segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Nascer do Sol em Marte
Filmado pela Phoenix, este familiar nascer do Sol em Marte quase que deixa para segundo plano a mais surpreendente notícia do dia. Aqui.
(obrigado pela correcção...)
(obrigado pela correcção...)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Maria Keil
Maria Keil
Maria Keil, Auto-retrato, 1941.
Maria Keil
Mais uma história extraordinária deste Portugal dos "pequeninos". O que mais sobressai em tudo isto é a pertinente interrogação relativa às atitudes (não) tomadas por parte das instituições que existem com o objectivo de zelar pela produção artística nacional. Mas, como parece que andam todos a dormir, aqui fica o sítio em que a sua assinatura poderá fazer a diferença. Leia primeiro a história aqui.
Maria Keil, Auto-retrato, 1941.
Willem de Kooning
Inaugura amanhã na Xavier Hufkens, em Bruxelas, a exposição Willem de Kooning - Works on Paper. Considerado um dos mais importantes pintores do século XX, De Kooning nasceu em 1904 em Roterdão, tendo emigrado para os Estados Unidos em 1926. Faz a sua primeira exposição individual em Nova York, em 1948. Pioneiro do Expressionismo Abstracto norte-americano, De Kooning morre em 1997. A exposição pode ser vista até 8 de Novembro. Saber mais aqui.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
A ler
Aparecido há pouco tempo nas livrarias, Compêndio para Uso dos Pássaros, Poesia Reunida 1937-2004 de Manoel de Barros, vem em muito boa hora colmatar a lacuna existente na publicação deste Autor em Portugal. Nascido em 1916, Manoel de Barros é um dos mais importantes poetas da chamada Terceira Geração do Modernismo Brasileiro. Esta Poesia Reunida 1937-2004, edição da Quasi, dá-nos uma visão mais proporcionada da importancia e extraordinária qualidade deste Autor. Por curiosidade, aqui fica uma outra edição da Quasi, de 2000, desse pequeno livro encantado O Encantador de Palavras (livrinho que se consegue do editor por apenas 5 euros).
Poesia, s.f.
Raíz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de
um homem
Designa também a armação de objectos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc.
geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas
loucos e bêbados
Manoel de Barros in O Encantador de Palavras, 2000.
Poesia, s.f.
Raíz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de
um homem
Designa também a armação de objectos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc.
geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas
loucos e bêbados
Manoel de Barros in O Encantador de Palavras, 2000.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Penso
De Kooning
De Kooning
Penso, logo existo é uma frase intelectual que subestima as dores de dentes. Sinto, logo existo é uma verdade de alcance muito mais geral e que se aplica a todo o ser vivo. O meu eu não se distingue essencialmente dos vossos pelo pensamento. Muitas pessoas, poucas ideias: pensamos todos pouco mais ou menos a mesma coisa, transmitindo, tomando de empréstimo, roubando as nossas ideias uns aos outros. Mas se alguém me pisa um pé, sou eu só quem sente a dor. O fundamento do eu não é o pensamento mas a dor, o mais elementar de todos os sentimentos. Na dor, nem sequer um gato pode duvidar do seu eu único e não permutável. Quando a dor se torna aguda, o mundo desvanece-se e cada um fica a sós consigo mesmo. A dor é a Escola Superior do egocentrismo.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.domingo, 14 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
O sentimento
Mitchell
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Mitchell
O sentimento, por definição, surge em nós sem que disso nos apercebamos e muitas vezes contra a nossa vontade. A partir de momento em que queremos experimentá-lo (a partir do momento em que decidimos experimentá-lo, como Dom Quixote decidiu amar Dulcineia), o sentimento já não é sentimento, mas imitação de sentimento, sua exibição. É o que correntemente se chama histeria. É por isso que o homo sentimentalis (ou por outras palavras, o homem que erigiu o sentimento em valor) é na realidade idêntico ao homo hystericus.
O que não quer dizer que o homem que imita um sentimento o não experimente. O actor que desempenha o papel do velho rei Lear sente no palco, frente aos espectadores, a autêntica tristeza de um homem abandonado e traído, mas esta tristeza evapora-se no preciso instante em que a peça termina. É por isso que o homo sentimentalis, logo a seguir a ter-nos assombrado com os seus grandes sentimentos, nos desconcerta com a sua inexplicável indiferença.
