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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

 
Rubaiyat


Foto de Sophie Chivet


Volte-me à voz a métrica do persa
A recordar que o tempo é a diversa
Trama de sonhos ávidos que somos
E que o secreto Sonhador dispersa.

Volte a afirmar que a carne é a poeira,
O fogo a cinza, o rio a passageira
Imagem tão fugaz das nossas vidas
Que lentamente fogem tão ligeiras.

Volte a afirmar que o árduo monumento
Que a soberba constrói é como o vento
Ao passar, e que à luz inconcebível
De Quem perdura, um século é um momento.

Volte a avisar-me que o rouxinol de ouro
Canta só uma vez neste sonoro
Vértice que há na noite e que os avaros
Astros não nos oferecem seu tesouro.

Volte a lua às palavras que a tua mão
Escreve, tal como volta o temporão
Azul ao teu jardim. A mesma lua
Desse jardim vai procurar-te em vão.

Que sejam sob a lua dessas ternas
Tardes o teu exemplo as cisternas
Em cujo espelho de água se repetem
Umas poucas imagens tão eternas.

Que a lua do persa e os incertos
Ouros desses crepúsculos desertos
Voltem. Hoje é só ontem. És os outros
Cujo rosto é o pó. Tu és os mortos.


Jorge Luis Borges in Elogio da Sombra, 1969.



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