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sábado, 30 de abril de 2005

 
Amanhã, em Nova York












Jean-Michel Basquiat, Fernando Botero, Alexander Calder, Marc Chagall, Salvador Dali, Willem de Kooning, Jim Dine, Jean Dubuffet, Arshile Gorky, Adolph Gottlieb, Hans Hofmann, Fernand Leger, Roy Lichtenstein, Henri Matisse, Joan Miro, Henry Moore, Robert Motherwell, Pablo Picasso, Robert Rauschenberg, James Rosenquist, Joel Shapiro, Wayne Thiebaud, Andy Warhol e Tom Wesselmann.
Tendo como tema a relação entre o artista e a percepção, o medium e a representação, inaugura amanhã na James Goodman Gallery, em Nova York, Modern to Pop: paintings, drawings and sculpture. Até 30 de Junho.






 
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Ouvindo:



Cassandra Wilson, Sings standards, Verve, 2002.

 
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Um livro



Para o Renascimento a guerra era também uma arte. Importantes planos de guerra, nos quais se incluem projectos de fortificações, eram encomendados aos artistas — pintores, escultores, arquitectos —, situação inconcebível no nosso século mas compreensível num período em que a arte se baseava numa estrutura intelectual para-científica. Em consequência disto, os desenhos de fortificações renascentistas não foram apenas essenciais para a sobrevivência dos estados italianos mas revestem-se de uma beleza excepcional. Os projectos de fortificações renascentistas estão profundamente ligados à evolução das armas. Assim, os numerosos desenhos de Miguel Ângelo, por exemplo, para a fortificação de Florença foram pensados prioritáriamente contra ataques de artilharia, conceito completamente diferente da tradição medieval.
Editado pela Cantini este livro está repleto de magníficas ilustrações dos projectos de fortificações desenhados pelos artistas mais significativos do Quattrocento tardio e do Cinquecento.

 
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Memórias curtas

O DN publica hoje um artigo de Salman Rushdie (num exclusivo DN/New York Times Syndicate) sob o título Rei Tony por quanto tempo o trono?
No cerrado ataque que desenvolve a Blair — de que, aliás, não sou fã, ou de qualquer outro dirigente que se enquadre neste populismo relativista — S. Rushdie vai, no entanto, esquecendo alguns pormenores:
1. Talvez ninguém melhor que ele possa falar da estrutura mental britânica. A sua educação passou por lá integralmente. Com 14 anos ingressou no Rugby School e lá continuou os seus estudos no King's College em Cambridge. Rushdie é moldado pela formação britânica e pela estrutura mental inglesa. Mais, o carácter publicista dos seus romances tem, obviamente, a ver com o facto de, durante 10 anos (de 1971 a 1981) ter trabalhado como copywriter em várias agências de publicidade, nomeadamente na Ogilvy.
2. A certa altura deste artigo, e interrogando-se sobre o facto de Blair ter apoiado Bush, como apoiou, relativamente à invasão do Iraque, Rushdie diz que um antigo adjunto de Clinton lhe explicou a coisa da seguinte forma: "Ele vendeu a alma ao Diabo sem se incomodar sequer em receber algo em troca." Interessante o entendimento desta frase vindo de alguém que foi alvo da mesma, proferida por Ayatollah Khomeini a propósito da publicação, em 1988, dos Versículos Satânicos. Não deixa também de ser interessante aqui referir, em abono da verdade, que foram, justamente os serviços secretos britânicos que protegeram e esconderam Rushdie durante anos, nomeadamente durante o período da fatwa em que, ainda a propósito deste romance, violentos protestos na Índia, Paquistão e Egipto, provocaram várias mortes. Não deixa também de ser curioso o lançamento, em 1990, do ensaio In Good Faith no qual Rushdie faz um explícito pedido de desculpas, reafirmando o seu total respeito pelo Islão e pela fé islâmica. Este pedido de desculpas não foi considerado genuino nem credível pelas autoridades religiosas do Irão e do Iraque que não “levantaram” a pena de morte decretada.
3. Por último, Rushdie refere que Blair poderá ser um maníaco do controle comprometido com inquisidores religiosos pelo facto de ter sido proposta como ofensa o incitamento ao ódio religioso e que nunca poderá aceitar esta pretensa limitação da liberdade de expressão que se destinaria a aplacar a livre manifestação da comunidade islâmica. Esquece-se aqui Rushdie que, na livre expressão da revolta islâmica, bem antes da invasão do Iraque, estaria a morte dele. Não deixa também de ser curiosa esta leitura dos dirigentes ocidentais como comprometidos com inquisidores religiosos, principalmente se lermos a sua crónica de 17 de Abril passado no The New York Times, em que, a certa altura, escreve:
In many parts of the world — in, for example, China, Iran and much of Africa — the free imagination is still considered dangerous. At the heart of PEN's work is our effort to defend writers under attack by powerful interests who fear and threaten them. Those voices — Arab or Afghan or Latin American or Russian — need to be magnified, so that they can be heard loud and clear just as the Soviet dissidents once were. Yet, in America, unlike in Europe, a lamentably small percentage of all the fiction and poetry published each year is translated from other languages. It has perhaps never been more important for the world's voices to be heard in America, never more important for the world's ideas and dreams to be known and thought about and discussed, never more important for a global dialogue to be fostered. Yet one has the sense of things shutting down, of barriers being erected, of that dialogue being stifled precisely when we should be doing our best to amplify it. The cold war is over, but a stranger war has begun. Alienation has perhaps never been so widespread; all the more reason for getting together and seeing what bridges can be built. That's exactly why dozens of writers from around the world are gathering in New York this week for PEN World Voices: The New York Festival of International Literature.
Afinal, quem são para Rushdie os inquisidores religiosos, maníacos de controle? São aqueles que lhe decretaram pena de morte, aqueles que continuam a decretar penas de morte aos escritores no Irão, na China, no Afeganistão, na Rússia, em África? Parece que não. Memórias curtas.

