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quarta-feira, 31 de agosto de 2005

 
Ouvindo:



Yoshiko Kishino, Fairy tale, GPR Records, 1996.

 
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Poema


Foto de Lilya Corneli


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.

Mário Cesariny de Vasconcelos in Eros de passagem, 1982.

terça-feira, 30 de agosto de 2005

 
Um livro




Prémio Médicis 2002, Prémio Britain's W.H. Smith e American Pen/Faulkner Award são os três prémios com que foi distinguido este romance de P. Roth, um dos maiores escritores norte-americanos contemporâneos. Estes prémios juntam-se a muitos outros com que Roth foi distinguido nos anos 90, nomeadamente o Pulitzer Prize, em 1997. A Mancha Humana é a terceira história de uma trilogia que começou com Pastoral Americana. Em A Mancha Humana, já transposto para cinema, Roth aborda novamente o tema das vidas americanas do pós-guerra, o absurdo de determinados preconceitos numa América dominada pelo escândalo Clinton que fez ressurgir, nas palavras de Roth "o êxtase da beatice hipócrita". Philip Roth é um autor multifacetado que consegue abordar temas de extrema seriedade mas também ter uma visão hilariante da sociedade americana e do mundo. Para quem se queira rir um bocado, obrigatório ler O Complexo de Portnoy publicado em 1994 pela Bertrand.

 
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Céus em fogo


Foto de Lilya Corneli


Um corpo, certamente. Mas que é um corpo?
Boca, seios, coxas, sexo,
um sorriso, a mão que afaga, voz?
Que trevas, quais trevas,
de esquecer ou ir tão fundo
quando o desprender-se da alma abre
nas portas da luxúria os céus em fogo?

Adolfo Casais Monteiro in Eros de passagem, 1982.

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

 
Coisas esquecidas

Tout ce que l'homme a fait, et qui l'a fait homme, eut pour première fin et pour condition première, l'idée et l'acte de constituer des réserves. Des réserves du loisir. Le loisir rêve, pense, invente, développe les lueurs, combine les observations; de quoi résultent bien des conséquences qui ont transformé la condition humaine et nos rapports avec toutes choses, extérieures ou non.
Grains emmagasinés, poisson ou viandes, séchés ou fumés — des réserves matérielles, productrices de temps libre, diminuent aussi l'accidentel de la subsistance, excitent à la prévision. Elles permirent de former et de thésauriser des réserves de connaissances, et nous vivons sur celles-ci. Il nous en faut de plus en plus pour vivre. Qu'est-ce que l'homme moderne? Il est l'homme dont tous les moyens d'existence dépendent étroitement de la conservation, de la régénération et du renouvellement d'une quantité incroyable et toujours croissante de savoir.
Mais, en fait de savoir, ce n'est pas tout que d'en accumuler le matériel de fixation ou d'opération, et même d'entretenir le personnel qui le dispense ou celui qui le peut utiliser: ceux-ci ne le créent point. Le savoir ne se conserve en pleine valeur qu'en présence des conditions vivantes de son accroissement. Il dépérit en l'absence d'individus capables de l'agrandir, de le transformer — et même d'en contester ou d'en ruiner légitimement les parties qui paraissent le plus solidement établies. Il doit croître ou périr; et il ne peut croître que dans l'esprit libre, qui est celui assez puissant pour créer d'abord ses contraintes. Sous peine de dégénérer en pratiques de plus en plus aveugles et de moins en moins intelligibles, il est indivisible de ce genre de passion qui fait que l'on place l'esprit au-dessus de tout, et d'une liberté générale de l'esprit, qui exige celle de la personne.

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1939.

 
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Ouvindo:



Archie Shepp, Day dream, Denon, 1989.

domingo, 28 de agosto de 2005

 
O ciclópico acto


Foto de Lilya Corneli



seu cinto de
castigar-te telefonando cingindo-te pela voz e daí
para a língua daí para aquilo que já é conivente
como o são pai e mãe, Diónisos, Eros, Ariosto,
Abelardo,
TODOS!

Uns: cremes, espumas, espermas, cuspos — outros:
mais barato, mais húmido, mais tu-me-
-fac-to comovente a simples confissão: "teu, tua".

Traz-me o pequeno almoço entre vinhas virgens!
Traz-mo de rastos! Um golo dessa bacia
de água viva!

Inicia-se, portanto, o cicló-
pico acto.

Luiza Neto Jorge in Eros de passagem, 1982.

sábado, 27 de agosto de 2005

 
Correio da Cassini



Mimas orbitando próximo da sombra. A sombra dos anéis. Intimidades.

