terça-feira, 31 de outubro de 2006
Tlon, Uqbar, Orbis Tertius
Foto de Anthony Indianos
Devo à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta de Uqbar. O espelho perturbava o fundo de um corredor numa quinta da rua Gaona, em Ramos Mejía; a enciclopédia enganosamente chama-se The Anglo-American Cyclopaedia (New York, 1917) e é uma reimpressão literal, mas também morosa, da Encyclopaedia Britannica de 1902. O facto produziu-se haverá cinco anos. Bioy Casares jantara comigo essa noite e deteve-nos uma ampla polémica sobre a execução de um romance na primeira pessoa, cujo narrador omitisse ou desfigurasse os factos e incorresse em diversas contradições, que permitissem a uns poucos leitores — a muito poucos leitores — a adivinhação de uma realidade atroz ou banal. Do fundo remoto do corredor, o espelho espreitava-nos. Descobrimos (alta noite essa descoberta é inevitável) que os espelhos têm algo de monstruoso. Então Bioy Casares lembrou que um dos heresiarcas de Uqbar tinha declarado que os espelhos e a cópula são abomináveis, porque multiplicam o número dos homens.
Jorge Luis Borges in Tlon, Uqbar, Orbis Tertius, Nova Antologia Pessoal, 1968.
Devo à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta de Uqbar. O espelho perturbava o fundo de um corredor numa quinta da rua Gaona, em Ramos Mejía; a enciclopédia enganosamente chama-se The Anglo-American Cyclopaedia (New York, 1917) e é uma reimpressão literal, mas também morosa, da Encyclopaedia Britannica de 1902. O facto produziu-se haverá cinco anos. Bioy Casares jantara comigo essa noite e deteve-nos uma ampla polémica sobre a execução de um romance na primeira pessoa, cujo narrador omitisse ou desfigurasse os factos e incorresse em diversas contradições, que permitissem a uns poucos leitores — a muito poucos leitores — a adivinhação de uma realidade atroz ou banal. Do fundo remoto do corredor, o espelho espreitava-nos. Descobrimos (alta noite essa descoberta é inevitável) que os espelhos têm algo de monstruoso. Então Bioy Casares lembrou que um dos heresiarcas de Uqbar tinha declarado que os espelhos e a cópula são abomináveis, porque multiplicam o número dos homens.
Jorge Luis Borges in Tlon, Uqbar, Orbis Tertius, Nova Antologia Pessoal, 1968.
Correio da Cassini
A noite em Saturno é sinónimo de não existência. Será assim que Cronos domina o tempo?
A noite em Saturno é sinónimo de não existência. Será assim que Cronos domina o tempo?
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
Correio da ... Spirit
A Spirit festejou, no dia 26, mil dias marcianos (uma missão que estava programada para apenas 90 dias). Durante este segundo inverno marciano a Spirit "estacionou" numa pequena colina, "Low Ridge", por forma a poupar o mais possível as suas quase esgotadas baterias solares. Brevemente, no início de 2007, a primavera marciana proporcionará à Spirit o recarregamento de baterias necessário para continuar esta odisseia solitária. A paisagem que a Spirit "vê" é esta: montes, vales avermelhados e um céu, um invariável céu de uma cor muito antiga.
As coisas
Foto de Katarzina Widmanska
A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, essas tardias
notas que não lerão meus poucos dias
que restam, o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele a esmagada
violeta, monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.
Jorge Luis Borges
Foto de Katarzina Widmanska
A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, essas tardias
notas que não lerão meus poucos dias
que restam, o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele a esmagada
violeta, monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.
Jorge Luis Borges
sexta-feira, 27 de outubro de 2006
Karen Kilimnik
Inaugura hoje no Musee D’art Moderne De La Ville De Paris / Arc, ao lado do Palácio de Tokyo, a exposição de Karen Kilimnik representativa da obra desenvolvida nos últimos quinze anos. Kilimnik mostra aqui 4 instalações relacionadas entre si por um conjunto de pinturas, gouaches, aguarelas e desenhos. Esta exposição será apresentada, a partir de Fevereiro, na Serpentine Gallery em Londres.
quinta-feira, 26 de outubro de 2006
A ler
Hoje, P. Assouline em La république des livres: Comment un poète envahit un peintre ou o Prix Artcurial du livre d'art contemporain atribuído ao livro de Anselm Kiefer sobre a poesia de Paul Celan.
Hoje, P. Assouline em La république des livres: Comment un poète envahit un peintre ou o Prix Artcurial du livre d'art contemporain atribuído ao livro de Anselm Kiefer sobre a poesia de Paul Celan.
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
A ler
No Rua da judiaria, O mundo permanece em silêncio: (...) a tragédia é que massacres acontecem em países árabes e islâmicos. Um genocídio protegido pelo silêncio do mundo. Um genocídio perpetrado por uma fraude que provavelmente não terá paralelo na história da humanidade. Um genocídio que não tem qualquer ligação a Israel, a sionistas ou judeus. Um genocídio maioritariamente contra árabes e muçulmanos, perpetrado maioritariamente por árabes e muçulmanos.
No Rua da judiaria, O mundo permanece em silêncio: (...) a tragédia é que massacres acontecem em países árabes e islâmicos. Um genocídio protegido pelo silêncio do mundo. Um genocídio perpetrado por uma fraude que provavelmente não terá paralelo na história da humanidade. Um genocídio que não tem qualquer ligação a Israel, a sionistas ou judeus. Um genocídio maioritariamente contra árabes e muçulmanos, perpetrado maioritariamente por árabes e muçulmanos.
Quase
Foto de Lilya Corneli
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
............................................................
............................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Paris, 13-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
Foto de Lilya Corneli
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
............................................................
............................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Paris, 13-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
terça-feira, 24 de outubro de 2006
Como eu não possuo
Foto de Lilya Corneli
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção p'ra me afundar no lodo.
Não sou amigo de ninguém. P'ra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...
Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases doirados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro
Foto de Lilya Corneli
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção p'ra me afundar no lodo.
Não sou amigo de ninguém. P'ra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...
Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases doirados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro
Caravaggio
Em Dusseldorf, no museum kunst palast, pode ser vista, até 7 de Janeiro a grande exposição de Caravaggio que levou alguns anos a organizar. Trata-se de 36 obras vindas de vários museus e colecções, algumas delas dificilmente visíveis em condições normais. Depois de estar quase completamente esquecido durante os séculos XVIII e XIX, Caravaggio tornou-se novamente uma figura de referência no século XX, dando origem a múltiplos estudos e ensaios sobre a sua vida e obra.
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
Rodopio
Foto de Anthony Indianos
Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas torres de marfim.
Ascendem hélices, rastros...
Mais longe coam-me sóis;
Há promontórios, faróis,
Upam-se estátuas de heróis,
Ondeiam lanças e mastros.
Zebram-se armadas de cor,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor...
Cristais retinem de medo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços...
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segredo.
Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lírios:
Contorcionam-se círios,
Enclavinham-se delírios.
Listas de som enveredam...
Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.
Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de ansiantes...
(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas -
Um lenço, fitas, dedais...)
Há elmos, troféus, mortalhas.
Emanações fugidias,
Referências, nostalgias,
Ruínas de melodias,
Vertigens, erros e falhas.
Há vislumbres de não-ser,
Rangem, de vago, neblinas;
Fulcram-se poços e minas,
Meandros, pauis, ravinas
Que não ouso percorrer...
Há vácuos, há bolhas de ar,
Perfumes de longes ilhas,
Amarras, lemes e quilhas -
Tantas, tantas maravilhas
Que se não podem sonhar!...
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro
Foto de Anthony Indianos
Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas torres de marfim.
Ascendem hélices, rastros...
Mais longe coam-me sóis;
Há promontórios, faróis,
Upam-se estátuas de heróis,
Ondeiam lanças e mastros.
Zebram-se armadas de cor,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor...
Cristais retinem de medo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços...
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segredo.
Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lírios:
Contorcionam-se círios,
Enclavinham-se delírios.
Listas de som enveredam...
Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.
Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de ansiantes...
(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas -
Um lenço, fitas, dedais...)
Há elmos, troféus, mortalhas.
