quinta-feira, 31 de agosto de 2006
Correio da Cassini
A sombra de Cronos cria um total nada. Só na sombra absoluta de Saturno o tempo pára.
A sombra de Cronos cria um total nada. Só na sombra absoluta de Saturno o tempo pára.
Modos de amar
Foto de Christian Coigny
Modo de amar – I
Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
devasta-me o umbigo
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
e lentamente faz o que te digo:
Modo de amar – II
Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...
a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...
Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...
as pernas longas
firmadas no lençol...
e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...
(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)
Maria Tereza Horta
Foto de Christian Coigny
Modo de amar – I
Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
devasta-me o umbigo
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
e lentamente faz o que te digo:
Modo de amar – II
Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...
a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...
Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...
as pernas longas
firmadas no lençol...
e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...
(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...
os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)
Maria Tereza Horta
Sanja Ivekovic
No Kölnischer Kunstverein, em Colónia, inaugura hoje a primeira exposição retrospectiva do trabalho de Sanja Ivekovic, General Alert, que, desde os anos 70, se tem evidenciado na área da fotografia, vídeo e performance com uma obra polémica em que é posto em causa o limite entre o discurso público e privado e a influencia, nas sociedades contemporâneas, do culto da fama, da moda e da publicidade na sistemática utilização do corpo. Ivekovic revela nos seus trabalhos o seu próprio corpo, enquanto representação, um corpo feminino, um corpo sexual, disposto ao olhar mas contendo a sua própria carga social e política. Nos seus trabalhos mais recentes, Ivekovic aborda igualmente o colapso da antiga Jugoslávia, as limpezas étnicas, as condições de vida dos refugiados e das mulheres da resistência.
Até 15 de Outubro.
Até 15 de Outubro.
quarta-feira, 30 de agosto de 2006
Masturbação
Foto de Katarzina Widmanska
Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar
e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca
Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma
Maria Tereza Horta
Foto de Katarzina Widmanska
Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar
e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca
Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma
Maria Tereza Horta
Maria Tereza Horta
Nesta pequena homenagem à poesia erótica portuguesa e brasileira, uma nota muito especial para Maria Tereza Horta. A partir de hoje, e nos próximos dias, a homenagem é a ela.
Nesta pequena homenagem à poesia erótica portuguesa e brasileira, uma nota muito especial para Maria Tereza Horta. A partir de hoje, e nos próximos dias, a homenagem é a ela.
terça-feira, 29 de agosto de 2006
É quando estás de joelhos...
Foto de Katarzina Widmanska
É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada de trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredo
se de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra.
David Mourão Ferreira
Foto de Katarzina Widmanska
É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada de trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredo
se de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra.
David Mourão Ferreira
segunda-feira, 28 de agosto de 2006
Frémito do meu corpo...
Foto de Pascal Renoux
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Florbela Espanca
Foto de Pascal Renoux
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Florbela Espanca
domingo, 27 de agosto de 2006
XLVI
Foto de Christian Coigny
(Finjo que não vejo as mulheres que passam, mas vejo)
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua,
sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
José Gomes Ferreira
Foto de Christian Coigny
(Finjo que não vejo as mulheres que passam, mas vejo)
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua,
sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
José Gomes Ferreira
sábado, 26 de agosto de 2006
Correio da Cassini
Noite em Saturno. O negro da noite de Saturno é sinónimo de inexistência. Profundidades...
sexta-feira, 25 de agosto de 2006
Desperta-me de noite
Foto de Katarzina Widmanska
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
A trégua
a entrega
o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales.
Maria Tereza Horta
Foto de Katarzina Widmanska
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
A trégua
a entrega
o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales.
Maria Tereza Horta
quinta-feira, 24 de agosto de 2006
Cosmocópula
Foto de Katarzina Widmanska
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
Natália Correia
Foto de Katarzina Widmanska
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
Natália Correia
Esther Shalev-Gerz
Inaugura amanhã uma instalação/vídeo de Esther Shalev-Gerz, no campo de concentração de Buchenwald, com o título The Human Aspect of Objects. Mais de vinte mil objectos foram recuperados dos terrenos do campo de concentração, cada um deles portador de uma memória, de uma história, cada um deles testemunha de uma utilização, de uma função há muito terminada ou de um afecto há muito esquecido. Shalev-Gerz articula magistralmente esta memória dramática dos objectos de Buchenwald em cinco monitores em que, simultâneamente, se desenrolam cinco histórias, cinco testemunhos do encontro com os objectos recuperados do campo de Buchenwald.