 
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Segredo


Foto de Lilya Corneli


Não contes do meu

vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta in Eros de passagem, 1982.

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

 
Correio da... Opportunity



Demónios de vento em Marte. A Opportunity assusta-se... mais uma vez.

 
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Um relâmpago assombra...


Foto de Lilya Corneli


um relâmpago assombra
esta nudez

entra pelo sexo

calcina
as espirais da melancolia

e eu ardo (ardo!)
em lavaredas altas

resina indefesa


Fernando Assis Pacheco in Eros de passagem, 1982.

 
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Correio da Cassini



Titan na sua cor natural. Novo mundo. Novos continentes. Nova atmosfera. Não é azul como a Terra vista do espaço. É amarelo-ocre. A Huygens está lá. Quem vai a seguir?

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

 
Posse


Foto de Jerry Schatzberg


A noite é a noite e tu a dás
— sigo a rota íntima dos cabelos.
Macio o cais. Insone o mundo
em que se dá aos lábios o querer tê-los.

Rosada a curva que enobrece a espuma,
no gesto violento que a nada se poupa.
Leitosa a sombra que nos tem seguros
a cama, o corpo, o símbolo, a roupa.

Língua de fogo que ao sangue reclama
mais lume, mais sal (que o céu o não dá).
Ternura de posse — de cor e tamanho.
O grito é o fim, um sol que aí está.

João Rui de Sousa in Eros de passagem, 1982.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

 
Correio da Cassini



Tethys (maior, à direita) e Mimas (menor) passeiam-se no plano dos anéis de que só se tem a verdadeira grandeza pela sombra que projectam no hemisfério norte do gigante Cronos. Intimidades.

 
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Presídio


Foto de Jean Baugier


Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão-Ferreira in Eros de passagem, 1982.

terça-feira, 23 de agosto de 2005

 
Coisas esquecidas

Des partis (II)

L'historien fait pour le passé ce que la tireuse de cartes fait pour le futur. Mais la sorcière s'expose à une vérification et non l'historien.

On ne peut faire de politique sans se prononcer sur des questions que nul homme sensé ne peut dire qu'il connaisse. Il faut être infiniment sot ou infiniment ignorant pour oser avoir un avis sur la plupart des problèmes que la politique pose.

Les opinions opposées au sujet de la guerre peuvent se ramener simplement à l'incertitude d'une époque — la nôtre — sur cette question: quels sont les groupements qui doivent faire la guerre?
Races, classes, nations, ou autres systèmes à découvrir?
Car on a découvert la classe, la nation, la race comme on a découvert des nébuleuses.
Comme on a découvert que la Terre faisait partie d'un certain système, et celui-ci de la Voie Lactée, ainsi a-t-on découvert qu'un tel était ceci par sa naissance et cela par ses moyens d'existence; et il lui appartient de choisir ou de s'embarrasser s'il suivra sa nation, ou sa classe, ou sa secte — ou sa nature.

La violence, la guerre ont pour ambition de trancher en un petit temps, et par la dissipation brusque des énergies, des difficultés qui demanderaient l'analyse la plus fine et des essais très délicats — car il faut arriver à un état d'équilibre sans contraintes.

Quand l'adversaire exagère nos forces, nos desseins, notre profondeur; quand, pour exciter contre nous, il nous peint sous des couleurs affrayantes — il travaille pour nous.

L'existence des voisins est la seule défense des nations contre une perpétuelle guerre civile.

Le loup dépend de l'agneau qui dépend de l'herbe.
L'herbe est relativement défendue par le loup. Le carnivore protège les herbes (qui le nourrissent indirectement).

Entre vieux loups, la bataille est plus âpre, plus savante, mais il y a certains ménagements.

L'essentiel en toute chose est toujours accompli par des êtres très obscurs, non distincts, et sans valeur chacun. S'ils n'étaient pas, s'ils n'étaient pas tels, rien ne se ferait. Si rien ne se faisait, c'est eux qui perdraient le moins. Essentiels et sans importance.

Les grands événements ne sont peut-être tels que pour les petits esprits.
Pour les esprits plus attentifs, ce sont les événements insensibles et continuels qui comptent.

Les événements naissent de père inconnu. La nécessité n'est que leur mère.

Le droit est l'intermède des forces.

Le jugement le plus pessimiste sur l'homme, et les choses, et la vie et sa valeur, s'accorde merveilleusement avec l'action et l'optimisme qu'elle exige. — Ceci est européen.