Emanações fugidias,
Referências, nostalgias,
Ruínas de melodias,
Vertigens, erros e falhas.
Há vislumbres de não-ser,
Rangem, de vago, neblinas;
Fulcram-se poços e minas,
Meandros, pauis, ravinas
Que não ouso percorrer...
Há vácuos, há bolhas de ar,
Perfumes de longes ilhas,
Amarras, lemes e quilhas -
Tantas, tantas maravilhas
Que se não podem sonhar!...
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro
Jytte Høy
Inaugura hoje no Instituto de Arte Contemporânea de Copenhagen, Sketch for the Structure of Peace, uma exposição do trabalho dos últimos anos de Jytte Høy. Esta artista dinamarquesa, nascida em 1952, tem desenvolvido uma obra de extrema coerência, em que o desenho, a escultura, os objectos e a fotografia se encadeiam em séries de grande intimismo e sensorialidade. Para quem esteja em Copenhagen, hoje ao fim da tarde.
sábado, 21 de outubro de 2006
Escavação
Foto de Katarzina Widmanska
Numa ânsia de ter alguma coisa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar;
E a minh'alma perdida não repousa.
Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...
Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de togo...
- Onde existo que não existo em mim?
............................................................
............................................................
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas -
Tudo outro espasmo que princípio ou fim....
Paris, 3-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
Foto de Katarzina Widmanska
Numa ânsia de ter alguma coisa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar;
E a minh'alma perdida não repousa.
Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...
Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de togo...
- Onde existo que não existo em mim?
............................................................
............................................................
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas -
Tudo outro espasmo que princípio ou fim....
Paris, 3-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
Amor, pois que é palavra essencial
Foto de Anthony Indianos
Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Carlos Drummond de Andrade
Foto de Anthony Indianos
Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Cassini
A oscilação, o sobressalto, a perturbação que foge à regra, o nervosismo, a intuição, a possibilidade ou apenas — como dizia Valéry — o que escapa à lei da continuidade.
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
A ver
Na SIC Notícias, Negócios da semana: Henrique Medina Carreira, de novo, absolutamente imperdível. Há momentos em que faz lembrar Agostinho da Silva. A não perder a reposição amanhã.
Na SIC Notícias, Negócios da semana: Henrique Medina Carreira, de novo, absolutamente imperdível. Há momentos em que faz lembrar Agostinho da Silva. A não perder a reposição amanhã.
Schiele, Klimt, Kokoschka e gli amici viennesi e
prettymucheverywordwritten,spoken,heard,overheardfrom 1989…
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O Museo d'Arte Moderna e Contemporanea de Trento e Rovereto apresenta, a partir deste mês, e até Janeiro de 2007, duas exposições simultâneas: Schiele, Klimt, Kokoschka e gli amici viennesi mostra cerca de 120 obras de pintura, desenho e escultura provenientes da Österreichische Galerie Belvedere de Viena que ilustram a vida e obra de Egon Schiele (1890 – 1918) e dos artistas seus contemporâneos que o influenciaram ou foram influenciados por ele: para além de Gustav Klimt e Oskar Kokoschka, também Anton Faistauer, Anton Kolig, Carl Moll, Koloman Moser, Max Oppenheimer e Anton Peschka.
prettymucheverywordwritten,spoken,heard,overheardfrom 1989… é a primeira exposição de Douglas Gordon em Itália. Vencedor do Turner Prize em 1996, Gordon teve, este ano, a sua primeira exposição retrospectiva no MoMA de Nova York.
prettymucheverywordwritten,spoken,heard,overheardfrom 1989… é uma instalação-vídeo produzida especialmente para o Museu deTrento.
prettymucheverywordwritten,spoken,heard,overheardfrom 1989… é a primeira exposição de Douglas Gordon em Itália. Vencedor do Turner Prize em 1996, Gordon teve, este ano, a sua primeira exposição retrospectiva no MoMA de Nova York.
prettymucheverywordwritten,spoken,heard,overheardfrom 1989… é uma instalação-vídeo produzida especialmente para o Museu deTrento.
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
A puta
Foto de Anthony Indianos
Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.
É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.
Carlos Drummond de Andrade
Foto de Anthony Indianos
Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.
É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.
Carlos Drummond de Andrade
Diário da guerra
O cineasta Theo Van Gogh, a deputada Ayaan Hirsi Ali, o autor das caricaturas de Maomé, o Papa, o professor Redeker, Mozart e Hans Bellmer: sete pessoas que "nunca se juntariam para almoçar".
A ler: A censura de Allah, em Ligações perigosas de Paulo Portas.
O cineasta Theo Van Gogh, a deputada Ayaan Hirsi Ali, o autor das caricaturas de Maomé, o Papa, o professor Redeker, Mozart e Hans Bellmer: sete pessoas que "nunca se juntariam para almoçar".
A ler: A censura de Allah, em Ligações perigosas de Paulo Portas.
Ainda a propósito de Combines no Centro Pompidou (II)
QUAND CRÉER EST ÉGAL À COMBINER, ASSEMBLER, INTÉGRER
Depuis la Nature morte à la chaise cannée (1912) de Picasso, suivie par la Roue de bicyclette (1913) de Duchamp, les collages et assemblages de Kurt Schwitters, les objets surréalistes, le XXe siècle n’a pas arrêté de convoquer le réel dans l’œuvre. Réagissant avec Jaspers Johns à l’esthétique de l’Expressionnisme abstrait qui dominait dans les années cinquante aux Etats-Unis, Rauschenberg, frondeur et expérimentateur invétéré, réintroduit le réel dans l’œuvre. Ce réel qui avait disparu derrière les élans des coups de pinceaux de Pollock, De Kooning et des autres expressionnistes abstraits, visant l’absolu et le sublime dans l’art. Dès les débuts, l’artiste proclame : « Je désire intégrer à ma toile n’importe quel objet de la vie. » (Entretien avec André Parinaud, op.cit.) Proche du Dadaïsme et de l’utilisation de l’objet de rebut comme principe de création propre à Schwitters, Rauschenberg s’en éloigne par les dimensions de ses œuvres qui, très grandes, envahissent l’espace du spectateur. « Je voudrais faire un tableau et une situation qui laisserait autant de place pour le regardeur que pour l’artiste. » (Ibidem.) Si, dans un collage de Picasso, l’objet ou le matériel hétérogène s’insère dans la trame de la composition, dans les Combines, les objets sont à la fois pris dans un réseau qui les intègre et profondément reconnaissables, rejetés en tant que tels. Toute illusion picturale et l’idée qu’une œuvre d’art n’a qu’une signification s’en trouvent entravées. « Dans l’œuvre de Rauschenberg, l’image ne repose pas sur la transformation d’un objet, mais bien plutôt sur son transfert. Tiré de l’espace du monde, un objet est imbriqué dans la surface d’une peinture. Loin de perdre sa densité matérielle dans cette opération, il affirme au contraire et de manière insistante que les images elles-mêmes sont une sorte de matériau. » (Rosalind Krauss, « Rauschenberg et l’image matérialisée », in L’originalité de l’avant-garde et autres mythes modernistes, Macula, 1993). Ceci est valable chez Rauschenberg, qu’il s’agisse d’une image ou d’une photo d’art, d’une chemise ou d’un pneu.
Minutiae (menus détails) est un des premiers et des plus importants Combines paintings autoportants. Conçue pour un spectacle de danse de son ami Merce Cunningham, l’œuvre est dès le départ au cœur de la vie. Elle se compose de trois panneaux verticaux de différentes tailles, reliés entre eux. Comme dans tous les Combines paintings, la surface est accidentée, recouverte de coupures de journaux représentant des bandes dessinées, de vieilles photographies et de morceaux d’affiches. La peinture recouvre le tout sous la forme de coulures ou de surfaces colorées. Entre les panneaux se profile un passage où un rideau de tissus multicolores opère la jonction des différentes parties. Ce tissu, fixé en haut des panneaux, permettait le passage des danseurs. Bois, métal, plastique, avec miroir, se mêlent à cette composition où dominent les rouges, les jaunes et les bleus. Sur le panneau de gauche un curieux motif végétal, comme arraché aux coups de pinceaux et presque intact dans sa vivacité picturale, faisant penser à une ancienne fresque de Pompéi, interpelle le spectateur, introduisant du coup un autre temps et une autre scène.
