quinta-feira, 29 de abril de 2004
The world is all that is the case.
The world is the totality of facts, not of things.
The world is determined by the facts, and by their being all the facts.
For the totality of facts determines what is the case, and also whatever is not the case.
The facts in logical space are the world.
(...)
Space, time, colour are forms of objects.
The configuration of objects produces states of affairs.
In a state of affairs objects fit into one another like the links of a chain.
In a state of affairs objects stand in a determinate relation to one another.
Form is the possibility of structure.
The structure of a fact consists of the structures of states of affairs.
The totality of existing states of affairs is the world.
(...)
We picture facts to ourselves.
A picture presents a situation in logical space, the existence and non-existence of states of affairs.
A picture is a model of reality.
(...)
What a picture represents is its sense.
The agreement or disagreement or its sense with reality constitutes its truth or falsity.
(...)
There are no pictures that are true a priori.
A logical picture of facts is a thought.
The totality of true thoughts is a picture of the world.
in Tractatus Logico Philosophicus, 1, 1.1, 1.11, 1.12, 1.13, 2.0251, 2.0272, 2.03, 2.031, 2.033, 2.034, 2.04, 2.1, 2.11, 2.12, 2.221, 2.222, 2.225, 3, 3.01, Ludwig Wittgenstein, 1918.
The world is the totality of facts, not of things.
The world is determined by the facts, and by their being all the facts.
For the totality of facts determines what is the case, and also whatever is not the case.
The facts in logical space are the world.
(...)
Space, time, colour are forms of objects.
The configuration of objects produces states of affairs.
In a state of affairs objects fit into one another like the links of a chain.
In a state of affairs objects stand in a determinate relation to one another.
Form is the possibility of structure.
The structure of a fact consists of the structures of states of affairs.
The totality of existing states of affairs is the world.
(...)
We picture facts to ourselves.
A picture presents a situation in logical space, the existence and non-existence of states of affairs.
A picture is a model of reality.
(...)
What a picture represents is its sense.
The agreement or disagreement or its sense with reality constitutes its truth or falsity.
(...)
There are no pictures that are true a priori.
A logical picture of facts is a thought.
The totality of true thoughts is a picture of the world.
in Tractatus Logico Philosophicus, 1, 1.1, 1.11, 1.12, 1.13, 2.0251, 2.0272, 2.03, 2.031, 2.033, 2.034, 2.04, 2.1, 2.11, 2.12, 2.221, 2.222, 2.225, 3, 3.01, Ludwig Wittgenstein, 1918.
terça-feira, 27 de abril de 2004
What we cannot speak about we must pass over in silence.
in Tractatus Logico Philosophicus, Ludwig Wittgenstein, 1918.
in Tractatus Logico Philosophicus, Ludwig Wittgenstein, 1918.
domingo, 25 de abril de 2004
Mais uma vez Rorty
Todos os seres humanos se fazem acompanhar de um conjunto de palavras que empregam para justificar as suas acções, as suas crenças e as suas vidas. São as palavras nas quais formulamos o louvor dos nossos amigos e atacamos os nossos inimigos ou nas quais formulamos os nossos projectos a longo prazo, as nossas dúvidas pessoais mais profundas e as nossas mais elevadas esperanças. São as palavras nas quais, por vezes prospectivamente e por vezes retrospectivamente, contamos a história das nossas vidas. Chamarei a essas palavras o «vocabulário final» de uma pessoa.
Esse vocabulário é «final» no sentido em que, se se lançar dúvida sobre o valor dessas palavras, o seu utilizador não tem qualquer recurso argumentativo não circular. Tais palavras constituem o ponto até onde ele pode ir com a linguagem: além delas não há mais do que uma passividade desamparada ou um recurso à força. Uma pequena parte de um vocabulário final é feita de termos delgados, flexíveis, ubíquos, tais como «verdadeiro», «bom», «certo» e «belo». A maior parte contém termos mais espessos, mais rígidos e mais locais, tais como, por exemplo, «Cristo», «o meu país», «padrões profissionais», «decência», «amabilidade», «a revolução», «a Igreja», «progressista», «rigoroso» ou «criativo». Os termos mais locais fazem a maior parte do serviço.
in Contingência, Ironia e Solidariedade, Cap. IV - Ironia Privada e Esperança Liberal
Deparo-me, diáriamente, com este problema de linguagem a nível pedagógico. É necessário, a cada passo, entender os contornos individuais desse «vocabulário final» de que Rorty fala e nunca deixar caír o interlocutor numa situação de argumentação circular. A provocação dessa argumentação circular tem que ter, à partida, garantias da abrangência de novos limites para esse específico «vocabulário final» e envolver a possibilidade efectiva da aquisição de novas fronteiras.
