sábado, 29 de março de 2008
Diário da guerra
Following threats to our staff of a very serious nature, and some ill informed reports from certain corners of the British media that could directly lead to the harm of some of our staff, Liveleak.com has been left with no other choice but to remove Fitna from our servers.
This is a sad day for freedom of speech on the net but we have to place the safety and well being of our staff above all else. We would like to thank the thousands of people, from all backgrounds and religions, who gave us their support. They realised LiveLeak.com is a vehicle for many opinions and not just for the support of one.
Perhaps there is still hope that this situation may produce a discussion that could benefit and educate all of us as to how we can accept one anothers culture.
We stood for what we believe in, the ability to be heard, but in the end the price was too high.
Esta é a declaração que se pode encontrar hoje na primeira página do LiveLeak. É evidente quem está a ganhar a guerra.
This is a sad day for freedom of speech on the net but we have to place the safety and well being of our staff above all else. We would like to thank the thousands of people, from all backgrounds and religions, who gave us their support. They realised LiveLeak.com is a vehicle for many opinions and not just for the support of one.
Perhaps there is still hope that this situation may produce a discussion that could benefit and educate all of us as to how we can accept one anothers culture.
We stood for what we believe in, the ability to be heard, but in the end the price was too high.
Esta é a declaração que se pode encontrar hoje na primeira página do LiveLeak. É evidente quem está a ganhar a guerra.
Fitna
sexta-feira, 28 de março de 2008
Telemóveis em Cuba
Hoy puedes hablar! Muy porreiro, oh Francisco Louçã?
Hoy puedes hablar! Muy porreiro, oh Francisco Louçã?
Pretextos para fugir do real
Foto de Marc PoKempner
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Alexandre O'Neill in No Reino da Dinamarca, 1958.
Foto de Marc PoKempner
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da provocação. É assim que te faço arder triunfalmente onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Alexandre O'Neill in No Reino da Dinamarca, 1958.
terça-feira, 25 de março de 2008
Bento de Jesus Caraça
A política do medo
"Em que condições exerce hoje o professor o seu mister de ensinar? Pergunta capital, em cuja resposta vai muito da eficiência da Escola e do valor intelectual e moral do ensino. Posso afirmar, sem receio de exagerar, que essas condições se caracterizam essencialmente assim: deficiência de meios pedagógicos; deficiência de meios materiais da vida do professor; limitação das condições de independência mental dos agentes económicos.
O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.
A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
[Bento de Jesus Caraça, in Intervenção feita da Sessão de 30 de Novembro de 1946, realizada pelo Movimento da Unidade Popular, na sala de A Voz do Operário, aliás in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - sublinhados nossos]
in Almanaque republicano.
A política do medo
"Em que condições exerce hoje o professor o seu mister de ensinar? Pergunta capital, em cuja resposta vai muito da eficiência da Escola e do valor intelectual e moral do ensino. Posso afirmar, sem receio de exagerar, que essas condições se caracterizam essencialmente assim: deficiência de meios pedagógicos; deficiência de meios materiais da vida do professor; limitação das condições de independência mental dos agentes económicos.
O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.
A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
[Bento de Jesus Caraça, in Intervenção feita da Sessão de 30 de Novembro de 1946, realizada pelo Movimento da Unidade Popular, na sala de A Voz do Operário, aliás in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - sublinhados nossos]
in Almanaque republicano.
quinta-feira, 20 de março de 2008
A Deus, a Deus!
Foto de Angelicatas.
Se eu fixar o céu atentamente
e no céu um ponto apenas e só lá,
se me esquecer de mim e do trajecto
voando como a luz ao meu encontro,
se me deixar suspenso nesse ponto
tão esquecido que desapareça,
perderei nessa escolha o Universo,
cavalo de nebulosas espantado,
mas se estender a mão para tocar a terra
sentindo em mim a vida a fervilhar,
mil esporões no sangue e sobre a erva
o corpo de Eva, a fonte em minha cara,
ah, bato então a esta porta negra
que no silêncio por cima se desprende
impelindo-me mais longe que o olhar
à terra estranha do berço descuidado,
ah, — grito eu neste silêncio sem fim
de casa abandonada e seus confins solitários,
sabendo que jamais um eco voltará
como um cavalo a beber na mesma fonte,
ah, — que brado imenso que a minha alma grita
com a garganta em voz e olhos de silêncio,
e fico-me perdido nos corredores do céu
nas salas abandonadas do imenso
e digo Eu! sabendo ali ninguém,
e digo Eu! sabendo que é assim,
e que por mim a mim chego e testemunho,
tão eterno o momento como o mundo,
tão eterno o olhar como o pressentimento,
tão eterno o saber como o repúdio,
a Agonia como a Anunciação,
ah, eu só quero parar o momento!