A la fois paravent, décor de scène, peinture, ce Combine painting se présente comme une structure ouverte. Insaisissable d’un seul coup d’œil, l’œuvre ne réclame pas la multiplicité des points de vue, mais la « multiplication des regards », note Catherine Millet. Elle ajoute que les Combines suscitent notre « libre cheminement dans l’œuvre. » (« Le corps morcelé de la sculpture, Robert Rauschenberg », in Art Press, n° 90, mars 1985.)
Les titres ont une grande importance pour Rauschenberg. « Ce sont tous des coups d’envoi. Ils sont au départ de mon travail, soit que j’essaie d’être consciemment provocateur ou humoriste ou macabre... Le titre est comme un autre objet dans l’œuvre. C’est une pensée délibérément solide et complexe qui oblige à tourner autour des pièces car à cause d’eux on a l’impression de n’être jamais à la bonne place. » (Interview de Robert Rauschenberg par Catherine Millet et Myriam Salomon, in Art Press, n° 65, décembre, 1982).
Ainsi, quand l’artiste appelle Sans titre une œuvre, il donne à l’absence de titre toute sa force. Aucune entrée préalable dans le sujet du tableau à laquelle le spectateur puisse s’accrocher, aucun point de départ pour endiguer l’imagination. Le spectateur est seul face à l’expérience sensible et ouverte de l’œuvre. « A trop en dire, on ne voit plus rien. Mon travail est fait pour être vu », déclare l’artiste. Le spectateur est confronté ici à une œuvre qui lui demande un parcours, pièce par pièce, des différents éléments qui la composent sans que l’artiste insiste sur une signification par rapport à une autre. Car, comme le souhaitait Rauschenberg, il s’agit de réaliser des peintures que « deux personnes ne peuvent voir de la même façon ». A ce propos, C. Millet souligne subtilement que « Rauschenberg considère l’art comme un moyen d’individuation, opposé à tout ce qui dans le domaine social, idéologique, politique... ou magique, rassemble. » (Art Press, n° 90, op.cit). Il ne cherche pas une communauté de l’imaginaire. Son art divise plus qu’il n’assemble l’immense répertoire d’images, d’objets, de choses qu’est le monde. Dans ce Combine, l’artiste met côte à côte des images de magazines, des photographies, des fragments d’affiches, du tissu à motifs sur lequel glisse la peinture. A l’image du nu féminin reposant sur l’oblique des troncs d’arbres s’oppose la frontalité horizontale de l’édifice où flotte le drapeau américain, tandis qu’aux pieds de la jeune femme un filet de peinture turquoise finit dans une mare de bleu. Malgré d’autres éléments tels les tissus à motifs en partie repeints et d’autres accidents de la surface arrêtant une certaine lecture de l’œuvre, le rappel sibyllin à des pages célèbres de la peinture occidentale peut être évoqué. C’est à La Tempête de Giorgione (vers 1506) que semble renvoyer ce nu féminin sur des fûts d’arbres, évoquant la colonne tronquée qui, dans le tableau de l’artiste vénitien, divise la composition séparant les deux scènes, celle de la dame allaitant, assise sur l’herbe, et celle du jeune berger. Une rivière coule entre les deux personnages de ce tableau énigmatique, que la peinture bleue coulant aux pieds de la jeune femme chez Rauschenberg pourrait rappeler. Le coq, dont la tête se dresse à l’extrémité droite de Sans titre, est fortement connoté dans d’autres œuvres de l’artiste comme une allusion à la masculinité, rappelant encore les deux figures en présence dans La Tempête. Nu, rivière, colonne, féminin, masculin, fond de verdure où se découpe l’image ici et fond champêtre où se profile La Tempête, une constellation d’éléments semble revenir ici pour évoquer, dans Sans titre, le nom d’un des tableaux mythiques de l’histoire de la peinture.
Depuis la Nature morte à la chaise cannée (1912) de Picasso, suivie par la Roue de bicyclette (1913) de Duchamp, les collages et assemblages de Kurt Schwitters, les objets surréalistes, le XXe siècle n’a pas arrêté de convoquer le réel dans l’œuvre. Réagissant avec Jaspers Johns à l’esthétique de l’Expressionnisme abstrait qui dominait dans les années cinquante aux Etats-Unis, Rauschenberg, frondeur et expérimentateur invétéré, réintroduit le réel dans l’œuvre. Ce réel qui avait disparu derrière les élans des coups de pinceaux de Pollock, De Kooning et des autres expressionnistes abstraits, visant l’absolu et le sublime dans l’art. Dès les débuts, l’artiste proclame : « Je désire intégrer à ma toile n’importe quel objet de la vie. » (Entretien avec André Parinaud, op.cit.) Proche du Dadaïsme et de l’utilisation de l’objet de rebut comme principe de création propre à Schwitters, Rauschenberg s’en éloigne par les dimensions de ses œuvres qui, très grandes, envahissent l’espace du spectateur. « Je voudrais faire un tableau et une situation qui laisserait autant de place pour le regardeur que pour l’artiste. » (Ibidem.) Si, dans un collage de Picasso, l’objet ou le matériel hétérogène s’insère dans la trame de la composition, dans les Combines, les objets sont à la fois pris dans un réseau qui les intègre et profondément reconnaissables, rejetés en tant que tels. Toute illusion picturale et l’idée qu’une œuvre d’art n’a qu’une signification s’en trouvent entravées. « Dans l’œuvre de Rauschenberg, l’image ne repose pas sur la transformation d’un objet, mais bien plutôt sur son transfert. Tiré de l’espace du monde, un objet est imbriqué dans la surface d’une peinture. Loin de perdre sa densité matérielle dans cette opération, il affirme au contraire et de manière insistante que les images elles-mêmes sont une sorte de matériau. » (Rosalind Krauss, « Rauschenberg et l’image matérialisée », in L’originalité de l’avant-garde et autres mythes modernistes, Macula, 1993). Ceci est valable chez Rauschenberg, qu’il s’agisse d’une image ou d’une photo d’art, d’une chemise ou d’un pneu.
Minutiae (menus détails) est un des premiers et des plus importants Combines paintings autoportants. Conçue pour un spectacle de danse de son ami Merce Cunningham, l’œuvre est dès le départ au cœur de la vie. Elle se compose de trois panneaux verticaux de différentes tailles, reliés entre eux. Comme dans tous les Combines paintings, la surface est accidentée, recouverte de coupures de journaux représentant des bandes dessinées, de vieilles photographies et de morceaux d’affiches. La peinture recouvre le tout sous la forme de coulures ou de surfaces colorées. Entre les panneaux se profile un passage où un rideau de tissus multicolores opère la jonction des différentes parties. Ce tissu, fixé en haut des panneaux, permettait le passage des danseurs. Bois, métal, plastique, avec miroir, se mêlent à cette composition où dominent les rouges, les jaunes et les bleus. Sur le panneau de gauche un curieux motif végétal, comme arraché aux coups de pinceaux et presque intact dans sa vivacité picturale, faisant penser à une ancienne fresque de Pompéi, interpelle le spectateur, introduisant du coup un autre temps et une autre scène.
A la fois paravent, décor de scène, peinture, ce Combine painting se présente comme une structure ouverte. Insaisissable d’un seul coup d’œil, l’œuvre ne réclame pas la multiplicité des points de vue, mais la « multiplication des regards », note Catherine Millet. Elle ajoute que les Combines suscitent notre « libre cheminement dans l’œuvre. » (« Le corps morcelé de la sculpture, Robert Rauschenberg », in Art Press, n° 90, mars 1985.)
Les titres ont une grande importance pour Rauschenberg. « Ce sont tous des coups d’envoi. Ils sont au départ de mon travail, soit que j’essaie d’être consciemment provocateur ou humoriste ou macabre... Le titre est comme un autre objet dans l’œuvre. C’est une pensée délibérément solide et complexe qui oblige à tourner autour des pièces car à cause d’eux on a l’impression de n’être jamais à la bonne place. » (Interview de Robert Rauschenberg par Catherine Millet et Myriam Salomon, in Art Press, n° 65, décembre, 1982).