sexta-feira, 29 de abril de 2005

 
L'Oiseau qui fait venir la pluie


Foto de Michal Chelbin


En plus du dragon, les agriculteurs chinois disposent, pour faire venir la pluie, de l'oiseau nommé Shang Yang. Il n'a qu'une patte; aux temps anciens, les enfants sautaient à cloche-pied et fronçaient les sourcils en affirmant: "Il va pleuvoir car le Shang Yang est en train de sauter." On dit, en effet, qu'il boit l'eau des rivières et la fait retomber sur la terre.
Un ancien sage l'avait apprivoisé et le portait dans sa manche. Les historiens relatent que cet oiseau passa une fois devant le trône du prince Ch'i en sautillant et agitant ses ailes. Le prince, alarmé, envoya un de ses ministres à la cour de Lou, pour consulter Confucius. Ce dernier prédit que le Shang Yang allait provoquer des inondations dans la région et dans les contrées adjacentes. Il conseilla de construire des digues et des canaux. Le prince tint compte des conseils du maître et évita ainsi de grands désastres.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

 
Correio da Cassini

A Cassini detectou uma atmosfera em Enceladus nos flyby do passado dia 17 de Fevereiro e 9 de Março. Gravou este som.

 
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Receita de mulher




As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul como na
[Republica Popular Chinesa)
Não há meio-termo possível. É preciso
Que isso tudo seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas
[pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro
[minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso
Que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola
[ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre
[um templo e
Seja leve como um rosto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo, olhos então
Nem se fala, que olhem com uma certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas
[pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher
[sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que os seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barrôca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima
[de cinco velas
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal.
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um
[certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de
[suavíssima plumagem
No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso
[e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma
[temperatura nunca inferior
A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1º grau. Os olhos que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou caso baixa que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que
[se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha;
[parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer
[subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder a sua graça de ave;
[e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efémero e eu sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a
[criação inumerável.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 27 de abril de 2005

 
Um livro



Editado pelo Ayuntamento de La Coruña, por ocasião da inauguração do Domus, Museu do Homem, esta é a edição facsímil da obra de Dürer De Symmetria partium humanorum corporum, realizada a partir da edição original de Paris, de 1557. Nesta obra, Dürer expõe pormenorizadamente as suas ideias sobre o corpo e as suas escalas relativas, os cânones usados na época, acompanhando o texto com magníficos desenhos.

 
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Correio da Cassini



A Cassini está aqui praticamente no plano dos anéis. As linhas de luz desenhadas no espaço só são ligeiramente interrompidas pela aparição de Atlas.

terça-feira, 26 de abril de 2005

 
La Velue de La Ferté-Bernard


Foto de Colin Blakley


Aux bords de l'Huisne, rivière d'apparence tranquille, maraudait durant le Moyen Âge la Velue. Cet animal aurait survécu au Déluge, sans être recueilli dans l'Arche. Elle était de la taille d'un taureau; elle avait une tête de serpent, un corps sphérique couvert d'un pelage vert, armé d'aiguillons dont la piqûre était mortelle. Les pattes étaient très larges, semblables à celles de la tortue; avec la queue, en forme de serpent, elle pouvait tuer les hommes et les animaux. Quand elle se mettait en col`ére, elle lançait des flammes qui détruisaient les récoltes. De nuit, elle saccageait les étables. Quand les paysans la poursuivaient, elle se cachait dans les eaux de l'Huisne qu'elle faisait déborder, inondant toute la région.
Elle préférait dévorer les êtres innocents, les jeunes filles et les enfants, Elle choisissait la plus vertueuse jeune fille, celle qu'on appelait l'Agnelle. Un jour, elle ravit une agnelle et elle la traîna déchirée et sanglante jusqu'au lit de l'Huisne. Le fiancé de la victime coupa avec une épée la queue de la Velue, qui était son seul endroit vulnérable. Le monstre mourut immédiatement. On l'embauma et on fêta sa mort avec tambours, des fifres et des danses.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

 
A propósito da tristeza (ou da consciência da tristeza)

