quinta-feira, 17 de março de 2011
A notícia da recandidatura caiu como uma bomba no Gabinete. De entre as vozes de todos, destacava-se a do Pedro:
- Mas tu estás maluco, Zé? Já viste o banho que nos vão dar?
De mãos agarradas à cabeça, o Zé era a imagem do desespero. Do pânico. A quem recorrer na muito provável hipótese de derrota eleitoral?
- Então não percebem que o único lugar seguro que me resta neste País é o Governo?
- ???
- Como poderei sair à rua sem uma força da GNR a guardar-me as costas? Este povo, estes ingratos, esfolam-me no mesmo instante...
- Ah, o caso é esse, hã!? E nós?
- Vocês safam-se bem. Vejam a Lurdes: com os profs todos à perna, remodelei-a e hoje ninguém se lembra dela. O cristo é sempre o 1º Ministro.
O Gabinete emudeceu subitamente. Compadeceu-se. Talvez o coitado do Zé tivesse razão. O Teixeira deu-lhe uma palmadinha no ombro, a reconfortá-lo.
- Arranja-se qualquer coisa na estranja, deixa lá. Oh Amado!: não te ocorre algum lugar? Uma caridade...
- Isto está mau... Já temos um com os refugiados, outro com os tuberculosos...
O Zé saltou na cadeira, visionando a salvação, terra segura depois do pântano...
- Com os leprosos, com os leprosos! Não falta que fazer com os leprosos!
- Bom, sendo assim...
ponderou o Amado, cofiando meditadamente as barbas,
- ...sendo assim, arranja-se por aí uma gafaria. Olha, Zé: podemos experimentar a Gafanha da Nazaré, não? E até deve sair muito em conta...
- E, ao menos, há um posto da GNR por perto?