domingo, 31 de julho de 2005
L'Hydre de Lerne
Typhon (fils difforme de la Terre et du Tartare) et Échidna, qui était moitié belle femme — moitié serpent, engendrèrent l'Hydre de Lerne. Diodore l'historien lui compta cent têtes, la Bibliothèque d'Apollodore neuf. Lemprière nous dit que ce dernier chiffre est le plus classique; l'atroce est que, par tête coupée, il lui en repoussait deux au même endroit. On a dit que ces têtes étaient de forme humaine et que celle du milieu était éternelle. Son haleine empoisonnait les eaux et desséchait les champs. Même quand elle dormait, l'air malsain qui l'entourait pouvait causer la mort d'un homme. Junon l'éleva pour qu'elle se mesurât avec Hercule.
Ce serpent paraissait voué à l'éternité. Son gîte était dans les marais de Lerne. Hercule et Iolas le cherchèrent; le premier lui coupa les têtes tandis que l'autre brûlait avec une torche les blessures sanguinolentes. La dernière tête qui était immorrelle, Hercule l'enterra sous une grande pierre; elle doit y être encore, odieuse et songeuse.
Dans d'autres aventures avec d'autres bêtes féroces, les flèches qu'Hercule trempa dans le fiel de l'Hydre, suscitèrent des blessures mortelles.
Un crabe, ami de l'Hydre, mordit durant la lutte le talon du héros. Celui-ci l'écrasa avec le pied. Junon l'emporta au ciel, et maintenant il est une constellation et le signe du Cancer.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
Typhon (fils difforme de la Terre et du Tartare) et Échidna, qui était moitié belle femme — moitié serpent, engendrèrent l'Hydre de Lerne. Diodore l'historien lui compta cent têtes, la Bibliothèque d'Apollodore neuf. Lemprière nous dit que ce dernier chiffre est le plus classique; l'atroce est que, par tête coupée, il lui en repoussait deux au même endroit. On a dit que ces têtes étaient de forme humaine et que celle du milieu était éternelle. Son haleine empoisonnait les eaux et desséchait les champs. Même quand elle dormait, l'air malsain qui l'entourait pouvait causer la mort d'un homme. Junon l'éleva pour qu'elle se mesurât avec Hercule.
Ce serpent paraissait voué à l'éternité. Son gîte était dans les marais de Lerne. Hercule et Iolas le cherchèrent; le premier lui coupa les têtes tandis que l'autre brûlait avec une torche les blessures sanguinolentes. La dernière tête qui était immorrelle, Hercule l'enterra sous une grande pierre; elle doit y être encore, odieuse et songeuse.
Dans d'autres aventures avec d'autres bêtes féroces, les flèches qu'Hercule trempa dans le fiel de l'Hydre, suscitèrent des blessures mortelles.
Un crabe, ami de l'Hydre, mordit durant la lutte le talon du héros. Celui-ci l'écrasa avec le pied. Junon l'emporta au ciel, et maintenant il est une constellation et le signe du Cancer.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
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Portugal, trespassa-se
Muito se debatem em Portugal assuntos sobre os quais ninguém percebe nada. As escalas a que estes debates e discussões se passam muito variam mas podemos encontrá-los disseminados por quase todas as áreas do pensamento e do conhecimento, naturalmente, com mais ou menos consequências na vida das pessoas e no destino do país. Se isto é verdade para a arte ou para a religião, para a estética e para a ética, também é verdade para a ciência. Vital Moreira, no Causa Nossa, vem dizer agora, baseado num artigo do Financial Times, que chegou a hora de re-lançarmos, em Portugal, o debate sobre a energia nuclear, uma vez que somos, efectivamente, um país hiper-dependente em termos energéticos. Nos últimos tempos a coisa agudizou-se com o problema do preço do petróleo mas, no fundo, esta situação seria sempre previsível, a verdadeira questão era apenas quando.
Depois do primeiro debate público, aqui há uns anos, sobre a questão (aquando da construção das centrais nucleares espanholas) — verdadeiro exemplo da paralisia mental nacional (basta lembrarmo-nos dos cartazes de rua nas pequenas manifs e das cançonetas da esquerda verde e ecologista — nuclear, não obrigado — escusado era agradecerem), quer Vital Moreira re-lançar o debate, eventualmente público, eventualmente no seio da sociedade civil (lembremo-nos do que o Público, ainda esta semana, embora a propósito de outro assunto, considerava a sociedade civil), de um assunto que é, estritamente, do fôro científico e económico. Vamos seguramente assistir a um imenso desfile de lugares comuns, ideias feitas (há muito) e pequenas tomadas de posição de peito cheio de pseudo-nacionalismos patrióticos com a lágrima insegura e hipócrita a rolar ao canto do olho, em preocupação teatral com o futuro, segurança e qualidade de vida dos filhos. Novamente vingará o pequeno universo mental português em que a desinformação e a ignorância sempre foram excelentes pretextos para um raciocínio diminutivo e fiteiro de um povo de ateus mas de moral católica. Estou já a imaginar as declarações sensatas e patrióticas que os nossos deputados farão na Assembleia da República, as recusas, as infinitas preocupações, a proclamação panfletária de instruções ideológicas, as declarações cultas ou insensatamente estouvadas, as aflições ambientais.
Como pequena contribuição para a seriedade deste debate, mas tendo consciência, à partida, que muito poucos terão paciência para tanto e que a abordagem epidérmica é sempre mais fácil e lucrativa, proponho a leitura atenta dos últimos volumes de Progress in Nuclear Energy. Veja-se também Nuclear Energy Institute.
Muito se debatem em Portugal assuntos sobre os quais ninguém percebe nada. As escalas a que estes debates e discussões se passam muito variam mas podemos encontrá-los disseminados por quase todas as áreas do pensamento e do conhecimento, naturalmente, com mais ou menos consequências na vida das pessoas e no destino do país. Se isto é verdade para a arte ou para a religião, para a estética e para a ética, também é verdade para a ciência. Vital Moreira, no Causa Nossa, vem dizer agora, baseado num artigo do Financial Times, que chegou a hora de re-lançarmos, em Portugal, o debate sobre a energia nuclear, uma vez que somos, efectivamente, um país hiper-dependente em termos energéticos. Nos últimos tempos a coisa agudizou-se com o problema do preço do petróleo mas, no fundo, esta situação seria sempre previsível, a verdadeira questão era apenas quando.
Depois do primeiro debate público, aqui há uns anos, sobre a questão (aquando da construção das centrais nucleares espanholas) — verdadeiro exemplo da paralisia mental nacional (basta lembrarmo-nos dos cartazes de rua nas pequenas manifs e das cançonetas da esquerda verde e ecologista — nuclear, não obrigado — escusado era agradecerem), quer Vital Moreira re-lançar o debate, eventualmente público, eventualmente no seio da sociedade civil (lembremo-nos do que o Público, ainda esta semana, embora a propósito de outro assunto, considerava a sociedade civil), de um assunto que é, estritamente, do fôro científico e económico. Vamos seguramente assistir a um imenso desfile de lugares comuns, ideias feitas (há muito) e pequenas tomadas de posição de peito cheio de pseudo-nacionalismos patrióticos com a lágrima insegura e hipócrita a rolar ao canto do olho, em preocupação teatral com o futuro, segurança e qualidade de vida dos filhos. Novamente vingará o pequeno universo mental português em que a desinformação e a ignorância sempre foram excelentes pretextos para um raciocínio diminutivo e fiteiro de um povo de ateus mas de moral católica. Estou já a imaginar as declarações sensatas e patrióticas que os nossos deputados farão na Assembleia da República, as recusas, as infinitas preocupações, a proclamação panfletária de instruções ideológicas, as declarações cultas ou insensatamente estouvadas, as aflições ambientais.
Como pequena contribuição para a seriedade deste debate, mas tendo consciência, à partida, que muito poucos terão paciência para tanto e que a abordagem epidérmica é sempre mais fácil e lucrativa, proponho a leitura atenta dos últimos volumes de Progress in Nuclear Energy. Veja-se também Nuclear Energy Institute.
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Live
Vale bem a pena ir aqui e clicar watch NASA TV. As imagens em directo da Discovery são fascinantes.
Live
Vale bem a pena ir aqui e clicar watch NASA TV. As imagens em directo da Discovery são fascinantes.
sexta-feira, 29 de julho de 2005
Correio da Cassini
A Cassini tem enviado nos últimos dias "baterias" de fantásticas fotografias, eventualmente uma ligeira crise de ciúmes provocada pelo protagonismo dado à Discovery. Aqui, o gigante Cronos em toda a sua magnificência. Em cima, a pequena Mimas, em baixo Tethys.
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Correio da Cassini
Por dentro dos anéis. Intimidades.
Correio da Cassini
Por dentro dos anéis. Intimidades.
quinta-feira, 28 de julho de 2005
A partida
Foto de A. Munoz Pellicer
Quero ir-me embora pra estrela
Que vi luzindo no céu
Na várzea do setestrelo.
Sairei de casa à tarde
Na hora crepuscular
Em minha rua deserta
Nem uma janela aberta
Ninguém para me espiar
De vivo verei apenas
Duas mulheres serenas
Me acenando devagar.
Será meu corpo sozinho
Que há de me acompanhar
Que a alma estará vagando
Entre os amigos, num bar.
Ninguém ficará chorando
Que mãe já não terei mais
E a mulher que outrora tinha
Mais que ser minha mulher
É mãe de uma filha minha.
Irei embora sozinho
Sem angústia nem pesar
Antes contente da vida
Que não pedi, tão sofrida
Mas não perdi por ganhar.
Verei a cidade morta
Ir ficando para trás
E em frente se abrirem campos
Em flores e pirilampos
Como a miragem de tantos
Que tremeluzem no alto.
Num ponto qualquer da treva
Um vento me envolverá
Sentirei a voz molhada
Da noite que vem do mar
Chegar-me-ão falas tristes
Como a querer me entristar
Mas não serei mais lembrança
Nada me surpreenderá:
Passarei lúcido e frio
Compreensivo e singular
Como um cadáver num rio
E quando, de algum lugar
Chegar-me o apelo vazio
De uma mulher a chorar
Só então me voltarei
Mas nem adeus lhe darei
No oco raio estelar
Libertado subirei.
Vinicius de Moraes
in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
Foto de A. Munoz Pellicer
Quero ir-me embora pra estrela
Que vi luzindo no céu
Na várzea do setestrelo.
Sairei de casa à tarde
Na hora crepuscular
Em minha rua deserta
Nem uma janela aberta
Ninguém para me espiar
De vivo verei apenas
Duas mulheres serenas
Me acenando devagar.
Será meu corpo sozinho
Que há de me acompanhar
Que a alma estará vagando
Entre os amigos, num bar.
Ninguém ficará chorando
Que mãe já não terei mais
E a mulher que outrora tinha
Mais que ser minha mulher
É mãe de uma filha minha.
Irei embora sozinho
Sem angústia nem pesar
Antes contente da vida
Que não pedi, tão sofrida
Mas não perdi por ganhar.
Verei a cidade morta
Ir ficando para trás
E em frente se abrirem campos
Em flores e pirilampos
Como a miragem de tantos
Que tremeluzem no alto.