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.

 
A promissão em alto mar


Foto de Vincent Obyrne


Não recuperei a tua proximidade, pátria, mas tenho já as tuas estrelas.
Disse-as o mais longínquo firmamento, e agora os mastros perdem-se na sua graça.
Soltaram-se das altas cornijas como um assombro de pombas.
Vêm do pátio onde a cisterna é uma torre invertida entre dois céus.
Vêm do crescente jardim cuja inquietação arriba ao pé do muro como água sombria.
Vêm de um lasso entardecer de província, manso como um campo de joio.
São imortais e veementes; nenhum povo há-de medir a sua eternidade.
Perante a sua firmeza de luz, todas as noites dos homens se curvarão como folhas secas.
São um claro país e de algum modo a minha terra está no seu domínio.

J. L. Borges in Lua defronte, 1925.

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

 
Férias

(...) O homem inclinado para a frente na sua motorizada só pode concentrar-se no segundo presente do seu voo; agarra-se a um fragmento do tempo cortado tanto do passado como do futuro; está fora do tempo; por outras palavras, está num estado de êxtase; nesse estado, nada sabe da sua idade, nada da mulher, nada dos filhos, nada das suas preocupações e, portanto, não tem medo, porque a fonte do medo está no futuro, e quem se liberta do futuro nada tem a temer.
A velocidade é a forma de êxtase com que a revolução técnica presenteou o homem. Ao contrário do motociclista, quem corre a pé continua presente no seu corpo, obrigado ininterruptamente a pensar nas suas bolhas, no seu ofegar; quando corre sente o seu peso, a sua idade, mais consciente do que nunca de si próprio e do tempo da sua vida. Tudo muda quando o homem delega a faculdade da velocidade numa máquina: a partir de então, o seu próprio corpo sai do jogo e ele entrega-se a uma velocidade que é incorpórea, imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase.
Curiosa aliança: a fria impessoalidade da técnica e as chamas do êxtase. Estou a lembrar-me dessa americana que, há trinta anos, expressão severa e entusiástica, qual apparatchik do erotismo, me deu uma aula (glacialmente teórica) sobre a libertação sexual; a palavra que se repetia mais vezes no seu discurso era a palavra orgasmo; contei: quarenta e três vezes. O culto do orgasmo: o utilitarismo puritano projectado na vida sexual; a eficácia contra a ociosidade; a redução do coito a um obstáculo que se deve ultrapassar o mais depressa possível para se chegar a uma explosão extática, único verdadeiro alvo do amor e do universo.
Porque terá desaparecido o prazer da lentidão? Ah, onde estão os deambuladores de outrora? Onde estão esses heróis indolentes das canções populares, esses vagabundos que preguiçam de moinho em moinho e dormem ao relento? Terão desaparecido com os caminhos campestres, com os prados e as clareiras, com a natureza? Há um provérbio checo que descreve a sua ociosidade por meio de uma metáfora: contemplam as janelas de Deus. Quem contempla as janelas de Deus não se aborrece; é feliz. No nosso mundo, a ociosidade transformou-se em desocupação, o que é uma coisa muitíssimo diferente: o desocupado sente-se frustado, aborrece-se, procura constantemente o movimento que lhe faz falta.

Milan Kundera in A lentidão, 1995.

 
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Em Paris, no d'Orsay

Prosseguindo a sequência de exposições anuais sobre a fotografia do século XIX e início do século XX, pode-se ver, este ano no museu d'Orsay, L'empire brésilien et ses photographes, Collections de la Bibliothèque Nationale du Brésil et de l'Institut Moreira Salles.


Anonyme, Dame dans une chaise à porteurs avec deux esclaves, Baía, cerca de 1860.

Depois de duas excepcionais exposições, em 2003 e 2004, designadamente Le daguerréotype français, un object photographique e Photographies de guerre, é a vez agora destas duas colecções, constituídas a partir da colecção particular de D. Pedro II que, em 1839, ficou fascinado pelos primeiros daguerreotipos que viu.