O que não quer dizer que o homem que imita um sentimento o não experimente. O actor que desempenha o papel do velho rei Lear sente no palco, frente aos espectadores, a autêntica tristeza de um homem abandonado e traído, mas esta tristeza evapora-se no preciso instante em que a peça termina. É por isso que o homo sentimentalis, logo a seguir a ter-nos assombrado com os seus grandes sentimentos, nos desconcerta com a sua inexplicável indiferença.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Christian Boltanski
Inaugura amanhã na La Maison Rouge, em Paris, a exposição Les archives du cœur de Christian Boltanski. Paralelamente à exposição Les archives que decorre em Estocolmo até 14 de Dezembro, esta instalação criada em 2005 com o título Le cœur pode ser vista até 5 de Outubro. Christian Boltanski é o artista convidado para a Monumenta 2009. Ler mais aqui.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A estrada
Guston
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Guston
A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só tem sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não a vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.
O caminho e a estrada implicam também duas noções de beleza.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não a vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.
O caminho e a estrada implicam também duas noções de beleza.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Andy Warhol by Andy Warhol
Inaugura amanhã, e pode ser vista no Astrup Fearnley Museum of Modern Art em Oslo, a exposição Andy Warhol by Andy Warhol que reúne um significativo conjunto de peças fundamentais da obra do artista norte-americano. Ler mais aqui.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Considera-se
Kiefer
Kiefer
Considera-se que a civilização europeia assenta na razão. Mas poderia igualmente dizer-se que a Europa é uma civilização do sentimento: fez nascer o tipo humano a que eu gostaria de chamar o homem sentimental: homo sentimentalis.
A religião judaica prescreve uma lei aos seus fiéis. Esta lei pretende-se racionalmente acessível (o talmude é um perpétuo raciocínio sobre as prescrições bíblicas); não exige dos crentes nem um sentido misterioso do sobrenatural, nem uma exaltação particular, nem um fogo místico a incendiar-lhes a alma. O critério do bem e do mal é objectivo: é a lei escrita, que se trata de compreender e de observar. O cristianismo virou de pernas para o ar este critério: Ama a Deus e faz o que quiseres!, diz Santo Agostinho. Transferido para a alma do indivíduo, o critério do bem e do mal tornou-se subjectivo. Se a alma do Fulano estiver cheia de amor, tudo correrá pelo melhor: ele é um homem bom e tudo o que ele faz é bom.
(...)
Nesta convicção de que o amor inocenta o homem assenta a originalidade do direito europeu e da sua teoria da culpabilidade, que leva em consideração os sentimentos do acusado.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.A religião judaica prescreve uma lei aos seus fiéis. Esta lei pretende-se racionalmente acessível (o talmude é um perpétuo raciocínio sobre as prescrições bíblicas); não exige dos crentes nem um sentido misterioso do sobrenatural, nem uma exaltação particular, nem um fogo místico a incendiar-lhes a alma. O critério do bem e do mal é objectivo: é a lei escrita, que se trata de compreender e de observar. O cristianismo virou de pernas para o ar este critério: Ama a Deus e faz o que quiseres!, diz Santo Agostinho. Transferido para a alma do indivíduo, o critério do bem e do mal tornou-se subjectivo. Se a alma do Fulano estiver cheia de amor, tudo correrá pelo melhor: ele é um homem bom e tudo o que ele faz é bom.
(...)
Nesta convicção de que o amor inocenta o homem assenta a originalidade do direito europeu e da sua teoria da culpabilidade, que leva em consideração os sentimentos do acusado.
Sete anos depois
O site da Al Qaeda continua na net escondido dentro de outros sites tão inócuos como educacionais (ler aqui e aqui).
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A grandes histórias
Gottlieb
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Gottlieb
As grandes histórias de amor europeias desenrolam-se num espaço extra-coital: a história da princesa de Clèves, a de Paulo e Virgínia, o romance de Frometin cujo herói, Dominique, ama durante toda a vida uma única mulher que nunca chega a beijar, e claro, a história de Werther, e a de Victoria Hamsun, e a de Pierre e Luce, essas personagens de Romain Rolland que fizeram chorar no seu tempo as leitoras de toda a Europa. Em O Idiota, Dostoiewsky deixou Nastassia Philippovna ir para a cama com o primeiro negociante que lhe apareceu, mas quando se tratou da paixão verdadeira, quer dizer quando Nastassia se viu entre o príncipe Mychkine e Rogojine, os respectivos sexos dissolveram-se nos três grandes corações como torrões de açúcar em três chávenas de chá. O amor de Ana Karenine e de Vronski terminou com o seu primeiro acto sexual, daí em diante passou a ser apenas a sua própria decrepitude e nós nem sequer sabemos porquê: fariam amor assim tão mal? ou, pelo contrário, amar-se-iam com tanto garbo que a força da volúpia fez nascer neles um sentimento de pecado? Seja qual for a resposta, chegamos sempre à mesma conclusão: depois do amor pré-coital, já não havia grande amor, nem podia já havê-lo.