Todos os seres humanos se fazem acompanhar de um conjunto de palavras que empregam para justificar as suas acções, as suas crenças e as suas vidas. São as palavras nas quais formulamos o louvor dos nossos amigos e atacamos os nossos inimigos ou nas quais formulamos os nossos projectos a longo prazo, as nossas dúvidas pessoais mais profundas e as nossas mais elevadas esperanças. São as palavras nas quais, por vezes prospectivamente e por vezes retrospectivamente, contamos a história das nossas vidas. Chamarei a essas palavras o «vocabulário final» de uma pessoa.
Esse vocabulário é «final» no sentido em que, se se lançar dúvida sobre o valor dessas palavras, o seu utilizador não tem qualquer recurso argumentativo não circular. Tais palavras constituem o ponto até onde ele pode ir com a linguagem: além delas não há mais do que uma passividade desamparada ou um recurso à força. Uma pequena parte de um vocabulário final é feita de termos delgados, flexíveis, ubíquos, tais como «verdadeiro», «bom», «certo» e «belo». A maior parte contém termos mais espessos, mais rígidos e mais locais, tais como, por exemplo, «Cristo», «o meu país», «padrões profissionais», «decência», «amabilidade», «a revolução», «a Igreja», «progressista», «rigoroso» ou «criativo». Os termos mais locais fazem a maior parte do serviço.
in Contingência, Ironia e Solidariedade, Cap. IV - Ironia Privada e Esperança Liberal
Deparo-me, diáriamente, com este problema de linguagem a nível pedagógico. É necessário, a cada passo, entender os contornos individuais desse «vocabulário final» de que Rorty fala e nunca deixar caír o interlocutor numa situação de argumentação circular. A provocação dessa argumentação circular tem que ter, à partida, garantias da abrangência de novos limites para esse específico «vocabulário final» e envolver a possibilidade efectiva da aquisição de novas fronteiras.
quarta-feira, 21 de abril de 2004
Ainda R. Rorty
O contrário da ironia é o senso comum, já que este é o suporte dos que, sem autoconsciência, descrevem tudo o que é importante nos termos do vocabulário final ao qual eles e os que os rodeiam estão habituados. Ser de senso comum é partir do princípio que enunciados formulados nesse vocabulário final bastam para descrever e julgar as crenças, acções e vidas dos que empregam vocabulários finais alternativos. (...)
Quando o senso comum é posto em causa, os seus adeptos começam por responder generalizando e tornando explícitas as regras do jogo de linguagem que estão habituados a jogar (tal como alguns sofistas gregos fizeram e tal como Aristóteles fez nos seus textos éticos). Mas se nenhum truísmo formulado no vocabulário antigo for suficiente para enfrentar um desafio argumentativo, a necessidade de responder produzirá uma vontade de ir além dos truísmos. Nesse ponto, a conversa pode assumir um carácter socrático.(Contingency, Irony and Solidarity, Cambridge University Press, 1989).
Não é justamente esta a medida da distância que, hoje, nos impossibilita de "conversar" com o mundo islâmico (releia-se a carta de intenções publicada na Al-Quds al-'Arabi no dia 23 de Fevereiro de 1998 e aqui reproduzida no passado sábado, 17)?
E, ainda a propósito, lembro aqui aquela frase determinante de António Sérgio no prefácio da sua tradução de Os Problemas da Filosofia de Bertrand Russell (Almedina, Coimbra, 2001): A filosofia é, em não pequena parte, a luta do bom-senso contra o senso comum.
O contrário da ironia é o senso comum, já que este é o suporte dos que, sem autoconsciência, descrevem tudo o que é importante nos termos do vocabulário final ao qual eles e os que os rodeiam estão habituados. Ser de senso comum é partir do princípio que enunciados formulados nesse vocabulário final bastam para descrever e julgar as crenças, acções e vidas dos que empregam vocabulários finais alternativos. (...)
Quando o senso comum é posto em causa, os seus adeptos começam por responder generalizando e tornando explícitas as regras do jogo de linguagem que estão habituados a jogar (tal como alguns sofistas gregos fizeram e tal como Aristóteles fez nos seus textos éticos). Mas se nenhum truísmo formulado no vocabulário antigo for suficiente para enfrentar um desafio argumentativo, a necessidade de responder produzirá uma vontade de ir além dos truísmos. Nesse ponto, a conversa pode assumir um carácter socrático.(Contingency, Irony and Solidarity, Cambridge University Press, 1989).
Não é justamente esta a medida da distância que, hoje, nos impossibilita de "conversar" com o mundo islâmico (releia-se a carta de intenções publicada na Al-Quds al-'Arabi no dia 23 de Fevereiro de 1998 e aqui reproduzida no passado sábado, 17)?