Se se fosse judeu na época em que os comboios iam para Auschwitz, as possibilidades de encontrar esconderijo junto de vizinhos simpáticos seriam maiores se se vivesse na Dinamarca ou em Itália do que se se vivesse na Bélgica. Uma maneira comum de caracterizar esta diferença é dizer que muitos dinamarqueses e italianos mostravam um sentido de solidariedade humana que faltava a muitos belgas. A visão de Orwell era a de um mundo em que tal solidariedade humana tinha sido tornada impossível, de forma deliberada e através de um planeamento cuidado.
A maneira filosófica tradicional de explicar aquilo que entendemos por "solidariedade humana" é dizer que há algo dentro de cada um de nós — a nossa humanidade essencial — que ressoa com a presença dessa mesma coisa em outros seres humanos. Esta maneira de explicar a noção de solidariedade está de acordo com o nosso hábito de dizer que o público do Coliseu, Humbert, Kinbote, O'Brien, os guardas de Auschwitz e os belgas que observavam a Gestapo a arrastar os seus vizinhos judeus eram "desumanos".
A ideia é a de que a todas essas pessoas faltava um componente essencial dos seres integralmente humanos.
Os filósofos que, tal como eu fiz (...), negam que haja tal componente, que haja algo como um "eu central", são incapazes de recorrer a essa ideia. A nossa insistência na contingência e a nossa consequente oposição a ideias tais como as de "essência", "natureza" e "fundamento" tornam impossível retermos a noção de que algumas acções e atitudes são naturalmente "desumanas". É que esta insistência implica que aquilo que conta como sendo um ser humano decente seja relativo às circunstâncias históricas, seja questão de um consenso passageiro quanto a saber que atitudes são normais e que práticas são justas ou injustas. No entanto, em alturas como a de Auschwitz, e que a história está em convulsão e as instituições e padrões de comportamento tradicionais estão em ruptura, queremos algo que se encontre para lá da história e das instituições. E que poderá haver, a não ser a solidariedade humana, o nosso reconhecimento da humanidade de outrem que nos é comum?
Defendi no presente livro que tentemos não querer algo que esteja para lá da história e das instituições. A premissa fundamental do livro é a de que uma crença pode continuar a reger a acção, pode-se continuar a considerar que vale a pena morrer por ela, mesmo entre pessoas que estão plenamente conscientes de que essa crença não é causada por nada de mais profundo do que as circunstâncias históricas contingentes. A imagem de utopia liberal que tracei (...) era um esboço de uma sociedade em que a acusação de "relativismo" teria perdido a sua força e em que a noção de "algo que está para lá da história" se teria tornado inintelegível, mas em que se mantinha intacto um sentido da solidariedade humana.
(...)
Considerem-se, em primeiro lugar, os dinamarqueses e italianos de que falei. Será que disseram aos seus vizinhos judeus que mereciam ser salvos porque eram seres humanos como eles? Talvez alguns o tenham dito, mas em geral, decerto, não utilizariam, se interrogados, mais do que termos locais para explicar por que razão estavam a correr riscos para proteger um determinado judeu — dizendo, por exemplo, que esse judeu em particular também era milanês, ou que também era da Jutlândia, ou que era membro da mesma união ou profissão, ou que também jogava bocce ou que também tinha filhos pequenos. Considerem-se seguidamente os referidos belgas. Decerto havia algumas pessoas relativamente às quais teriam corrido riscos para as proteger em circunstâncias semelhantes, pessoas com quem se identificavam, segundo uma ou outra descrição. Mas raramente os judeus eram abrangidos por essas descrições. Há, provavelmente, explicações histórico-sociológicas pormenorizadas para a frequência relativamente pequena entre os belgas de descrições inspiradoras de comunidade (fellowship) pelas quais os judeus pudessem ser abrangidos — explicações da razão por que "ela é judia" tantas vezes se sobrepunha a "tal como eu, ela é mãe de filhos pequenos". Mas "desumanidade", "não ter coração" ou "falta de sentido da solidariedade humana" não constituem essa explicação.
(...)
Do ponto de vista cristão, esta tendência para nos sentirmos mais próximos daqueles com quem a identificação imaginativa é mais fácil é lamentável, é uma tentação a evitar. Faz parte da ideia cristã de perfeição moral tratar toda a gente, mesmo os guardas de Auschwitz ou do Gulag, como pecadores nossos semelhantes. Para os cristãos, a santidade não se atinge enquanto se sente maior obrigação para com um filho de Deus do que para com outro. Os contrastes injustos devem ser evitados por princípio. O universalismo ético secular colheu esta atitude do cristianismo. Para Kant, não é por alguém também ser milanês ou também ser americano que devemos sentir uma obrigação para com ele ou ela, mas sim por ser um ser racional. No seu tom mais rigoroso, Kant diz-nos que uma boa acção para com outra pessoa não conta como sendo uma acção moral, como sendo uma acção praticada por amor ao dever, por oposição a uma acção praticada meramente de acordo com o dever, a menos que se pense na pessoa simplesmente como sendo um ser racional, e não um familiar, um vizinho ou um concidadão. Mas, mesmo que não usemos uma linguagem cristã nem uma linguagem kantiana, podemos achar que há algo de moralmente duvidoso em ter-se maior preocupação por um outro cidadão também de Nova York do que por alguém que enfrenta uma vida igualmente sem esperança e triste nos bairros miseráveis de Manila ou de Dacar.
(...)
Na perspectiva que estou a apresentar, o progresso moral existe, e esse progresso vai efectivamente na direcção de uma maior solidariedade humana. Mas tal solidariedade não é pensada como sendo o reconhecimento de um eu central, da essência humana em todos os seres humanos. É antes pensada como sendo a capacidade de ver cada vez mais diferenças tradicionais (de tribo, de religião, raça, costumes, etc.) como não importantes, em comparação com semelhanças no que respeita à dor e à humilhação — a capacidade de pensar em pessoas muito diferentes de nós como estando incluídas na esfera do "nós". Foi por isso que afirmei (...) que os principais contributos do intelecto moderno para o progresso moral eram descrições pormenorizadas de variedades particulares de dor e humilhação (em romances ou obras de etnografia, por exemplo) e não tratados filosóficos ou religiosos.
(...)
Resumindo, pretendo distinguir a solidariedade humana enquanto identificação com a "humanidade enquanto tal" e enquanto dúvida própria que, gradualmente, ao longo dos últimos séculos, foi sendo inculcada nos habitantes dos Estados democráticos — dúvidas quanto à sua própria sensibilidade à dor e à humilhação dos outros, dúvida de que os entendimentos institucionais actuais sejam adequados para lidar com essa dor e humilhação, curiosidade sobre alternativas possíveis. A identificação parece-me impossível — parece-me uma invenção de filósofos, uma estranha tentativa de secularizar a ideia de nos unirmos a Deus. A dúvida própria parece-me ser a marca característica da primeira época da história humana em que grande número de pessoas se tornou capaz de separar a questão "Acredita e deseja aquilo em que acreditamos e que desejamos?" da questão "Está a sofrer?". No meu jargão, esta capacidade é a capacidade de distinguir entre a questão de saber se você e eu partilhamos o mesmo vocabulário final e a questão de saber se você está a sofrer. Distinguir estas questões torna possível distinguir questões públicas de questões privadas, questões sobre a dor de questões sobre o sentido da vida humana, o domínio do liberal do domínio do ironista. Torna, assim, possível uma mesma pessoa ser ambos.