Albert Frisch, Mère et enfant métis dans la région du Rio Negro, Amazonia, cerca de 1865

O crescimento económico do Brasil nos meados do século XIX, suscita o afluxo de estrangeiros. Os fotógrafos franceses Auguste Stahl e Marc Ferrez ou os alemães Albert Frisch e Revert Klumb, são fascinados pelas paisagens do Novo Mundo. O gosto pelo pitoresco é, assim, o que caracteriza estas imagens do Rio de Janeiro e da Baía. Aliás, os fotógrafos que chegam ao Brasil a partir de 1850 fotografam o Rio de Janeiro, a Baía e Minas Gerais, muito na continuidade da pintura paisagista e documental que vinha sendo feita no Brasil desde 1810 e de que as gravuras e os desenhos do Conde de Clarac e de Alexandre de Humboldt são os exemplos mais notáveis.
Embora no seu tempo a obra destes fotógrafos tenha tido ampla divulgação na Europa e nos Estados Unidos, em inúmeras exposições de carácter etnológico e antropológico, há muito tinham caído no esquecimento. Podem agora ser vistas, em Paris, até 4 de Setembro.


Marc Ferrez, Esclaves au marché à Rio de Janeiro, cerca de 1875.

domingo, 21 de agosto de 2005

 
Correio da Cassini



A Cassini passeia-se sobre os anéis. Entre a luz e a sombra. Intimidades.

 
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Negotiating Realities



Inaugura no próximo dia 3 de Setembro a terceira edição da Göteborg International Biennial for Contemporary Art, desta vez com representações de Christian Andersson e Miriam Backstrom, da Suécia; Fikret Atay, da Turquia; Michael Beutler e Marcel Odenbach, da Alemanha; Monica Bonvicini e Adrian Paci, da Itália; Gerard Byrne, da Irlanda; Runa Islam, do Bangladesh; Lucia Koch, do Brasil; Gabriel Lester, da Holanda; Ann Lislegaard, da Dinamarca.
A bienal mostrará obras destes 12 artistas em áreas tão diversas como o vídeo, a performance, as instalações e a pintura, tendo como ponto de partida o paradigma das imagens contemporâneas e a sua relação com o real.
Até 6 de Novembro.

sábado, 20 de agosto de 2005

 
A ver

Homenagem a Robert Smithson. Aqui.

 
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Ao correr das lembranças


Foto de Lilya Corneli


Lembrança minha do jardim de casa:
vida benigna das plantas,
vida afável e misteriosa
lisonjeada pelos homens.

A palmeira mais alta daquele céu
como um cortiço de pardais;
vide firmamental da uva negra,
dias do Verão dormiam à tua sombra.

Moinho colorido:
remota roda a laborar no vento,
honra da nossa casa, porque às outras
ia plo rio abaixo o toque do aguadeiro.

Cave circular da base,
tornando aquele jardim vertiginoso,
fazia medo ver por uma frincha
o teu cárcere de água tão subtil.

Jardim, frente à cancela se cumpriram
os agrestes carreiros
e aturdiu-nos o carnaval berrante
de insolentes fanfarras.

O armazém, padrinho do malévolo,
dominava essa esquina;
mas tinha canaviais pra fazer lanças
e pardais para as rezas.

O sonho das tuas árvores e o meu
continuam na noite a confundir-se
e a devastação das gralhas
deixou um antigo medo no meu sangue.

As tuas varas de profundidade
tornaram-se a nossa geografia;
um alto seria "a montanha de terra"
e uma temeridade o seu declive.

Jardim, encurtarei a oração
para continuar sempre a lembrar-me:
a vontade ou o acaso de dar sombra
foram as tuas árvores.

J. L. Borges in Caderno San Martín, 1929.

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

 
A ingénua (?) lágrima ao canto do olho
Vital Moreira no Causa Nossa vem dizer, a propósito de uma notícia no Portugal Diário que "na luta antiterrorista não pode valer tudo, muito menos a execução sumária de pessoas inocentes, apanhadas no local errado no momento errado!"
Esquece-se VM que já não se trata propriamente de uma luta antiterrorista mas da reacção legítima a uma guerra santa cuja lógica apocalíptica é justamente a execução sumária de pessoas inocentes apanhadas no local errado, no momento errado. A única ligeira diferença é que para o inimigo o local e o momento são sempre certos desde que impliquem a matança de inocentes.


 
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A ler

Jorge Gomes, DESESPERADAMENTE À PROCURA DA INOVAÇÃO..., no Abrupto.

 
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Coisas esquecidas

Des partis

Il n'est de parti qui n'ait enragé contre la patrie.

Ce sur quoi nul parti ne s'explique.
Chacun a ses ombres particulières — ses réserves —
Ses caves de cadavres et de songes inavouables —
Ses trésors de choses irréfléchies et d'étourderies.
Ce qu'il a oublié dans ses vues, et ce qu'il veut faire oublier.