Eu só quero dizer agora! e nada mais,
e basta que o diga e que o compreenda
para que o tempo não me prenda ao inferno
da sua corrente sem amanhãs,
mas neste grito que sobre a terra eu lanço
a Deus, a Deus! aberto em toda a parte,
ah como eu sinto este segredo intenso
que por dentro ressoa nas quebradas da morte,
a Deus! a Deus, que até no mal
que a cara desfigura em forma de pecado
se transforma em sinal, para que tudo
se desfaça do sentido até à alma!
24/6/87, Herdade do Sobrado
Jorge Guimarães in Odes Nocturnas, 1990.
Foto de Angelicatas.
Se eu fixar o céu atentamente
e no céu um ponto apenas e só lá,
se me esquecer de mim e do trajecto
voando como a luz ao meu encontro,
se me deixar suspenso nesse ponto
tão esquecido que desapareça,
perderei nessa escolha o Universo,
cavalo de nebulosas espantado,
mas se estender a mão para tocar a terra
sentindo em mim a vida a fervilhar,
mil esporões no sangue e sobre a erva
o corpo de Eva, a fonte em minha cara,
ah, bato então a esta porta negra
que no silêncio por cima se desprende
impelindo-me mais longe que o olhar
à terra estranha do berço descuidado,
ah, — grito eu neste silêncio sem fim
de casa abandonada e seus confins solitários,
sabendo que jamais um eco voltará
como um cavalo a beber na mesma fonte,
ah, — que brado imenso que a minha alma grita
com a garganta em voz e olhos de silêncio,
e fico-me perdido nos corredores do céu
nas salas abandonadas do imenso
e digo Eu! sabendo ali ninguém,
e digo Eu! sabendo que é assim,
e que por mim a mim chego e testemunho,
tão eterno o momento como o mundo,
tão eterno o olhar como o pressentimento,
tão eterno o saber como o repúdio,
a Agonia como a Anunciação,
ah, eu só quero parar o momento!
Eu só quero dizer agora! e nada mais,
e basta que o diga e que o compreenda
para que o tempo não me prenda ao inferno
da sua corrente sem amanhãs,
mas neste grito que sobre a terra eu lanço
a Deus, a Deus! aberto em toda a parte,
ah como eu sinto este segredo intenso
que por dentro ressoa nas quebradas da morte,
a Deus! a Deus, que até no mal
que a cara desfigura em forma de pecado
se transforma em sinal, para que tudo
se desfaça do sentido até à alma!
24/6/87, Herdade do Sobrado
Jorge Guimarães in Odes Nocturnas, 1990.
quarta-feira, 19 de março de 2008
Parabéns a você!
Faz hoje 60 anos que o meu querido amigo Luís Villas-Boas fundou o Hot Club de Portugal, a 19 de Março de 1948, poucos dias antes do seu aniversário (ele fazia anos a 26 de Março). O Hot sobreviveu aos seus congéneres de Barcelona ou de Paris. E hoje a única coisa que se pode desejar é, pelo menos, mais 60 anos para o Hot.
I segreti (XVII)
Frate Roger Bacon in I Segreti dell'Arte e della Natura e Confutazione della Magia, Capitolo VIII, Edizione di 1622.
Dell'occultare i segreti della natura e dell'arte
Dunque anche nei segreti propri il volgo erra e così si distingue dai sapienti, ma per le idee generali sta nella legge di tutti e concorda con i sapienti. Le cose comuni però sono di poco valore e non interessano per se stesse, ma per i loro particolari e le loro caratteristiche. Il motivo di tenere occulte al volgo le cose segrete fu presso tutti i sapienti il fatto che il volgo deride coloro che sanno e transcura i segreti della sapienza e non sa usare di cose altissime, e se alcunchè di magnifico viene per caso a sua conoscenza, lo perverte e ne abusa in danno molteplice e delle singole persone e della comunità. E perciò insano è colui che scrive alcunchè di segreto, a meno che non lo scriva in modo che sia celato al volgo e possa solo a gran pena esser compreso dai sapienti e da quelli più desiderosi di conoscenza. Così tutta la moltitudine dei sapienti si comportò fin dal principio e in molti modi essi tennero occulti al volgo i segreti della sapienza. Alcuni infatti nascosero molte cose per mezzo di segni strani, di formule magiche, altri con disegni ed enigmatiche parole, come dice Aristotele nel libro dei Segreti: "O Alessandro, voglio rivelarti il sommo segreto, e la potenza divina ti aiuti a tener celato il mistero e ad attuare il mio detto. Prendi dunque la pietra che non è pietra ed è in qualsiasi luogo ed in qualsivoglia tempo" — e si intendono l'uovo dei filosofi e il suo termine.