Richard Rorty in Contingência, Ironia e Solidariedade, 1989.

domingo, 24 de abril de 2005

 
Correio da Cassini



Novas imagens que a Cassini envia de Titan. Nesta primeira imagem, Titan surge-nos tal como a veríamos (os nossos olhos humanos) se estivessemos no lugar da Cassini. Na segunda imagem, mais precisamente a combinação de duas imagens de infravermelhos, vislumbramos um continente. As zonas avermelhadas são as áreas em que a densa atmosfera de metano absorve a luz. As zonas verdes são aquelas em que a Cassini consegue "ver" através da atmosfera.



 
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Le Sphinx


Foto de Tarum Khiwal


Le Sphinx des monuments égyptiens (appelé Androsphinx par Hérodote, pour le distinguer du grec), est un lion couché par terre avec une tête d'homme; il représentait, pense-t-on, l'autorité du roi et il gardait les sépulcres et les tombeaux. D'autres, dans les avenues de Karnak, ont tête de bélier, l'animal sacré d'Amon. Des sphinx barous et couronnés se trouvent dans les monuments d'Assyrie et l'image est habituelle dans les gemmes persanes. Pline, dans son catalogue d'animaux éthiopiens, inclut les Sphinx dont il ne précise autre trait que le pelage brun rougeâtre et les seins identiques.
Le Sphinx grec a tête et poitrine de femme, ailes d'oiseau, et corps et pieds de lion. D'autres lui attribuent corps de chien et queue de serpent. On raconte qu'il désolait le pays de Thèbes, en proposant des énigmes aux hommes (car il avait voix humaine) et en dévorant ceux qui ne savaient pas les résoudre. À Edipe, fils de Jocaste, il demanda:
— Quel être a quatre pieds, deux pieds ou trois pieds, et plus il en a, plus il est faible? (Telle est, paraît-il, la plus ancienne version. Les ans lui ajoutèrent la métaphore qui fait de la vie de l'homme une seule journée.
Maintenant on la formule de cette manière: Quel est l'animal qui marche à quatre pieds le matin, deux à midi, et trois le soir?).
Edipe répondit que c'était l'homme, qui, enfant, se traîne sur quatre pieds, quand il est adulte marche sur deux et dans la vieillesse s'appuie sur un bâton. Le sphinx, l'énigme déchiffrée, se précipita du haut de sa montagne.
De Quincey, vers 1849, suggéra une deuxième interprétation, qui peut compléter la traditionnelle. Le sujet de l'énigme, selon de Quincey, est moins l'homme en général que l'individu Edipe, misérable et orphelin en son matin, seul à l'âge adulte et appuyé sur Antigone dans sa vieillesse aveugle et désespérée.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

sábado, 23 de abril de 2005

 
Le Nisnas


Foto de Colin Blakley


Parmi les monstres de la Tentation figurent les Nisnas, qui "n'ont qu'un oeil, qu'une joue, qu'une main, qu'une jambe, qu'une moitié du corps, qu'une moitié du coeur". Un commentateur, Jean-Claude Margolin, écrit qu'ils ont été forgés par Flaubert, mais le premier volume des Mille et Une Nuits de Lane (1839) les attribue au commerce des hommes avec les démons. Le Nesnas — Lane écrit le mot ainsi — est la moitié d'un être humain; il a une moitié de tête, une moitié de corps, un bras et une jambe; il bondit avec une grande agilité et il habite dans les solitudes de l'Hadramaout et du Yémen. Il est capable d'user d'un langage articulé; quelques-uns ont le visage dans la poitrine, comme les blemmyes, et une queue semblable à celle de la brebis; leur chair est douce et très recherchée. Une variété de Nisnas avec des ailes de chauve-souris abonde dans l'île de Raïj (peut-être Bornéo), aux confins de la Chine; mais, ajoute l'incrédule éditeur, Allah sait tout.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

 
Na sombra

Tudo o que de verdadeiramente importante acontece não tem espaço na 1ª página. A ler aqui. Para quem queira aprofundar, pode ler:
The PHOBOS perspective on discoveries at RHIC.
Formation of dense partonic matter in relativistic nucleus-nucleus collisions at RHIC: Experimental evaluation by the PHENIX collaboration.
Experimental and Theoretical Challenges in the Search for the Quark Gluon Plasma: The STAR Collaboration's Critical Assessment of the Evidence from RHIC Collisions.
Quark–gluon plasma and color glass condensate at RHIC? The perspective from the BRAHMS experiment .

 
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Fastitocalon


Foto de Resul Bastug


Le Moyen Âge attribua à l'Esprit Saint la composition de deux livres. Le premier, on le sait, était la Bible; le second était l'univers, dont les créatures contenaient des enseignements immoraux. Pour expliquer ceci, on compila les Traités de physiologie ou Bestiaires. D'un bestiaire anglo-saxon nous extrayons le résumé suivant:
Je parlerai aussi dans ce poème de la puissante baleine. Elle est dangereuse pour tous les navigateurs. À ce nageur des courants de l'Océan on donne le nom de Fastitocalon. Sa forme est celle d'une pierre rugueuse et elle est comme couverte de sable; les marins qui voient cette forme la prennent pour une île. Ils amarrent leurs navires de haut bord à la fausse terre et débarquent sans craindre aucun danger. Ils dressent leur tente, allument un feu et s'endorment, fourbus. La traîtresse alors s'immerge dans l'océan; elle gagne les profondeurs et elle laisse le navire et les hommes se noyer dans l'antichambre de la mort. Souvent sa bouche exhale une douce odeur qui attire les autres poissons de la mer. Ceux-ci pénètrent entre ses fanons qui se referment et ils sont dévorés. Le diable ainsi nous entraîne en enfer.

On retrouve la même fable dans le Livre des Mille et Une Nuits, dans la légende de saint Brandan et dans le Paradis perdu de Milton qui nous montre une baleine dormant "dans l'écume norvégienne".

