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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

 
Cores

Foi gratuitamente e por acaso que estando ontem na Ribeira das Naus a olhar para um Tejo verde me espantei a trouxe-mouxe. Eram sete e tal duma tarde de fim de Abril, quando princípios de Primavera já puxam o bridão de verdes diferentes em cima das árvores mais dengosas. No entanto, era o Tejo verde e sem mesclas de barros invernosos ou pardos esgotosos que se me apresentava. A visão não se possuía só da cachimónia, não senhor. O que eu estava a ver era a realidade de uma água verde a espelhar-se contra os barcos catraeiros de Cacilhas e a deixar pousar o reflexo de velas rotas e remendadas das velhas fragatas de Offenbach que pacoviamente deslizam para cima e para baixo — numa viagem trazem legumes e na outra levam ninharias rio nascente. Eu olhava para as bandas lá do fundo e a mancha verde mais carregada alimentava-se num futuro cheio de entusiasmo. Pensava nas férias no campo, também ao fim da tarde, ouvindo o cacarejo de umas galinhas aliviadas de ovo quando aproveitava a ocasião para deitar o busílis à jovem mestra-escola que guardava cautelosamente a sua virgindade para fins oficiais e, decerto, matrimoniais. Realmente porque estaria assim o Tejo tão verde, tão esperançoso?


Ruben A. in Cores, 1960.



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