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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

 
Páginas notáveis (9)



Une signification nouvelle a été donnée à l'idée d'information par l'image photographique. La photo est une mince tranche d'espace autant que de temps. Dans un monde où règnent les images photographiques, toute limite ("cadrage") semble arbitraire. Tout peut être séparé de tout, rendu discontinu: tout ce qu'il faut, c'est cadrer le sujet différemment. (Inversement, tout peut être rapproché de tout.) La photographie renforce une conception nominaliste de la réalité sociale, qui serait faite de petites unités en nombre apparemment infini, de la même façon que le nombre de photos qui pourraient être prises d'un objet quelconque est illimité. Par l'intermédiaire des photographies, le monde se transforme en une suite de particules libres, sans lien entre elles; et l'histoire, passé et présente, devient un ensemble d'anecdotes et de faits divers. L'appareil photo atomise la réalité, permet de la manipuler et l'opacifie. C'est une conception du monde qui lui dénie l'interdépendance de ses éléments, la continuité, mais qui confère à chacun de ses moments le caractère d'un mystère. N'importe quelle photographie est chargée de sens multiples; en effet, voir une chose sous la forme d'une photo, c'est se trouver en face d'un objet de fascination potentielle. Au bout du compte, l'image photographique nous lance un défi: "Voici la surface. À vous maintenant d'appliquer votre réflexion, ou plutôt votre sensibilité, votre intuition, à trouver ce qu'il y a au-delà, ce que doit être la réalité, si c'est à cela qu'elle ressemble". Les photographies, qui ne peuvent rien expliquer par elles-mêmes, sont d'inépuisables incitations à déduire, à spéculer et à fantasmer.


Susan Sontag in Sur la photographie, 1977.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

 
Comer o Boby

Vêm os ilustres professores da Universidade de Victoria, na Austrália, dizer-nos agora, num surpreendente artigo intitulado "Save the planet: eat a dog?", que a "pegada ecológica" do nosso Boby é o dobro da de um Land Rover com um motor de 4,6 litros. O conselho é trocar rapidamente o Boby por um outro animal de estimação que, no final da "estimação", seja comestível - uma galinha, por exemplo. O leitor poderá também começar a explicar ao seu gato que não vai dar porque a sua "pegada ecológica" é sensivelmente a de um Volkswagen Golf e, portanto, será comido e rapidamente trocado por uma couve, por exemplo.
É isto que dá as "cruzadas ecológicas" quando contaminam os meios académicos.

Tente lembrar-se dos nomes dos 7 anões, respire fundo e siga em frente. Bon courage!

 
Livros esquecidos (22)



Esta edição de Michael Doran, bibliotecário do Courtauld Institute of Art de Londres, surgiu em 1978. Doran consegue aqui reunir um conjunto de textos significativos dos últimos anos de vida de Cézanne, textos difíceis de encontrar na sua versão integral. Estes textos, fundamentalmente correspondência com Emile Bernard, Maurice Denis ou descrições detalhadas de encontros com Joaquim Gasquet, filho de um amigo de infância de Cézanne, Henri Gasquet, revelam a personalidade paradoxal de Cézanne no final da sua vida (entre 1894 e 1906). Cézanne, de uma forma por vezes nervosa, por vezes entusiasta, desconfiado ou generoso, expõe as suas ideias sobre a sua Pintura mas também sobre as obras de Holbein, Véronèse ou Poussin sem esquecer alguns comentários sobre companheiros seus contemporâneos como Monet, Redon ou Pissarro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

 
Páginas notáveis (8)



Estragon — Vamos enforcar-nos agora mesmo!
Vladimir — Num ramo? (Aproximam-se da árvore.) Não me parece de confiança.
Estragon — Não se perde nada em experimentar.
Vladimir
— Força.
Estragon
— Primeiro tu
Vladimir — Não senhor, primeiro tu.
Estragon — Porquê eu?
Vladimir — Porque és mais leve do que eu.
Estragon — Por isso mesmo
Vladimir — Não percebo.
Estragon — Puxa lá pela cabeça.
Vladimir pensa
Vladimir (finalmente) Continuo a não perceber.
Estragon — Então é assim. (Pensa.) O ramo... o ramo... (Zangado.) Puxa lá pela cabeça!
Vladimir — És a minha única esperança.
Estragon(com esforço) Gogo leve — ramo não partir — Gogo morto. Didi pesado — ramo partir — Didi sozinho. Porque se —
Vladimir — Não tinha pensado nisso.
Estragon — Se puder contigo pode com qualquer coisa.
Vladimir — Mas será que eu sou mais pesado do que tu?
Estragon — Lá isso não sei. O que é que tu achas? Há cinquenta por cento de hipóteses. Ou quase.
Vladimir — E então, o que é que fazemos?
Estragon — Deixa estar. O melhor é não fazermos nada. É mais seguro.
Vladimir — Vamos esperar para ver o que é que ele diz.
Estragon — Quem?
Vladimir — O Godot.