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

quinta-feira, 21 de abril de 2005

 
Um livro



Editado em 1923, La Kabbale Juive, Histoire et doctrine de Paul Vulliaud é sem dúvida a obra de referência no que respeita a ensaios críticos sobre a Kabbala. A edição aqui apresentada das Editions d'Aujourd'hui é a reedição exacta da edição de Nourry de 1923. Em dois volumes com cerca de 1.100 páginas, Paul Vulliaud, refazendo os percursos dos vários estudos sobre a Kabbala, desde o Renascimento (com Pie de la Mirandola), oferece aqui uma contribuição decisiva para o entendimento da gnose cabalista e a sua importancia e lugar na história do pensamento judeu.
Esta é uma obra fundamental para quem se interessa pelo estudo das religiões, em geral, e pela Kabbala, em particular. P. Vulliaud escreve, a certa altura (Cap. XI, L'Origine des choses):
La question de l'existence de Dieu n'est pas mise en doute ni même discutée par les Kabbalistes; nous l'avons observé. Celle de la création ex nihilo ne l'est pas davantage. Les Sages de la Vérité ne se posent pas en philosophes. Quelle différence de langage et de méthode entre l'école de Siméon ben Jochaï et Saadya, Bahya, Maïmonide et Albo, c'est-à-dire le Père de l'Hébraïsme ésotérique et les théologiens officiels du Judaïsme, entre le Zohar aux allures midraschiques et symboliques, et les Croyances et les Opinions, les Devoirs du Coeur, le Guide des Egarés, le Livre des Principes!
Nous remarquions précédemment que le Christianisme n'avait pas, tout d'abord, présenté un corps de doctrines systématisé; on peut encore avec le même à-propos se rappeler que Platon n'a pas cru devoir insérer ses enseignements dans le contour de formes dogmatiques. Cet intuitif a, lui aussi, développé maintes théories au gré d'une fantasie poétique. Ce qui leur a, du reste, laissé une certaine imprécision. Encore une fois, la Kabbale n'est pas une recherche de la vérité philosophique et religieuse, c'est une "Gnose", c'est-à-dire une connaissance plus approfondie de la divine révélation transmise par la tradition. Mais elle procède également suivant un mode de comparaison afin d'expliquer le "comment des choses".

 
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Correio da Cassini



Dione e Tethys surgem-nos aqui num pequeno recanto íntimo do infinito. Luas gémeas apenas no tamanho, muito diferentes no carácter (da sua superfície).

quarta-feira, 20 de abril de 2005

 
La Banshee


Foto de Brian Hull


Il semble que personne ne l'ait vue; c'est moins une forme qu'un gémissement qui glace d'horreur les nuits de l'Irlande et — selon l'ouvrage de Sir Walter Scott sur les démons et les sorciers — celles des régions montagneuses de l'Écosse. Elle annonce, sous les fenêtres des gens, la mort de quelqu'un de la famille. Elle est un privilège particulier de certains lignages de pur sang celte, sans mélange latin, saxon ou scandinave. On l'entend aussi dans le Pays de Galles et en Bretagne. Elle appartient à la race des fées. On appelle son gémissement le keening.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

 
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A ler

Dois mil anos
de Papas. Aqui.

terça-feira, 19 de abril de 2005

 
Sirènes


Foto de Roland Cabon


Tout au long du temps, les Sirènes changent de forme. Leur premier historien, le rhapsode du douzième livre de l'Odyssée, ne nous dit pas comment elles étaient; pour Ovide, elles sont des oiseaux au plumage rougeâtre et au visage de vierge; pour Apollonios de Rhodes, le haut du corps est femme, et le bas, oiseau marin; pour le maître Tirso de Molina (et pour l'héraldique), "moitié femmes, moitié poissons". Leur genre n'est pas moins discutable; le classique dictionnaire de Lemprière dit qu'elles sont des nymphes, celui de Quicherat qu'elles sont des monstres et celui de Grimal qu'elles sont des démons. Elles résident dans une île du Ponant, près de l'île de Circé, mais le cadavre de l'une d'elles, Parthénope, fut retrouvé en Campanie, et donna son nom à la célèbre ville qui porte maintenant celui de Naples, et le géographe Strabon vit sa tombe et fut présent aux jeux gymniques qui se célébraient périodiquement pour honorer sa mémoire.
L'Odyssée rapporte que les Sirènes attiraient et perdaient les navigateurs, et qu'Ulysse, pour entendre leur chant et ne pas périr, boucha avec de la cire les oreilles des rameurs et ordonna qu'on l'attachât à un mât. Pour le tenter, les Sirènes lui offrirent la connaissance de toutes les choses du monde:
Personne n'est passé par ici dans son noir vaisseau sans écouter de notre bouche la voix douce comme le miel, et sans s'être réjoui avec elle et sans avoir poursuivi son voyage plus sage... Car nous savons toutes les choses: les travaux infligés aux Argiens et aux Troyens dans la vaste Troade par la volonté des dieux, et nous savons tout ce qui arrivera sur la terre féconde. (Odyssée, XII.)
Une tradition recueillie par le mythologue Apollodore, dans sa Bibliothèque, conte qu'Orphée, sur le navire des Argonautes, chanta avec plus de douceur que les Sirènes, et que celles-ci se précipitèrent à la mer et furent transformées en rochers, car leur loi était de mourir quand quelqu'un ne subirait pas leur charme. Le Sphinx aussi s'èlança d'un sommet quand on devina son énigme.
Au VI siècle, une Sirène fut capturée et baptisée au nord de Galles et elle figura comme une sainte, dans certains calendriers anciens, sous le nom de Murgen. Une autre, en 1403, passa par une brèche dans une digue, et habita Haarlem jusqu'au jour de sa mort. Personne ne la comprenait, mais on lui apprit à tisser et elle vénérait la croix, comme par instinct. Un chroniqueur du XVI siècle démontra que ce n'était pas un poisson parce qu'elle savait tisser, et que ce n'était pas une femme parce qu'elle pouvait vivre dans l'eau.
La langue anglaise distingue la Sirène classique (siren) de celles qui ont queue de poisson (mermaids). Les tritons, divinités du cortège de Poséïdon, ont dû avoir, par analogie, une influence sur la formation de cette dernière image.
Dans le dixième livre de la République, huit Sirènes président à la révolution des huit cieux concentriques.
Sirène: soi-disant animal marin, lisons-nous brutalement dans un dictionnaire.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