Pode ser visto até 12 de Novembro em Weimar-Buchenwald.
Pode ser visto até 12 de Novembro em Weimar-Buchenwald.
quarta-feira, 23 de agosto de 2006
Cântico
Foto de Katarzina Widmanska
Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.
Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.
Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.
Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.
José Régio
Foto de Katarzina Widmanska
Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.
Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.
Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.
Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.
José Régio
Hildegard Spielhofer
Something has slipped away é o título desta exposição de Hildegard Spielhofer que pode ser vista até 1 de Outubro no Kunsthaus Baselland, em Muttenz/Basel. Spielhofer, nascida em 1966, é uma das mais interessantes jovens artistas alemãs com um discurso em que estabelece relações descomprometidas entre as tecnologias do multimédia e as formas tradicionais da arte visual como a colagem ou o desenho.
terça-feira, 22 de agosto de 2006
Conheço o sal...
Foto de Katarzina Widmanska
Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
Foto de Katarzina Widmanska
Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
segunda-feira, 21 de agosto de 2006
Grito
Foto de Katarzina Widmanska
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que e' nosso.
São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz-te o colo
de espádua a espádua,
são os teus olhos,
depois o grito.
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
de outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.
E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa.
David Mourão Ferreira
Foto de Katarzina Widmanska
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que e' nosso.
São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz-te o colo
de espádua a espádua,
são os teus olhos,
depois o grito.
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
de outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.
E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa.
David Mourão Ferreira
De divulgação em divulgação
Num país em que cada vez menos se lê poesia, tenta este blog, diáriamente, divulgar alguns poetas. Foi o que se fez com a Terceira Geração do Modernismo brasileiro, numa pequena homenagem a alguns extraordinários poetas mais ou menos esquecidos. A partir de hoje, a homenagem é feita à poesia erótica portuguesa e brasileira.
Num país em que cada vez menos se lê poesia, tenta este blog, diáriamente, divulgar alguns poetas. Foi o que se fez com a Terceira Geração do Modernismo brasileiro, numa pequena homenagem a alguns extraordinários poetas mais ou menos esquecidos. A partir de hoje, a homenagem é feita à poesia erótica portuguesa e brasileira.
domingo, 20 de agosto de 2006
Narciso Cego
Foto de Katarzina Widmanska
Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio — não me frequento.
Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me, íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou;
distiguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.
Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.
Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhado
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo — pânico mudo —
entre o sonho e o sonhador.
Thiago de Mello in Narciso Cego; Seguido do Romance do Primogênito, 1952.
Foto de Katarzina Widmanska
Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio — não me frequento.
Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me, íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou;
distiguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.
Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.
Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhado
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo — pânico mudo —
entre o sonho e o sonhador.
Thiago de Mello in Narciso Cego; Seguido do Romance do Primogênito, 1952.
Ouvindo:
Keith Jarrett - Solar
Keith Jarrett - Solar
sábado, 19 de agosto de 2006
Cabelos, os Meus Cabelos
Foto de Katarzina Widmanska
Cabelos, los meus cabelos,
El-rei m'enviou por elos.
JOÃO ZORRO
Cabelos, os meus cabelos,
que fontes de negro espanto!
descendo por minhas costas
com segredos de floresta:
meus peitos, meus peitos altos,
são tochas em meio às trevas,
ardendo com seus perfumes,
queimando com fogos claros;
trago uma lua nos ombros,
cascatas pelo meu corpo,
e as sombras da madrugada
no topo de minhas coxas.
Meus peitos, meus peitos nus,
para o amado os tenho virgens:
se ele os pudesse colher,
duros ramos de alecrins!
Teria em corpo desnudo
a ternura do bom Deus,
as mãos derramando trigo
sobre papoulas dormidas.
Cabelos, os meus cabelos,
el-rei os mandou buscar
para os prender em seu leito:
meu corpo, o triste, vai junto.