...Ils retirent pour subsister ce qu'ils promettaient pour exister.
Ils se valent au pouvoir; ils se valent hors du pouvoir.

Il ne faut pas hésiter à faire ce qui détache de vous la moitié de vos partisans et qui triple l'amour du reste.
Ce qui plaît à tel dans son parti politique, c'est le vague de l'idéal. Et à tel autre dans le sien, c'est le précis des objects prochains.

Comme on voit communément des anarchistes dans les partis de l'ordre et des organisateurs dans l'anarchie, je suggère un reclassement. Chacun se classerait dans le parti de ses dons.
Il y a des créateurs, des conservateurs et des destructeurs par tempérament. Chaque individu serait mis dans son véritable parti, qui n'est point celui de ses paroles, ni de ses voeux, mais celui de son être et de ses modes d'agir et de réagir.

Toute politique se fonde sur l'indifférence de la plupart des intéressés, sans laquelle il n'y a point de politique possible.

La politique fut d'abord l'art d'empêcher les gens de se mêler de ce qui les regarde.
A une époque suivante, on y adjoignit l'art de contraindre les gens à décider sur ce qu'ils n'entendent pas.
Ce deuxième principe se combine avec le premier.
Parmi leurs combinaisons, celle-ci: Il y a des secrets d'Etat dans des pays de suffrage universel. Combinaison nécessaire et, en somme, viable; mais qui engendre quelquefois de grands orages, et qui oblige les gouvernements à manoeuvrer sans répit. Le pouvoir est toujours contraint de naviguer contre son principe. Il gouverne au plus près contre le principe, dans la direction du pouvoir absolu.

Tout état social exige des fictions.
Dans les uns, on convient de l'égalité des citoyens. Les autres stipulent et organisent l'inégalité.
Ce sont là des conventions qu'il faut pour commencer le jeu. L'une ou l'autre posée, le jeu commence, qui consiste nécessairement dans une action de sens inverse de la part des individus.
Dans une société d'égaux, l'individu agit contre l'égalité. Dans une société d'inégaux, le plus grand nombre travaille contre l'inégalité.

Le résultat des luttes politiques est de troubler, de falsifier dans les esprits la notion de l'ordre d'importance des questions et de l'ordre d'urgence.
Ce qui est vital est masqué par ce qui est de simple bien-être. Ce qui est d'avenir par l'immédiat. Ce qui est très nécessaire par ce qui est très sensible. Ce qui est profond et lent par ce qui est excitant.
Tout ce qui est de la politique pratique est nécessairement superficiel.

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

 
Revolta


Foto de Annie Leibovitz


Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

Vinícius de Moraes

Rio de Janeiro, 1933

in O caminho para a distância
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"

terça-feira, 16 de agosto de 2005

 
A ler

António Ribeiro Ferreira ...E a selva é já a seguir, aqui.

 
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Coisas esquecidas

Je n'aime pas les fantômes d'idées, les pensées toutes perspectives, les termes dont le sens se dérobe devant le regard de l'esprit. Je suis impatient des choses vagues. C'est là une sorte de mal, une irritation particulière, que se dirige enfin contre la vie, car la vie serait impossible sans à-peu-près. La variété extrême et accidentelle des circonstances défie toute exactitude; l'imprévu des événements, qui est la loi la plus certaine et la plus constante du monde, est donc composé par un certain jeu de notre organisation qui permet à l'existence vivante de subsister au milieu des hasards et à l'existence pensante de se dédire et de se contredire.
Mais mon humeur assez rigoureuse se reâche pourtant, et se laisse séduire à divers mots, tout imprécis et inépuisables qu'ils sont, qui me ravissent jusqu'à l'illusion d'une richesse et d'une profondeur si précieuses que je me garde d'en refuser l'enchantement. Je leur retire alors toute importance; je les exclus de tout emploi dans une réflexion suivie, et les remets à mes moments de nonchaloir.
Le seul nom de NATURE, par exemple, m'enivre et je ne sais ce qu'il veut dire. Oserai-je avouer que le mot PHILOSOPHIE me semble magique, si je l'entends en ignorant, et très loin de songer aux écoles? Je lui trouve en lui-même un charme: celui d'une personne très belle et très calme, qui change l'amour en sagesse, ou bien la sagesse en amour.