 
Pictogramas — o homem que queria ser pintor

NATUREZA MORTA A CAMINHO DE VIAGEM

Da esquerda para a direita: a pilha dos Grande Hotel, alguns quase desfeitos. “Está completo?”, perguntei. “Mais que completo. Alguns estão tão usados que têm folhas a mais que estavam soltas nos outros…”. Um moleskine, com um mapa dentro, dobrado. Uma cruz numa terra onde há um pluvium, e se vê chover ao longe. Uma cruz noutra terra onde esteve um louco. Outra cruz numa terra onde começou um olhar novo sobre as formas. Outra cruz sobre uma das ruas mais bonitas do mundo. No centro das linhas, unindo essas cruzes, ao modo herético, o Abrupto será aí feito daqui a dias. Uma pilha de livros que faltam numa bibliografia que nunca mais acaba e que tapam a estação meteorológica. Um comando de televisão. Um telemóvel. Uma pilha de zips. Um pequeno rádio. Um espelho convexo. Uma caneta, um lápis que foge para baixo para debaixo do teclado, uma moeda ínfima, um dado improvável, uma faca. Uma tesoura vermelha, duas mãos, um ecrã, um cartão de visita perdido, um papel com meia dúzia de palavras. Um azulejo, um modem que brilha no escuro, bocados de lava de três sabores, de três vulcões. Em bom rigor um não é lava, é pedra-pomes. Um disco pouco subtil, uma máquina fotográfica preparada, um radiómetro parado. Mais livros, desalojados pela bibliografia: Alice Munro, Ballard. Um rato. A beira da mesa. Vazio.

 
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José María Sicilia (IV)

A reinvenção do desenho ou o novo naturalismo





José María Sicilia, Serie Sivela, 1991, 32x32 cm.



X

Entre pliegues de olvido,
algo.

Entre blancos renglones
torcidos,
algo.

Ni isla.
Ni palabra
Ni cabeza.

Algo
(afable embrión, dudosa pertenencia),
algo.

XI
Nada acaso que ver salvo en la cálida
lejanía, azar puro, aceptado, que espacia
lo real

para ablandarlo, desplazarlo, orarlo, desvanecerlo
y contrariarlo, por piedad, en toda
ansia de resplendor
hasta que prenda
y en orden venturoso se derrame
por las ondulaciones accidentadas, alas
del doméstico enjambre:
sean
palomas, búhos,
ratones, cráneos,

vigilados al fondo por un conejo manso,
superpuesto ("y las jarras,
me dijo con su cara rápida de conejo color caramelo")
a punto ahora de atravesar la vela
tras la inseguridad encendida
que el secreto transmite a la idea
de un corazón que al corazón combate.

XII
(SIN DEJAR COSA)

La impossibilidad,
sucesora instantánea de altiva inexperiencia
hecha carne,
colorada mudanza y estruendo verde
para arder en lo blanco, tiene
en otro cielo que alojar tu boca

y a tientas descender a aquel principio
donde afloraba, a la de dios, el salmo
de vuelta del amor:

Nada me falta.

José-Miguel Ullán in Al aire de su vuelo, 1993.



José María Sicilia, Serie Sivela, 1991, 32x32 cm.

domingo, 17 de abril de 2005

 
Les Djinns


Foto de Vicent Obyrne


Selon la tradition islamique, Allah créa les anges avec de la lumière, les Djinns avec du feu et les hommes avec de la poussière. Certains affirment que la matière des deuxièmes est un feu obscur sans fumée. Ils furent créés deux mille ans avant Adam mais leur race n'atteindra pas le jour du Jugement Dernier.
Al-Quazwînî les définit comme d'"immenses animaux aériens au corps transparent, capables de prendre des formes diverses". Ils apparaissent d'abord comme des nuages ou comme de hauts piliers sans fin; puis, selon leur gré, ils adoptent la forme d'un homme, d'un chacal, d'un loup, d'un lion, d'un scorpion ou d'une couleuvre. Certains sont croyants, d'autres hérétiques ou athées. Avant de tuer un reptile, nous devons lui demander qu'il se retire, au nom du Prophète; il est permis de le tuer s'il n'obéit pas. Ils peuvent traverser un mur épais, voler dans les airs ou se rendre soudain invisibles. Ils parviennent souvent au ciel inférieur où ils surprennent la conversation des anges parlant des événements à venir; cela leur permet d'aider les mages et les devins. Certains docteurs leur attribuent la construction des Pyramides et, par ordre de Salomon, fils de David, qui connaissait le Tout-Puissant Nom de Dieu, celle du Temple de Jérusalem.
Depuis les terrasses et les balcons, ils lapident les gens; ils ont aussi l'habitude d'enlever de belles femmes. Pour éviter leurs méfaits, il convient d'invoquer le nom d'Allah, le Miséricordieux, le Compatissant. Ils ont coutume de vivre dans les ruines, les maisons inoccupées, les cisternes, les rivières et les déserts. Les Égyptiens affirment qu'ils sont la cause des tempêtes de sable. Ils pensent que les étoiles filantes sont des dards lancés par Allah contre les Djinns malfaisants.
Iblis est leur père et leur chef.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

sábado, 16 de abril de 2005

 
José María Sicilia (III)

A reinvenção do desenho ou o novo naturalismo



José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.



VII
En la tarde menos pensada,
tambaleante, de noviembre
algo
(afable embrión, dudosa pertenencia),
revestido de compañía, algo
te ata las manos,

algo
entre tú y esos nichos, tenues
calavernarios,

sinuosos y verticales.

VIII
Aunque cierres los ojos, ahí siguen
— en espigas tal vez mudados...