Ainsi, quand l’artiste appelle Sans titre une œuvre, il donne à l’absence de titre toute sa force. Aucune entrée préalable dans le sujet du tableau à laquelle le spectateur puisse s’accrocher, aucun point de départ pour endiguer l’imagination. Le spectateur est seul face à l’expérience sensible et ouverte de l’œuvre. « A trop en dire, on ne voit plus rien. Mon travail est fait pour être vu », déclare l’artiste. Le spectateur est confronté ici à une œuvre qui lui demande un parcours, pièce par pièce, des différents éléments qui la composent sans que l’artiste insiste sur une signification par rapport à une autre. Car, comme le souhaitait Rauschenberg, il s’agit de réaliser des peintures que « deux personnes ne peuvent voir de la même façon ». A ce propos, C. Millet souligne subtilement que « Rauschenberg considère l’art comme un moyen d’individuation, opposé à tout ce qui dans le domaine social, idéologique, politique... ou magique, rassemble. » (Art Press, n° 90, op.cit). Il ne cherche pas une communauté de l’imaginaire. Son art divise plus qu’il n’assemble l’immense répertoire d’images, d’objets, de choses qu’est le monde. Dans ce Combine, l’artiste met côte à côte des images de magazines, des photographies, des fragments d’affiches, du tissu à motifs sur lequel glisse la peinture. A l’image du nu féminin reposant sur l’oblique des troncs d’arbres s’oppose la frontalité horizontale de l’édifice où flotte le drapeau américain, tandis qu’aux pieds de la jeune femme un filet de peinture turquoise finit dans une mare de bleu. Malgré d’autres éléments tels les tissus à motifs en partie repeints et d’autres accidents de la surface arrêtant une certaine lecture de l’œuvre, le rappel sibyllin à des pages célèbres de la peinture occidentale peut être évoqué. C’est à La Tempête de Giorgione (vers 1506) que semble renvoyer ce nu féminin sur des fûts d’arbres, évoquant la colonne tronquée qui, dans le tableau de l’artiste vénitien, divise la composition séparant les deux scènes, celle de la dame allaitant, assise sur l’herbe, et celle du jeune berger. Une rivière coule entre les deux personnages de ce tableau énigmatique, que la peinture bleue coulant aux pieds de la jeune femme chez Rauschenberg pourrait rappeler. Le coq, dont la tête se dresse à l’extrémité droite de Sans titre, est fortement connoté dans d’autres œuvres de l’artiste comme une allusion à la masculinité, rappelant encore les deux figures en présence dans La Tempête. Nu, rivière, colonne, féminin, masculin, fond de verdure où se découpe l’image ici et fond champêtre où se profile La Tempête, une constellation d’éléments semble revenir ici pour évoquer, dans Sans titre, le nom d’un des tableaux mythiques de l’histoire de la peinture.
Correio da... Opportunity
A Opportunity olha, aqui, no limiar da cratera Victória, o promontório Cabo Verde. Novos nomes velhos portugueses para uma terra marciana velhíssima mas sempre nova.
terça-feira, 17 de outubro de 2006
Borges: Souvenirs d'avenir
Nos próximos dias 20 e 21 terá lugar na Sorbonne o grande colóquio internacional sobre Jorge Luís Borges, vinte anos depois do seu desaparecimento. Organizado pela Université Paris Sorbonne (Paris IV) sob a direcção de Pierre Brunel e Daniel-Henri Pageaux, este colóquio contará com a presença e intervenção dos grandes especialistas na obra de Borges. A aparição da viúva de Borges, Maria Kodama, que abrirá o colóquio com "Le thème de l’Autre dans quelques œuvres de Borges" poderá, ainda, criar alguma polémica, como fez notar Pierre Assouline, devido à forma obstinada como, desde há sete anos, se tem oposto à reedição das Obras Completas do seu marido.
De qualquer forma, o programa prossegue no dia 20 com as seguintes intervenções:
Claude VIGÉE, écrivain, Paris : « Borges devant la Kabbale juive ».
Martha BURBRIDGE, « Juan López et John Ward ».
Conférence de Michel LAFON, Université Stendhal (Grenoble III), Institut Universitaire de France : «Borges posthume : quelques observations sur l’édition de l’œuvre borgésienne en Argentine et en France (1986-2006)».
Jean-Louis BACKÈS, Paris-Sorbonne, « NRZ vs. HRL, ou l’invention d’un sens ».
Sylvia ROUBAUD-BÉNICHOU, Paris-Sorbonne, « Borges et les classiques ».
Silvia BARON-SUPERVIELLE, écrivain, Paris, « L’inscription : Borges entre poésie et prose ».
Philippe FOREST, Nantes, «De Quelqu’un à Personne, de Personne à Quelqu’un : Borges autobiographe».
E no dia 21:
Daniel MADELÉNAT, Clermont-Ferrand, « Borges biographe ».
Sylvain DÉTOC, Paris-Sorbonne, « Petit éloge de la cécité ».
Florent SOUILLOT, Paris-Sorbonne, « “L’Immortel” dans L’Aleph ».
Raphaël MOBILLION, Paris-Sorbonne, «L’œuvre de Borges comme miroir des fragments d’Héraclite».
Sylvie THOREL, Lille, «Borges, Achille et la tortue — la logique de la fiction ».
Sylvie PARIZET, Paris X-Nanterre, «Borges, lecteur de la Bible : L’imaginaire de la Tour dans La Bibliothèque de Babel».
Sobi HABCHI, CNRS, « Borges et Les Mille et Une Nuits ».
Magdalena CAMPORA, Buenos Aires, Paris-Sorbonne, «“Les yeux flottant” : suspensions de la vue selon Rimbaud et Borges».
Thomas STEINMETZ, Paris-Sorbonne, «L’ombre d’un doute, — ontologie fantastique de Borges».
Charles BRION, La Rochelle, «L’écriture borgésienne du monde : une conjuration fantastique du désordre».
Letitia OTERO, Paris-Sorbonne, «Borges et Valéry : M. Teste et Ireneo Funes, ou deux visions monstrueuses de l’Idéal».
A entrada é livre.
Nos próximos dias 20 e 21 terá lugar na Sorbonne o grande colóquio internacional sobre Jorge Luís Borges, vinte anos depois do seu desaparecimento. Organizado pela Université Paris Sorbonne (Paris IV) sob a direcção de Pierre Brunel e Daniel-Henri Pageaux, este colóquio contará com a presença e intervenção dos grandes especialistas na obra de Borges. A aparição da viúva de Borges, Maria Kodama, que abrirá o colóquio com "Le thème de l’Autre dans quelques œuvres de Borges" poderá, ainda, criar alguma polémica, como fez notar Pierre Assouline, devido à forma obstinada como, desde há sete anos, se tem oposto à reedição das Obras Completas do seu marido.
De qualquer forma, o programa prossegue no dia 20 com as seguintes intervenções:
Claude VIGÉE, écrivain, Paris : « Borges devant la Kabbale juive ».
Martha BURBRIDGE, « Juan López et John Ward ».
Conférence de Michel LAFON, Université Stendhal (Grenoble III), Institut Universitaire de France : «Borges posthume : quelques observations sur l’édition de l’œuvre borgésienne en Argentine et en France (1986-2006)».
Jean-Louis BACKÈS, Paris-Sorbonne, « NRZ vs. HRL, ou l’invention d’un sens ».
Sylvia ROUBAUD-BÉNICHOU, Paris-Sorbonne, « Borges et les classiques ».
Silvia BARON-SUPERVIELLE, écrivain, Paris, « L’inscription : Borges entre poésie et prose ».
Philippe FOREST, Nantes, «De Quelqu’un à Personne, de Personne à Quelqu’un : Borges autobiographe».
E no dia 21:
Daniel MADELÉNAT, Clermont-Ferrand, « Borges biographe ».
Sylvain DÉTOC, Paris-Sorbonne, « Petit éloge de la cécité ».
Florent SOUILLOT, Paris-Sorbonne, « “L’Immortel” dans L’Aleph ».
Raphaël MOBILLION, Paris-Sorbonne, «L’œuvre de Borges comme miroir des fragments d’Héraclite».
Sylvie THOREL, Lille, «Borges, Achille et la tortue — la logique de la fiction ».