Samuel Beckett in À espera de Godot, Acto I.

sábado, 24 de outubro de 2009

 
Sabia que...

As sardinhas que chegam aos pratos dos portugueses saem dos mares sem deixar um rasto de destruição (notícia do Público de 22-11-09)

E mais...

As sardinhas nacionais vão ser certificadas, provando que a sua captura é feita de forma sustentável

E porquê...?
O segredo está na arte da pesca - o cerco. Porque esta ainda dá ao animal algumas hipóteses de dar à barbatana e escapar-se da armadilha.

Depois de verificar que assim era, e que os pescadores portugueses não estavam a capturar mais do que podiam, nem a matar espécies apanhadas na armadilha, o Marine Stewdarship Council deu já indicações que a pesca de sardinha em Portugal irá ser certificada como sustentável.

A ideia surgiu em finais de 2007, quando a Associação Nacional de Indústria Conserveira e a Anopcerco decidiram avançar com a candidatura. Tudo porque muitos dos consumidores das conservas nacionais - sobretudo na Europa - estão cada vez mais sensibilizados para a destruição que a pesca pode causar nos oceanos.

Por isso era importante provar que a pesca da sardinha não era depredadora. "A arte do cerco dá essa garantia", assegura Humberto Jorge. Quando detecta um cardume, a embarcação larga um outro barco mais pequeno que leva a ponta da rede, cercando o aglomerado de peixes. Depois, a rede começa a fechar-se, aprisionando os peixes no seu interior.

Porque que é que isto não é destrutivo? "Porque o cerco demora muito tempo, as sardinhas podem escapar-se pelo fundo e, além disso, basta uma corrente contrária ou a água espelhar a rede de forma a que os peixes a vejam para que a pesca falhe", responde Humberto Jorge. Ou seja, os animais têm hipótese, ao contrário do que acontece com outras arte, como o arrastão, que apanha tudo à sua passagem.

Concluímos, portanto, que, como as sardinhas têm hipótese de fuga — pelo fundo que não por cima porque teriam que estar treinadas no salto em altura e, também, porque vêem mal, só reparando na rede quando a vêem a dobrar, espelhada na água —, as que comemos são exclusivamente aquelas que se quiseram suicidar, aquelas que baixaram as barbatanas, aquelas que, por vontade, inépcia, desilusão ou pura estupidez, resolveram entregar a alma ao criador. Não nos iremos surpreender se, logo a seguir, vier outra certificação: a de que as sardinhas que comemos quiseram mesmo ser comidas e, portanto, poderão ser certificadas por revelarem um especial sentido de sacrifício, responsabilidade e abnegação.

Julga que enlouqueceu? Ainda não. Tome um comprimido, conte até dez ou tente lembrar-se dos nomes dos 7 anões e siga em frente.
Bon courage!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

 
Christian Boltanski - Personnes



Christian Boltanski é o artista convidado para a terceira edição da Monumenta a decorrer de 13 de Janeiro a 21 de Fevereiro de 2010 no Grand Palais. Depois de Anselm Kiefer, em 2007, e de Richard Serra em 2008, surge a muito aguardada intervenção de Boltanski, que aliás estava originalmente programada para este ano. Nascido em 1944, Boltanski é um dos mais importantes artistas contemporâneos vivos. Trabalhando sobre os limites da humanidade e a dimensão da memória mas também sobre o destino e a irredutibilidade da morte, a instalação inédita concebida por Boltanski para a Monumenta 2010 é, nas palavras da comissária da exposição Catherine Grenier, uma experiência impressionante, física e psicológica, um momento de emoção espectacular que questiona a natureza e o sentido da humanidade. Com esta instalação, Boltanski criou um lugar de comemoração visual e sonoro de uma densidade excepcional numa reflexão social, religiosa e humana sobre a vida, a memória, a singularidade irredutível de cada existência e, também, sobre a presença da morte, a desumanização do corpo e a aleatoriedade do destino.
Também durante a Monumenta 2010, Boltanski prosseguirá com o projecto Les Archives du coeur, uma imensa recolha, à escala planetária, dos batimentos do coração de cada um, projecto que vem sendo executado desde 2005. Durante a Monumenta 2010, cada visitante poderá registar as pulsações do seu próprio coração e esse registo fará parte dessa imensa colecção permanente intitulada Les Archive du coeur. A partir de 2010, esta extraordinária colecção, verdadeiro projecto universal e utópico, será conservada na ilha japonesa de Teshima, no mar interior de Seto, ilha posta à disposição por um mecenas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

 
João Miguel Tavares vs José Sócrates = 2 a 0

Aqui.