E, ainda a propósito, lembro aqui aquela frase determinante de António Sérgio no prefácio da sua tradução de Os Problemas da Filosofia de Bertrand Russell (Almedina, Coimbra, 2001): A filosofia é, em não pequena parte, a luta do bom-senso contra o senso comum.
segunda-feira, 19 de abril de 2004
Ainda a propósito do "sonho da Europa" de que Kundera fala, Richard Rorty em Contingência, Ironia e Solidariedade (Cap. I, Da Contingência da Linguagem), sintetiza magníficamente:
Hà cerca de duzentos anos, a ideia de que a verdade era feita e não descoberta começou a dominar a imaginação europeia. A Revolução Francesa mostrara que todo o vocabulário das relações sociais e todo o espectro das instituições sociais podiam ser substituídos quase de um dia para o outro. Esse precedente fez da política utópica mais uma regra do que uma excepção entre os intelectuais. A política utópica põe de parte questões, quer sobre a vontade de Deus quer sobre a natureza do Homem, e sonha criar uma forma de sociedade até agora desconhecida.
Mais ou menos pela mesma altura, os poetas românticos mostravam o que acontece quando a arte é pensada já não como imitação mas sim como autocriação do artista. Os poetas reclamavam para a arte o mesmo lugar na cultura que o tradicionalmente ocupado pela religião e pela filosofia, o mesmo lugar que o Iluminismo tinha reclamado para a ciência. O precedente estabelecido pelos românticos deu inicialmente plausibilidade à sua pretensão. O papel efectivo dos romances, dos poemas, dos quadros, das estátuas e dos edifícios nos movimentos sociais dos últimos cento e cinquenta anos conferiram-lhe ainda maior plausibilidade.
De então para cá essas duas tendências reuniram as suas forças e alcançaram uma hegemonia cultural. Para a maior parte dos intelectuais contemporâneos, as questões dos fins, por oposição aos meios - questões acerca do modo de dar sentido à vida de cada um ou à da comunidade de cada um - são questões para a arte ou para a política, ou para ambas, e não para a religião, para a filosofia ou para a ciência.
E, ainda, mais adiante:
Temos de fazer uma distinção entre a tese de que o mundo está diante de nós e a tese de que a verdade está diante de nós. Dizer que o mundo está diante de nós, que não é uma criação nossa, quer dizer, tal como o senso comum, que a maior parte das coisas no espaço e no tempo são efeitos de causas que não incluem os estados mentais do ser humano. Dizer que a verdade não está diante de nós é simplesmente dizer que onde não há frases não há verdade, que as frases são elementos das linguagens humanas e que as linguagens humanas são criações do homem.
A verdade não pode estar diante de nós - não pode existir independentemente da mente humana - porque as frases não podem existir dessa maneira ou estar diante de nós dessa maneira. O mundo está diante de nós, mas as descrições do mundo não. Só as descrições do mundo podem ser verdadeiras ou falsas; o mundo por si próprio - sem auxílio das actividades descritivas dos seres humanos - não pode.
Hà cerca de duzentos anos, a ideia de que a verdade era feita e não descoberta começou a dominar a imaginação europeia. A Revolução Francesa mostrara que todo o vocabulário das relações sociais e todo o espectro das instituições sociais podiam ser substituídos quase de um dia para o outro. Esse precedente fez da política utópica mais uma regra do que uma excepção entre os intelectuais. A política utópica põe de parte questões, quer sobre a vontade de Deus quer sobre a natureza do Homem, e sonha criar uma forma de sociedade até agora desconhecida.
Mais ou menos pela mesma altura, os poetas românticos mostravam o que acontece quando a arte é pensada já não como imitação mas sim como autocriação do artista. Os poetas reclamavam para a arte o mesmo lugar na cultura que o tradicionalmente ocupado pela religião e pela filosofia, o mesmo lugar que o Iluminismo tinha reclamado para a ciência. O precedente estabelecido pelos românticos deu inicialmente plausibilidade à sua pretensão. O papel efectivo dos romances, dos poemas, dos quadros, das estátuas e dos edifícios nos movimentos sociais dos últimos cento e cinquenta anos conferiram-lhe ainda maior plausibilidade.
De então para cá essas duas tendências reuniram as suas forças e alcançaram uma hegemonia cultural. Para a maior parte dos intelectuais contemporâneos, as questões dos fins, por oposição aos meios - questões acerca do modo de dar sentido à vida de cada um ou à da comunidade de cada um - são questões para a arte ou para a política, ou para ambas, e não para a religião, para a filosofia ou para a ciência.
E, ainda, mais adiante:
Temos de fazer uma distinção entre a tese de que o mundo está diante de nós e a tese de que a verdade está diante de nós. Dizer que o mundo está diante de nós, que não é uma criação nossa, quer dizer, tal como o senso comum, que a maior parte das coisas no espaço e no tempo são efeitos de causas que não incluem os estados mentais do ser humano. Dizer que a verdade não está diante de nós é simplesmente dizer que onde não há frases não há verdade, que as frases são elementos das linguagens humanas e que as linguagens humanas são criações do homem.