Num ponto qualquer da treva
Um vento me envolverá
Sentirei a voz molhada
Da noite que vem do mar
Chegar-me-ão falas tristes
Como a querer me entristar
Mas não serei mais lembrança
Nada me surpreenderá:
Passarei lúcido e frio
Compreensivo e singular
Como um cadáver num rio
E quando, de algum lugar
Chegar-me o apelo vazio
De uma mulher a chorar
Só então me voltarei
Mas nem adeus lhe darei
No oco raio estelar
Libertado subirei.
Vinicius de Moraes
in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
quarta-feira, 27 de julho de 2005
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Courir
Foto de R. J. Muna
Cette bouche dure, sans larmes,
Choisit les femmes
Et les yeux de couleur
Apprécient
Toujours un peu plus de chair.
Choisir ou tourner la tête.
Ce sourire de tête
Ajoute la chair à la chair
La bonne chair à la meilleure
Apprécier, pour l'orgueil de choisir.
Et besogne toute faite:
Réussir.
Paul Éluard in Les Nécessités de la vie et les conséquences des rêves, 1921.
Courir
Foto de R. J. Muna
Cette bouche dure, sans larmes,
Choisit les femmes
Et les yeux de couleur
Apprécient
Toujours un peu plus de chair.
Choisir ou tourner la tête.
Ce sourire de tête
Ajoute la chair à la chair
La bonne chair à la meilleure
Apprécier, pour l'orgueil de choisir.
Et besogne toute faite:
Réussir.
Paul Éluard in Les Nécessités de la vie et les conséquences des rêves, 1921.
terça-feira, 26 de julho de 2005
Portugal, trespassa-se
A propósito das presidênciais e dos seus candidatos, o Público interrogou a sociedade civil. Para quem não saiba, esta é constituída em Portugal por:
Pedro Abrunhosa, cantor e compositor; Elisabete Jacinto, piloto todo-terreno; Camané, fadista; Eduarda Dionísio, professora; Eduardo Prado Coelho, ensaísta; Margarida Martins, Presidente da Abraço; Lúcia Sigalho, actriz; Pedro Mexia, publicista e bloguista; Luís Represas, cantor e compositor; Julião Sarmento, pintor; Sobrinho Simões, médico e professor; Joaquim Gomes, director da Volta a Portugal em bicicleta.
Pedro Abrunhosa, cantor e compositor; Elisabete Jacinto, piloto todo-terreno; Camané, fadista; Eduarda Dionísio, professora; Eduardo Prado Coelho, ensaísta; Margarida Martins, Presidente da Abraço; Lúcia Sigalho, actriz; Pedro Mexia, publicista e bloguista; Luís Represas, cantor e compositor; Julião Sarmento, pintor; Sobrinho Simões, médico e professor; Joaquim Gomes, director da Volta a Portugal em bicicleta.
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Ouvindo:
Enrico Pieranunzi Trio (Enrico Pieranunzi, Hein Van de Geyn e André Ceccarelli), Seaward, Soul Note, 1996.
Ouvindo:
Enrico Pieranunzi Trio (Enrico Pieranunzi, Hein Van de Geyn e André Ceccarelli), Seaward, Soul Note, 1996.
domingo, 24 de julho de 2005
Dois livros
Adosinda Providência Torgal teve a amabilidade de me oferecer estes dois livros, colectâneas da sua responsabilidade em parceria, a primeira, com Clotilde Correia Botelho, e a segunda com Madalena Torgal Ferreira. Lisboa com Seus Poetas, refaz o percurso do romantismo até aos nossos dias dando especial atenção, segundo a nota das autoras, às obras de poetas posteriores à geração do Orpheu. Os poemas oscilam entre o descritivo e o narrativo, o intimista e o interveniente. A obra encontra-se organizada por núcleos que obedecem a determinadas circunstâncias, imagens ou memórias, embora se sinta que esta ordenação é um tanto aleatória porque alguns poemas desta excelente colectânea poderiam, indiferentemente, pertencer a um núcleo ou outro.
Algarve — Todo o mar, reune poemas e textos em prosa dos dois últimos séculos, com especial atenção aos autores contemporâneos. Novamente organizados por núcleos, fazemos, nestes poemas e textos, uma viagem a um Algarve mítico que ultrapassa e transcende a realidade da paisagem natural ou humana e que faz um apelo à memória e uma evocação nostálgica relativamente a uma terra que tem sido sistemáticamente aniquilada. A obra é pontuada por fotografias de Gustavo Vieira da Silva que mereciam um tratamento mais cuidado por parte do editor.
Ambas as edições são da Dom Quixote.
Adosinda Providência Torgal teve a amabilidade de me oferecer estes dois livros, colectâneas da sua responsabilidade em parceria, a primeira, com Clotilde Correia Botelho, e a segunda com Madalena Torgal Ferreira. Lisboa com Seus Poetas, refaz o percurso do romantismo até aos nossos dias dando especial atenção, segundo a nota das autoras, às obras de poetas posteriores à geração do Orpheu. Os poemas oscilam entre o descritivo e o narrativo, o intimista e o interveniente. A obra encontra-se organizada por núcleos que obedecem a determinadas circunstâncias, imagens ou memórias, embora se sinta que esta ordenação é um tanto aleatória porque alguns poemas desta excelente colectânea poderiam, indiferentemente, pertencer a um núcleo ou outro.
Algarve — Todo o mar, reune poemas e textos em prosa dos dois últimos séculos, com especial atenção aos autores contemporâneos. Novamente organizados por núcleos, fazemos, nestes poemas e textos, uma viagem a um Algarve mítico que ultrapassa e transcende a realidade da paisagem natural ou humana e que faz um apelo à memória e uma evocação nostálgica relativamente a uma terra que tem sido sistemáticamente aniquilada. A obra é pontuada por fotografias de Gustavo Vieira da Silva que mereciam um tratamento mais cuidado por parte do editor.
Ambas as edições são da Dom Quixote.
sábado, 23 de julho de 2005
Rémora
Rémora, en latin, signifie retard. Tel est le sens propre de ce mot, qui, s'est appliqué à l'échénéide, car on lui attribue la faculté d'arrêter les bateaux. Le processus s'est inversé en espagnol; rémora, au sens propre, est le poisson, et, au sens figuré, l'obstacle. Le Rémora est un poisson de couleur cendrée; sur la tête et la nuque il a une plaque ovale, dont les lamelles cartilagineuses lui servent à adhérer, par le moyen du vide, aux autres corps sous-marins.
Pline énumère ses pouvoirs:
Il y a un poisson appelé Rémora, très habitué à aller entre les pierres, et qui, se collant aux carènes, fait que les nefs bougent avec retard, et de cela il tire son nom, et à cause de cela il est aussi une infâme sorcellerie, et pour arrêter et obscurcir les jugements et procès. Mais il modère ces maux avec un bien, car il retient dans le ventre les créatures jusqu'à l'accouchement. Il n'est pas bon et il ne sert pas pour des mets. Aristote entend que ce poisson a des pieds, car la multitude d'écailles sont mises de telle sorte qu'on le dirait... Trébius Niger dit que ce poisson est de la longueur d'un pied et de la grosseur de cinq doigts et qu'il arrête les bateaux, et, en plus de cela, qu'en le mettant à conserver dans du sel, il a la vertu que l'or tombé dans des puits profonds sort collé à lui. (IX, 41: version de Gueronimo Gomez de Huerta, 1604).
Il est curieux de noter comment de l'idée d'arrêter les bateaux on passa à celle d'arrêter les procès et à celle d'arrêter les créatures.
Dans un autre endroit, Pline rapporte qu'un Rémora décida du sort de l'Empire romain, arrêtant à la bataille d'Actium la galère où Marc Antoine passait en revue son escadre, et qu'un autre Rémora arrêta le bateau de Caligula, malgré l'effort des quatre cents rameurs. Les vents soufflent et les tempêtes se mettent en colère — s'exclame Pline — mais le Rémora retient leur fureur et ordonne que les bateaux s'arrêtent dans leur course, et obtient ce que n'obtiendraient pas les ancres les plus lourdes et les câbles.
"La force la plus grande ne triomphe pas toujours. La course d'un bateau est arrêtée par un petit rémora", répète Diego de Saavedra Fajardo.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
Rémora, en latin, signifie retard. Tel est le sens propre de ce mot, qui, s'est appliqué à l'échénéide, car on lui attribue la faculté d'arrêter les bateaux. Le processus s'est inversé en espagnol; rémora, au sens propre, est le poisson, et, au sens figuré, l'obstacle. Le Rémora est un poisson de couleur cendrée; sur la tête et la nuque il a une plaque ovale, dont les lamelles cartilagineuses lui servent à adhérer, par le moyen du vide, aux autres corps sous-marins.
Pline énumère ses pouvoirs:
Il y a un poisson appelé Rémora, très habitué à aller entre les pierres, et qui, se collant aux carènes, fait que les nefs bougent avec retard, et de cela il tire son nom, et à cause de cela il est aussi une infâme sorcellerie, et pour arrêter et obscurcir les jugements et procès. Mais il modère ces maux avec un bien, car il retient dans le ventre les créatures jusqu'à l'accouchement. Il n'est pas bon et il ne sert pas pour des mets. Aristote entend que ce poisson a des pieds, car la multitude d'écailles sont mises de telle sorte qu'on le dirait... Trébius Niger dit que ce poisson est de la longueur d'un pied et de la grosseur de cinq doigts et qu'il arrête les bateaux, et, en plus de cela, qu'en le mettant à conserver dans du sel, il a la vertu que l'or tombé dans des puits profonds sort collé à lui. (IX, 41: version de Gueronimo Gomez de Huerta, 1604).
Il est curieux de noter comment de l'idée d'arrêter les bateaux on passa à celle d'arrêter les procès et à celle d'arrêter les créatures.
Dans un autre endroit, Pline rapporte qu'un Rémora décida du sort de l'Empire romain, arrêtant à la bataille d'Actium la galère où Marc Antoine passait en revue son escadre, et qu'un autre Rémora arrêta le bateau de Caligula, malgré l'effort des quatre cents rameurs. Les vents soufflent et les tempêtes se mettent en colère — s'exclame Pline — mais le Rémora retient leur fureur et ordonne que les bateaux s'arrêtent dans leur course, et obtient ce que n'obtiendraient pas les ancres les plus lourdes et les câbles.
"La force la plus grande ne triomphe pas toujours. La course d'un bateau est arrêtée par un petit rémora", répète Diego de Saavedra Fajardo.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
sexta-feira, 22 de julho de 2005
Les fleurs
Foto de Colette Copeland
J'ai quinze ans, je me prends par la main. Conviction d'être jeune avec les avantages d'être très caressant.
Je n'ai pas quinze ans. Du temps passé, un incomparable silence est né. Je rêve de ce beau, de ce joli monde de perles et d'herbes volées.
Je suis dans tous mes états. Ne me prenez pas, laissez-moi.
Mes yeux et la fatigue doivent avoir la couleur de mes mains. Quelle grimace au soleil, mère Confiance, pour n'obtenir que la pluie.
Je t'assure qu'il y a aussi clair que cette histoire d'amour: si je meurs, je ne te connais plus.
Paul Éluard in Les Nécessités de la vie et les conséquences des rêves, 1921.
Foto de Colette Copeland
J'ai quinze ans, je me prends par la main. Conviction d'être jeune avec les avantages d'être très caressant.
Je n'ai pas quinze ans. Du temps passé, un incomparable silence est né. Je rêve de ce beau, de ce joli monde de perles et d'herbes volées.
Je suis dans tous mes états. Ne me prenez pas, laissez-moi.