Não mais verei os meus bosques,
não mais os trevos em flor:
minh'alma geme na estrada,
anoitecendo os caminhos.
Quer el-rei os meus cabelos,
e quer também o meu corpo:
arderei nas madrugadas,
rosa austera em grave leito.
Meu alvo corpo desnudo,
deserto avaro de estrelas,
um sonho de areias brancas
em brancas dunas a pique...
Arderei nas madrugadas,
sofrendo amargos carinhos:
meu coração, o infeliz,
suspira, pombo ferido.
Cabelos, os meus cabelos,
el-rei deseja o meu corpo:
sangrarei sobre seus linhos
como uma rola flechada.
Cabelos, os meus cabelos,
meus peitos, meus peitos altos,
meu virgem corpo desnudo
já não será para o amado.
Péricles Eugênio da Silva Ramos in A noite da memória, 1988.
Foto de Katarzina Widmanska
Cabelos, los meus cabelos,
El-rei m'enviou por elos.
JOÃO ZORRO
Cabelos, os meus cabelos,
que fontes de negro espanto!
descendo por minhas costas
com segredos de floresta:
meus peitos, meus peitos altos,
são tochas em meio às trevas,
ardendo com seus perfumes,
queimando com fogos claros;
trago uma lua nos ombros,
cascatas pelo meu corpo,
e as sombras da madrugada
no topo de minhas coxas.
Meus peitos, meus peitos nus,
para o amado os tenho virgens:
se ele os pudesse colher,
duros ramos de alecrins!
Teria em corpo desnudo
a ternura do bom Deus,
as mãos derramando trigo
sobre papoulas dormidas.
Cabelos, os meus cabelos,
el-rei os mandou buscar
para os prender em seu leito:
meu corpo, o triste, vai junto.
Não mais verei os meus bosques,
não mais os trevos em flor:
minh'alma geme na estrada,
anoitecendo os caminhos.
Quer el-rei os meus cabelos,
e quer também o meu corpo:
arderei nas madrugadas,
rosa austera em grave leito.
Meu alvo corpo desnudo,
deserto avaro de estrelas,
um sonho de areias brancas
em brancas dunas a pique...
Arderei nas madrugadas,
sofrendo amargos carinhos:
meu coração, o infeliz,
suspira, pombo ferido.
Cabelos, os meus cabelos,
el-rei deseja o meu corpo:
sangrarei sobre seus linhos
como uma rola flechada.
Cabelos, os meus cabelos,
meus peitos, meus peitos altos,
meu virgem corpo desnudo
já não será para o amado.
Péricles Eugênio da Silva Ramos in A noite da memória, 1988.
sexta-feira, 18 de agosto de 2006
Athos
Inaugurou hoje, e estará até 21 de Janeiro de 2007 no Helsinki City Art Museum - Art Museum Tennis Palace, a exposição ATHOS Monastic life on the Holy Mountain que reúne o mais importante conjunto de obras — cerca de 600 obras de arte sacra dos mosteiros do Monte Athos — pela primeira vez mostradas fora da Grécia. Entre ícones, manuscritos, objectos, gravuras, textéis e joalharia, esta exposição percorre mais de mil anos de arte sacra. Com a colaboração de nove mosteiros e de cerca de 15 museus europeus, esta é uma das mais significativas exposições inauguradas em 2006.
Ciclo
Foto de Lilya Corneli
III (passeio)
Passeamos corpo a corpo
com muitos segredos impedidos
e muitos medos, muitas águas
nos imaturos vestidos.
Muitas águas que não secam,
de prantos desprevenidos.
(Passeamos corpo a corpo,
confusos, desentendidos).
Havia entre nós a caixa
que um anjo prendia nos dedos,
por isso necessitávamos
da precaução de tais medos.
E este era o caminho certo
do meu descanso, do meu triste
coração claro e deserto
que junto às águas repartiste.
Junto àquelas mesmas águas
que te afogaram
mas não viste.
Walmir Ayala in Cantata, 1966.
Foto de Lilya Corneli
III (passeio)
Passeamos corpo a corpo
com muitos segredos impedidos
e muitos medos, muitas águas
nos imaturos vestidos.