Sylvie PARIZET, Paris X-Nanterre, «Borges, lecteur de la Bible : L’imaginaire de la Tour dans La Bibliothèque de Babel».
Sobi HABCHI, CNRS, « Borges et Les Mille et Une Nuits ».
Magdalena CAMPORA, Buenos Aires, Paris-Sorbonne, «“Les yeux flottant” : suspensions de la vue selon Rimbaud et Borges».
Thomas STEINMETZ, Paris-Sorbonne, «L’ombre d’un doute, — ontologie fantastique de Borges».
Charles BRION, La Rochelle, «L’écriture borgésienne du monde : une conjuration fantastique du désordre».
Letitia OTERO, Paris-Sorbonne, «Borges et Valéry : M. Teste et Ireneo Funes, ou deux visions monstrueuses de l’Idéal».
A entrada é livre.
O mundo é grande
Foto de Katarzina Widmanska
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade
Foto de Katarzina Widmanska
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Ainda a propósito de Combines no Centro Pompidou
Comme le nom l’indique, les Combines sont des œuvres hybrides, qui associent à la pratique de la peinture celle du collage et de l’assemblage d’éléments les plus divers prélevés au réel quotidien. Ni peinture ni sculpture mais les deux à la fois, les monumentales Combines de Rauschenberg envahissent l’espace du spectateur et l’interpellent comme des véritables rébus visuels. Des oiseaux empaillés aux bouteilles de Coca-Cola, des journaux aux images de presse, aux tissus, aux papiers peints, aux portes et aux fenêtres, l’univers entier semble entrer dans sa combinatoire pour s’associer à la peinture. Ami de John Cage, le son l’intéresse aussi et, dans ses dernières Combines, il développera des analogies entre musique et arts plastiques. Proche aussi de Merce Cunningam et de la danse, certaines de ses œuvres seront des décors de scène. « Ce n’est ni de l’Art pour l’Art, ni de l’Art contre l’art. Je suis pour l’Art, mais pour l’Art qui n’a rien à voir avec l’Art. L’Art a tout à voir avec la vie, mais il n’a rien à voir avec l’Art », affirme Rauschenberg. (Entretien avec André Parinaud, in Catalogue de l’exposition Paris New York Paris, Musée national d’art moderne, Editions du Centre Pompidou, 1977.)
S’inscrivant dans le sillage de l’invention du collage par Braque et Picasso, ainsi que dans celui de l’assemblage dadaïste, Rauschenberg réinvente ces pratiques pour leur donner, dans les Combines, un impact autre. Héritier de l’esprit dada, Rauschenberg est marqué par les assemblages de Kurt Schwitters, à l’instar duquel il suggère que l’art et la vie ne font qu’un. Néanmoins, comme le souligne Barbara Rose, l’art de Rauschenberg puise sa source dans l’Amérique de l’époque, et c’est à l’Expressionnisme abstrait et à ses visées d’absolu que l’artiste réagit en intégrant l’image tirée de magazines dans ses œuvres ainsi que des matériaux non artistiques. Comme tous les grands artistes, ses influences peuvent être cherchées très loin, et parmi les peintres qui l’ont profondément marqué, l’artiste cite Léonard de Vinci et son Annonciation (1475-1478) du musée des Offices à Florence. « Sa peinture étant la vie, l’arbre, le rocher, la Vierge ont tous la même importance en même temps. Il n’y a pas de hiérarchie c’est ce qui m’intéresse. » (Entretien avec André Parinaud, op.cit.). Il en va de même dans les Combines, où chaque élément conserve son intégrité sans occulter les autres. Présent, passé, images de presse ou reproductions de chefsd’œuvre de l’art occidental, dessin et peinture, coussins et boîtes s’intègrent dans ses œuvres, qui veulent introduire « la totalité dans le moment ». Aux Combines suivra la période des Silkscreen où l’image et sa reproduction prendront de plus en plus de place et coexisteront avec la peinture. Utilisant la technique de transfert d’image à l’aide d’essence sur la soie, Rauschenberg y laisse affleurer sa passion pour l’image photographique qui ne le quittera jamais. L’artiste avait hésité, au début, entre être peintre ou photographe, il conciliera, en effet, les deux pratiques. Ces œuvres ressemblent de plus en plus à des miroirs où s’inscrit, par les différents procédés d’utilisation de l’image de presse - transfert, montage et collage -, l’histoire des Etats-Unis des années soixante. L’artiste changera ensuite de pays et prendra le monde entier comme motif de ses œuvres. De la soie au métal : aluminium poli ou verni de la série Urban Boubon, cuivre de la série Borealis, aluminium brossé des Night Shade des années quatre-vingt-dix, aux transferts sur papier des Waterworks (1992-93), Rauschenberg n’arrête pas de mesurer support, image et peinture et d’en tirer leurs différentes possibilités créatrices.
Entretenant des relations de plus en plus subtiles entre peinture et sculpture, image photographique et abstraction, se réclamant d’un art total qui inclut la musique, la danse, et qui inscrit le temps dans l’œuvre plastique, l’artiste n’a pas arrêté de questionner et de dépasser les limites entre les arts. Si, pour Jaspers Johns (qui, avec Rauschenberg, est un des précurseurs du Pop Art), Rauschenberg est l’artiste qui a le plus inventé au cours du XXe siècle depuis Picasso, pour l’historien d’art Léo Steinberg « ce qu’il a inventé pardessus tout, c’est une surface picturale qui redonnait sa place au monde ».
Comme le nom l’indique, les Combines sont des œuvres hybrides, qui associent à la pratique de la peinture celle du collage et de l’assemblage d’éléments les plus divers prélevés au réel quotidien. Ni peinture ni sculpture mais les deux à la fois, les monumentales Combines de Rauschenberg envahissent l’espace du spectateur et l’interpellent comme des véritables rébus visuels. Des oiseaux empaillés aux bouteilles de Coca-Cola, des journaux aux images de presse, aux tissus, aux papiers peints, aux portes et aux fenêtres, l’univers entier semble entrer dans sa combinatoire pour s’associer à la peinture. Ami de John Cage, le son l’intéresse aussi et, dans ses dernières Combines, il développera des analogies entre musique et arts plastiques. Proche aussi de Merce Cunningam et de la danse, certaines de ses œuvres seront des décors de scène. « Ce n’est ni de l’Art pour l’Art, ni de l’Art contre l’art. Je suis pour l’Art, mais pour l’Art qui n’a rien à voir avec l’Art. L’Art a tout à voir avec la vie, mais il n’a rien à voir avec l’Art », affirme Rauschenberg. (Entretien avec André Parinaud, in Catalogue de l’exposition Paris New York Paris, Musée national d’art moderne, Editions du Centre Pompidou, 1977.)
S’inscrivant dans le sillage de l’invention du collage par Braque et Picasso, ainsi que dans celui de l’assemblage dadaïste, Rauschenberg réinvente ces pratiques pour leur donner, dans les Combines, un impact autre. Héritier de l’esprit dada, Rauschenberg est marqué par les assemblages de Kurt Schwitters, à l’instar duquel il suggère que l’art et la vie ne font qu’un. Néanmoins, comme le souligne Barbara Rose, l’art de Rauschenberg puise sa source dans l’Amérique de l’époque, et c’est à l’Expressionnisme abstrait et à ses visées d’absolu que l’artiste réagit en intégrant l’image tirée de magazines dans ses œuvres ainsi que des matériaux non artistiques. Comme tous les grands artistes, ses influences peuvent être cherchées très loin, et parmi les peintres qui l’ont profondément marqué, l’artiste cite Léonard de Vinci et son Annonciation (1475-1478) du musée des Offices à Florence. « Sa peinture étant la vie, l’arbre, le rocher, la Vierge ont tous la même importance en même temps. Il n’y a pas de hiérarchie c’est ce qui m’intéresse. » (Entretien avec André Parinaud, op.cit.). Il en va de même dans les Combines, où chaque élément conserve son intégrité sans occulter les autres. Présent, passé, images de presse ou reproductions de chefsd’œuvre de l’art occidental, dessin et peinture, coussins et boîtes s’intègrent dans ses œuvres, qui veulent introduire « la totalité dans le moment ». Aux Combines suivra la période des Silkscreen où l’image et sa reproduction prendront de plus en plus de place et coexisteront avec la peinture. Utilisant la technique de transfert d’image à l’aide d’essence sur la soie, Rauschenberg y laisse affleurer sa passion pour l’image photographique qui ne le quittera jamais. L’artiste avait hésité, au début, entre être peintre ou photographe, il conciliera, en effet, les deux pratiques. Ces œuvres ressemblent de plus en plus à des miroirs où s’inscrit, par les différents procédés d’utilisation de l’image de presse - transfert, montage et collage -, l’histoire des Etats-Unis des années soixante. L’artiste changera ensuite de pays et prendra le monde entier comme motif de ses œuvres. De la soie au métal : aluminium poli ou verni de la série Urban Boubon, cuivre de la série Borealis, aluminium brossé des Night Shade des années quatre-vingt-dix, aux transferts sur papier des Waterworks (1992-93), Rauschenberg n’arrête pas de mesurer support, image et peinture et d’en tirer leurs différentes possibilités créatrices.
