sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A estrada
Guston
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Guston
A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só tem sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não a vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.
O caminho e a estrada implicam também duas noções de beleza.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não a vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.
O caminho e a estrada implicam também duas noções de beleza.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.