 
Páginas notáveis (7)



1. Glgamesh interpelle le héros du déluge

Gilgamesh dit à Ut-napishtim-le-Lointain:

"À te bien regarder, Ut-napishtim,

tes membres ne sont pas étranges, tu es tout à fait comme
moi;

non, tu nés pas étrange, tu es tout à fait comme moi.

Vis-à-vis de toi, mon coeur avait décidé de livrer combat.

Comment mon bras, contre toi, reste-t-il inerte?

Dis-moi comment t'es-tu présenté dans le conseil des
dieux, comment as-tu cherché la vie?"




2. Récit d'Ut-napishtim: le secret des dieux

Ut-napishtim répondit à Gilgamesh en ces termes:
"Gilgamesh, je voudrais te révéler une chose cachée:

c'est une chose réservée aux dieux qu'à toi, je voudrais dire.

Shuruppak, une ville — tu le sais bien —

qui est située (sur le bord) de l'Euphrate,

cette ville est si ancienne que les dieux la fréquentaient.

Les grands dieux prirent la décision de faire le Déluge.


S'engagèrent par serment: leur père Anu,

le vaillant Enlil, leur conseiller,

leur chambellan Ninurta,

Ennugui, le ministre des eaux.

Le prince Éa s'était engagé par serment avec eux


C'est porquoi il répéta leurs propos à une haie de roseaux:

"Haie de roseaux, haie de roseaux, palissade, palissade,
haie de roseaux, écoute donc! palissade, fais attention!

Homme de Shuruppak, fils d'Ubara-tutu,
démolis la maison, construis un bateau,

laisse les richesses, cherche la vie sauve,

renonce aux possessions, sauve les vivants,

fais monter à l'interieur du bateau un rejeton de tout être vivant.

Quant au bateau que tu construiras, celui-là,
que ses dimensions se correspondent entre elles:

égales en seront la largeur et la longueur;

couvre-le comme est couvert l'Abîme."


Je compris, je dis au dieu Éa, mon seigneur:

"Monseigneur, l'ordre que tu m'as donné,

j'y prêterai attention, et moi, je l'exécuterai.
Mais que dois-je répondre à la ville, à l'armée et aux anciens?"
Ouvrant la bouche, le dieu Éa prit la parole

et me dit à moi, son serviteur:

"Toi, mon brave, voici ce que tu leur diras:

Assurément, moi, Enlil me hait;

je ne peux plus habiter dans votre ville,
sur le domaine du dieu Enlil, je ne peux plus poser mes pieds.

Je vais donc descendre vers l'Abîme:

c'est avec le dieu Éa que j'habite. Sur vous, le dieu Enlil
déversera en abondance essaim d'oiseaux, bancs de poissons,
profusion de blé, de riches moissons

dès l'aube, il y aura des galettes/ténèbres,

le soir, il déversera sur vous des pluies de froment/douleurs."




in
L'Épopée de Gilgamesh, Onzième Tablette, version ninivite.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

 
A ler

A probabilidade e a explicação estatística segundo os filósofos de Lawrence Sklar da Universidade de Michigan.



 
A ler

O excerto de La troisième mort de Dieu de André Glucksmann que Vera Futscher publica no Retrovisor. A complementar esta leitura, Rififi chez les japonologues, publicado por Pierre Assouline em La république des livres.


sábado, 17 de outubro de 2009

 
Livros esquecidos (21)



Seria talvez mais correcto intitular este post de "autores esquecidos", muito embora haja, quase sempre, uma relação directa entre o esquecimento dos livros e dos seus autores. Relembrado em França há dois anos, pela mão de Kiefer que concebeu toda a sua exposição no Grand Palais em torno da obra de Paul Celan, continua muito esquecido ou ignorado entre nós. Paul Celan, pseudónimo que resulta do anagrama de Ancel, nasce na Roménia em 1920, filho de judeus alemães. Estuda medicina em França mas a sua vida universitária é interrompida pela guerra. Celan é enviado para um campo de concentração juntamente com os seus pais que acabam por lá morrer. Sobrevivente do Holocausto, Celan, após a guerra, vive primeiro em Bucareste, depois em Viena e finalmente em Paris. Começa a publicar em 1947. Embora com algum sucesso inicial, os seus livros vão caíndo no esquecimento. Com uma obra notável de poesia construída meticulosamente quase sempre num jogo anagramático muitas vezes hermético, Celan, considerado um dos maiores poetas de língua alemã do pós-guerra, reflecte sobre o terror nazi, o extermínio e a morte. Paul Celan suicida-se no rio Sena em 1970.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

 
A ler

Pierre Assouline:

Quand Beckett écrivait à Pinget.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

 
Páginas notáveis (6)



Sommes-nous donc vraiment si différents? Il est étrange de constater qu'au moment où l'Europe et l'Amérique n'ont jamais été aussi semblables sur le plan culturel, le fossé n'a jamais été aussi grand.