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

 
Les impressions de Pierre Alechinsky



Na Biblioteca Nacional de França, em Paris, uma exposição retrospectiva da obra gravada de Pierre Alechinsky. Com mais de duas mil gravuras realizadas entre 1946 e 2003, esta é uma exposição em que Alechinsky revela a sua paixão pelo trabalho de colaboração em ateliers diversos, com diferentes impressores e vários editores, no caso dos livros, ao contrário da pintura e do desenho que constituíram sempre, para o artista, percursos solitários. Alechinsky mostra, na sua obra gravada, o fascínio pelas escritas antigas, o permanente jogo de improviso, como se de um músico de jazz se tratasse, justificando plenamente o que Ionesco escrevia, em 1977, sobre um dos maiores artistas contemporâneos: Alechinsky est un esprit farceur et ontologique.
Para ver até 4 de Setembro.


 
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Correio da... Spirit



Marte: mundo novo, terra nova, o sol de frente, montanhas lá longe. Porque será que tudo isto é tão familiar? Porque será que a nossa linguagem serve tão bem para descrever tudo isto?

 
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Prende os teus cabelos num alfinete de ouro;
E prende cada trança vagabunda;
Pedi ao meu coração para fazer estes pobres versos;
Neles trabalhou, dia após dia,
Edificando de antigas batalhas
Uma dolente formosura.

Basta levantares a tua mão nacarada
E prenderes os teus longos cabelos e suspirares,
Para que o coração dos homens arda e palpite;
E a espuma como uma vela sobre a areia opaca,
E as estrelas que trepam ao céu de orvalho,
Só vivem para iluminar os teus pés que passam.

W. B. Yeats in The wind among the reeds, 1899.

 
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PORTLAND
ART FOCUS




Alguns nomes importantes da pintura contemporânea nesta exposição Art Focus, em Portland, exposição integrada no Portland Art International 2005: Silvia Levenson, David Hockney, Erwin Wurm, Masao Yamamoto, Govert Heikoop, Claudio Tschopp para além das fotógrafas alemãs Candida Hofer e Stephanie Schneider. A partir de 9 de Setembro no Portland Institute for Contemporary Art.

domingo, 14 de agosto de 2005

 
Tempo

Na passagem das Enéadas que pretende interrogar e definir a natureza do tempo, afirma-se que é indispensável conhecer previamente a eternidade, que — conforme todos sabem — é o modelo e arquétipo daquele. Esta advertência preliminar, tanto mais grave se a julgarmos sincera, parece aniquilar toda a esperança de nos entendermos com o homem que a escreveu. O tempo é um problema para nós, um tremendo e exigente problema, porventura o mais vital da metafísica; a eternidade, um jogo ou uma fatigada esperança. Lemos no Timeu de Platão que o tempo é uma imagem móvel da eternidade; e isso é apenas um registo que a ninguém distrai da convicção de que a eternidade é uma imagem feita com substância de tempo. É esta imagem, esta tosca palavra enriquecida pelos desacordos humanos, que me proponho historiar.
Invertendo o método de Plotino (única maneira de aproveitá-lo) começarei por recordar as obscuridades inerentes ao tempo: mistério metafísico, natural, que tem de anteceder a eternidade, que é filha dos homens. Uma destas obscuridades, não a mais árdua, mas também não a menos bela, é a que nos impede de precisar a direcção do tempo. Que flui do passado para o porvir é a crença comum, mas de modo nenhum é mais ilógica a sua contrária, a que foi fixada em verso espanhol por Miguel de Unamuno:

Nocturno el rio de las horas fluye
desde su manantial que es el mañana
eterno...

Ambas são igualmente verosímeis — e igualmente inverificáveis. Bradley nega as duas e avança um hipótese pessoal: excluir o futuro, que é uma simples constrição da nossa esperança, e reduzir o "actual" à agonia do momento presente desintegrando-se no passado. Esta regressão temporal costuma corresponder aos estados descrentes ou insípidos, enquanto qualquer intensidade nos parece marchar sobre o porvir... Bradley nega o futuro; uma das escolas filosóficas da Índia nega o presente, por considerá-lo incaptável. "A laranja está para cair do ramo, ou já está no chão", afirmam essses estranhos simplificadores. "Ninguém a vê cair".
Outras dificuldades propõe o tempo. Uma, porventura a maior, a de sincronizar o tempo individual de cada pessoa com o tempo geral das matemáticas, tem sido largamente apregoada pelo recente alarme relativista, e todos se lembram dela — ou lembram-se de a ter lembrado até há pouquíssimo tempo. (Eu recupero-a assim, deformando-a: Se o tempoo é um processo mental, como podem compartilhá-lo milhares de homens ou mesmo dois homens diferentes?) Outra é dedicada pelos Eleatas a refutar o movimento. Pode caber nestas palavras: "É impossível que em oitocentos anos de tempo decorra um prazo de catorze minutos, porque antes é obrigatório que tenham passado sete, e antes de sete, três minutos e meio, e antes de três minutos e meio, um minuto e três quartos, e assim infinitamente, de maneira que os catorze minutos nunca se cumprem".