Mes yeux et la fatigue doivent avoir la couleur de mes mains. Quelle grimace au soleil, mère Confiance, pour n'obtenir que la pluie.
Je t'assure qu'il y a aussi clair que cette histoire d'amour: si je meurs, je ne te connais plus.
Paul Éluard in Les Nécessités de la vie et les conséquences des rêves, 1921.
quinta-feira, 21 de julho de 2005
A mulher e a sombra
Foto de David John Atkinson
Tentei, um dia, descrever o mistério da aurora marítima.
Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
E fica como louca, sentada espiando o mar...
E um grande túmulo veio
Se desvendando no mar...
És tu, aurora?
Vejo-te nua
Teus olhos cegos
Se abrem, que frio!
Brilham na treva
Teus seios tímidos...
Desfazendo-se em lágrimas azuis
Em mistério nascia a madrugada...
Lembrava uma mulher me olhando do fundo da treva:
Alguém que me espia do fundo da noite
Com olhos imóveis brilhando na noite
Me quer.
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
Adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo facista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda não se modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
Vinicius de Moraes
01.1945
in Para uma menina com uma flor (crônicas)
in Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor"
Foto de David John Atkinson
Tentei, um dia, descrever o mistério da aurora marítima.
Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
E fica como louca, sentada espiando o mar...
Eu a vira, essa aurora. Não havia cor nem som no mundo. Essa aurora, era a pura ausência. A ânsia de prendê-la, de compreendê-la, desde então me perseguiu. Era o que mais me faltava à Poesia:
E um grande túmulo veio
Se desvendando no mar...
Mas sempre em vão. Quem era ela de tão perfeita, de tão natural e de tão íntima que se me dava inteira e não me via; que me amava, ignorando-me a existência?
És tu, aurora?
Vejo-te nua
Teus olhos cegos
Se abrem, que frio!
Brilham na treva
Teus seios tímidos...
O desespero inútil das soluções... Nunca a verdade extrema da falta absoluta de tudo, daquele vácuo de Poesia:
Desfazendo-se em lágrimas azuis
Em mistério nascia a madrugada...
Lembrava uma mulher me olhando do fundo da treva:
Alguém que me espia do fundo da noite
Com olhos imóveis brilhando na noite
Me quer.
E fora essa a única verdade conseguida. A aurora é uma mulher que surge da noite, de qualquer noite – essa treva que adormece os homens e os faz tristes. Só a sua claridade é amiga e reveladora. Ao poeta mais pobre não seria dado desvendá-la em sua humildade extrema. O poeta Carlos, maior, mais simples, a revelaria em sua pulcritude, a aurora que unifica a expressão dos seres, dá a tudo o mesmo silêncio e faz bela a miséria da vida:
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
Adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo facista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda não se modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
A aurora dos que sofrem, a única aurora. Aquela mesma que eu vira um dia, mas cujo segredo não soubera revelar. Uma mulher que surge da sombra...
Bem haja aquele que envolveu sua poesia da luz piedosa e tímida da aurora!
Bem haja aquele que envolveu sua poesia da luz piedosa e tímida da aurora!
Vinicius de Moraes
01.1945
in Para uma menina com uma flor (crônicas)
in Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor"
quarta-feira, 20 de julho de 2005
Coisas esquecidas
L'Histoire est le produit le plus dangereux que la chimie de l'intellect ait élaboré. Ses propriétés sont bien connues. Il fait rêver, il enivre les peuples, leur engendre de faux souvenirs, exagère leurs réflexes, entretient leurs vieilles plaies, les tourmente dans leur repos, les conduit au délire des grandeurs ou à celui de la persécution, et rend les nations amères, superbes, insupportables et vaines.
L'Histoire justifie ce que l'on veut. Elle n'enseigne rigoureusement rien, car elle contient tout, et donne des exemples de tout.
(...)
Dans l'état actuel du monde, le danger de se laisser séduire à l'Histoire est plus grand que jamais il ne fut.
Les phénomènes politiques de notre époque s'accompagnent et se compliquent d'un changement d'échelle sans exemple, ou plutôt d'un changement d'ordre des choses. Le monde auquel nous commençons d'appartenir, hommes et nations, n'est qu'une figure semblable du monde qui nous était familier. Le système des causes qui commande le sort de chacun de nous, s'étendant désormais à la totalité du globe, le fait résonner tout entier à chaque ébranlement; il n'y a plus de questions finies pour être finies sur un point.
L'Histoire, telle qu'on la concevait jadis, se présentait comme un ensemble de tables chronologiques parallèles, entre lesquelles quelquefois des transversales accidentelles était çà et là indiquées. Quelques essais de synchronisme n'avaient pas donné de résultats, si ce n'est une sorte de démonstration de leur inutilité. Ce qui se passait à Pékin du temps de César, ce qui se passait au Zambèze du temps de Napoléon, se passait dans une autre planète. Mais l'Histoire mélodique n'est plus possible. Tous les thèmes politiques sont enchevêtrés, et chaque événement qui vient à se produire prend aussitôt une pluralité de significations simultanées et inséparables.
(...)
Tout le génie des grands gouvernements du passé se trouve exténué, rendu impuissant et même inutilisable par l'agrandissement et l'accroissement de connexions du champ des phénomènes politiques; car il n'est point de génie, point de vigueur du caractère et de l'intellect, point de traditions, même britanniques, qui puissent désormais se flatter de contrarier ou de modifier à leur guise l'état et les réactions d'un univers humain auquel l'ancienne géométrie historique et l'ancienne mécanique politique ne conviennent plus du tout.
(...)
Il faut s'attendre que de telles transformations devienent la règle. Plus nous irons, moins les effets seront simples, moins ils seront prévisibles, moins les opérations politiques et même les interventions de la force, en un mot, l'action évidente et directe, seront ce que l'on aura compté qu'ils seraient. Les grandeurs, les superficies, les masses en présence, leurs connexions, l'impossibilité de localiser, la promptitude des rápercussions imposeront de plus en plus une politique bien différente de l'actuelle.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.
L'Histoire est le produit le plus dangereux que la chimie de l'intellect ait élaboré. Ses propriétés sont bien connues. Il fait rêver, il enivre les peuples, leur engendre de faux souvenirs, exagère leurs réflexes, entretient leurs vieilles plaies, les tourmente dans leur repos, les conduit au délire des grandeurs ou à celui de la persécution, et rend les nations amères, superbes, insupportables et vaines.
L'Histoire justifie ce que l'on veut. Elle n'enseigne rigoureusement rien, car elle contient tout, et donne des exemples de tout.
(...)
Dans l'état actuel du monde, le danger de se laisser séduire à l'Histoire est plus grand que jamais il ne fut.
Les phénomènes politiques de notre époque s'accompagnent et se compliquent d'un changement d'échelle sans exemple, ou plutôt d'un changement d'ordre des choses. Le monde auquel nous commençons d'appartenir, hommes et nations, n'est qu'une figure semblable du monde qui nous était familier. Le système des causes qui commande le sort de chacun de nous, s'étendant désormais à la totalité du globe, le fait résonner tout entier à chaque ébranlement; il n'y a plus de questions finies pour être finies sur un point.
L'Histoire, telle qu'on la concevait jadis, se présentait comme un ensemble de tables chronologiques parallèles, entre lesquelles quelquefois des transversales accidentelles était çà et là indiquées. Quelques essais de synchronisme n'avaient pas donné de résultats, si ce n'est une sorte de démonstration de leur inutilité. Ce qui se passait à Pékin du temps de César, ce qui se passait au Zambèze du temps de Napoléon, se passait dans une autre planète. Mais l'Histoire mélodique n'est plus possible. Tous les thèmes politiques sont enchevêtrés, et chaque événement qui vient à se produire prend aussitôt une pluralité de significations simultanées et inséparables.
(...)
Tout le génie des grands gouvernements du passé se trouve exténué, rendu impuissant et même inutilisable par l'agrandissement et l'accroissement de connexions du champ des phénomènes politiques; car il n'est point de génie, point de vigueur du caractère et de l'intellect, point de traditions, même britanniques, qui puissent désormais se flatter de contrarier ou de modifier à leur guise l'état et les réactions d'un univers humain auquel l'ancienne géométrie historique et l'ancienne mécanique politique ne conviennent plus du tout.
(...)
Il faut s'attendre que de telles transformations devienent la règle. Plus nous irons, moins les effets seront simples, moins ils seront prévisibles, moins les opérations politiques et même les interventions de la force, en un mot, l'action évidente et directe, seront ce que l'on aura compté qu'ils seraient. Les grandeurs, les superficies, les masses en présence, leurs connexions, l'impossibilité de localiser, la promptitude des rápercussions imposeront de plus en plus une politique bien différente de l'actuelle.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.
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Correio da Cassini
Correio da Cassini
Tethys passeia-se entre os anéis e a sombra que eles projectam na superfície do gigante Saturno. Intimidades.
terça-feira, 19 de julho de 2005
Correio da Cassini
Quase no plano dos anéis. Visíveis Prometeus, à esquerda; Pandora, à direita. Intimidades.
Quase no plano dos anéis. Visíveis Prometeus, à esquerda; Pandora, à direita. Intimidades.
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Elegia desesperada
Foto de Chris Johnson
Alguém que me falasse do mistério do Amor
Na sombra – alguém! alguém que me mentisse
Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam
As aves do céu! e mais que nunca
No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio
Onde as lúcidas irmãs na branca loucura das auroras
Rezam e choram e velam o cadáver gelado ao sol!
Alguém que me beijasse e me fizesse estacar
No meu caminho – alguém! – as torres ermas
Mais altas que a lua, onde dormem as virgens
Nuas, as nádegas crispadas no desejo
Impossível dos homens – ah! deitariam a sua maldição!
Ninguém... nem tu, andorinha, que para seres minha
Foste mulher alta, escura e de mãos longas...
Revesti-me de paz? – não mais se me fecharão as chagas
Ao beijo ardente dos ideais – perdi-me
De paz! sou rei, sou árvore
No plácido país do Outono; sou irmão da névoa
Ondulante, sou ilha no gelo, apaziguada!
E no entanto, se eu tivesse ouvido em meu silêncio uma voz
De dor, uma simples voz de dor... mas! fecharam-me
As portas, sentaram-se todos à mesa e beberam o vinho
Das alegrias e penas da vida (e eu só tive a lua
Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna
Insensível polução...). Gritarei a Deus? – ai dos homens!
Aos homens? – ai de mim! Cantarei
Os fatais hinos da redenção? Morra Deus
Envolto em música! – e que se abracem
As montanhas do mundo para apagar o rasto do poeta!
Vinicius de Moraes
Oxford, 1938
in Cinco elegias
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "Intermédio elegíaco"
Elegia desesperada
Foto de Chris Johnson
Alguém que me falasse do mistério do Amor
Na sombra – alguém! alguém que me mentisse
Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam
As aves do céu! e mais que nunca
No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio
Onde as lúcidas irmãs na branca loucura das auroras
Rezam e choram e velam o cadáver gelado ao sol!
Alguém que me beijasse e me fizesse estacar
No meu caminho – alguém! – as torres ermas
Mais altas que a lua, onde dormem as virgens
Nuas, as nádegas crispadas no desejo
Impossível dos homens – ah! deitariam a sua maldição!
Ninguém... nem tu, andorinha, que para seres minha
Foste mulher alta, escura e de mãos longas...