Muitas águas que não secam,
de prantos desprevenidos.
(Passeamos corpo a corpo,
confusos, desentendidos).
Havia entre nós a caixa
que um anjo prendia nos dedos,
por isso necessitávamos
da precaução de tais medos.
E este era o caminho certo
do meu descanso, do meu triste
coração claro e deserto
que junto às águas repartiste.
Junto àquelas mesmas águas
que te afogaram
mas não viste.
Walmir Ayala in Cantata, 1966.
quinta-feira, 17 de agosto de 2006
O Ar
Foto de Katarzina Widmanska
Em nossa transparência
Os muros da carne.
Em nossa angústia
O vento rebelde.
Em nossa nuvem
O vôo do pássaro.
Em nossa fonte
A água invisível.
Em nossa árvore
A serpente do nada.
Somos o ar
Na torre das palavras.
Paulo Bomfim in Quinze Anos de Poesia, 1958.
Foto de Katarzina Widmanska
Em nossa transparência
Os muros da carne.
Em nossa angústia
O vento rebelde.
Em nossa nuvem
O vôo do pássaro.
Em nossa fonte
A água invisível.
Em nossa árvore
A serpente do nada.
Somos o ar
Na torre das palavras.
Paulo Bomfim in Quinze Anos de Poesia, 1958.
Correio da Cassini
Tempo, velocidade, geometria. Coisas que aparentemente fogem à lei da continuidade.
Tempo, velocidade, geometria. Coisas que aparentemente fogem à lei da continuidade.
segunda-feira, 14 de agosto de 2006
A Água
Foto de Angelicatas
Despe, na solidão da tarde,
Tua roupagem manchada de quotidiano,
E deixa que a chuva molhe teus cabelos
E vista teu corpo de escamas de prata.
Pousa, em teus ombros, o manto dos lagos
E colhe no cântaro de tuas mãos
A música dos dias que adormeceram
No fundo de teu ser.
Mármores líquidos moldarão teu corpo.
Nuvem,
Penetrarás a carne da manhã.
Paulo Bomfim in Quinze Anos de Poesia, 1958.
Foto de Angelicatas
Despe, na solidão da tarde,
Tua roupagem manchada de quotidiano,
E deixa que a chuva molhe teus cabelos
E vista teu corpo de escamas de prata.
Pousa, em teus ombros, o manto dos lagos
E colhe no cântaro de tuas mãos
A música dos dias que adormeceram
No fundo de teu ser.
Mármores líquidos moldarão teu corpo.
Nuvem,
Penetrarás a carne da manhã.
Paulo Bomfim in Quinze Anos de Poesia, 1958.
Richard Long
No Lismore Castle Arts, Richard Long expõe, até 1 de Outubro. Primeira exposição individual de Long na Irlanda. Para quem lá estiver ou vá estar, a não perder.
domingo, 13 de agosto de 2006
Correio da... Spirit
Novamente um pôr do Sol em Marte. A Spirit aguarda a Primavera marciana. No horizonte, montes, vales. O Sol é mais pequeno, está mais longe. De resto, tudo é familiar.
Rota do Desconhecido
Foto de Angelicatas
Quando eu seguir na rota do desconhecido
a minha voz ficará cantando na tua memória
e tua alma sentirá a presença
do meu sonho em teu sonho,
do meu riso de perdão à miséria do mundo.
Então, Amada, canta!
A noite se embalará com as canções marinhas
subindo, diretas, do teu coração.
Tua alma será, então uma praia branca,
onde cantarão os pescadores tristes:
os teus sonhos de amor abraçados ao desânimo...
Eu irei longe... Minha memória errará nas estrelas
e minha alma será o vento que acarinha plantas,
que acarinha flores sonolentas.
Eu irei longe, eu irei tão longe,
que meu coração vencerá distâncias
para ouvir tuas canções praieiras,
amada, grande Amada,
e minha alma será o céu pontilhado de estrelas
que há de fazer adormecer tua saudade!
Alphonsus de Guimaraens Filho in Lume de estrelas: poemas, 1940.
