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quarta-feira, 30 de julho de 2008

 
O catador


Foto de Brassaï


Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,

ou de lado,

ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta. Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.

São patrimônios inúteis da humanidade.

Ganharam o privilégio do abandono.

O homem passava o dia inteiro nessa função de catar

pregos enferrujados.

Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.

Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.

Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.

Garante a soberania de Ser mais do que Ter.


Manoel de Barros in Tratado geral das grandezas do ínfimo.



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