Revesti-me de paz? – não mais se me fecharão as chagas
Ao beijo ardente dos ideais – perdi-me
De paz! sou rei, sou árvore
No plácido país do Outono; sou irmão da névoa
Ondulante, sou ilha no gelo, apaziguada!
E no entanto, se eu tivesse ouvido em meu silêncio uma voz
De dor, uma simples voz de dor... mas! fecharam-me
As portas, sentaram-se todos à mesa e beberam o vinho
Das alegrias e penas da vida (e eu só tive a lua
Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna
Insensível polução...). Gritarei a Deus? – ai dos homens!
Aos homens? – ai de mim! Cantarei
Os fatais hinos da redenção? Morra Deus
Envolto em música! – e que se abracem
As montanhas do mundo para apagar o rasto do poeta!
Vinicius de Moraes
Oxford, 1938
in Cinco elegias
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "Intermédio elegíaco"
segunda-feira, 18 de julho de 2005
Correio da Cassini
Lá longe (...o que é aqui o longe?) Janus vigia a transparência dos anéis. Intimidades.
Lá longe (...o que é aqui o longe?) Janus vigia a transparência dos anéis. Intimidades.
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Um livro
Fenomenologia da Percepção é, talvez, a obra fundamental de Merleau-Ponty. Mais de meio século depois dos primeiros trabalhos publicados de Husserl, a questão da fenomenologia está longe de estar resolvida. Oscila entre o estudo das essências e um projecto de filosofia que não pensa o homem e o mundo senão a partir da sua facticidade. Se, por um lado, há a recusa da atitude natural, há também a aceitação do pressuposto de um mundo que está sempre ali e é anterior a toda a reflexão na esperança de que essa leitura ingénua possa proporcionar um encontro que permita a nomeação de um estatuto filosófico. Obviamente que se trata de uma faixa estreita em que a ambição filosófica de uma "ciência exacta" é, simultaneamente, o relato do espaço, do tempo e do mundo vividos. Essa negação da componente psicológica e das explicações causais foi já, em Husserl, uma contradição quando é mencionado o termo "fenomenologia genética". Mais, portanto, do que uma doutrina, a fenomenologia pode ser entendida como um movimento em que podemos distinguir Hegel e Kierkegaard mas que passa, seguramente, por Marx, Nietzsche e Freud.
Para quem não tem preconceitos com formas ligeiramente diferentes da língua portuguesa, esta edição da Martins Fontes Editores, de São Paulo, é excelente. Para quem os tem, ou quer ler a versão original, poderá procurar Phénoménologie de la Perception, editado pela Gallimard.
Fenomenologia da Percepção é, talvez, a obra fundamental de Merleau-Ponty. Mais de meio século depois dos primeiros trabalhos publicados de Husserl, a questão da fenomenologia está longe de estar resolvida. Oscila entre o estudo das essências e um projecto de filosofia que não pensa o homem e o mundo senão a partir da sua facticidade. Se, por um lado, há a recusa da atitude natural, há também a aceitação do pressuposto de um mundo que está sempre ali e é anterior a toda a reflexão na esperança de que essa leitura ingénua possa proporcionar um encontro que permita a nomeação de um estatuto filosófico. Obviamente que se trata de uma faixa estreita em que a ambição filosófica de uma "ciência exacta" é, simultaneamente, o relato do espaço, do tempo e do mundo vividos. Essa negação da componente psicológica e das explicações causais foi já, em Husserl, uma contradição quando é mencionado o termo "fenomenologia genética". Mais, portanto, do que uma doutrina, a fenomenologia pode ser entendida como um movimento em que podemos distinguir Hegel e Kierkegaard mas que passa, seguramente, por Marx, Nietzsche e Freud.
Para quem não tem preconceitos com formas ligeiramente diferentes da língua portuguesa, esta edição da Martins Fontes Editores, de São Paulo, é excelente. Para quem os tem, ou quer ler a versão original, poderá procurar Phénoménologie de la Perception, editado pela Gallimard.
domingo, 17 de julho de 2005
DES NATIONS
Ce n'est jamais chose facile de se représenter nettement ce qu'on nomme une nation. Les traits les plus simples et les plus forts échappent aux gens du pays, qui sont insensibles à ce qu'ils ont toujours vu. L'étranger qui les perçoit, les perçoit trop puissamment, et ne ressent pas cette quantité de correspondances intimes et de réciprocités invisibles par quoi s'accomplit le mystère de l'union profonde de millions d'hommes.
Il y a donc deux grandes manières de se tromper au sujet d'une nation donnée.
D'ailleurs, l'idée meme de nation en général ne se laisse pas capturer aisément. L'esprit s'égare entre les aspects très divers de cette idée; il hésite entre des modes très différents de définition. A peine a-t-il cru trouver une formule qui le contente, elle-meme aussitôt lui suggère quelque cas particulier qu'elle a oublié d'enfermer.
Cette idée nous est aussi familière dans l'usage et présente dans le sentiment qu'elle est complexe ou indéterminée devant la réflexion. Mais il en est ainsi de tous les mots de grande importance. Nous parlons facilement du droit, de la race, de la propriété. Mais qu'est-ce que le droit, que la race, que la propriété? Nous le savons et ne le savons pas!
Ainsi toutes ces notions puissantes, à la fois abstraites et vitales, et d'une vie parfois si intense et si impérieuse en nous, tous ces termes qui composent dans les esprits des peuples et des hommes d'Etat, les pensées, les projets, les raisonnements, les décisions auxquels sont suspendus les destins, la prospérité ou la ruine, la vie ou la mort des humains, sont des symboles vagues et impurs à la rétlexion... Et les hommes, toutefois, quand ils se servent entre eux de ces indéfinissables, se comprennent l'un l'autre fort bien. Ces notions sont donc nettes et suffisantes de l'un à l'autre; obscures et comme infiniment divergentes dans chacun pris à part.
Les nations sont étranges les unes aux autres, comme le sont des êtres de caractères, d'âges, de croyances, de moeurs et de besoins différents. Elles se regardent entre elles curieusement et anxieusement; sourient; font la moue; admirent un détail et l'imitent; méprisent l'ensemble; sont mordues de jalousie ou dilatées par le dédain. Si sincère que puisse être quelquefois leur désir de s'entretenir et de se comprendre, l'entretien s'obscurcit et cesse toujours à un certain point. Il y a je ne sais quelles limites infranchissables à sa profondeur et sa durée.
Plus d'une est intimement convaincue qu'elle est en soi et par soi la nation par excellence, l'élue de l'avenir infini, et la seule à pouvoir prétendre, quels que soient son état du moment, sa misère ou sa faiblesse, au développement suprême des virtualités qu'elle s'attribue. Chacune a des arguments dans le passé ou dans le possible; aucune n'aime à considérer ses malheurs comme ses enfants légitimes.
Suivant qu'elles se comparent aux autres sous les rapports ou de l'étendue, ou du nombre, ou du progres matériel, ou des moeurs, ou des libertés, ou de l'ordre public, ou bien de la culture et des oeuvres de l'esprit, ou bien même des souvenirs et des espérances, les nations se trouvent nécessairement des motifs de se préférer. Dans la partie perpétuelle qu'elles jouent, chacune d'elles tient ses cartes. Mais il en est de ces cartes qui sont réelles et d'autres imaginaires. Il est des nations qui n'ont en main que des atouts du Moyen Age, ou de l' Antiquité, des valeurs mortes et vénérables; d'autres comptent leurs beaux-arts, leurs sites, leurs musiques locales, leurs grâces ou leur noble histoire, qu'elles jettent sur le tapis au milieu des vrais trèfles et des vrais piques.
Toutes les nations ont des raisons présentes, ou passées, ou futures de se croire incomparables. Et d'ailleurs, elles le sont. Ce n'est pas une des moindres difficultés de la politique spéculative que cette impossibilité de comparer ces grandes entités qui ne se touchent et ne s'affectent l'une l'autre que par leurs caractères et leurs moyens extérieurs. Mais le fait essentiel qui les constitue, leur principe d'existence, le lien interne qui enchaîne entre eux les individus d'un peuple, et les générations entre elles, n'est pas, dans les diverses nations, de la même nature. Tantôt la race, tantôt la langue, tantôt le territoire, tantôt les souvenirs, tantôt les intérêts, instituent diversement l'unité nationale d'une agglomération humaine organisée. La cause profonde de tel groupement peut être d'espèce toute différente de la cause de tel autre.
Il faut rappeler aux nations croissantes qu'il n'y a point d'arbre dans la nature qui, placé dans les meilleures conditions de lumière, de sol et de terrain, puisse grandir et s'élargir indéfiniment.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1945.
Ce n'est jamais chose facile de se représenter nettement ce qu'on nomme une nation. Les traits les plus simples et les plus forts échappent aux gens du pays, qui sont insensibles à ce qu'ils ont toujours vu. L'étranger qui les perçoit, les perçoit trop puissamment, et ne ressent pas cette quantité de correspondances intimes et de réciprocités invisibles par quoi s'accomplit le mystère de l'union profonde de millions d'hommes.
Il y a donc deux grandes manières de se tromper au sujet d'une nation donnée.
D'ailleurs, l'idée meme de nation en général ne se laisse pas capturer aisément. L'esprit s'égare entre les aspects très divers de cette idée; il hésite entre des modes très différents de définition. A peine a-t-il cru trouver une formule qui le contente, elle-meme aussitôt lui suggère quelque cas particulier qu'elle a oublié d'enfermer.
Cette idée nous est aussi familière dans l'usage et présente dans le sentiment qu'elle est complexe ou indéterminée devant la réflexion. Mais il en est ainsi de tous les mots de grande importance. Nous parlons facilement du droit, de la race, de la propriété. Mais qu'est-ce que le droit, que la race, que la propriété? Nous le savons et ne le savons pas!
Ainsi toutes ces notions puissantes, à la fois abstraites et vitales, et d'une vie parfois si intense et si impérieuse en nous, tous ces termes qui composent dans les esprits des peuples et des hommes d'Etat, les pensées, les projets, les raisonnements, les décisions auxquels sont suspendus les destins, la prospérité ou la ruine, la vie ou la mort des humains, sont des symboles vagues et impurs à la rétlexion... Et les hommes, toutefois, quand ils se servent entre eux de ces indéfinissables, se comprennent l'un l'autre fort bien. Ces notions sont donc nettes et suffisantes de l'un à l'autre; obscures et comme infiniment divergentes dans chacun pris à part.
Les nations sont étranges les unes aux autres, comme le sont des êtres de caractères, d'âges, de croyances, de moeurs et de besoins différents. Elles se regardent entre elles curieusement et anxieusement; sourient; font la moue; admirent un détail et l'imitent; méprisent l'ensemble; sont mordues de jalousie ou dilatées par le dédain. Si sincère que puisse être quelquefois leur désir de s'entretenir et de se comprendre, l'entretien s'obscurcit et cesse toujours à un certain point. Il y a je ne sais quelles limites infranchissables à sa profondeur et sa durée.
Plus d'une est intimement convaincue qu'elle est en soi et par soi la nation par excellence, l'élue de l'avenir infini, et la seule à pouvoir prétendre, quels que soient son état du moment, sa misère ou sa faiblesse, au développement suprême des virtualités qu'elle s'attribue. Chacune a des arguments dans le passé ou dans le possible; aucune n'aime à considérer ses malheurs comme ses enfants légitimes.