Foto de Angelicatas
Quando eu seguir na rota do desconhecido
a minha voz ficará cantando na tua memória
e tua alma sentirá a presença
do meu sonho em teu sonho,
do meu riso de perdão à miséria do mundo.
Então, Amada, canta!
A noite se embalará com as canções marinhas
subindo, diretas, do teu coração.
Tua alma será, então uma praia branca,
onde cantarão os pescadores tristes:
os teus sonhos de amor abraçados ao desânimo...
Eu irei longe... Minha memória errará nas estrelas
e minha alma será o vento que acarinha plantas,
que acarinha flores sonolentas.
Eu irei longe, eu irei tão longe,
que meu coração vencerá distâncias
para ouvir tuas canções praieiras,
amada, grande Amada,
e minha alma será o céu pontilhado de estrelas
que há de fazer adormecer tua saudade!
Alphonsus de Guimaraens Filho in Lume de estrelas: poemas, 1940.
segunda-feira, 7 de agosto de 2006
7
Foto de Katarzina Widmanska
Este poema exigiu 7 folhas de papel.
Para escrevê-lo já fumei raivosamente 7 cigarros
e rasguei-o 7 vezes.
7 é um mau número: é o número 13 da minha vida.
Segundo várias aritméticas, não é divisível por 2,
e eu tenho horror a todos os números (e a todas as coisas)
não divisíveis por 2.
Sexta-feira, 7...
Isto hoje não acaba bem...
Vai a chuva ficar chovendo para sempre.
O meu relógio vai continuar disparado,
marcando horas inexistentes.
Ah se os ponteiros andassem para trás!
Ah se ao menos a chuva chovesse para cima
e eu fizesse destes nulos versos
uma folha noturna e molhada!
Abgar Renault in A outra face da lua, 1983.
Foto de Katarzina Widmanska
Este poema exigiu 7 folhas de papel.
Para escrevê-lo já fumei raivosamente 7 cigarros
e rasguei-o 7 vezes.
7 é um mau número: é o número 13 da minha vida.
Segundo várias aritméticas, não é divisível por 2,
e eu tenho horror a todos os números (e a todas as coisas)
não divisíveis por 2.
Sexta-feira, 7...
Isto hoje não acaba bem...
Vai a chuva ficar chovendo para sempre.
O meu relógio vai continuar disparado,
marcando horas inexistentes.
Ah se os ponteiros andassem para trás!
Ah se ao menos a chuva chovesse para cima
e eu fizesse destes nulos versos
uma folha noturna e molhada!
Abgar Renault in A outra face da lua, 1983.
Conjunção
Uma vez por ano, Saturno e o nosso planeta encontram-se em conjunção com o Sol, ou seja, os dois planetas encontram-se em posições directamente opostas, com o Sol no meio. Esse dia é hoje.
domingo, 6 de agosto de 2006
High Times, Hard Times
Hoje, no Weatherspoon Art Museum, na University of North Carolina, High Times, Hard Times: New York Painting 1967-1975. A pintura produzida em Nova York durante este período conturbado de mudanças políticas e sociais. Obras de Jo Baer, Lynda Benglis, Dan Christensen, Roy Colmer, Mary Corse, David Diao, Manny Farber, Louise Fishman, Guy Goodwin, Ron Gorchov, Harmony Hammond, Mary Heilmann, Ralph Humphrey, Jane Kaufman, Harriet Korman, Yayoi Kusama, Al Loving, Lee Lozano, Ree Morton, Elizabeth Murray, Joe Overstreet, Blinky Palermo, Cesar Paternosto, Howardena Pindell, Dorothea Rockburne, Carolee Schneemann, Alan Shields, Kenneth Showell, Joan Snyder, Lawrence Stafford, Pat Steir, Richard Tuttle, Richard Van Buren, Michael Venezia, Franz Erhard Walther, Jack Whitten e Peter Young.
A ler
Tomorrow in the battle think on me
And fall the edgeless sword. Despair and die...
W. Shakespeare in Richard III,V, 5
Novo filme de Nicole Garcia, a ler P. Assouline em La république des livres.
Tomorrow in the battle think on me
And fall the edgeless sword. Despair and die...