A verdade não pode estar diante de nós - não pode existir independentemente da mente humana - porque as frases não podem existir dessa maneira ou estar diante de nós dessa maneira. O mundo está diante de nós, mas as descrições do mundo não. Só as descrições do mundo podem ser verdadeiras ou falsas; o mundo por si próprio - sem auxílio das actividades descritivas dos seres humanos - não pode.
sábado, 17 de abril de 2004
Formas de equívoco
Diz Milan Kundera em A Arte do Romance: Os agélastes, termo pelo qual Rabelais designa os que não riem, o não pensamento das ideias feitas e o kitsch são uma e a mesma coisa, são o inimigo tricéfalo da arte nascida como eco do riso de Deus, a arte que criou a fascinante esfera imaginária em que ninguém possui a verdade e todos têm o direito de ser compreendidos. Essa esfera imaginária de tolerância nasceu com a Europa moderna, é a própria imagem da Europa – ou, pelo menos, o nosso sonho da Europa, sonho muitas vezes traído mas, ainda assim, suficientemente forte para nos unir a todos na fraternidade que se estende muito além do pequeno continente europeu. Mas sabemos que o mundo em que o indivíduo é respeitado (o mundo imaginário do romance, e o mundo real da Europa) é frágil e perecível (...) se a cultura europeia hoje parece ameaçada, se paira uma ameaça interna e externa sobre o que de mais precioso há nela (...).
Porque razão o discurso e a linguagem utilizados diáriamente para descrever esta ameaça de que Kundera fala continuam equívocos? Do outro lado, do lado do inimigo, não há nenhum desvio, nenhuma forma de equívoco. A realidade histórica é, efectivamente, a de uma guerra santa. Para se entender isto, sem mais rodeios, basta reflectir sobre o texto que a seguir se pode ler:
Published in Al-Quds al-'Arabi on Febuary 23, 1998
Statement signed by Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin; Ayman al-Zawahiri, leader of the Jihad Group in Egypt; Abu- Yasir Rifa'i Ahmad Taha, a leader of the Islamic Group; Sheikh Mir Hamzah, secretary of the Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan; and Fazlul Rahman, leader of the Jihad Movement in Bangladesh
Praise be to God, who revealed the Book, controls the clouds, defeats factionalism, and says in His Book "But when the forbidden months are past, then fight and slay the pagans wherever ye find them, seize them, beleaguer them, and lie in wait for them in every stratagem (of war)"; and peace be upon our Prophet, Muhammad Bin-'Abdallah, who said "I have been sent with the sword between my hands to ensure that no one but God is worshipped, God who put my livelihood under the shadow of my spear and who inflicts humiliation and scorn on those who disobey my orders." The Arabian Peninsula has never--since God made it flat, created its desert, and encircled it with seas--been stormed by any forces like the crusader armies now spreading in it like locusts, consuming its riches and destroying its plantations. All this is happening at a time when nations are attacking Muslims like people fighting over a plate of food. In the light of the grave situation and the lack of support, we and you are obliged to discuss current events, and we should all agree on how to settle the matter.
No one argues today about three facts that are known to everyone; we will list them, in order to remind everyone:
First, for over seven years the United States has been occupying the lands of Islam in the holiest of places, the Arabian Peninsula, plundering its riches, dictating to its rulers, humiliating its people, terrorizing its neighbors, and turning its bases in the Peninsula into a spearhead through which to fight the neighboring Muslim peoples.
If some people have formerly debated the fact of the occupation, all the people of the Peninsula have now acknowledged it.
The best proof of this is the Americans' continuing aggression against the Iraqi people using the Peninsula as a staging post, even though all its rulers are against their territories being used to that end, still they are helpless. Second, despite the great devastation inflicted on the Iraqi people by the crusader-Zionist alliance, and despite the huge number of those killed, in excess of 1 million... despite all this, the Americans are once against trying to repeat the horrific massacres, as though they are not content with the protracted blockade imposed after the ferocious war or the fragmentation and devastation.
So now they come to annihilate what is left of this people and to humiliate their Muslim neighbors.
Third, if the Americans' aims behind these wars are religious and economic, the aim is also to serve the Jews' petty state and divert attention from its occupation of Jerusalem and murder of Muslims there.
The best proof of this is their eagerness to destroy Iraq, the strongest neighboring Arab state, and their endeavor to fragment all the states of the region such as Iraq, Saudi Arabia, Egypt, and Sudan into paper statelets and through their disunion and weakness to guarantee Israel's survival and the continuation of the brutal crusade occupation of the Peninsula.
All these crimes and sins committed by the Americans are a clear declaration of war on God, his messenger, and Muslims. And ulema have throughout Islamic history unanimously agreed that the jihad is an individual duty if the enemy destroys the Muslim countries. This was revealed by Imam Bin-Qadamah in "Al- Mughni," Imam al-Kisa'i in "Al- Bada'i," al-Qurtubi in his interpretation, and the shaykh of al-Islam in his books, where he said "As for the militant struggle, it is aimed at defending sanctity and religion, and it is a duty as agreed. Nothing is more sacred than belief except repulsing an enemy who is attacking religion and life."
