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domingo, 11 de abril de 2010

 
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Sendo o erotismo a humanização inteligente e sensível do amor físico, e a pornografia o seu aviltamento e degradação, acuso-o, leitor da Playboy ou da Penthouse, frequentador de antros que exibem filmes porno hard-core e de sex shops onde se adquirem vibradores eléctricos, consoladores de borracha e preservativos com cristas de galo ou mitras arquipiscopais, de contribuir para o regresso veloz à mera cópula animal do atributo mais eficaz concedido ao homem e à mulher para se assemelharem aos deuses (pagãos, claro está, que não eram castos nem melindrosos em questões sexuais como aquele que sabemos).
V. delinque abertamente, todos os meses, renunciando a exercer a sua própria imaginação, atiçada pelo fogo dos seus desejos, cedendo à tara municipal de permitir que as suas pulsões mais subtis, as do apetite carnal, sejam refreadas por produtos manufacturados de maneira clónica, que, aparentando satisfazer as urgências sexuais, as subjugam, aguando-as, serializando-as e constrangendo-as dentro de caricaturas que vulgarizam o sexo, o despojam de originalidade, mistério e beleza e o tornam uma mascarada, quando não ignóbil afronta ao bom gosto. Para que saiba com quem tem de haver-se, talvez lhe aclare o meu pensamento saber que (monógamo como sou, embora benevolente com o adultério) tenho por fontes mais apetecíveis de sofreguidões eróticas a defunta e respeitabilíssima estadista de Israel Senhora Golda Meir ou a austera Senhora Margaret Thatcher do Reino Unodo, à qual nunca se moveu um cabelo enquanto foi primeira-ministra, que qualquer dessas bonecas canforadas, de mamas inchadas pelo silicone, púbis carmeados e tingidos que parecem permutáveis, uma mesma impostura multiplicada por uma forma única, que, para que o ridículo completamente a estupidez, aparecem nessa inimiga de Eros que é a Playboy, em página desdobrável e com orelhas e cauda de pelúcia ostentando o ceptro de "A coelhinha do mês".
O meu ódio à
Playboy, à Penthouse e congéneres não é gratuito. Esse espécime de revista é um símbolo do aviltamento do sexo, do desaparecimento dos formosos tabus que costumavam rodeá-lo e graças aos quais o espírito humano podia rebelar-se, exercendo a liberdade individual, afirmando a personalidade singular de cada qual, e criar-se pouco a pouco o indivíduo soberano na elaboração, secreta e discreta, de rituais, condutas, imagens, cultos, fantasias, cerimónias, que, enobrecendo eticamente e conferindo categoria estética ao acto do amor, o desanimalizam progressivamente até o transformar em acto criativo. Um acto graças ao qual, na reservada intimidade das alcovas, um homem e uma mulher (cito a fórmula ortodoxa, mas, claro, poderia tratar-se de um cabvalheiro e de uma palmípede, de duas mulheres, de dois ou três homens, e de todas as combinações imagináveis desde que o elenco não ultrapasse o trio ou, concessão máxima, os dois pares) podiam emular por umas horas Homero, Fídias, Botticelli ou Beethoven. Sei que V. não me compreende, mas não faz mal; se me compreendesse, não seria tão imbecil que sincronizasse as suas erecções e orgasmos pelo relógio (de ouro maciço e estanque, certamente?) de um senhor chamado Hugh Heffner.
O problema é mais estético que ético, filosófico, sexual, psicológico ou político, embora, para mim, essa separação não seja aceitável, porque tudo o que importa é, ao fim e ao cabo, estético. A pornografia despoja o erotismo de conteúdo artístico, priviligia o orgânico em relação ao espiritual e o mental, como se o desejo e o prazer tivessem por protagonistas falos e vulvas e estes adminículos não fossem meros servos dos fantasmas que governam as nossas almas, e segrega o amor físico do resto das experiências humanas. O erotismo, em contrapartida, integra-o em tudo o que somos e temos.


Mario Vargas Llosa
in Os Cadernos de Dom Rigoberto (Carta ao leitor do "Playboy" ou Tratado Mínimo de Estética), 1997.



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