Entretenant des relations de plus en plus subtiles entre peinture et sculpture, image photographique et abstraction, se réclamant d’un art total qui inclut la musique, la danse, et qui inscrit le temps dans l’œuvre plastique, l’artiste n’a pas arrêté de questionner et de dépasser les limites entre les arts. Si, pour Jaspers Johns (qui, avec Rauschenberg, est un des précurseurs du Pop Art), Rauschenberg est l’artiste qui a le plus inventé au cours du XXe siècle depuis Picasso, pour l’historien d’art Léo Steinberg « ce qu’il a inventé pardessus tout, c’est une surface picturale qui redonnait sa place au monde ».
Correio da... Opportunity
A Opportunity, à beira da cratera Victoria, fotografa um promontório de nome Cabo Frio. Nomes portugueses na geografia marciana. Também isso é familiar.
Amor é bicho instruído
Foto de Pascal Renoux
Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Carlos Drummond de Andrade
Foto de Pascal Renoux
Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
Os anjos
Foto de Lilya Corneli
Os anjos descobrem
a vulva
no mesmo instante
em que sabem
do pénis:
com
as pernas ligeiramente
abertas
e desviando as asas
São raríssimas as
asas
que não partem dos seios
a florir nos
ombros
Como um manso púbis
com os seus veios
de sombra
E o anjo
debaixo
ficou a acariciar o pénis
do anjo que voava
por cima
de manso procurando
o fundo
da vagina
Maria Tereza Horta
Foto de Lilya Corneli
Os anjos descobrem
a vulva
no mesmo instante
em que sabem
do pénis:
com
as pernas ligeiramente
abertas
e desviando as asas
São raríssimas as
asas
que não partem dos seios
a florir nos
ombros
Como um manso púbis
com os seus veios
de sombra
E o anjo
debaixo
ficou a acariciar o pénis
do anjo que voava
por cima
de manso procurando
o fundo
da vagina
Maria Tereza Horta
A ler
Pierre Assouline em La république des livres, a denúncia contra o cinzentismo: Un prix noble pour Orhan Pamuk.
Pierre Assouline em La république des livres, a denúncia contra o cinzentismo: Un prix noble pour Orhan Pamuk.
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
Segredo
Foto de Katarzina Widmanska
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
Maria Tereza Horta
Foto de Katarzina Widmanska
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
Maria Tereza Horta
Correio da Cassini
Imagem extraordinária que a Cassini enviou no passado dia 15 de Setembro. O gigante Saturno com os anéis iluminados.
quarta-feira, 11 de outubro de 2006
As nossas madrugadas
Foto de Angelicatas
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
pois suspeitas
que com ele me visto e me
defendo
É raiva
então ciume
a tua boca
é dor e não
queixume
a tua espada
é rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
E tomas-me de força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse
E queres-me de amor
e dás-me o tempo
a trégua
a entrega
e o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra dos lenços que desfazes
na pressa de teres o que só sentes
e possuires de mim o que não sabes
Despertas-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vais descobrindo vales.
Maria Tereza Horta
Foto de Angelicatas
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
pois suspeitas
que com ele me visto e me
defendo
É raiva
então ciume
a tua boca
é dor e não
queixume
a tua espada
é rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
E tomas-me de força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse
E queres-me de amor
e dás-me o tempo
a trégua
a entrega
e o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra dos lenços que desfazes
na pressa de teres o que só sentes
e possuires de mim o que não sabes
Despertas-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vais descobrindo vales.
Maria Tereza Horta
terça-feira, 10 de outubro de 2006
Jonas Mekas
Jonas Mekas foi um dos pioneiros do vídeo e personagem importante na história do cinema independente do século XX. Nascido em 1922 na Lituânia, instalou-se em Nova York em 1949.
Inaugura hoje na Darren Knight Gallery, em Sidney, The Destruction Quartet 2006, intervenção com a apresentação simultânea de quatro filmes que explicitam os processos de destruição, levados ao absurdo: O primeiro filme, documenta a performance de Nam June Paik, em 1997, da destruição de um piano; o segundo filme mostra a demolição do muro de Berlim em 1990; o terceiro filme documenta a escultura de fogo Consequence apresentada em Nova York por Danius Kesminas, em 1991; o quarto filme documenta a destruição do World Trade Center filmado pelo próprio Mekas do seu apartamento no SoHo.
Esta instalação vem na sequência de Jonas Mekas: Celebration of the small and personal in the times of bigness, apresentado na Bienal de Veneza em 2005. A exposição poderá ser vista até 4 de Novembro.
Inaugura hoje na Darren Knight Gallery, em Sidney, The Destruction Quartet 2006, intervenção com a apresentação simultânea de quatro filmes que explicitam os processos de destruição, levados ao absurdo: O primeiro filme, documenta a performance de Nam June Paik, em 1997, da destruição de um piano; o segundo filme mostra a demolição do muro de Berlim em 1990; o terceiro filme documenta a escultura de fogo Consequence apresentada em Nova York por Danius Kesminas, em 1991; o quarto filme documenta a destruição do World Trade Center filmado pelo próprio Mekas do seu apartamento no SoHo.
Esta instalação vem na sequência de Jonas Mekas: Celebration of the small and personal in the times of bigness, apresentado na Bienal de Veneza em 2005. A exposição poderá ser vista até 4 de Novembro.
Nem só
Foto de Katarzina Widmanska
Nem só do teu silêncio
direi raiva
Nem de todo o meu corpo
direi vício
nem de todo o pénis
direi arma
e apenas do teu direi ter sido
Quando o vácuo é de
vingar
ou de vergar
cravando sobre os seios a sua enxada
Quando a minha boca se conjuga
no baixo do teu ventre
e tua espada...
nem de todo o desejo
direi verão
nem de todo o grito
a tua imagem
nem de toda a ausência
direi chão
e só de teus flancos
a viagem
Maria Tereza Horta
Foto de Katarzina Widmanska
Nem só do teu silêncio
direi raiva
Nem de todo o meu corpo
direi vício
nem de todo o pénis
direi arma
e apenas do teu direi ter sido
Quando o vácuo é de
vingar
ou de vergar
cravando sobre os seios a sua enxada
Quando a minha boca se conjuga
no baixo do teu ventre
e tua espada...
nem de todo o desejo
direi verão
nem de todo o grito
a tua imagem
nem de toda a ausência
direi chão
e só de teus flancos
a viagem
Maria Tereza Horta
A ler
Hoje, no DN, quase sempre "religiosamente ao lado", hoje "morno, morno": João César das Neves, A patética actividade de promoção.
Hoje, no DN, quase sempre "religiosamente ao lado", hoje "morno, morno": João César das Neves, A patética actividade de promoção.
Ouvindo:
Chet Baker in Tokyo ' 87 - My Funny Valentine
Chet Baker in Tokyo ' 87 - My Funny Valentine
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
A ler
Considerações pertinentes para o Nobel da literatura: Nobel : J moins 4, no La république des livres.
Considerações pertinentes para o Nobel da literatura: Nobel : J moins 4, no La république des livres.
Correio da Cassini
A cor no negro. A sombra em Saturno é o sinal da não existência. O negro é tão absoluto que nada está lá nesse momento. Não se trata de vazio, trata-se de nada ali existir. Nem o vazio.