On that basis, and in compliance with God's order, we issue the following fatwa to all Muslims
The ruling to kill the Americans and their allies--civilians and military--is an individual duty for every Muslim who can do it in any country in which it is possible to do it, in order to liberate the al-Aqsa Mosque and the holy mosque from their grip, and in order for their armies to move out of all the lands of Islam, defeated and unable to threaten any Muslim. This is in accordance with the words of Almighty God, "and fight the pagans all together as they fight you all together," and "fight them until there is no more tumult or oppression, and there prevail justice and faith in God."
This is in addition to the words of Almighty God "And why should ye not fight in the cause of God and of those who, being weak, are ill-treated and oppressed--women and children, whose cry is 'Our Lord, rescue us from this town, whose people are oppressors; and raise for us from thee one who will help!'"
We -- with God's help -- call on every Muslim who believes in God and wishes to be rewarded to comply with God's order to kill the Americans and plunder their money wherever and whenever they find it. We also call on Muslim ulema, leaders, youths, and soldiers to launch the raid on Satan's U.S. troops and the devil's supporters allying with them, and to displace those who are behind them so that they may learn a lesson.
Almighty God said "O ye who believe, give your response to God and His Apostle, when He calleth you to that which will give you life. And know that God cometh between a man and his heart, and that it is He to whom ye shall all be gathered."
Almighty God also says "O ye who believe, what is the matter with you, that when ye are asked to go forth in the cause of God, ye cling so heavily to the earth! Do ye prefer the life of this world to the hereafter? But little is the comfort of this life, as compared with the hereafter. Unless ye go forth, He will punish you with a grievous penalty, and put others in your place; but Him ye would not harm in the least. For God hath power over all things."
Almighty God also says "So lose no heart, nor fall into despair. For ye must gain mastery if ye are true in faith."
Diz Milan Kundera em A Arte do Romance: Os agélastes, termo pelo qual Rabelais designa os que não riem, o não pensamento das ideias feitas e o kitsch são uma e a mesma coisa, são o inimigo tricéfalo da arte nascida como eco do riso de Deus, a arte que criou a fascinante esfera imaginária em que ninguém possui a verdade e todos têm o direito de ser compreendidos. Essa esfera imaginária de tolerância nasceu com a Europa moderna, é a própria imagem da Europa – ou, pelo menos, o nosso sonho da Europa, sonho muitas vezes traído mas, ainda assim, suficientemente forte para nos unir a todos na fraternidade que se estende muito além do pequeno continente europeu. Mas sabemos que o mundo em que o indivíduo é respeitado (o mundo imaginário do romance, e o mundo real da Europa) é frágil e perecível (...) se a cultura europeia hoje parece ameaçada, se paira uma ameaça interna e externa sobre o que de mais precioso há nela (...).
Porque razão o discurso e a linguagem utilizados diáriamente para descrever esta ameaça de que Kundera fala continuam equívocos? Do outro lado, do lado do inimigo, não há nenhum desvio, nenhuma forma de equívoco. A realidade histórica é, efectivamente, a de uma guerra santa. Para se entender isto, sem mais rodeios, basta reflectir sobre o texto que a seguir se pode ler:
Published in Al-Quds al-'Arabi on Febuary 23, 1998
Statement signed by Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin; Ayman al-Zawahiri, leader of the Jihad Group in Egypt; Abu- Yasir Rifa'i Ahmad Taha, a leader of the Islamic Group; Sheikh Mir Hamzah, secretary of the Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan; and Fazlul Rahman, leader of the Jihad Movement in Bangladesh
Praise be to God, who revealed the Book, controls the clouds, defeats factionalism, and says in His Book "But when the forbidden months are past, then fight and slay the pagans wherever ye find them, seize them, beleaguer them, and lie in wait for them in every stratagem (of war)"; and peace be upon our Prophet, Muhammad Bin-'Abdallah, who said "I have been sent with the sword between my hands to ensure that no one but God is worshipped, God who put my livelihood under the shadow of my spear and who inflicts humiliation and scorn on those who disobey my orders." The Arabian Peninsula has never--since God made it flat, created its desert, and encircled it with seas--been stormed by any forces like the crusader armies now spreading in it like locusts, consuming its riches and destroying its plantations. All this is happening at a time when nations are attacking Muslims like people fighting over a plate of food. In the light of the grave situation and the lack of support, we and you are obliged to discuss current events, and we should all agree on how to settle the matter.
No one argues today about three facts that are known to everyone; we will list them, in order to remind everyone:
First, for over seven years the United States has been occupying the lands of Islam in the holiest of places, the Arabian Peninsula, plundering its riches, dictating to its rulers, humiliating its people, terrorizing its neighbors, and turning its bases in the Peninsula into a spearhead through which to fight the neighboring Muslim peoples.