Suivant qu'elles se comparent aux autres sous les rapports ou de l'étendue, ou du nombre, ou du progres matériel, ou des moeurs, ou des libertés, ou de l'ordre public, ou bien de la culture et des oeuvres de l'esprit, ou bien même des souvenirs et des espérances, les nations se trouvent nécessairement des motifs de se préférer. Dans la partie perpétuelle qu'elles jouent, chacune d'elles tient ses cartes. Mais il en est de ces cartes qui sont réelles et d'autres imaginaires. Il est des nations qui n'ont en main que des atouts du Moyen Age, ou de l' Antiquité, des valeurs mortes et vénérables; d'autres comptent leurs beaux-arts, leurs sites, leurs musiques locales, leurs grâces ou leur noble histoire, qu'elles jettent sur le tapis au milieu des vrais trèfles et des vrais piques.
Toutes les nations ont des raisons présentes, ou passées, ou futures de se croire incomparables. Et d'ailleurs, elles le sont. Ce n'est pas une des moindres difficultés de la politique spéculative que cette impossibilité de comparer ces grandes entités qui ne se touchent et ne s'affectent l'une l'autre que par leurs caractères et leurs moyens extérieurs. Mais le fait essentiel qui les constitue, leur principe d'existence, le lien interne qui enchaîne entre eux les individus d'un peuple, et les générations entre elles, n'est pas, dans les diverses nations, de la même nature. Tantôt la race, tantôt la langue, tantôt le territoire, tantôt les souvenirs, tantôt les intérêts, instituent diversement l'unité nationale d'une agglomération humaine organisée. La cause profonde de tel groupement peut être d'espèce toute différente de la cause de tel autre.
Il faut rappeler aux nations croissantes qu'il n'y a point d'arbre dans la nature qui, placé dans les meilleures conditions de lumière, de sol et de terrain, puisse grandir et s'élargir indéfiniment.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1945.
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Elle se penche sur moi
Le coeur ignorant
Pour voir si je l'aime
Elle a confiance elle oublie
Sous les nuages de ses paupières
Sa tête s'endort dans mes mains
Où sommes-nous
Ensemble, inséparables
Vivants vivants
Vivant vivante
Et ma tête roule en ses rêves
Paul Éluard in L'amour la poésie, 1929
Elle est sortie
Elle est chez elle
Sa maison est ouverte
(...)
Paul Éluard in La rose publique: de l'ennui à l'amour, 1934
Le coeur ignorant
Pour voir si je l'aime
Elle a confiance elle oublie
Sous les nuages de ses paupières
Sa tête s'endort dans mes mains
Où sommes-nous
Ensemble, inséparables
Vivants vivants
Vivant vivante
Et ma tête roule en ses rêves
Paul Éluard in L'amour la poésie, 1929
Elle est sortie
Elle est chez elle
Sa maison est ouverte
(...)
Paul Éluard in La rose publique: de l'ennui à l'amour, 1934
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Correio da Cassini
Hyperion surge no denso negro errante e caótica. Intimidades perigosas.
Correio da Cassini
Hyperion surge no denso negro errante e caótica. Intimidades perigosas.
sábado, 16 de julho de 2005
Art on paper
A décima edição da bienal internacional de Sydney, Art on paper, inaugura no próximo dia 27. Trata-se de uma das maiores exposições, à escala mundial, de obras sobre papel, da fotografia à pintura, passando pela gravura, pelo desenho e pelo livro de arte. Contando essencialmente com a presença de grandes galerias editoras de obras gráficas, a bienal deste ano tem um calendário repleto de eventos, conferências e workshops
sexta-feira, 15 de julho de 2005
Antes de tempo
Entender as coisas antes de tempo não adianta nada a ninguém e, eventualmente, como dizia Agostinho da Silva, só provoca sofrimento ao próprio porque o faz sentir desenquadrado e isso provoca algumas angústias e dúvidas sobre a sua postura e lucidez de leitura. Em Abril de 2004, publiquei o seguinte post:
Formas de equívoco
Diz Milan Kundera em A Arte do Romance: Os agélastes, termo pelo qual Rabelais designa os que não riem, o não pensamento das ideias feitas e o kitsch são uma e a mesma coisa, são o inimigo tricéfalo da arte nascida como eco do riso de Deus, a arte que criou a fascinante esfera imaginária em que ninguém possui a verdade e todos têm o direito de ser compreendidos. Essa esfera imaginária de tolerância nasceu com a Europa moderna, é a própria imagem da Europa – ou, pelo menos, o nosso sonho da Europa, sonho muitas vezes traído mas, ainda assim, suficientemente forte para nos unir a todos na fraternidade que se estende muito além do pequeno continente europeu. Mas sabemos que o mundo em que o indivíduo é respeitado (o mundo imaginário do romance, e o mundo real da Europa) é frágil e perecível (...) se a cultura europeia hoje parece ameaçada, se paira uma ameaça interna e externa sobre o que de mais precioso há nela (...).
Tendo em conta esta citação de Kundera e a leitura dos textos que alguma imprensa islâmica tem publicado com alguma frequência, alguns assinados pelo Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin, fiz notar, na altura, que considerava este fenómeno do, apelidado, terrorismo, uma guerra, uma guerra santa no sentido medieval do termo, ou seja, dois adversários absolutamente incompatíveis em termos da visão cultural e civilizacional do mundo. Na altura recebi alguns mails de protesto por uma leitura tão radical e extrema do fenómeno. Mais de um ano depois, e a propósito do texto que JPP publica no Abrupto, republico aqui um dos textos de Bin-Laden, de 1998, originalmente publicado no Al-Quds al-'Arabi, cada vez mais certo de que entender as coisas antes de tempo não adianta nada a ninguém:
Statement signed by Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin; Ayman al-Zawahiri, leader of the Jihad Group in Egypt; Abu- Yasir Rifa'i Ahmad Taha, a leader of the Islamic Group; Sheikh Mir Hamzah, secretary of the Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan; and Fazlul Rahman, leader of the Jihad Movement in Bangladesh
Praise be to God, who revealed the Book, controls the clouds, defeats factionalism, and says in His Book "But when the forbidden months are past, then fight and slay the pagans wherever ye find them, seize them, beleaguer them, and lie in wait for them in every stratagem (of war)"; and peace be upon our Prophet, Muhammad Bin-'Abdallah, who said "I have been sent with the sword between my hands to ensure that no one but God is worshipped, God who put my livelihood under the shadow of my spear and who inflicts humiliation and scorn on those who disobey my orders." The Arabian Peninsula has never--since God made it flat, created its desert, and encircled it with seas--been stormed by any forces like the crusader armies now spreading in it like locusts, consuming its riches and destroying its plantations. All this is happening at a time when nations are attacking Muslims like people fighting over a plate of food. In the light of the grave situation and the lack of support, we and you are obliged to discuss current events, and we should all agree on how to settle the matter.
No one argues today about three facts that are known to everyone; we will list them, in order to remind everyone:
First, for over seven years the United States has been occupying the lands of Islam in the holiest of places, the Arabian Peninsula, plundering its riches, dictating to its rulers, humiliating its people, terrorizing its neighbors, and turning its bases in the Peninsula into a spearhead through which to fight the neighboring Muslim peoples.
If some people have formerly debated the fact of the occupation, all the people of the Peninsula have now acknowledged it.
The best proof of this is the Americans' continuing aggression against the Iraqi people using the Peninsula as a staging post, even though all its rulers are against their territories being used to that end, still they are helpless. Second, despite the great devastation inflicted on the Iraqi people by the crusader-Zionist alliance, and despite the huge number of those killed, in excess of 1 million... despite all this, the Americans are once against trying to repeat the horrific massacres, as though they are not content with the protracted blockade imposed after the ferocious war or the fragmentation and devastation.
So now they come to annihilate what is left of this people and to humiliate their Muslim neighbors.
Third, if the Americans' aims behind these wars are religious and economic, the aim is also to serve the Jews' petty state and divert attention from its occupation of Jerusalem and murder of Muslims there.
The best proof of this is their eagerness to destroy Iraq, the strongest neighboring Arab state, and their endeavor to fragment all the states of the region such as Iraq, Saudi Arabia, Egypt, and Sudan into paper statelets and through their disunion and weakness to guarantee Israel's survival and the continuation of the brutal crusade occupation of the Peninsula.
All these crimes and sins committed by the Americans are a clear declaration of war on God, his messenger, and Muslims. And ulema have throughout Islamic history unanimously agreed that the jihad is an individual duty if the enemy destroys the Muslim countries. This was revealed by Imam Bin-Qadamah in "Al- Mughni," Imam al-Kisa'i in "Al- Bada'i," al-Qurtubi in his interpretation, and the shaykh of al-Islam in his books, where he said "As for the militant struggle, it is aimed at defending sanctity and religion, and it is a duty as agreed. Nothing is more sacred than belief except repulsing an enemy who is attacking religion and life."
On that basis, and in compliance with God's order, we issue the following fatwa to all Muslims
The ruling to kill the Americans and their allies--civilians and military--is an individual duty for every Muslim who can do it in any country in which it is possible to do it, in order to liberate the al-Aqsa Mosque and the holy mosque from their grip, and in order for their armies to move out of all the lands of Islam, defeated and unable to threaten any Muslim. This is in accordance with the words of Almighty God, "and fight the pagans all together as they fight you all together," and "fight them until there is no more tumult or oppression, and there prevail justice and faith in God."
This is in addition to the words of Almighty God "And why should ye not fight in the cause of God and of those who, being weak, are ill-treated and oppressed--women and children, whose cry is 'Our Lord, rescue us from this town, whose people are oppressors; and raise for us from thee one who will help!'"
We -- with God's help -- call on every Muslim who believes in God and wishes to be rewarded to comply with God's order to kill the Americans and plunder their money wherever and whenever they find it. We also call on Muslim ulema, leaders, youths, and soldiers to launch the raid on Satan's U.S. troops and the devil's supporters allying with them, and to displace those who are behind them so that they may learn a lesson.
Almighty God said "O ye who believe, give your response to God and His Apostle, when He calleth you to that which will give you life. And know that God cometh between a man and his heart, and that it is He to whom ye shall all be gathered."
Almighty God also says "O ye who believe, what is the matter with you, that when ye are asked to go forth in the cause of God, ye cling so heavily to the earth! Do ye prefer the life of this world to the hereafter? But little is the comfort of this life, as compared with the hereafter. Unless ye go forth, He will punish you with a grievous penalty, and put others in your place; but Him ye would not harm in the least. For God hath power over all things."
Almighty God also says "So lose no heart, nor fall into despair. For ye must gain mastery if ye are true in faith."
Entender as coisas antes de tempo não adianta nada a ninguém e, eventualmente, como dizia Agostinho da Silva, só provoca sofrimento ao próprio porque o faz sentir desenquadrado e isso provoca algumas angústias e dúvidas sobre a sua postura e lucidez de leitura. Em Abril de 2004, publiquei o seguinte post:
Formas de equívoco
Diz Milan Kundera em A Arte do Romance: Os agélastes, termo pelo qual Rabelais designa os que não riem, o não pensamento das ideias feitas e o kitsch são uma e a mesma coisa, são o inimigo tricéfalo da arte nascida como eco do riso de Deus, a arte que criou a fascinante esfera imaginária em que ninguém possui a verdade e todos têm o direito de ser compreendidos. Essa esfera imaginária de tolerância nasceu com a Europa moderna, é a própria imagem da Europa – ou, pelo menos, o nosso sonho da Europa, sonho muitas vezes traído mas, ainda assim, suficientemente forte para nos unir a todos na fraternidade que se estende muito além do pequeno continente europeu. Mas sabemos que o mundo em que o indivíduo é respeitado (o mundo imaginário do romance, e o mundo real da Europa) é frágil e perecível (...) se a cultura europeia hoje parece ameaçada, se paira uma ameaça interna e externa sobre o que de mais precioso há nela (...).