W. Shakespeare in Richard III,V, 5
Novo filme de Nicole Garcia, a ler P. Assouline em La république des livres.
sábado, 5 de agosto de 2006
sexta-feira, 4 de agosto de 2006
Robert Mapplethorpe e Ron Mueck
Ron Mueck, In bed, 2005, Mixed Media, 162 x 650 x 395 cm
Ron Mueck, Two Women, 2005, Mixed Media, 85 x 48 x 38cm
Robert Mapplethorpe, Truman Capote, 1981
Robert Mapplethorpe, Patti Smith, 1979
Ron Mueck, In bed, 2005, Mixed Media, 162 x 650 x 395 cm
Inaugura amanhã na Royal Scottish Academy Building, em Edinburgo, uma grande exposição de Ron Mueck. Esta exposição junta-se a outra, de Robert Mapplethorpe, que inaugurou no passado dia 29 de Julho, preenchendo, assim as National Galleries of Scotland de Edinburgo, durante este Verão. Ron Mueck é um dos mais interessantes escultores contemporâneos. As suas obras, de grande impacto junto do público, numa abordagem mimética e hiper-realista, exploram formalmente os problemas de escala, do muito pequeno ao absurdamente grande.
Ron Mueck, Two Women, 2005, Mixed Media, 85 x 48 x 38cm
Por outro lado, de Robert Mapplethorpe (1946-1989) é mostrada quase uma exposição retrospectiva em que, para além dos retratos de Andy Warhol, Patti Smith, Truman Capote, Louise Bourgeois, David Hockney, Philip Glass, Grace Jones, Iggy Pop, Arnold Schwarzenegger e Marianne Faithfull, é mostrado um conjunto significativo de auto-retratos que traçam, de alguma forma, um mapa da vida e da morte deste fotógrafo.
Robert Mapplethorpe, Truman Capote, 1981
Robert Mapplethorpe, Patti Smith, 1979
quinta-feira, 3 de agosto de 2006
Dois filmes
Hoje, às 7 da tarde, no Whitney Museum of American Art, em Nova York, são apresentados dois filmes no âmbito da exposição Full House: Hardcore, filme recentemente restaurado de Walter De Maria, de 1969 e Gas Station de Robert Morris, obra também de 1969, projectado em ecrã duplo. Para quem esteja em Nova York, a não perder.
Nós Todos, Cleópatra!
Foto de Katarzina Widmanska
Nós todos temos culpa, mulher de sorrisos permanentes!
Velhos, mulheres e crianças,
nós todos nos culpamos
pelo teu passado,
pelo teu presente
e pelos dias roxos do futuro!
Os velhos abriram-te o caminho enganoso
das facilidades.
As mulheres empurraram-te com sorrisos malévolos.
As crianças já espiam tuas pernas
sem meias
e pensam nas noites do futuro.
Nós todos, homens válidos, compramos teus sorrisos
baratos,
alisamos teus cabelos dourados na farmácia
e te chamamos Madalena e Cleópatra!
Nós todos, mulher de encantos públicos e notórios,
nós todos temos culpa,
os mortos têm culpa,
os nossos filhos nascerão culpados!
Acompanhamos com esperanças cínicas
a tua decadência, e vimos,
em cada um de teus vestidos,
um preço menor.
Em cada um de teus perfumes,
uma essência pior...
Tripudiamos sobre a tua degradação.
Fomos cúmplices das tuas noitadas babilônicas,
quando eras mais fina
e mais nova!
Nós todos te olharemos com a nossa justa repugnância
e todos negaremos
que nossas mãos um dia te empurraram!
Domingos Carvalho da Silva in Bem-amada Ifigênia: poemas, 1943.
Foto de Katarzina Widmanska
Nós todos temos culpa, mulher de sorrisos permanentes!
Velhos, mulheres e crianças,
nós todos nos culpamos
pelo teu passado,
pelo teu presente
e pelos dias roxos do futuro!
Os velhos abriram-te o caminho enganoso
das facilidades.
As mulheres empurraram-te com sorrisos malévolos.
As crianças já espiam tuas pernas
sem meias
e pensam nas noites do futuro.