If some people have formerly debated the fact of the occupation, all the people of the Peninsula have now acknowledged it.
The best proof of this is the Americans' continuing aggression against the Iraqi people using the Peninsula as a staging post, even though all its rulers are against their territories being used to that end, still they are helpless. Second, despite the great devastation inflicted on the Iraqi people by the crusader-Zionist alliance, and despite the huge number of those killed, in excess of 1 million... despite all this, the Americans are once against trying to repeat the horrific massacres, as though they are not content with the protracted blockade imposed after the ferocious war or the fragmentation and devastation.
So now they come to annihilate what is left of this people and to humiliate their Muslim neighbors.
Third, if the Americans' aims behind these wars are religious and economic, the aim is also to serve the Jews' petty state and divert attention from its occupation of Jerusalem and murder of Muslims there.
The best proof of this is their eagerness to destroy Iraq, the strongest neighboring Arab state, and their endeavor to fragment all the states of the region such as Iraq, Saudi Arabia, Egypt, and Sudan into paper statelets and through their disunion and weakness to guarantee Israel's survival and the continuation of the brutal crusade occupation of the Peninsula.
All these crimes and sins committed by the Americans are a clear declaration of war on God, his messenger, and Muslims. And ulema have throughout Islamic history unanimously agreed that the jihad is an individual duty if the enemy destroys the Muslim countries. This was revealed by Imam Bin-Qadamah in "Al- Mughni," Imam al-Kisa'i in "Al- Bada'i," al-Qurtubi in his interpretation, and the shaykh of al-Islam in his books, where he said "As for the militant struggle, it is aimed at defending sanctity and religion, and it is a duty as agreed. Nothing is more sacred than belief except repulsing an enemy who is attacking religion and life."
On that basis, and in compliance with God's order, we issue the following fatwa to all Muslims
The ruling to kill the Americans and their allies--civilians and military--is an individual duty for every Muslim who can do it in any country in which it is possible to do it, in order to liberate the al-Aqsa Mosque and the holy mosque from their grip, and in order for their armies to move out of all the lands of Islam, defeated and unable to threaten any Muslim. This is in accordance with the words of Almighty God, "and fight the pagans all together as they fight you all together," and "fight them until there is no more tumult or oppression, and there prevail justice and faith in God."
This is in addition to the words of Almighty God "And why should ye not fight in the cause of God and of those who, being weak, are ill-treated and oppressed--women and children, whose cry is 'Our Lord, rescue us from this town, whose people are oppressors; and raise for us from thee one who will help!'"
We -- with God's help -- call on every Muslim who believes in God and wishes to be rewarded to comply with God's order to kill the Americans and plunder their money wherever and whenever they find it. We also call on Muslim ulema, leaders, youths, and soldiers to launch the raid on Satan's U.S. troops and the devil's supporters allying with them, and to displace those who are behind them so that they may learn a lesson.
Almighty God said "O ye who believe, give your response to God and His Apostle, when He calleth you to that which will give you life. And know that God cometh between a man and his heart, and that it is He to whom ye shall all be gathered."
Almighty God also says "O ye who believe, what is the matter with you, that when ye are asked to go forth in the cause of God, ye cling so heavily to the earth! Do ye prefer the life of this world to the hereafter? But little is the comfort of this life, as compared with the hereafter. Unless ye go forth, He will punish you with a grievous penalty, and put others in your place; but Him ye would not harm in the least. For God hath power over all things."
Almighty God also says "So lose no heart, nor fall into despair. For ye must gain mastery if ye are true in faith."
terça-feira, 13 de abril de 2004
Para maior facilidade, compilei hoje as várias anotações dispersas (embora numeradas), tituladas Cadernos de Gravura, num texto ordenado que poderá ser lido e seguido em Cadernos de Gravura.
domingo, 4 de abril de 2004
Novamente a perspectiva.
Recapitulando:
Temos uma tradição pitagórico-platónica que lança os alicerces teórico-filosóficos para a criação de um sistema linear de representação normativo mas, de algum modo, considera pouco o processo psico-fisiológico da visão humana, nomeadamente em relação à valorização heterogénea do espaço que está subjacente a um processo de visão esferóide, compreendendo a visão periférica.
Logo a seguir, Euclides, aparentemente pouco interessado em sistemas de representação, debruça-se sobre as questões da geometria e da matemática, incluíndo nos seus estudos as questões relativas à Optica. Faz notar, sem propôr soluções ao nível da representação, que a visão humana nada tem a ver com um continuum quantum, com um espaço homogéneo indistinto mas que é efectivamente uma visão esferóide em que objectos iguais a distâncias diferentes não são vistos de acordo com a proporção entre as suas distâncias mas de acordo com a diferença dos ângulos de visão e que a diferença daquelas é sempre superior à destes, provocando assim uma deformação óptica. Durante toda a Antiguidade, estas “deformações ópticas” notadas por Euclides são tidas em conta quer na escultura, quer na arquitectura, como excepções à regra pitagórico-platónica da perspectiva linear.