J. L. Borges in História da Eternidade, 1936.

sábado, 13 de agosto de 2005

 
Correio da Cassini



Epimetheus percorre a sua órbita perturbando os anéis. Intimidades.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

 
SLOW ART – The current art scene



No Museum Kunst Palast em Duesseldorf, 37 artistas apresentam obras sobre temáticas tradicionais da pintura e do desenho ocidentais: naturezas mortas, paisagem e retrato. A par da exposição serão apresentadas algumas instalações e performances por artistas como Yael Davids, Lawrence Malstaf, Wim Vandekeybus, Carsten Höller, Marina Abramovic e Jan Fabre. Até 6 de Novembro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

 
Coisas esquecidas

Comment donc ont vécu jusqu'ici poètes, philosophes, artistes, tous nos petits fabricants de ce qui fait l'orgueil de la race humaine? Ils ont vécu, ils ont vécu comme ils ont pu. Ils ont vécu grâce à l'imprécision du mécanisme économique, et l'un fort mal, l'autre assez bien: Verlaine d'expédients et d'aumônes; mais Victor Hugo laisse des millions... De mes petits fabricants en chambre, il en est qui font fortune, d'autres qui font faillite; le plus grand nombre se tirent d'affaires par divers métiers à côté: il faut avoir plusieurs cordes à sa lyre.
Mais, fortunés ou non, l'allure générale des choses humaines ne leur permet rien de riant. Partout, la rigueur des économies dirigées les menace. Le mécanisme devient beaucoup trop précis pour eux; et, d'autre part, la rude main des pouvoirs, si elle daigne, çà et là, ne pas broyer dans l'oeuf la pensée à l'état naissant, ne laisse éclore que des oeuvres qui chantent, ou proclament ou démontrent que tout va de mieux en mieux dans le meilleur des régimes possibles.
D'autre part, la littérature, qui n'est en soi qu'une exploitation des ressources de langage, dépend des vicissitudes très diverses qu'un langage peut subir et des conditions de transmission que lui procurent les moyens matériels dont une époque dispose.
Le temps me fait défaut pour développer la quantité d'observations que cet aspect du sujet demanderait qu'on exposât. Je me tiendrai à quelques remarques sur la diffusion radiophonique, d'une part, sur l'enregistrement par disques, de l'autre.
On peut déjà se demander si une littérature purement orale et auditive ne remplacera pas, dans un délai assez bref, la littérature écrite. Ce serait là un retour aux âges les plus primitifs, et les conséquences techniques en seraient immenses. L'écriture supprimée, qu'en résulterait-il? D'abord — et ceci serait heureux — le rôle de la voix, les exigences de l'oreille reprendraient dans la forme, l'importance capitale que ces conditions sensibles ont eue et qu'elles avaient encore, il y a quelques siècles. Du coup, la structure des oeuvres, leurs dimensions, seraient fortement affectées; mais, d'autre part, le travail de l'auteur deviendrait bien moins facile à reprendre. Certains poètes ne pourraient pas se faire aussi compliqués qu'on prétend qu'ils le sont, et les lecteurs, transformés en auditeurs, ne pourraient guère plus revenir sur un passage, le relire, l'approfondir, en jouissance ou en critique, comme ils le font sur un texte qu'ils tiennent entre leurs mains.
Il y a autre chose. Supposez que la vision à distance se développe (et je vous avoue que je ne le souhaite guère), du coup, toute la partie descriptive des oeuvres pourra être remplacée par une représentation visuelle: paysages, portraits, ne seraient plus du ressort des Lettres, ils échapperaient aux moyens du langage. On peut encore aller plus loin: la partie sentimentale pourrait également être réduite, sinon tout à fait abolie, moyennant une intervention d'images tendres et de musique bien choisie, déclenchée au moment pathétique...

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.