Frate Roger Bacon in I Segreti dell'Arte e della Natura e Confutazione della Magia, Capitolo VIII, Edizione di 1622.
terça-feira, 18 de março de 2008
Yan Pei-Ming con Yan Pei-Ming
Papa Giovanni XXIII, 2005, oleo s/ tela, 250 x 220 cm
Autoportrait, 2007, aguarela s/ papel, 280 x 154 cm
Papa Giovanni XXIII, 2005, oleo s/ tela, 250 x 220 cm
Inaugura amanhã na GAMeC — Galleria d'Arte Moderna e Contemporanea di Bergamo — a exposição Yan Pei-Ming con Yan Pei-Ming, primeira exposição individual deste notável artista chinês num museu italiano. Yan Pei-Ming é um dos mais importantes pintores contemporâneos; nascido em Shangai, em 1960, instala-se em França a partir de 1981, onde estuda, primeiro na Escola de Belas Artes de Dijon e, mais tarde, no Institut des Hautes Etudes en Art Plastique de Paris. Em Bergamo, Ming apresenta cerca de 20 obras de grandes formatos, em que o retrato e o auto-retrato se confundem num diálogo plástico notável. A ver até 27 de Julho. Ler mais aqui.
Autoportrait, 2007, aguarela s/ papel, 280 x 154 cm
sábado, 15 de março de 2008
Sim, senhor ministro.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Na ponte
Foto de Lilya Corneli
Debruçado na terra espreito a noite
que se despenha em luzes e silêncio,
eu sou um bicho pequeno e momentâneo
que faz da consciência a sua anomalia,
por um segundo expludo em parca labareda
vaga-lume consumido por si próprio
e durante esse segundo pela noite acesa
habito-a com a ânsia do meu vómito.
O silêncio percorre a escuridão
tão breve como a luz
o que me doi não é o seu encontro
é ser atravessado por Deus,
nesta ara de pedra onde me ponho
assistindo ao meu próprio passamento
bêbedo do meu pesado sono
acordo ao som dos meus passos.
Ah eu queria que este papel negro
e esburacado, eu queria que esta luz,
que este negro de pálpebras fechado,
que o som contínuo do silêncio,
que este toque de folhas nos cabelos,
que este esbarrar nas coisas com os olhos,
que este grito dentro de mim mesmo
se me rasgassem nas mãos como uma carta.
Nesta ponte onde paro sobre o rio
desconhecido da noite
entre as duas margens, devagar, oscilo,
sem me lembrar de uma nem de outra,
nas mãos seguro a esperança que se parte,
foge-me o chão, o céu dança comigo,
a cor deste silêncio esconde a morte
como se a morte fosse a minha vida.
A noite tem mais mortos que as estrelas
que vejo, os olhos desfilam-me em museu,
as bibliotecas ardem, as gerações
enchem o campo-santo do mundo,
e nesta fila sei que agora sou eu,
e somos todos tão iguais, todos tão medonhos,
a habitar os sonhos uns dos outros
no pesadelo de nos metermos medo.
A voz das coisas habita-me de nada,
a minha nau chamou-se esquecimento,
quantas mãos seguraram este crânio vivo,
escuto-me na noite a noite sem manhã,
a voz das coisas faz o silêncio do mundo,
o vento atravessa as pedras com o frio,
a sucessão dos dias é isenta de mim mesmo,
mas ataca-me de frio como o vento às pedras.
3.00, 22/7/87, Funchal.
Jorge Guimarães in Odes Nocturnas, 1990.
Foto de Lilya Corneli
Debruçado na terra espreito a noite
que se despenha em luzes e silêncio,
eu sou um bicho pequeno e momentâneo
que faz da consciência a sua anomalia,
por um segundo expludo em parca labareda
vaga-lume consumido por si próprio
e durante esse segundo pela noite acesa
habito-a com a ânsia do meu vómito.