Tendo em conta esta citação de Kundera e a leitura dos textos que alguma imprensa islâmica tem publicado com alguma frequência, alguns assinados pelo Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin, fiz notar, na altura, que considerava este fenómeno do, apelidado, terrorismo, uma guerra, uma guerra santa no sentido medieval do termo, ou seja, dois adversários absolutamente incompatíveis em termos da visão cultural e civilizacional do mundo. Na altura recebi alguns mails de protesto por uma leitura tão radical e extrema do fenómeno. Mais de um ano depois, e a propósito do texto que JPP publica no Abrupto, republico aqui um dos textos de Bin-Laden, de 1998, originalmente publicado no Al-Quds al-'Arabi, cada vez mais certo de que entender as coisas antes de tempo não adianta nada a ninguém:
Statement signed by Sheikh Usamah Bin-Muhammad Bin-Ladin; Ayman al-Zawahiri, leader of the Jihad Group in Egypt; Abu- Yasir Rifa'i Ahmad Taha, a leader of the Islamic Group; Sheikh Mir Hamzah, secretary of the Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan; and Fazlul Rahman, leader of the Jihad Movement in Bangladesh
Praise be to God, who revealed the Book, controls the clouds, defeats factionalism, and says in His Book "But when the forbidden months are past, then fight and slay the pagans wherever ye find them, seize them, beleaguer them, and lie in wait for them in every stratagem (of war)"; and peace be upon our Prophet, Muhammad Bin-'Abdallah, who said "I have been sent with the sword between my hands to ensure that no one but God is worshipped, God who put my livelihood under the shadow of my spear and who inflicts humiliation and scorn on those who disobey my orders." The Arabian Peninsula has never--since God made it flat, created its desert, and encircled it with seas--been stormed by any forces like the crusader armies now spreading in it like locusts, consuming its riches and destroying its plantations. All this is happening at a time when nations are attacking Muslims like people fighting over a plate of food. In the light of the grave situation and the lack of support, we and you are obliged to discuss current events, and we should all agree on how to settle the matter.
No one argues today about three facts that are known to everyone; we will list them, in order to remind everyone:
First, for over seven years the United States has been occupying the lands of Islam in the holiest of places, the Arabian Peninsula, plundering its riches, dictating to its rulers, humiliating its people, terrorizing its neighbors, and turning its bases in the Peninsula into a spearhead through which to fight the neighboring Muslim peoples.
If some people have formerly debated the fact of the occupation, all the people of the Peninsula have now acknowledged it.
The best proof of this is the Americans' continuing aggression against the Iraqi people using the Peninsula as a staging post, even though all its rulers are against their territories being used to that end, still they are helpless. Second, despite the great devastation inflicted on the Iraqi people by the crusader-Zionist alliance, and despite the huge number of those killed, in excess of 1 million... despite all this, the Americans are once against trying to repeat the horrific massacres, as though they are not content with the protracted blockade imposed after the ferocious war or the fragmentation and devastation.
So now they come to annihilate what is left of this people and to humiliate their Muslim neighbors.
Third, if the Americans' aims behind these wars are religious and economic, the aim is also to serve the Jews' petty state and divert attention from its occupation of Jerusalem and murder of Muslims there.
The best proof of this is their eagerness to destroy Iraq, the strongest neighboring Arab state, and their endeavor to fragment all the states of the region such as Iraq, Saudi Arabia, Egypt, and Sudan into paper statelets and through their disunion and weakness to guarantee Israel's survival and the continuation of the brutal crusade occupation of the Peninsula.
All these crimes and sins committed by the Americans are a clear declaration of war on God, his messenger, and Muslims. And ulema have throughout Islamic history unanimously agreed that the jihad is an individual duty if the enemy destroys the Muslim countries. This was revealed by Imam Bin-Qadamah in "Al- Mughni," Imam al-Kisa'i in "Al- Bada'i," al-Qurtubi in his interpretation, and the shaykh of al-Islam in his books, where he said "As for the militant struggle, it is aimed at defending sanctity and religion, and it is a duty as agreed. Nothing is more sacred than belief except repulsing an enemy who is attacking religion and life."
On that basis, and in compliance with God's order, we issue the following fatwa to all Muslims
The ruling to kill the Americans and their allies--civilians and military--is an individual duty for every Muslim who can do it in any country in which it is possible to do it, in order to liberate the al-Aqsa Mosque and the holy mosque from their grip, and in order for their armies to move out of all the lands of Islam, defeated and unable to threaten any Muslim. This is in accordance with the words of Almighty God, "and fight the pagans all together as they fight you all together," and "fight them until there is no more tumult or oppression, and there prevail justice and faith in God."
This is in addition to the words of Almighty God "And why should ye not fight in the cause of God and of those who, being weak, are ill-treated and oppressed--women and children, whose cry is 'Our Lord, rescue us from this town, whose people are oppressors; and raise for us from thee one who will help!'"
We -- with God's help -- call on every Muslim who believes in God and wishes to be rewarded to comply with God's order to kill the Americans and plunder their money wherever and whenever they find it. We also call on Muslim ulema, leaders, youths, and soldiers to launch the raid on Satan's U.S. troops and the devil's supporters allying with them, and to displace those who are behind them so that they may learn a lesson.
Almighty God said "O ye who believe, give your response to God and His Apostle, when He calleth you to that which will give you life. And know that God cometh between a man and his heart, and that it is He to whom ye shall all be gathered."
Almighty God also says "O ye who believe, what is the matter with you, that when ye are asked to go forth in the cause of God, ye cling so heavily to the earth! Do ye prefer the life of this world to the hereafter? But little is the comfort of this life, as compared with the hereafter. Unless ye go forth, He will punish you with a grievous penalty, and put others in your place; but Him ye would not harm in the least. For God hath power over all things."
Almighty God also says "So lose no heart, nor fall into despair. For ye must gain mastery if ye are true in faith."
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Soneto simples
Chegara enfim o mesmo que partira: a porta aberta e o coração voando ao encontro dos olhos e das mãos. Velhos pássaros, velhas criaturas, algumas cinzas plácidas passando – somente a amiga é como o melro branco!
E enfim partira o mesmo que chegara; o horizonte transpondo o pensamento e nas auroras plácidas passando o doce perfil da amiga adormecida. Desejo de morrer de nostalgia da noite dos vales tristes e perdidos… (foi quando desceu do céu a poesia como um grito de luz nos meus ouvidos…)
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938
in Novos Poemas
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
Soneto simples
Chegara enfim o mesmo que partira: a porta aberta e o coração voando ao encontro dos olhos e das mãos. Velhos pássaros, velhas criaturas, algumas cinzas plácidas passando – somente a amiga é como o melro branco!
E enfim partira o mesmo que chegara; o horizonte transpondo o pensamento e nas auroras plácidas passando o doce perfil da amiga adormecida. Desejo de morrer de nostalgia da noite dos vales tristes e perdidos… (foi quando desceu do céu a poesia como um grito de luz nos meus ouvidos…)
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938
in Novos Poemas
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
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Correio da Cassini
Prometeus passeia-se por entre os anéis de Cronos. Intimidades.
Correio da Cassini
Prometeus passeia-se por entre os anéis de Cronos. Intimidades.
quinta-feira, 14 de julho de 2005
L'Amoureuse
Foto de Sophie Chivet
Elle est debout sur mes paupieères
Et ses cheveux sont dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mes yeux,
Elle s'engloutit dans mon ombre
Comme une pierre sur le ciel.
Elle a toujours les yeux ouvert
Et ne me laisse pas dormir.
Ses rêves en pleine lumière
Font s'évaporer les soleils,
Me font rire, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire.
Paul Eluard, 1923.
Foto de Sophie Chivet
Elle est debout sur mes paupieères
Et ses cheveux sont dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mes yeux,
Elle s'engloutit dans mon ombre
Comme une pierre sur le ciel.
Elle a toujours les yeux ouvert
Et ne me laisse pas dormir.
Ses rêves en pleine lumière
Font s'évaporer les soleils,
Me font rire, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire.
Paul Eluard, 1923.
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Correio da Cassini
Thetis na intimidade. Intimidades...
Correio da Cassini
Thetis na intimidade. Intimidades...
segunda-feira, 11 de julho de 2005
La vie
Foto de Estela Rivero
Sourire aux visiteurs
Qui sortent de leur cachette
Quand elle sort elle dort
Chaque jour plus matinale
Chaque saison plus nue
Plus fraîche
Pour suivre ses regards
Elle se balance.
Paul Éluard, 1922.
Foto de Estela Rivero
Sourire aux visiteurs
Qui sortent de leur cachette
Quand elle sort elle dort
Chaque jour plus matinale
Chaque saison plus nue
Plus fraîche
Pour suivre ses regards
Elle se balance.
Paul Éluard, 1922.
domingo, 10 de julho de 2005
Nous Deux
Foto de Robert Wasinger
Nous deux nous tenant par la main
Nous nous croyons partout chez nous
Sous l'arbre doux sous le ciel noir
Sous tous les toits au coin du feu
Dan la rue vide en plein soleil
Auprès des sages et des fous
Parmi les enfants et les grands
L'amour n'a rien de mystérieux
Nous sommes l'évidence même
Les amoureux se croient chez nous.
Paul Éluard, 1951.
Foto de Robert Wasinger
Nous deux nous tenant par la main
Nous nous croyons partout chez nous
Sous l'arbre doux sous le ciel noir
Sous tous les toits au coin du feu
Dan la rue vide en plein soleil
Auprès des sages et des fous
Parmi les enfants et les grands
L'amour n'a rien de mystérieux
Nous sommes l'évidence même
Les amoureux se croient chez nous.
Paul Éluard, 1951.
sábado, 9 de julho de 2005
Um livro
Obra fundamental de Gadamer — já aqui falámos de Verdade e Método — este Langage et vérité é a obra em que Gadamer confere uma dimensão filosófica à hermenêutica clássica fazendo com que se torne num acontecimento ontológico. A filosofia hermenêutica tem como objectivo a compreensão da nossa modernidade e eventualmente a resposta a desafios "terminais" do mundo contemporâneo, nomeadamente o desvanecimento do conceito de verdade face a todas as formas de relativismo. Na sua tese Gadamer defende que a experiência da verdade é um elemento do diálogo e, por outro lado, que o futuro se desenha sobre a nossa própria história sendo fundamental uma reflexão sobre a historicidade de estarmos aqui.
sexta-feira, 8 de julho de 2005
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Coisas esquecidas
Supposez quelquefois que l'on vous remette le pouvoir sans réserves. Vous êtes honnête homme, et votre ferme propos est de faire de votre mieux. Votre tête est solide; votre esprit peut contempler distinctement les choses, se les présenter dans leur rapports; et enfin vous êtes détaché de vous-même, vous êtes placé dans une situation si élenée et si puissamment intéressante que les propres intérêts de votre personne en sont nuls ou insipides au prix de ce qui est devant vous et du possible qui est à vous. Même, vous n'êtes pas troublé par ce qui troublerait tout autre, par l'idée de l'attente qui est dans tous, et vous n'êtes intimidé ni accablé par l'espoir que l'on met en vous.