Cela dit, malgré tous les points communs entre les vies quotidiennes des citoyens des pays européens les plus riches et celles des Américains, ce fossé, entre les expériences européennes et américaines, est bien réel, il est fondé sur d'importantes différences historiques, sur des conceptions différentes du rôle de la culture, ou des souvenirs du passé, vrais ou imaginaires. Cet antagonisme — car il y a bien antagonisme — ne pourra se régler dans le futur proche, malgré toute la bonne volonté de nombreuses personnes, des deux côtés de l'Atlantique. Et, pourtant, on ne peut que regretter vivement qu'il y en ait d'autres pour accentuer ces différences, lorsque nous avons tant en commun.

La domination de l'Amérique est un fait. Mais l'Amérique, comme son gouvernement actuel est en train de le percevoir, ne peut pas tout faire toute seule. L'avenir du monde — de ce monde que nous partageons — est syncrétique, mélangé. Nous ne sommes pas hermétiquement isolés les uns des autres. De plus en plus, nous nous infiltrons les uns dans les autres.
Au bout du compte, le modèle pour toute compréhension — ou toute conciliation — à laquelle nous pourrions parvenir est à chercher du côté d'une réflexion plus importante sur cette vénérable opposition entre l'"ancien" et le "nouveau". L'opposition entre "civilisation" et "barbarie" est essentiellement artificielle; la penser et pontifier sur elle ne peut que corrompre — même si elle reflète bien certaines réalités. Mais l'opposition entre l'"ancien" et le "nouveau" est authentique, irréductible, elle est au centre de ce que nous comprenons comme l'expérience.

L'"ancien" et le "nouveau" sont les pôles pérennes de tout sentiment et de tout sens de l'orientation dans ce monde. Nous ne pouvons rien faire sans l'ancien, parce que c'est dans ce qui est ancien que sont investis tout notre passé, toute notre sagesse, tous nos souvenirs, toute notre tristesse, tout notre sens du réalisme. Nous ne pouvons rien faire si nous n'avons pas foi dans le nouveau, parce que c'est dans le nouveau que sont investis toute notre énergie, toutes nos réserves d'optimisme, tous nos aveugles désirs biologiques, toute notre capacité à oublier — cette capacité à la guérison sans laquelle aucune réconciliation n'est possible.




Susan Sontag
in Garder le sens mais altérer la forme, 2003.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

 
Causa nostra



(clique na imagem para ampliar)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

 
Páginas notáveis (5)


Havia uma mesa posta debaixo de uma árvore em frente da casa, onde estavam sentados a Lebre de Março e o Chapeleiro a tomar chá; um Arganaz dormia profundamente entre eles, servindo-lhes de almofada onde pousavam os cotovelos, ao mesmo tempo que falavam por cima da cabeça do bicho. "Não me parece nada confortável para o Arganaz", pensou Alice. "Mas como está a dormir, acho que não lhe faz diferença."
A mesa era muito grande, mas os três estavam bem juntinhos a um canto.

— Já não há lugar! Não há lugar! — gritaram eles quando viram Alice aproximando-se.

— Há muitos lugares! — protestou Alice, indignada, e sentou-se num grande cadeirão a uma das cabeceiras da mesa.

— Toma um pouco de vinho — disse a Lebre de Março amavelmente.
Alice olhou a mesa de cima a baixo, mas só havia chá.
— Não há vinho — notou.

— Pois não há — confirmou a Lebre de Março.

— Então não foi lá muito delicado da tua parte oferecê-lo — disse Alice, zangada.

— Também não foi lá muito delicado da tua parte sentares-te sem teres sido convidada — ripostou a Lebre de Março.

— Não sabia que a mesa era vossa — disse Alice — está posta para muito mais do que três.

— Estás a precisar de um corte de cabelo — comentou o Chapeleiro. Há já muito tempo que fitava a menina com grande curiosidade, e foi a primeira coisa que disse.

— Devias aprender a não fazer reparos pessoais — disse Alice, um tanto bruscamente. — É uma grande falta de educação.