Poema antigo
Foto de Christian Coigny
O homem que percorro
com as mãos
e a lua que concebo
na altitude
do tédio
Só
o oceano
penso paralelo — ventre
à praia intacta
das janelas brancas
com silêncio
ciclamens-astros
entre
as vozes que calaram
para sempre
o verbo — bússola
com raiz — grito de relevo
O homem que percorro
com as mãos
a estátua que consinto
a lua que concebo.
Maria Tereza Horta
Foto de Christian Coigny
O homem que percorro
com as mãos
e a lua que concebo
na altitude
do tédio
Só
o oceano
penso paralelo — ventre
à praia intacta
das janelas brancas
com silêncio
ciclamens-astros
entre
as vozes que calaram
para sempre
o verbo — bússola
com raiz — grito de relevo
O homem que percorro
com as mãos
a estátua que consinto
a lua que concebo.
Maria Tereza Horta
domingo, 8 de outubro de 2006
FIAC
A feira de arte contemporânea de Paris inaugura no próximo dia 26. Fica aqui a lista das galeria que estarão representadas. Infelizmente, nenhuma galeria nacional.
A
A Arte Studio Invernizzi Milan Martine Aboucaya Paris Aidan Moscow Air de Paris Paris Albion Londres Alfonso Artiaco Naples Aliceday Bruxelles Applicat-Prazan Paris Art & Public Genève Atelier Cardenas Bellanger Paris
B
Baronian-Francey Bruxelles Anne Barrault Paris Catherine Bastide Bruxelles Guy Bärtschi Genève Claude Bernard Paris Bernier / Eliades Athènes Blow de la Barra London Isabella Bortolozzi Berlin Paolo Boselli Bruxelles Buchmann Lugano/Berlin
C
Luis Campana Cologne Louis Carre & Cie Paris Cent 8- serge le borgne Paris Chez Valentin Paris Sadie Coles Londres Continua San Gimignano-Pekin Cortex Athletico Bordeaux Cosmic Paris Chantal Crousel Paris
D
Dansk Moebelkunst Paris/Copenhague Monica de Cardenas Milan Massimo de Carlo Milan De/Di/By Office Paris Dewindt Bruxelles Dietesheim Neuchatel Di Meo Paris Distrito Cu4tro Madrid DownTown Paris Dvir Gallery Tel-Aviv
E
Frank Elbaz Paris Estrany-de la Mota Barcelone
F
Dominique Fiat Paris Enrico Fornello Prato Jean Fournier Paris Freight +Volume New York Ulrich Fiedler Cologne
G
Galerie 1900-2000 Paris Galerie De Expeditie Zsa-Zsa Eyck Amsterdam Galerie de France Paris Galerie de Multiples Paris Galerie Italienne Paris/Turin GB Agency Paris David Gill Londres Frédéric Giroux Paris Gladstone Gallery New-York Gmurzynska Zürich Laurent Godin Paris James Goodman New York Marian Goodman Paris- New York Karsten Greve Paris-St Moritz-Cologne-Milan Marat Guelman Moscow Alain Gutharc Paris
H
Hauser & Wirth Zürich-Londres Erna Hécey Bruxelles Eva Hober Paris Henze & Ketterer Wichtrach / Berne Marwan Hoss Paris Xavier Hufkens Bruxelles Ghislaine Hussenot Paris Leonard Hutton New-York
I
I-20 New York In SITU fabienne leclerc Paris Grita Insam Vienne Catherine Issert Saint-Paul-de-Vence
J
Jablonka Cologne Rodolphe Janssen Bruxelles Jeanne-Bucher Paris JGM Paris Jousse entreprise Paris Juliette Jongma Amsterdam Annely Juda Londres
K
Kewenig Galerie Cologne Krinzinger Vienne Jan Krugier, Ditesheim & Cie Genève Nicolas Krupp Bâle
L
La B.A.N.K Paris La Blanchisserie Boulogne-Billancourt Lahumière Paris Yvon Lambert, Paris-New York Landau Contemporary Montréal Max Lang New-York Layr Wuestenhagen Contemporary Vienne Lelong Paris/ New-York/ Zurich Harris Lieberman New York Lisson Londres Loevenbruck Paris Florence Loewy Paris Lumen Travo Amsterdam Luxe New-York Florence Lynch New York
M
Maisonneuve Paris Marlborough New-York / Londres Martinethibautdelachâtre Paris Hans Mayer Düsseldorf The Mayor Gallery Londres Kamel Mennour Paris Motive Amsterdam Mouvements Modernes Paris
N
Nächst St. Stephan Rosemarie Schwarzwälder Vienne Nature Morte / Bose Pacia New Delhi-New York Nelson Paris Noga Tel Aviv Noguerasblanchard Barcelone Marco Noire Saint-Sébastien Jérôme de Noirmont Paris Nosbaum & Reding Luxembourg
O
Nathalie Obadia Paris
P
Claudine Papillon Paris Parker’s Box Brooklyn Françoise Paviot Paris Eric Philippe Paris Emmanuel Perrotin Paris Perugi Artecontemporanea Padova Polaris Paris Praz-Delavallade Paris Eva Presenhuber Zurich Catherine Putman Paris
R
Raster Varsovie Re:voir / The Film Gallery Paris Almine Rech Paris Michel Rein Paris Denise René Paris Ronmandos Gallery Rotterdam Thaddaeus Ropac Paris-Salzbourg Rubicon Dublin Lia Rumma Naples
S
Salvador Paris Esther Schipper Berlin Schleicher + Lange Paris Nathalie Seroussi Paris Sfeir- Semler Hambourg / Beyrouth Sollertis Toulouse Pietro Sparta Chagny Diana Stigter Amsterdam Studio La Città Vérone Micheline Szwajcer Anvers
T
Tanit Münich Suzanne Tarasieve Paris Daniel Templon Paris Elisabeth & Klaus Thoman Innsbruck Tornabuoni Arte Florence Patrice Trigano Paris Tucci Russo Torre Pellice
V
Georges-Philippe et Nathalie Vallois Paris Martin Van Zomeren Amsterdam Vedovi Bruxelles Aline Vidal Paris Nadja Vilenne Liège Anne de Villepoix Paris Virgil de Voldere New York Nicola Von Senger Zurich
W
Waddington Galleries Londres Michael Werner Cologne Jocelyn Wolff Paris
X
Xippas Paris / Athènes XL Gallery Moscow
Y
Hiromi Yoshii Tokyo
Z
Zlotowski Paris Zürcher Paris
A
A Arte Studio Invernizzi Milan Martine Aboucaya Paris Aidan Moscow Air de Paris Paris Albion Londres Alfonso Artiaco Naples Aliceday Bruxelles Applicat-Prazan Paris Art & Public Genève Atelier Cardenas Bellanger Paris
B
Baronian-Francey Bruxelles Anne Barrault Paris Catherine Bastide Bruxelles Guy Bärtschi Genève Claude Bernard Paris Bernier / Eliades Athènes Blow de la Barra London Isabella Bortolozzi Berlin Paolo Boselli Bruxelles Buchmann Lugano/Berlin
C
Luis Campana Cologne Louis Carre & Cie Paris Cent 8- serge le borgne Paris Chez Valentin Paris Sadie Coles Londres Continua San Gimignano-Pekin Cortex Athletico Bordeaux Cosmic Paris Chantal Crousel Paris
D
Dansk Moebelkunst Paris/Copenhague Monica de Cardenas Milan Massimo de Carlo Milan De/Di/By Office Paris Dewindt Bruxelles Dietesheim Neuchatel Di Meo Paris Distrito Cu4tro Madrid DownTown Paris Dvir Gallery Tel-Aviv
E
Frank Elbaz Paris Estrany-de la Mota Barcelone
F
Dominique Fiat Paris Enrico Fornello Prato Jean Fournier Paris Freight +Volume New York Ulrich Fiedler Cologne
G
Galerie 1900-2000 Paris Galerie De Expeditie Zsa-Zsa Eyck Amsterdam Galerie de France Paris Galerie de Multiples Paris Galerie Italienne Paris/Turin GB Agency Paris David Gill Londres Frédéric Giroux Paris Gladstone Gallery New-York Gmurzynska Zürich Laurent Godin Paris James Goodman New York Marian Goodman Paris- New York Karsten Greve Paris-St Moritz-Cologne-Milan Marat Guelman Moscow Alain Gutharc Paris
H
Hauser & Wirth Zürich-Londres Erna Hécey Bruxelles Eva Hober Paris Henze & Ketterer Wichtrach / Berne Marwan Hoss Paris Xavier Hufkens Bruxelles Ghislaine Hussenot Paris Leonard Hutton New-York