Acá,
su roto palpitar

Y allá, su fugitivo

perfil

(En un parage
romántico.)

IX
Los vientos arenosos se desgranan
sobre las cicatrices:
tiznados besos, abrasadas muecas,

remolinos fundados en un solo
instante de sabor.

Nieva ceniza.

Y, al no saber qué hacer, la sombra vuela

a reflejar su paso por otras sombras
embalsamadas:

la del gorjeo, que mira,

y la del juicio, que calla.

José-Miguel Ullán in Al aire de su vuelo, 1993.



José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.

 
Correio da Cassini



Enceladus passeia-se nos anéis do planeta gigante, deixando-se escorregar preguiçosamente, A Cassini fotografa esse momento de descontracção. Há momentos amáveis.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

 
Um livro



Da vasta obra de R. Guénon (1886-1950), um dos mais eminentes eruditos sobre simbólica do século XX, fundador da muito conceituada revista Etudes Traditionnelles (mais tarde a editora Éditions Traditionnelles, ambas já desaparecidas), destaco hoje a obra Aperçus sur l'initiation, obra fundamental e elucidante neste nosso tempo de instalados equívocos, principalmente nesta área, em que se geram constantes confusões entre o sagrado e o profano e em que o termo iniciação é, regra geral, reduzido à categoria de mera filiação doutrinária de carácter moralista. Partindo de uma compilação de artigos publicados na revista Etudes Traditionnelles, nos anos trinta, R. Guénon organiza-os e confere-lhes uma lógica sequêncial, abordando problemas tão complexos como Das condições da iniciação, Da regularidade iniciática, Síntese e sincretismo, Da transmissão iniciática, Organizações iniciáticas e sociedades secretas, Das qualificações iniciáticas, Iniciação real e iniciação sacerdotal, etc., com uma clareza e erudição notáveis.

 
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José María Sicilia (II)

A reinvenção do desenho ou o novo naturalismo


José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.


IV
No hace ruido de sí. (Quién se queja?)
(No éramos como hermanos?)
Cabecea al trasluz. No quisiera
al afuera volver... (Es mi vida?)

Y, al nada perseguir, anda perdida
tras hilo mediador o acorde mudo
de desamparo por ganar; gotea
un revés que está ahí, acá y allá
- cuando, al anhelo de surgir, resbala
por la humareda del vagar más frío...

O, en medio del invierno, a veces llega
a recalcar cómo transforma en copos
de sangre

la carícia,
lo desprendido,

algo
(afable embrión, dudosa pertenencia)
que, sin ser, ya de adentro es de nuevo
- en gesto, celo y duda - su visura
de eterna calavera, concedida
para apartarla.

V
Óseo abandono en el rincón sin nido,
inconcebible e incurable en todo,

calor y luz también junto al caído
pajarraco.

VI
Cómo crear sin fe
lo que no vemos?

Así te hieras,
paladar, no huyas
de inestable quietud,
de pausas recreadas a deshora
o gotas reunidas con trabajos
y lunas y dulzura
y desvaríos
que pasan del temblor
(Tocca una foglia il vento
Al ramo morto)
al transparente
musgo.

Escarba en paz, adormecida mano.

José-Miguel Ullán in Al aire de su vuelo, 1993.




José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.

 
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Correio da Cassini



Três minutos e meio de exposição foi o tempo que durou a "tirar" esta fotografia ao anel mais subtil de Saturno, o anel G. Os traços de luz visíveis correspondem a estrelas e ao seu movimento relativo nesses três minutos e meio. Para termos uma noção das grandezas basta dizer que, nesta imagem, a escala é de 10 Km por cada pixel.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

 
A ler na Voz do deserto

Os evangélicos tinham o hábito de dar nomes bíblicos aos seus filhos.
Daí que os Jónatas, Rebecas, Eunices e Isaques que os estimados leitores conhecem têm 75% de hipóteses de ser descendência de protestantes. A minha geração, mais aburguesada e semanticamente negligente, já nomeia por gosto. O gosto é o mais duvidoso critério dos países desenvolvidos. Gosto serve para comer gelados e comprar sapatos.
A verdade é que nunca afaguei na alcofa um Judas ou apanhei do chão a chucha a uma Jezabelzinha. O parâmetro metafísico-literário é muito bonito mas não resiste ao pragmatismo da hermenêutica.

 
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José María Sicilia

A reinvenção do desenho ou o novo naturalismo


José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.


I
Máscara de cristal / "cárdena, anubarrado"
para internarse en la guarida errante
del perdimiento.

II
Por algo ascienda lo que al tiempo mata,
doble mirada.
(Y, en la llama,
la estela
del ojo.)

Por algo gire lo que al tiempo ciega,
nueva mirada,
pues, de todas las formas, todas
quisieran verse con igual ternura
desdibujadas.

III
Borrosa geografía de lo resquebrajable:
entre nubes nocturnas, oxidados de esquivos, tres
clavos,

tres lentas negaciones del olvido: nieve
sobre esta flor y sobre la cabeza del asno
hostigado
y sobre algo
(afable embrión, dudosa pertenencia)
que se esconde de ser - "mientras pueda
ser sin luz!" - y se alienta en lo incierto,

tres leves negaciones del sentido,
mas nada
que ver con esa tentación de un tiempo
que a la fuerza se queda en figura
determinante,
flecha
que se clava en el sí, que se porta
como naturaleza contemplable: obra.

José-Miguel Ullán in
Al aire de su vuelo, 1993.



José María Sicilia, Serie Spell Bounl, 43x28 cm, 1992.

