho de 2008
terça-feira, 8 de julho de 2008
Divertimento (18)
Que nos separa, Amor, um traço de união?...
Alexandre O'Neill in Abandono vigiado, 1960.
Que nos separa, Amor, um traço de união?...
Alexandre O'Neill in Abandono vigiado, 1960.
domingo, 6 de julho de 2008
A ler
Objectos em terra-cota de Annie Samuelson
Objectos em terra-cota de Annie Samuelson
Pierre Assouline convida para Le monde existe-t-il?, de 1 a 8 de Agosto. No La république des livres.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Divertimento (17)
Dou guarida e afecto a vogal que procure um tecto.
Alexandre O'Neill in Abandono vigiado, 1960.
Dou guarida e afecto a vogal que procure um tecto.
Alexandre O'Neill in Abandono vigiado, 1960.