Eh bien! Qu'allez-vous faire? Qu'allez-vous faire AUJOURD'HUI?
Il y a des victoires per se et des victoires per accidens.
La paix est une victoire virtuelle, muette, continue, des forces possibles contre les convoitises probables.
Il n'y aurait de paix véritable que si tout le monde était satisfait. C'est dire qu'il n'y a pas souvent de paix véritable. Il n'y a que des paix réelles, qui ne sont comme les guerres que des expédients.
Les seuls traités qui compteraient sont ceux qui concluraient entre les arrière-pensées.
Tout ce qui est avouable est comme destitué de tout avenir.
On se flatte d'imposer sa volonté à l'adversaire. Il arrive qu'on y parvienne. Mais ce peut être une néfaste volonté. Rien ne me paraît plus difficile que de déterminer les vrais intérêts d'une nation, qu'il ne faut pas confondre avec ses voeux. L'accomplissement de nos désirs ne nous éloigne pas toujours de notre perte.
Une guerre dont l'issue n'a été due qu'à l'inégalité des puissances totales des adversaires, est une guerre suspendue.
Les actes de quelques hommes ont pour des millions d'hommes des conséquences comparables à celles qui résultent pour tous vivants des perturbations et des variations de leur milieu. Comme des causes naturelles produisent la grêle, le typhon, les épidémies, ainsi des causes intelligentes agissent sur des millions d'hommes, dont l'immense majorité les subit comme elle subit les caprices du ciel, de la mer, de l'écorce terrestre. L'intelligence et la volonté affectant les masses en tant que causes physiques et aveugles — ce qu'on nomme politique.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, Notes sur la grandeur et la décadence de l'Europe, 1927.
Supposez quelquefois que l'on vous remette le pouvoir sans réserves. Vous êtes honnête homme, et votre ferme propos est de faire de votre mieux. Votre tête est solide; votre esprit peut contempler distinctement les choses, se les présenter dans leur rapports; et enfin vous êtes détaché de vous-même, vous êtes placé dans une situation si élenée et si puissamment intéressante que les propres intérêts de votre personne en sont nuls ou insipides au prix de ce qui est devant vous et du possible qui est à vous. Même, vous n'êtes pas troublé par ce qui troublerait tout autre, par l'idée de l'attente qui est dans tous, et vous n'êtes intimidé ni accablé par l'espoir que l'on met en vous.
Eh bien! Qu'allez-vous faire? Qu'allez-vous faire AUJOURD'HUI?
Il y a des victoires per se et des victoires per accidens.
La paix est une victoire virtuelle, muette, continue, des forces possibles contre les convoitises probables.
Il n'y aurait de paix véritable que si tout le monde était satisfait. C'est dire qu'il n'y a pas souvent de paix véritable. Il n'y a que des paix réelles, qui ne sont comme les guerres que des expédients.
Les seuls traités qui compteraient sont ceux qui concluraient entre les arrière-pensées.
Tout ce qui est avouable est comme destitué de tout avenir.
On se flatte d'imposer sa volonté à l'adversaire. Il arrive qu'on y parvienne. Mais ce peut être une néfaste volonté. Rien ne me paraît plus difficile que de déterminer les vrais intérêts d'une nation, qu'il ne faut pas confondre avec ses voeux. L'accomplissement de nos désirs ne nous éloigne pas toujours de notre perte.
Une guerre dont l'issue n'a été due qu'à l'inégalité des puissances totales des adversaires, est une guerre suspendue.
Les actes de quelques hommes ont pour des millions d'hommes des conséquences comparables à celles qui résultent pour tous vivants des perturbations et des variations de leur milieu. Comme des causes naturelles produisent la grêle, le typhon, les épidémies, ainsi des causes intelligentes agissent sur des millions d'hommes, dont l'immense majorité les subit comme elle subit les caprices du ciel, de la mer, de l'écorce terrestre. L'intelligence et la volonté affectant les masses en tant que causes physiques et aveugles — ce qu'on nomme politique.
Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, Notes sur la grandeur et la décadence de l'Europe, 1927.
quinta-feira, 7 de julho de 2005
L'Oiseau Phénix
Foto de Eric Kellerman
Dans les effigies monumentales, les pyramides de pierre et les momies, les Égyptiens cherchèrent l'éternité; il est logique de penser qu'en leur pays ait surgi le mythe d'un oiseau immortel et périodique, bien que l'élaboration ultérieure soit l'oeuvre des Grecs et des Romains. Erman écrit qu'en la mythologie d'Héliopolis, le Phénix (bénou) est le seigneur des jubilés, ou des longs cycles du temps; Hérodote, dans un passage célèbre (II, 73), rapporte avec une incrédulité insistante une première forme de la légende:
Un autre oiseau sacré se trouve là, que j'ai vu seulement en peinture, dont le nom est celui de Phénix. Elles sont rares, en effet, les fois où il se laisse voir, et tellement espacées, que d'après ceux d'Héliopolis, il vient seulement en Égypte tous les cinq cents ans, c'est-à-dire quand meurt son père. Si la taille et la forme sont telles qu'on les décrit, sa masse et son aspect sont très semblables à ceux de l'aigle, et ses plumes, en partie dorées, en partie couleur cramoisie. Les prodiges que de lui on raconte sont tels que, si peu dignes de foi qu'ils me paraissent, je n'omettrai pourtant pas de les rapporter. Pour transférer le cadavre de son père depuis l'Arabie jusqu'au temple du Soleil, il utilise la manoeuvre suivante: d'abord il fabrique un solide oeuf de myrrhe, aussi grand que ses forces lui permettent de le porter, essayant son poids une fois fabriqué, pour voir s'il est compatible avec elles; puis il commence à le vider jusqu'à ouvrir un creux où il puisse enfermer le cadavre de son père, qu'il ajuste avec une autre portion de myrrhe et il en remplit la concavité, jusqu'à ce que le poids de l'oeuf engrossé du cadavre égale le poids qu'il avait, solide; il ferme après l'ouverture, il charge son oeuf, et l'amène au temple du Soleil en Égypte. Voici, quoi qu'il en soit, ce que de cet oiseau on raconte.
Quelque cinq cents ans plus tard, Tacite et Pline reprirent la prodigieuse histoire; le premier justement observa que toute antiquité est obscure, mais qu'une tradition a fixé le délai de la vie du Phénix à mille quatre cent soixante et un ans (Annales, VI, 28). Le second aussi examina la chronologie du Phénix; il enregistra (X, 2) que, d'après Manilius, il vit une année platonique, ou grande année. L'année platonique est le temps dont ont besoin le Soleil, la Lune et les cinq planètes pour revenir à leur position initiale; Tacite, dans le Dialogue des orateurs, lui fait avoir douze mille neuf cent quatre-vingt-quatorze années simples. Les anciens ont cru que, accompli cet énorme cycle astronomique, l'histoire universelle se répéterait dans tous ses détails, à cause de la répétition des influences des planètes; le Phénix deviendrait un miroir ou une image de l'univers. En poussant plus loin l'analogie, les stoïciens enseignèrent que l'univers meurt dans le feu et renaît du feu et que le processus n'aura pas de fin et n'a pas eu de commencement.
Les années ont simplifié le mécanisme de la génération du Phénix. Hérodote mentionne un oeuf, et Pline, un ver, mais Claudien, à la fin du IV siècle, met en vers déjà un oiseau immortel qui resurgit de sa cendre, un héritier de soi-même et un témoin des âges.
Il doit y avoir peu de mythes aussi répandus que celui du Phénix. Aux auteurs déjà énumérés il faut ajouter: Ovide (Métamorphoses, XV), Dante (Enfer, XXIV), Shakespeare (Henri VIII, V, 4), Pellicer (Le Phénix et son histoire naturelle), Quevedo (Parnasse espagnol, XI), Milton (Samson Agonistes, in fine).
Nous ferons également mention du poème latin De Ave Phoenice, qui a été attribué à Lactance, et d'une imitation anglo-saxonne de ce poème, du VIII siècle. Tertullien, Saint-Ambroise et Cyrille de Jérusalem ont allégué le Phénix comme preuve de la résurrection de la chair. Pline se moque des thérapeutes qui prescrivent des remèdes extraits du nid et des cendres du Phénix.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
Foto de Eric Kellerman
Dans les effigies monumentales, les pyramides de pierre et les momies, les Égyptiens cherchèrent l'éternité; il est logique de penser qu'en leur pays ait surgi le mythe d'un oiseau immortel et périodique, bien que l'élaboration ultérieure soit l'oeuvre des Grecs et des Romains. Erman écrit qu'en la mythologie d'Héliopolis, le Phénix (bénou) est le seigneur des jubilés, ou des longs cycles du temps; Hérodote, dans un passage célèbre (II, 73), rapporte avec une incrédulité insistante une première forme de la légende:
Un autre oiseau sacré se trouve là, que j'ai vu seulement en peinture, dont le nom est celui de Phénix. Elles sont rares, en effet, les fois où il se laisse voir, et tellement espacées, que d'après ceux d'Héliopolis, il vient seulement en Égypte tous les cinq cents ans, c'est-à-dire quand meurt son père. Si la taille et la forme sont telles qu'on les décrit, sa masse et son aspect sont très semblables à ceux de l'aigle, et ses plumes, en partie dorées, en partie couleur cramoisie. Les prodiges que de lui on raconte sont tels que, si peu dignes de foi qu'ils me paraissent, je n'omettrai pourtant pas de les rapporter. Pour transférer le cadavre de son père depuis l'Arabie jusqu'au temple du Soleil, il utilise la manoeuvre suivante: d'abord il fabrique un solide oeuf de myrrhe, aussi grand que ses forces lui permettent de le porter, essayant son poids une fois fabriqué, pour voir s'il est compatible avec elles; puis il commence à le vider jusqu'à ouvrir un creux où il puisse enfermer le cadavre de son père, qu'il ajuste avec une autre portion de myrrhe et il en remplit la concavité, jusqu'à ce que le poids de l'oeuf engrossé du cadavre égale le poids qu'il avait, solide; il ferme après l'ouverture, il charge son oeuf, et l'amène au temple du Soleil en Égypte. Voici, quoi qu'il en soit, ce que de cet oiseau on raconte.
Quelque cinq cents ans plus tard, Tacite et Pline reprirent la prodigieuse histoire; le premier justement observa que toute antiquité est obscure, mais qu'une tradition a fixé le délai de la vie du Phénix à mille quatre cent soixante et un ans (Annales, VI, 28). Le second aussi examina la chronologie du Phénix; il enregistra (X, 2) que, d'après Manilius, il vit une année platonique, ou grande année. L'année platonique est le temps dont ont besoin le Soleil, la Lune et les cinq planètes pour revenir à leur position initiale; Tacite, dans le Dialogue des orateurs, lui fait avoir douze mille neuf cent quatre-vingt-quatorze années simples. Les anciens ont cru que, accompli cet énorme cycle astronomique, l'histoire universelle se répéterait dans tous ses détails, à cause de la répétition des influences des planètes; le Phénix deviendrait un miroir ou une image de l'univers. En poussant plus loin l'analogie, les stoïciens enseignèrent que l'univers meurt dans le feu et renaît du feu et que le processus n'aura pas de fin et n'a pas eu de commencement.