O Chapeleiro abriu muito os olhos ao ouvir estas palavras, mas limitou-se a inquirir:
— Porque é que um corvo se parece com uma secretária?

"Vá lá, parece que agora vamos divertir-nos um bocado!", pensou Alice. "Ainda bem que começaram com as adivinhas".

— Penso que consigo achar uma resposta — acrescentou ela, em voz alta.

— Quer dizer que pensas que podes dar uma solução? — perguntou a Lebre de Março.

— Exactamente — disse Alice.

— Então devias dizer o que pensas — continuou a Lebre de Março.

— E digo — apressou-se Alice a responder — ... pelo menos, penso o que digo ... é a mesma coisa, sabes?

— Não é nada a mesma coisa! — protestou a Lebre de Março. — Ora, nesse caso também podias dizer que "Vejo o que como" é a mesma coisa que "Como o que vejo"!
— E bem podias dizer — acrescentou a Lebre de Março — que "Gosto do que tenho" é a mesma coisa que "Tenho o que gosto"!

— Bem podias dizer — intrometeu-se o Arganaz, que parecia falar a dormir — que "Respiro enquanto durmo" é a mesma coisa que "Durmo enquanto respiro"!



Lewis Carroll in Alice no País das Maravilhas (Cap. VII - O chá dos loucos), 1865.

domingo, 11 de outubro de 2009

 
A ler

O excerto de Réflexions sur la Guerre, le Mal et la fin de l’Histoire de Bernard-Henri Lévy que Vera Futscher publicou no Retrovisor. A ver também o site de James Nachtwey.

 
Premeditação ou premonição?

O Nobel para Obama é tanto mais estranho quanto o dia de tomada de posse foi a 20 de Janeiro e as candidaturas para o Nobel encerraram a 1 de Fevereiro. Onze dias para apresentar uma candidatura em Estocolmo ”pelos esforços diplomáticos internacionais e cooperação entre povos”?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

 
A ler

O muito interessante texto de Rodrigo Alexandre de Figueiredo da Universidade Federal de Ouro Preto: Introdução à metafísica das propriedades.

 
Nobel para Obama

”pelos esforços diplomáticos internacionais e cooperação entre povos” ?? Quais? É que, para além de belos discursos repletos de belas intenções, onde está a obra? Enfim, espero que a Academia sueca também me telefone um dia destes... é que também estou cheio de boas intenções.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

 
Páginas notáveis (4)



La mélancolie se lève chaque matin une minute avant moi. Elle est comme quelqu'un qui me fait de l'ombre, debout entre le jour et moi. Je dois pour m'éveiller la repousser sans ménagement. La mélancolie aime la mort, d'amour profond. Cela fait des années que je lutte avec ces profondeurs, que je m'efforce de limiter leur influence, sans y parvenir toujours. Seule la légèreté de la vie peut chasser l'insondable mélancolie. La légèreté m'est toujours venue du côté de l'amour. J'ai mis longtemps avant de voir ce qui séparait l'amour du sentiment: presque rien, un abîme. Le sentiment est du côté de la mélancolie. Il y tombe à coup sûr, tôt ou tard. Le sentiment et la mélancolie naissent d'une préférence de soi pour soi, d'une complaisance — exaltée ou effondrée — de soi pour soi. Le sentiment comme la mélancolie sont insondables, pleins de recoins et de remous. La mélancolie est la variété sombre du sentiment. Le sentiment comme la mélancolie adhère, attache, fusionne. L'amour coupe, tranche, détache, vole. Par le sentiment je suis englué dans moi-même. Par l'amour j'en suis détaché, arraché. Il y a dans la musique de Mozart un amour guerrier, actif. Il répond à la question qui se pose à moi chaque jour, dès le réveil: comment entrer dans ce premier matin du monde?


Christian Bobin in Mozart et la pluie, 1997.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

 
Livros esquecidos (20)



Texto de narrativa íntima, de confidência, de verso e de prosa relatando os desencontros de um drama amoroso numa homenagem sublime de Dante a Beatrice Portinari. Com multiplas interpretações alegóricas e repleto de significados simbólicos (como tão bem analisou Guénon em O esoterismo de Dante), Vida Nova é um livrinho bastante esquecido e ofuscado pela Divina Comédia, obra maior do autor. Esquecido mas de leitura obrigatória.

sábado, 3 de outubro de 2009

 
A ler

Pedro Picoito no Cachimbo de Magritte: O Lehman Brothers e Frei Tomás.

 
A ler

Pierre Assouline em La république des livres: Où l'on forme des écrivains.

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