I
I-20 New York In SITU fabienne leclerc Paris Grita Insam Vienne Catherine Issert Saint-Paul-de-Vence
J
Jablonka Cologne Rodolphe Janssen Bruxelles Jeanne-Bucher Paris JGM Paris Jousse entreprise Paris Juliette Jongma Amsterdam Annely Juda Londres
K
Kewenig Galerie Cologne Krinzinger Vienne Jan Krugier, Ditesheim & Cie Genève Nicolas Krupp Bâle
L
La B.A.N.K Paris La Blanchisserie Boulogne-Billancourt Lahumière Paris Yvon Lambert, Paris-New York Landau Contemporary Montréal Max Lang New-York Layr Wuestenhagen Contemporary Vienne Lelong Paris/ New-York/ Zurich Harris Lieberman New York Lisson Londres Loevenbruck Paris Florence Loewy Paris Lumen Travo Amsterdam Luxe New-York Florence Lynch New York
M
Maisonneuve Paris Marlborough New-York / Londres Martinethibautdelachâtre Paris Hans Mayer Düsseldorf The Mayor Gallery Londres Kamel Mennour Paris Motive Amsterdam Mouvements Modernes Paris
N
Nächst St. Stephan Rosemarie Schwarzwälder Vienne Nature Morte / Bose Pacia New Delhi-New York Nelson Paris Noga Tel Aviv Noguerasblanchard Barcelone Marco Noire Saint-Sébastien Jérôme de Noirmont Paris Nosbaum & Reding Luxembourg
O
Nathalie Obadia Paris
P
Claudine Papillon Paris Parker’s Box Brooklyn Françoise Paviot Paris Eric Philippe Paris Emmanuel Perrotin Paris Perugi Artecontemporanea Padova Polaris Paris Praz-Delavallade Paris Eva Presenhuber Zurich Catherine Putman Paris
R
Raster Varsovie Re:voir / The Film Gallery Paris Almine Rech Paris Michel Rein Paris Denise René Paris Ronmandos Gallery Rotterdam Thaddaeus Ropac Paris-Salzbourg Rubicon Dublin Lia Rumma Naples
S
Salvador Paris Esther Schipper Berlin Schleicher + Lange Paris Nathalie Seroussi Paris Sfeir- Semler Hambourg / Beyrouth Sollertis Toulouse Pietro Sparta Chagny Diana Stigter Amsterdam Studio La Città Vérone Micheline Szwajcer Anvers
T
Tanit Münich Suzanne Tarasieve Paris Daniel Templon Paris Elisabeth & Klaus Thoman Innsbruck Tornabuoni Arte Florence Patrice Trigano Paris Tucci Russo Torre Pellice
V
Georges-Philippe et Nathalie Vallois Paris Martin Van Zomeren Amsterdam Vedovi Bruxelles Aline Vidal Paris Nadja Vilenne Liège Anne de Villepoix Paris Virgil de Voldere New York Nicola Von Senger Zurich
W
Waddington Galleries Londres Michael Werner Cologne Jocelyn Wolff Paris
X
Xippas Paris / Athènes XL Gallery Moscow
Y
Hiromi Yoshii Tokyo
Z
Zlotowski Paris Zürcher Paris
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
MACBA, Museu d’Art Contemporani de Barcelona
MACBA, Museu d’Art Contemporani de Barcelona, apresenta, até 27 de Novembro, as novas aquisições da Fundação MACBA e várias doações. Obras de Chantal Akerman, Eugènia Balcells, John Baldessari, Stanley Brouwn, James Coleman, Öyvind Fahlström, Dan Graham, Joaquim Jordà, Antoni Llena, Anish Kapoor, Mike Kelley, Cildo Meireles, Mario Merz, Herminio Molero, Juan Muñoz, Raimundo Patiño, Cierna Pavlina Fichta, Manolo Quejido, Jo Spence e Krzystof Wodiczko fazem agora parte da colecção e podem ser vistas em Barcelona.
Gozo XII
Foto de Katarzina Widmanska
São tuas as pálpebras
dos meus dias
tal como a laranja do lago
estagnado
é a lua do lago ao meio dia
quando o sol dos ombros está
rasgado
São teus os cílios
que as noites utilizam
é tua a saliva dos meus
braços
é teu o cacto que no ventre
incerto
debruça levar os seus
orgasmos
Não tenho mais que te dizer
das coisas
que tudo o mais te faço eu
deitada
enquanto sentes que o teu corpo
cresce
por dentro do mundo
na minha mão fechada
Maria Tereza Horta
Foto de Katarzina Widmanska
São tuas as pálpebras
dos meus dias
tal como a laranja do lago
estagnado
é a lua do lago ao meio dia
quando o sol dos ombros está
rasgado
São teus os cílios
que as noites utilizam
é tua a saliva dos meus
braços
é teu o cacto que no ventre
incerto
debruça levar os seus
orgasmos
Não tenho mais que te dizer
das coisas
que tudo o mais te faço eu
deitada
enquanto sentes que o teu corpo
cresce
por dentro do mundo
na minha mão fechada
Maria Tereza Horta
terça-feira, 3 de outubro de 2006
Gozo XI
Foto de Lilya Corneli
Conduzes na saliva
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras
E a seda do meu corpo
já te cede
neste odor de borco em que me abres
Sedenta e sequiosa
vou sabendo
a demorar o tempo que se espraia
ao longo dos flancos que vou tendo:
as tuas pernas
vezes teu ventre
A tua língua
vezes os teus dentes
na pressa veloz com que me rasgas
Maria Tereza Horta
Foto de Lilya Corneli
Conduzes na saliva
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras
E a seda do meu corpo
já te cede
neste odor de borco em que me abres
Sedenta e sequiosa
vou sabendo
a demorar o tempo que se espraia
ao longo dos flancos que vou tendo:
as tuas pernas
vezes teu ventre
A tua língua
vezes os teus dentes
na pressa veloz com que me rasgas
Maria Tereza Horta
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Yves Klein
Inaugura na próxima 5ª feira a grande exposição de Yves Klein já anunciada pelo Centro Pompidou desde o ano passado. Esta exposição revela todo um percurso ainda pouco conhecido do artista. A associação quase imediata de Klein ao famoso IKB (International Klein Blue) e às situações monocromáticas tem provocado um progressivo esquecimento em relação ao conjunto muito diversificado da sua obra, principalmente desde a sua morte. Corps, couleur, immatériel é o título desta exposição concebida como um percurso iniciático que leva o espectador, guiado pela palavra de Klein, aos três capítulos em que se organiza a exposição: imprégnation, illumination de la matière, incarnation. Estas três situações estão relacionadas com a nomeação de três cores: o azul, o ouro e o rosa. No âmbito desta organização é, assim, mostrado um conjunto pouco conhecido de obras que vão do registo de algumas performances, projectos arquitectónicos, obras sonoras e coreografias de dança a décors de cinema e documentos escritos. A exposição estará no Centro Pompidou até 5 de Fevereiro de 2007.
domingo, 1 de outubro de 2006
Gozo X
Foto de Angelicatas
São de alumínio
os flancos
e de feltro a língua
de felpa ou seda
a abertura incerta
que cede breve a humidade
esguia
presa no quente do interior
da pedra
Ou musgo doce
de haste sempre dura
de onde pendem seus dois mansos frutos
que a boca aflora e os dentes prendem
a tatear-lhes
o hálito e o suco
Maria Tereza Horta
Foto de Angelicatas
São de alumínio
os flancos
e de feltro a língua
de felpa ou seda
a abertura incerta
que cede breve a humidade
esguia
presa no quente do interior
da pedra
Ou musgo doce
de haste sempre dura
de onde pendem seus dois mansos frutos
que a boca aflora e os dentes prendem
a tatear-lhes
o hálito e o suco
Maria Tereza Horta