(...)
A noção europeia do amor enraíza-se num terreno extra-coital. O século XX, que se gaba de ter libertado a sexualidade e que gosta de se rir dos sentimentos românticos, não soube dar à noção de amor qualquer sentido novo (tal é um dos naufrágios deste século) de maneira que um jovem europeu, quando profere mentalmente essa grande palavra, vê-se reconduzido nas asas do encantamento, quer queira quer não, até ao ponto exacto em que Werther viveu o seu amor por Lotte e em que Dominique ia caindo do cavalo.
(...)
A noção europeia do amor enraíza-se num terreno extra-coital. O século XX, que se gaba de ter libertado a sexualidade e que gosta de se rir dos sentimentos românticos, não soube dar à noção de amor qualquer sentido novo (tal é um dos naufrágios deste século) de maneira que um jovem europeu, quando profere mentalmente essa grande palavra, vê-se reconduzido nas asas do encantamento, quer queira quer não, até ao ponto exacto em que Werther viveu o seu amor por Lotte e em que Dominique ia caindo do cavalo.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Os episódios
Hofmann
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
Hofmann
Os episódios são como minas. A maior parte deles nunca explodem, mas chega um dia em que o mais modesto nos será fatal. Na rua, uma rapariga avançará de frente para nós, lançando-nos de longe um olhar que nos parecerá um tanto alucinado. Afrouxará progressivamente o passo, depois deter-se-á: "É mesmo você? Ando há anos à sua procura!" e saltar-nos-á ao pescoço. É a rapariga que nos caiu desmaiada nos braços no dia em que íamos ter com a mulher da nossa vida, a qual se tornou entretanto nossa mulher e mãe do nosso filho. Mas a rapariga encontrada por acaso na rua decidiu, há muito tempo, apaixonar-se pelo seu salvador, e o facto fortuito de nos ter encontrado vai parecer-lhe um sinal do destino. Telefonar-nos-á cinco vezes por dia, escrever-nos-á cartas, irá ter com a nossa mulher para lhe explicar que nos ama e que tem direitos sobre nós, até ao momento em que a mulher da nossa vida perder a paciência, fizer amor por raiva com o homem do lixo e nos deixar levando-nos o filho. Para escaparmos à rapariga apaixonada, que entretanto despejou no nosso apartamento todo o recheio dos seus armários, iremos refugiar-nos do outro lado do oceano, e por lá morreremos no desespero e na miséria. Se as nossas vidas fossem eternas como as dos deuses antigos, a noção de episódio perderia o seu sentido, porque no infinito todo o acontecimento, até o mais negligenciável, se tornaria um dia causa de um efeito, desenvolvendo-se em história.
Milan Kundera in A Imortalidade, 1990.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Puzzling...
A Phoenix não encontrou humidade na terra marciana. Ao contrário do que acontece no nosso solo a água que se deposita sobre o solo marciano, e que poderia dar origem a vida microbiológica, não é absorvida. Ler mais aqui.
Darkside
Com obras de mais de 150 fotógrafos, Darkside é uma exposição que pode ser vista até 16 de Novembro no Fotomuseum Winterthur, em Zürich. A exposição, com obras de Brassaï, Bill Brandt, Hans Bellmer, Man Ray, Pierre Molinier, Germaine Krull, František Drtikol, Claude Cahun, Christer Strömholm, Anders Petersen, Ed van der Elsken, Walter Chappell, Peter Hujar, Robert Mapplethorpe, Andy Warhol, Nan Goldin, Valie Export, Carolee Schneemann, Urs Lüthi, Hannah Villiger, Nobuyoshi Araki, Daido Moriyama, Noritoshi Hirakawa, Arno Nollen, Paul Armand Gette, entre outros, explora o aspecto da fotografia enquanto instrumento de representação na área da sexualidade sintetizando a paixão, a fantasia e o desejo, o poder e a violência, o voyeurismo e a auto-representação da sexualidade. Ler mais aqui.
Christian Boltanski
No Stockholm Konsthall, até 14 de Dezembro, Christian Boltanski apresenta seis instalações subordinadas ao título Les archives. Primeira exposição individual de Boltanski em Estocolmo, este poderá bem ser o primeiro vislumbre do que acontecerá em 2009 no Grand Palais onde o artista francês é o muito esperado convidado da Monumenta. Ler mais aqui.
A ler
Pierre Assouline no La République des livres: Regrets éternels d’un grand éditeur (ou o homem que rejeitou Kerouac).
Pierre Assouline no La République des livres: Regrets éternels d’un grand éditeur (ou o homem que rejeitou Kerouac).