No Renascimento, Lucca Paccioli e Alberti, entre outros teóricos, retomam a visão pitagórico-platónica, construíndo um sistema normativo de representação perspética linear. Novamente a incapacidade de integração dos preceitos euclidianos sobre a visão faz com que, intencionalmente ou não, haja uma deturpação das traduções e/ou uma simples ocultação/omissão das ideias euclidianas sobre Optica, nomeadamente do Oitavo Teorema. Mas, tal como na Antiguidade, os artistas sentem, na prática, a “presença” de determinadas excepções à regra. Um dos artistas que, pelo rigor intelectual que o rege, mais pressente estes problemas é Leonardo. Com efeito, no seu Trattato della Pittura, Leonardo começa, naturalmente, por fazer a apologia do sistema de Paccioli quando na Terceira Parte – intitulada De’ vari accidenti e movimenti dell’uomo e proporzioni di membra – nota 456 (Della prospettiva lineale) escreve: La prospettiva lineale si estende nell’ufficio delle linee visuali a provare per misura quanto la cosa seconda è minore che la prima, e la terza che la seconda, e cosí di grado in grado insino al fine delle cose vedute. Trovo per esperienza che la cosa seconda, se sarà tanto distante dalla prima quanto la prima è distante dall’occhio tuo, che, benché infra loro sieno di pari grandezza, la seconda sarà minore che la prima; e se la terza cosa sarà di pari grandezza della seconda e prima innanzi ad essa, sarà lontana dalla seconda quanto la seconda dalla prima, sarà di un terzo della grandezza della prima.
No entanto, mais à frente, na Nota 471 (Perché la cosa dipinta, ancoraché essa venga all’occhio per quella medesima grossenza d’angolo che quella che è piú remota di essa, non pare tanto remota quanto quella della remozione naturale), Leonardo faz notar um primeiro problema de relação de escala e proporção: Diciamo: io dipingo sulla parete a b una cosa che abbia a parere distante un miglio, e dipoi io gliene metto allato una che ha la vera distanza di un miglio, le quali due cose sono in modo ordinate, che la parete a c taglia le piramidi com egual grandezza; nientendimeno mai com due occhi parranno di egual distanza.
Como esta, são múltiplas as referências de Leonardo a excepções à regra perspética.
Mas, tal como Leonardo, Kepler sente o problema: A forma esférica dos olhos corresponde à forma esférica da imagem visual, e a avaliação do tamanho é levada a cabo através da comparação de toda a superfície da esfera com a respectiva parte dela (Opera, Vol. 2, pág.167).
Recapitulando:
Temos uma tradição pitagórico-platónica que lança os alicerces teórico-filosóficos para a criação de um sistema linear de representação normativo mas, de algum modo, considera pouco o processo psico-fisiológico da visão humana, nomeadamente em relação à valorização heterogénea do espaço que está subjacente a um processo de visão esferóide, compreendendo a visão periférica.
Logo a seguir, Euclides, aparentemente pouco interessado em sistemas de representação, debruça-se sobre as questões da geometria e da matemática, incluíndo nos seus estudos as questões relativas à Optica. Faz notar, sem propôr soluções ao nível da representação, que a visão humana nada tem a ver com um continuum quantum, com um espaço homogéneo indistinto mas que é efectivamente uma visão esferóide em que objectos iguais a distâncias diferentes não são vistos de acordo com a proporção entre as suas distâncias mas de acordo com a diferença dos ângulos de visão e que a diferença daquelas é sempre superior à destes, provocando assim uma deformação óptica. Durante toda a Antiguidade, estas “deformações ópticas” notadas por Euclides são tidas em conta quer na escultura, quer na arquitectura, como excepções à regra pitagórico-platónica da perspectiva linear.
No Renascimento, Lucca Paccioli e Alberti, entre outros teóricos, retomam a visão pitagórico-platónica, construíndo um sistema normativo de representação perspética linear. Novamente a incapacidade de integração dos preceitos euclidianos sobre a visão faz com que, intencionalmente ou não, haja uma deturpação das traduções e/ou uma simples ocultação/omissão das ideias euclidianas sobre Optica, nomeadamente do Oitavo Teorema. Mas, tal como na Antiguidade, os artistas sentem, na prática, a “presença” de determinadas excepções à regra. Um dos artistas que, pelo rigor intelectual que o rege, mais pressente estes problemas é Leonardo. Com efeito, no seu Trattato della Pittura, Leonardo começa, naturalmente, por fazer a apologia do sistema de Paccioli quando na Terceira Parte – intitulada De’ vari accidenti e movimenti dell’uomo e proporzioni di membra – nota 456 (Della prospettiva lineale) escreve: La prospettiva lineale si estende nell’ufficio delle linee visuali a provare per misura quanto la cosa seconda è minore che la prima, e la terza che la seconda, e cosí di grado in grado insino al fine delle cose vedute. Trovo per esperienza che la cosa seconda, se sarà tanto distante dalla prima quanto la prima è distante dall’occhio tuo, che, benché infra loro sieno di pari grandezza, la seconda sarà minore che la prima; e se la terza cosa sarà di pari grandezza della seconda e prima innanzi ad essa, sarà lontana dalla seconda quanto la seconda dalla prima, sarà di un terzo della grandezza della prima.