Nós todos, homens válidos, compramos teus sorrisos
baratos,
alisamos teus cabelos dourados na farmácia
e te chamamos Madalena e Cleópatra!
Nós todos, mulher de encantos públicos e notórios,
nós todos temos culpa,
os mortos têm culpa,
os nossos filhos nascerão culpados!
Acompanhamos com esperanças cínicas
a tua decadência, e vimos,
em cada um de teus vestidos,
um preço menor.
Em cada um de teus perfumes,
uma essência pior...
Tripudiamos sobre a tua degradação.
Fomos cúmplices das tuas noitadas babilônicas,
quando eras mais fina
e mais nova!
Nós todos te olharemos com a nossa justa repugnância
e todos negaremos
que nossas mãos um dia te empurraram!
Domingos Carvalho da Silva in Bem-amada Ifigênia: poemas, 1943.
quarta-feira, 2 de agosto de 2006
Falsificações
O problema de pirataria que se passa com o Abrupto (e aqui o link não é fiável) de JPP é, verdadeiramente, inconcebível. Volta não volta temos que aturar este falso abrupto que resolve ocupar o espaço do verdadeiro, do legítimo. Que o Blogger, desde há uns tempos para cá, tem andado com problemas é coisa que qualquer bloguista tem notado: dificuldade de publicar posts, vezes sem conta em manutenção, quase impossibilidade de, em certos dias e horas, fazer o upload de imagens, pouca fiabilidade na publicação de posts, etc, etc. Mas esta fragilidade do sistema que permite a um qualquer pirata inventar um pseudo-blog com o mesmo nome de outro já existente, sem que o sistema de segurança consiga travá-lo é insustentável. Pode acontecer a qualquer um de nós. Há que fazer chegar o devido protesto ao Blogger.
O problema de pirataria que se passa com o Abrupto (e aqui o link não é fiável) de JPP é, verdadeiramente, inconcebível. Volta não volta temos que aturar este falso abrupto que resolve ocupar o espaço do verdadeiro, do legítimo. Que o Blogger, desde há uns tempos para cá, tem andado com problemas é coisa que qualquer bloguista tem notado: dificuldade de publicar posts, vezes sem conta em manutenção, quase impossibilidade de, em certos dias e horas, fazer o upload de imagens, pouca fiabilidade na publicação de posts, etc, etc. Mas esta fragilidade do sistema que permite a um qualquer pirata inventar um pseudo-blog com o mesmo nome de outro já existente, sem que o sistema de segurança consiga travá-lo é insustentável. Pode acontecer a qualquer um de nós. Há que fazer chegar o devido protesto ao Blogger.
Pessoalmente, já me deparei com isto uma meia dúzia de vezes mas, para quem ainda não viu, eis a "cara" do falso abrupto.
terça-feira, 1 de agosto de 2006
Viagem
Foto de Katarzina Widmanska
Apago a vela, enfuno as velas: planto
Um fruto verde no futuro, e parto
De escuna virgem navegante, e canto
Um mar de peixe e febre e estirpe farto—
E ardendo em festas fogo-embalsamadas
Amo em tropel, corcel, centauramente,
Entre sudários queimo as enfaixadas
Fêmeas que me atormentam, musamente —
E espuma desta vaga danço e sonho
Com címbalo e símbolos, harmônio
Onde executo a flor que em mim se embebe,
Centro e cetro, curvando-se ante a sebe
Divina — a própria morte hoje defloro
E vida eterna engendro: gero, adoro.
Mário Faustino in Poesia, 1966.
Foto de Katarzina Widmanska
Apago a vela, enfuno as velas: planto
Um fruto verde no futuro, e parto
De escuna virgem navegante, e canto
Um mar de peixe e febre e estirpe farto—
E ardendo em festas fogo-embalsamadas
Amo em tropel, corcel, centauramente,
Entre sudários queimo as enfaixadas
Fêmeas que me atormentam, musamente —
E espuma desta vaga danço e sonho
Com címbalo e símbolos, harmônio
Onde executo a flor que em mim se embebe,
Centro e cetro, curvando-se ante a sebe
Divina — a própria morte hoje defloro
E vida eterna engendro: gero, adoro.
Mário Faustino in Poesia, 1966.