Les années ont simplifié le mécanisme de la génération du Phénix. Hérodote mentionne un oeuf, et Pline, un ver, mais Claudien, à la fin du IV siècle, met en vers déjà un oiseau immortel qui resurgit de sa cendre, un héritier de soi-même et un témoin des âges.
Il doit y avoir peu de mythes aussi répandus que celui du Phénix. Aux auteurs déjà énumérés il faut ajouter: Ovide (Métamorphoses, XV), Dante (Enfer, XXIV), Shakespeare (Henri VIII, V, 4), Pellicer (Le Phénix et son histoire naturelle), Quevedo (Parnasse espagnol, XI), Milton (Samson Agonistes, in fine).
Nous ferons également mention du poème latin De Ave Phoenice, qui a été attribué à Lactance, et d'une imitation anglo-saxonne de ce poème, du VIII siècle. Tertullien, Saint-Ambroise et Cyrille de Jérusalem ont allégué le Phénix comme preuve de la résurrection de la chair. Pline se moque des thérapeutes qui prescrivent des remèdes extraits du nid et des cendres du Phénix.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
quarta-feira, 6 de julho de 2005
Eric Fischl (VI)
Eric Fischl, Untitled, 1999.
A photograph is a witnessed moment, and great photographers have incredible skill in recognizing that moment. A painting arrives at that frozen moment through accumulation. It's not something that is taken out of the world. The viewer not only experiences the poignancy of that frozen moment, but also participates in its re-enactment. We're given all the decisions that go into it: what was included, what was excluded, what was distorted, what was refined — building a different bond between the artist and the viewer. We feel the reality of a photograph because it slices a moment. It leaves us apart from the reality, and we become witnesses rather than participants.
Eric Fischl, The bed, the chair, the bitter, 1999-2000.
Eric Fischl, Untitled, 1999.
A photograph is a witnessed moment, and great photographers have incredible skill in recognizing that moment. A painting arrives at that frozen moment through accumulation. It's not something that is taken out of the world. The viewer not only experiences the poignancy of that frozen moment, but also participates in its re-enactment. We're given all the decisions that go into it: what was included, what was excluded, what was distorted, what was refined — building a different bond between the artist and the viewer. We feel the reality of a photograph because it slices a moment. It leaves us apart from the reality, and we become witnesses rather than participants.
Eric Fischl, The bed, the chair, the bitter, 1999-2000.
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VIDEOGRAPHIES
VIDEOGRAPHIES
O Museu Nacional de Arte Contemporânea de Atenas anuncia a inauguração de Videographies, uma exposição organizada em dois ciclos, o primeiro a inaugurar a 13 de Julho e o segundo a partir de 3 de Outubro, incluindo 80 trabalhos de vídeo de artistas como Marina Abramovic, Vito Acconci, Lynda Benglis, Joseph Beuys, Dara Birnbaum, Chris Burden, Jean-Luc Godard, Dan Graham, Mona Hatoum, Gary Hill, Rebecca Horn, Joan Jonas, Bruce Nauman, Dennis Oppenheim, Tony Oursler, Nam June Paik, Martha Rosler, Carolee Schneemann, Bill Viola e Robert Wilson.
terça-feira, 5 de julho de 2005
Correio da Cassini
Tethys, a lua de gelo, foi descoberta por Gian Domenico Cassini, nascido em Génova a 8 de Junho de 1625 e falecido em Paris a 14 de Setembro de 1712. Esta lua de gelo partilha com Mimas a mesma orbita.
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Para efeitos de trabalho, actualizado INTERVENÇÃO — Projectos aprovados.
Para efeitos de trabalho, actualizado INTERVENÇÃO — Projectos aprovados.
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A hipocrisia não tem limites
Da mesma forma que grande parte dos grupos ecologistas europeus são subsidiados pelas grandes indústrias poluidoras do vale do Reno, também as manifestações contra a pobreza em África e contra os países desenvolvidos do ocidente, pseudo-responsáveis por essa pobreza, ultrapassam os limites da hipocrisia. A ler Tretas:
Os movimentos anti-globalização foram mais uma vez manifestar-se no sítio onde se vai realizar o G8, “contra a pobreza” gerada pelo capitalismo. Este é um dos maiores enganos que se pode alimentar: grande parte da pobreza africana não existe à míngua de ajuda humanitária, mas devido à enorme corrupção dos regimes africanos, à engenharia social, cópia mimética do marxismo europeu, que levou à destruição do pouco que os regimes coloniais tinham deixado, às guerras civis tribais e, se se quiser, nos tempos mais recentes, ao proteccionismo, principalmente europeu, que impede muitos produtos agrícolas africanos de entrarem nos mercados ricos. É mais globalização que os países pobres de África precisam e acima de tudo, intransigência contra a corrupção dos seus dirigentes.
Estava a pensar escrever isto, ao ver o folclore escocês, quando a RTP1 passa uma pequena peça sobre Angola, em que a palavra corrupção não é pronunciada, e em que não se explica como é que se pode ter petróleo e diamantes, um dos melhores e mais bem equipados exércitos de África, uma elite riquíssima que manda os filhos estudar para a Suiça e…nada para a esmagadora maioria da população. Mas a culpa é do capitalismo e do G8. É isto informação.
Da mesma forma que grande parte dos grupos ecologistas europeus são subsidiados pelas grandes indústrias poluidoras do vale do Reno, também as manifestações contra a pobreza em África e contra os países desenvolvidos do ocidente, pseudo-responsáveis por essa pobreza, ultrapassam os limites da hipocrisia. A ler Tretas:
Os movimentos anti-globalização foram mais uma vez manifestar-se no sítio onde se vai realizar o G8, “contra a pobreza” gerada pelo capitalismo. Este é um dos maiores enganos que se pode alimentar: grande parte da pobreza africana não existe à míngua de ajuda humanitária, mas devido à enorme corrupção dos regimes africanos, à engenharia social, cópia mimética do marxismo europeu, que levou à destruição do pouco que os regimes coloniais tinham deixado, às guerras civis tribais e, se se quiser, nos tempos mais recentes, ao proteccionismo, principalmente europeu, que impede muitos produtos agrícolas africanos de entrarem nos mercados ricos. É mais globalização que os países pobres de África precisam e acima de tudo, intransigência contra a corrupção dos seus dirigentes.
Estava a pensar escrever isto, ao ver o folclore escocês, quando a RTP1 passa uma pequena peça sobre Angola, em que a palavra corrupção não é pronunciada, e em que não se explica como é que se pode ter petróleo e diamantes, um dos melhores e mais bem equipados exércitos de África, uma elite riquíssima que manda os filhos estudar para a Suiça e…nada para a esmagadora maioria da população. Mas a culpa é do capitalismo e do G8. É isto informação.
segunda-feira, 4 de julho de 2005
Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938
in Novos Poemas
in Antologia Poética
in Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938
in Novos Poemas
in Antologia Poética
in Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"
domingo, 3 de julho de 2005
Um livro
Finalmente reeditado pela Seuil, já está disponível a versão original de Marc Augé, desde há muito esgotada, de Non-lieux, Introduction à une anthropologie de la surmodernité. Depois de Traversée du Luxembourg, Un ethnologue dans le métro e Domaines et châteaux, Marc Augé vai criando um edifício desta antropologia do quotidiano com Non-lieux. Já falei longamente sobre este livro, num post anterior, para que sejam necessárias mais apresentações. No entanto, não é demais lembrar um dos aspectos fascinantes desta obra que passa, justamente, pelo problema da identidade e do próprio estatuto da história. Propondo uma antropologia da super-modernidade, Augé faz, afinal, a introdução a uma etnologia da solidão.
sábado, 2 de julho de 2005
Les Nornes
Foto de Robert Faber
Dans la mythologie médiévale des Scandinaves, les Nornes sont les Parques. Les principales, au dire de Snorri Sturluson qui, au début du XIII siècle, mit en ordre cette mythologie éparse sont au nombre de trois et leur noms sont Passé, Présent et Futur. On peut vraisemblablement supposer que cette dernière précision est un raffinement, ou une addition, d'ordre théologique; les anciens Germains n'étaient pas enclins à de telles abstractions. Snorri nous montre trois jeunes filles près d'une source, au pied de l'arbre Yggdrasill qui est le monde. Elles tissent, inexorables, notre destin.
Le temps (dont elles sont faites) les a oubliées, mais vers 1606 William Shakespeare écrivit sa tragédie de Macbeth où elles apparaissent dans la première scène. Ce sont trois sorcières qui prédisent aux guerriers le sort qui les attend. Shakespeare les appelle les weird sisters, les "soeurs fatales", les Parques. Wyrd, chez les Anglo-Saxons, était la divinité silencieuse qui régnait sur les immortels et les mortels.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
Foto de Robert Faber
Dans la mythologie médiévale des Scandinaves, les Nornes sont les Parques. Les principales, au dire de Snorri Sturluson qui, au début du XIII siècle, mit en ordre cette mythologie éparse sont au nombre de trois et leur noms sont Passé, Présent et Futur. On peut vraisemblablement supposer que cette dernière précision est un raffinement, ou une addition, d'ordre théologique; les anciens Germains n'étaient pas enclins à de telles abstractions. Snorri nous montre trois jeunes filles près d'une source, au pied de l'arbre Yggdrasill qui est le monde. Elles tissent, inexorables, notre destin.
Le temps (dont elles sont faites) les a oubliées, mais vers 1606 William Shakespeare écrivit sa tragédie de Macbeth où elles apparaissent dans la première scène. Ce sont trois sorcières qui prédisent aux guerriers le sort qui les attend. Shakespeare les appelle les weird sisters, les "soeurs fatales", les Parques. Wyrd, chez les Anglo-Saxons, était la divinité silencieuse qui régnait sur les immortels et les mortels.
J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.
sexta-feira, 1 de julho de 2005
Eric Fischl (V)
Eric Fischl, Swimming lovers, 1984.
Eric Fischl, Untitled, 2001.
Eric Fischl, Swimming lovers, 1984.
I have to admit I'm not sure what a platonic realist might be. As for the interest in psychological scenarios over the materiality of painting, I can only say that I have struggled with this conflict since I began to work. The relationship between what something means and how it is stated — it is always in flux. It is always a matter of proportion. It is always a surprise. There is a seduction to description. The seduction is that anything can be described in its greatest and most precise detail, and to do so will yield its deepest truth. But emotions distort. They shrink or enlarge or color the forms of the world. They animate objects in surprising and unnerving ways. This conflict, between emotional needs and pursuit of perfection, is what gives my work its vulnerability. It is for me always an uneasy truce that is arrived at in the painting. And perhaps this is another way to define "American": the willingness to make art open to its vulnerability. American art is resistant to refinement, most especially to style.
Eric Fischl, Untitled, 2001.
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Um livro
Um livro
Numa magnífica edição da Bertrand, Vasco Graça Moura faz aqui uma notável tradução da Divina Comédia de Dante. Como ele próprio escreve na introdução (citando Erich Auerbach) "a Comédia é, entre outras coisas, um poema didáctico de dimensões enciclopédicas que expõe a ordem físico-cosmológica, ética e histórico-política do universo; é, além disso, uma obra de arte que imita a realidade e na qual aparecem todas as esferas imagináveis do real: passado, presente, grandeza e abjecção, história e fábula, trágico e cómico, homem e paisagem; é, enfim, a história do desenvolvimento e da salvação de um indivíduo particular, Dante, e, enquanto tal, uma alegoria da redenção de toda a espécie humana".