O silêncio percorre a escuridão
tão breve como a luz
o que me doi não é o seu encontro
é ser atravessado por Deus,
nesta ara de pedra onde me ponho
assistindo ao meu próprio passamento
bêbedo do meu pesado sono
acordo ao som dos meus passos.
Ah eu queria que este papel negro
e esburacado, eu queria que esta luz,
que este negro de pálpebras fechado,
que o som contínuo do silêncio,
que este toque de folhas nos cabelos,
que este esbarrar nas coisas com os olhos,
que este grito dentro de mim mesmo
se me rasgassem nas mãos como uma carta.
Nesta ponte onde paro sobre o rio
desconhecido da noite
entre as duas margens, devagar, oscilo,
sem me lembrar de uma nem de outra,
nas mãos seguro a esperança que se parte,
foge-me o chão, o céu dança comigo,
a cor deste silêncio esconde a morte
como se a morte fosse a minha vida.
A noite tem mais mortos que as estrelas
que vejo, os olhos desfilam-me em museu,
as bibliotecas ardem, as gerações
enchem o campo-santo do mundo,
e nesta fila sei que agora sou eu,
e somos todos tão iguais, todos tão medonhos,
a habitar os sonhos uns dos outros
no pesadelo de nos metermos medo.
A voz das coisas habita-me de nada,
a minha nau chamou-se esquecimento,
quantas mãos seguraram este crânio vivo,
escuto-me na noite a noite sem manhã,
a voz das coisas faz o silêncio do mundo,
o vento atravessa as pedras com o frio,
a sucessão dos dias é isenta de mim mesmo,
mas ataca-me de frio como o vento às pedras.
3.00, 22/7/87, Funchal.
Jorge Guimarães in Odes Nocturnas, 1990.
terça-feira, 11 de março de 2008
A Torre de Babel
A Torre de Babel de Pieter Bruegel vai poder ser visto em Paris, no Louvre, entre os dias 14 de Março e 2 de Junho. A obra foi provisóriamente emprestada pelo Museum Boijmans Van Beuningen de Roterdam. Para quem quiser ou puder dar um salto a Paris...
sábado, 8 de março de 2008
I segreti (XVI)
Frate Roger Bacon in I Segreti dell'Arte e della Natura e Confutazione della Magia, Capitolo VIII, Edizione di 1622.
Dell'occultare i segreti della natura e dell'arte
Ho enumerati alcuni esempi intorno al potere della natura e dell'arte, affinchè da poche cose ne raccogliamo molte, dalle parti il tutto, dai particolari gli universali e si veda che non è necessario per noi aspirare alla magia, essendo sufficienti l'arte e la natura. Ora voglio trattare con ordine le singole cose ed enumerarne le cause e il modo in particolare. Ma rifletto che non si affidano i segreti (della natura) alla pelle delle capre e delle pecore, così che possano essere conosciuti da chiunque, come raccomandarono Socrate e Aristotele. Questi dice nei Segreti dei Segreti che spezzerebbe il sigillo celeste chi comunicasse i segreti della natura e dell'arte, aggiungendo che molti mali cadono su colui che scopre le cose occulte e rivela le arcane. Del resto in questo caso Aulo Gellio, nel libro delle Notti Attiche, dice che è stolto offrire lattughe a un asino quando gli bastano cardi. E nel libro delle pietre è scritto che diminuisce la maestà delle cose mistiche chi li divulga, nè restano segrete quelle cose di cui la folla è consapevole. Dalla divulgazione infatti risulta evidente che il volgo viene a prendere una posizione contraria a quella dei sapienti. Infatti ciò che pare a tutti, e ai sapienti, specialmente ai maggiori fra essi, è vero. Dunque ciò che sembra invece soltanto alla maggioranza, al vogo in quanto tale, necessariamente è falso. Parlo del volgo che in questa distinzione si contrappone ai sapienti. Infatti nelle idee generali il popolo concorda con i sapienti, ma nei principi e nelle conclusioni delle arti e della scienze discorda da loro, affaticandosi con sottigliezze e sofismi intorno alle apparenze, di cui i sapienti non si curano.
Frate Roger Bacon in I Segreti dell'Arte e della Natura e Confutazione della Magia, Capitolo VIII, Edizione di 1622.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Pátria minha
Foto de art Shay
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."
Vinicius de Moraes in Pátria minha, 1949.
Foto de art Shay
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."
Vinicius de Moraes in Pátria minha, 1949.