No entanto, mais à frente, na Nota 471 (Perché la cosa dipinta, ancoraché essa venga all’occhio per quella medesima grossenza d’angolo che quella che è piú remota di essa, non pare tanto remota quanto quella della remozione naturale), Leonardo faz notar um primeiro problema de relação de escala e proporção: Diciamo: io dipingo sulla parete a b una cosa che abbia a parere distante un miglio, e dipoi io gliene metto allato una che ha la vera distanza di un miglio, le quali due cose sono in modo ordinate, che la parete a c taglia le piramidi com egual grandezza; nientendimeno mai com due occhi parranno di egual distanza.
Como esta, são múltiplas as referências de Leonardo a excepções à regra perspética.
Mas, tal como Leonardo, Kepler sente o problema: A forma esférica dos olhos corresponde à forma esférica da imagem visual, e a avaliação do tamanho é levada a cabo através da comparação de toda a superfície da esfera com a respectiva parte dela (Opera, Vol. 2, pág.167).
sábado, 3 de abril de 2004
Novamente os espaços e as marcas
Gostava que houvesse lugares que fossem estáveis, imóveis, intangíveis, intocados e quase intocáveis, imutáveis, enraízados; lugares que pudessem ser pontos de referência, de partida, de origem:
O meu local de nascimento, o berço da família, a casa onde poderia ter nascido, a árvore que poderia ter visto crescer, ( que o meu pai pudesse ter plantado no dia em que nasci), o sotão da minha juventude pleno de memórias intactas...
Tais lugares não existem, e é porque não existem que o espaço se torna numa questão, deixa de ser em si evidente, cessa de ser incorporado, cessa de ser apropriado. O espaço é uma dúvida: tenho constantemente de o marcar, de o designar. Nunca é meu, nunca me é dado, tenho de o conquistar.
Os meus espaços são frágeis: O tempo vai consumí-los, destruí-los. Nada jamais se assemelhará ao que era, as minhas lembranças irão traír-me, o esquecimento irá infiltrar a minha memória, olharei para algumas velhas e amarelecidas fotografias de cantos cortados e não as irei reconhecer. As palavras “ lista telefónica disponível no interior” ou “aperitivos servidos a qualquer hora” não estarão já dispostas num semicírculo de letras em branco porcelana sobre a janela do pequeno café na rua Coquillière.
O espaço derrete como areia que se escoa entre os dedos. O tempo leva tudo e deixa-me apenas fragmentos sem forma:
Escrever: tentar meticulosamente reter algo, causar que algo sobreviva; arrancar alguns pedaços precisos do vácuo à medida que ele cresce , deixar algures um sulco, um traço, uma marca ou alguns poucos sinais.
Georges Perec
Um abraço ao meu querido amigo Luís.
Gostava que houvesse lugares que fossem estáveis, imóveis, intangíveis, intocados e quase intocáveis, imutáveis, enraízados; lugares que pudessem ser pontos de referência, de partida, de origem:
O meu local de nascimento, o berço da família, a casa onde poderia ter nascido, a árvore que poderia ter visto crescer, ( que o meu pai pudesse ter plantado no dia em que nasci), o sotão da minha juventude pleno de memórias intactas...
Tais lugares não existem, e é porque não existem que o espaço se torna numa questão, deixa de ser em si evidente, cessa de ser incorporado, cessa de ser apropriado. O espaço é uma dúvida: tenho constantemente de o marcar, de o designar. Nunca é meu, nunca me é dado, tenho de o conquistar.
Os meus espaços são frágeis: O tempo vai consumí-los, destruí-los. Nada jamais se assemelhará ao que era, as minhas lembranças irão traír-me, o esquecimento irá infiltrar a minha memória, olharei para algumas velhas e amarelecidas fotografias de cantos cortados e não as irei reconhecer. As palavras “ lista telefónica disponível no interior” ou “aperitivos servidos a qualquer hora” não estarão já dispostas num semicírculo de letras em branco porcelana sobre a janela do pequeno café na rua Coquillière.
O espaço derrete como areia que se escoa entre os dedos. O tempo leva tudo e deixa-me apenas fragmentos sem forma:
Escrever: tentar meticulosamente reter algo, causar que algo sobreviva; arrancar alguns pedaços precisos do vácuo à medida que ele cresce , deixar algures um sulco, um traço, uma marca ou alguns poucos sinais.
Georges Perec
Um abraço ao meu querido amigo Luís.