 
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Barbara Kruger
Twelve



Barbara Kruger, uma das mais importantes artistas contemporâneas, apresenta na Tramway, em Glasgow, Twelve, uma instalação originalmente apresentada na Mary Boone Gallery de Nova York em 2004. Twelve é uma instalação de vídeo de grande formato que ocupa todo o espaço da galeria deixando o espectador rodeado por 12 imagens. Nove das doze cenas ocorrem em simultâneo, representadas por actores. Cada cena pode durar de 6 segundos a 12 minutos e desenvolve uma densa discussão entre as personagens, estando sempre o espectador no meio desse debate que se vai tornando progressivamente hostil, debate privado mas público na medida em que o espectador é convocado como testemunha. Para quem fôr ou estiver na Escócia até 26 de Setembro.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

 
Correio da Cassini



Saturno, atento, vigia as brincadeiras de Tethys ao longo dos anéis. Intimidades.

 
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Ah! Meu amigo! Porque não permitiu Deus que os poetas pudessem beber e comer cantigas, andar nus ou vestir-se de folhas de árvores. (...) e ter entrada grátis em todos os cinemas...?! Deus foi bem mau para connosco, obrigando-nos a fingir continuamente.

José Régio

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

 
Coisas esquecidas

Je viens de parler de liberté... Il y a la liberté tout court, et la liberté des esprits.
Tout ceci sort un peu de mon sujet, mais il faut cependent s'y attarder quelque peu. La liberté, mot immense, mot que la politique a largement utilisé — mais qu'elle proscrit, çà et là, depuis quelques années —, la liberté a été un idéal, un mythe; elle a été un mot plein de promesses pour les uns, un mot gros de menaces pour les autres! un mot qui a dressé les hommes et remué les pavés. Un mot qui était le mot de ralliement de ceux qui semblaient le plus faibles et qui se sentaient le plus forts, contre ceux qui semblaient le plus forts et qui ne se sentaient pas le plus faibles.
Cette liberté politique est difficilement séparable des notions d'égalité, des notions de souveraineté; mais elle est difficilement compatible avec l'idée d'ordre; et parfois avec l'idée de justice.
Mais ce n'est pas là mon sujet.
J'en reviens à l'esprit. Lorsqu'on examine d'un peu plus près toutes ces libertés politiques, on arrive rapidement à considérer la liberté de pensée.
La liberté de pensée se confond dans les esprits avec la liberté de publier, qui n'est pas la même chose.
On n'a jamais empêché personne de penser à sa guise. Ce serait difficile; à moins d'avoir des appareils pour dépister la pensée dans les cerveaux. On y arrivera certainement, mais nous n'y sommes pas tout à fait, et nous ne souhaitons pas cette découverte-là!... La liberté de pensée, en attendant, existe donc — sans la mesure où elle n'est pas bornée par la pensée même.
C'est très joli d'avoir la liberté de penser, mais encore faut-il penser à quelque chose!...
Mais dans l'usage le plus ordinaire quand on dit liberté de penser, on veut dire liberté de publier, ou bien liberté d'enseigner.
Cette liberté-là donne lieu à des graves problèmes: il y a toujours quelque difficulté qu'elle suscite; et tantôt la Nation, tantôt l'Etat, tantôt l'Eglise, tantôt l'Ecole, tantôt la Famille, ont trouvé à redire à la liberté de penser en publiant, de penser publiquement ou d'enseigner.
Ce sont là autant de puissances plus ou moins jalouses des manifestations extérieures de l'individu pensant.
(...)
La politique, contrainte de falsifier toutes les valeurs que l'esprit a pour mission de contrôler, admet toutes les falsifications, ou toutes les réticences qui lui conviennent, qui sont d'accord avec elle et repousse même violemment, ou interdit toutes celles qui ne le sont pas.
En somme, qu'est-ce que c'est que la politique?... La politique consiste dans la volonté de conquête et de conservation du pouvoir; elle exige, par conséquent, une action de contrainte ou d'illusion sur les esprits, qui sont la matière de tout pouvoir.
Tout pouvoir songe nécessairement à empêcher la publication des choses qui ne conviennent pas à son exercice. Il s'y emploie de son mieux. L'esprit politique finit toujours par être contraint de falsifier. Il introduit dans la circulation, dans le commerce, de la fausse monnaie intellectuelle; il introduit des notions historiques falsifiées; il construit des raisonnements spécieux; en somme, il se permet tout ce qu'il faut pour conserver son autorité, qu'on appelle, je ne sais pourquoi, morale.
Il faut avouer que dans tous les cas possibles, politique et liberté d'esprit s'excluent. Celle-ci est l'ennemie essentielle des partis, comme elle l'est, d'autre part, de toute doctrine en possession du pouvoir.

Paul Valéry in Regards sur le monde actuel, 1927.

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