 
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Laudatores Temporis Acti


Foto de Alain Duplantier


Au XVII siècle, le capitaine portugais Luis Silveira, parle - bien qu'obliquement - dans son De Gentibus et Moribus Asiae (Lisbonne, 1669) d'une secte de l'Est - indienne ou chinoise, il ne le dit pas - qu'il appelle, en employant une formule latine: Laudatores Temporis Acti. Ce brave capitaine n'est ni un métaphysicien ni un théologien mais néanmoins il nous explique clairement la notion du temps passé telle que la conçoivent les membres de cette secte. Pour nous le passé n'est qu'une fraction du temps ou qu'une série de fractions qui un jour furent le présent et que la mémoire et l'histoire peuvent nous restituer plus ou moins fidèlement. Grâce à la mémoire et à l'histoire ces fractions du temps font évidemment partie du présent. Pour les membres de la Secte le passé est absolu; il n'a jamais eu de présent, on ne peut ni s'en souvenir ni même l'imaginer. On ne peut lui assigner ni unité ni pluralité car ce sont là des attributs du présent. On peut dire la même chose des membres de la Secte - si on peut se permettre le pluriel - à propos de leur couleur, de leur taille, de leur poids, de leur forme, etc. Il est impossible d'affirmer ou de nier quoi que ce soit au sujet des êtres de ce "Il était une fois" qui n'a jamais été. Silveira note le manque total d'espoir de cette secte; un tel Passé ne peut prétendre être adoré et ne peut offrir ni aide ni réconfort à ses adeptes. Si le capitaine nous avait donné le nom en langue vulgaire de cette curieuse communauté ou quelqu'autre indication la concernant, nous avancerions plus facilement dans notre recherche. Nous savons qu'ils n'avaient ni temples ni livres sacrés. Y a-t-il encore des membres de cette secte ou bien, avec leurs croyances obscures appartiennent-ils au passé?

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

 
Um livro



Num momento em que tanto se fala (e se tornou objecto comercial, por excelência) de cifras, documentos cifrados, e em que parece que tudo esconde uma verdade maravilhosa - um pouco à laia da teoria da conspiração -, esquecendo-se que a verdade nunca brilha em néons mas é, de um modo geral, extremamente árida para o grande público, talvez a leitura atenta desta obra faça sentido para alguns, provávelmente impensável para a grande maioria, ávida de pequenas descobertas e pequenos mistérios, regra geral, puras fantasias.
Introduction à une théorie des nombres bibliques
de Raymond Abellio e Charles Hirsch vem na sequência de longos estudos desenvolvidos nesta área a partir do ensaio, publicado por R. Abellio em 1950, sob o título La Bible, document chiffré. Em Introduction à une théorie des nombres bibliques, R. Abellio e C. Hirsch retomam os modos operatórios da antiga gematria, sem esquecerem os planos semânticos e fenomenológicos, essenciais a uma correcta interpretação. A tese da estrutura absoluta, defendida por Abellio em 1965, regressa aqui com outros argumentos.


terça-feira, 12 de abril de 2005

 
Cronos ou Hercule


Foto de Willian Ropp


Le traité Doutes et solutions sur les premiers principes du néo-platonicien Damaskios enregistre une curieuse version de la théogonie et cosmogonie d'Orphée, dans laquelle Cronos - ou Hercule - est un monstre:

Selon Jérôme et Hellanicos (si les deux ne sont pas un seul), la doctrine orphique enseigne qu'au commencement il y eut de l'eau et de la boue, avec quoi on pétrit la terre. Ces deux principes il mit comme premiers: eau et terre. D'eux sortit le troisième, un dragon ailé, qui par-devant montrait la tête d'un taureau, derrière celle d'un lion et au milieu le visage d'un dieu; on l'appela Cronos qui ne vieillit pas et aussi Héraklès. Avec lui est née la Nécessité, qui s'appelle aussi l'Inévitable, et qui se répandit sur l'Univers et qui toucha ses confins... Cronos, le dragon, tira de soi une triple semence: l'humide Ether, l'illimité Chaos et le nébuleux Erèbe. Sous eux il pondit un oeuf, d'où sortirait le monde. Le dernier principe fut un dieu qui était homme et femme, avec des ailes d'or au dos et des têtes de taureau aux flancs, et sur la tête un dragon démesuré, pareil à toutes sortes de bêtes...

Peut-être parce que ce qui est exorbitant et monstrueux semble moins propre à la Grèce qu'à l'Orient, Walter Kranz attribue à ces inventions une provenance orientale.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

 
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Correio da Cassini



Novamente a Cassini colocada exactamente no plano dos anéis de Saturno. A finíssima linha riscada no espaço esconde a verdadeira grandeza dos anéis de que só temos noção pela sombra deixada no hemisfério norte do planeta.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

 
Quarta-feira, 13, em Nova York



Se algum dos leitores deste blog estiver em Nova York ou nas proximidades, faça favor de não deixar de assistir à conferência de Alex Katz às 6,30 da tarde da próxima quarta-feira, 13, no American Federation of Arts, 41 East 65th Street. Alex Katz é um dos mais importantes pintores do chamado novo realismo americano. Nascido em 1927, Katz expôs, pela primeira vez, em Nova York, em 1954. Em 1986, o Whitney Museum organizou a grande retrospectiva da sua obra. Katz encontra-se representado em todas as importantes colecções do mundo, desde o Pompidou, ao Reina Sofia, passando pela Tate e a colecção Guggenheim. Alex Katz falará do seu trabalho e do seu processo criativo.
Os lugares têm de ser reservados com Caroline Babson pelo telefone 212.988.7700.

 
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Correio da Cassini



Desta última aproximação da Cassini a Titan surge esta fotografia inesperada: Saturno encoberto pela densa atmosfera de Titan. Apenas se consegue ver o hemisfério norte do planeta gigante com a sombra dos anéis traçada na sua superfície.


domingo, 10 de abril de 2005

 
Le double



Foto de Andi Lonita


Suggéré ou stimulé par les miroirs, les plans d'eau et les frères jumeaux, le concept du Double est commun à nombreux pays. On peut supposer que des devises comme "Un ami est un autre moi-même" de Pythagore ou le "Connais-toi toi-même" platonicien s'en sont inspirées. En Allemagne on l'appela le Doppelgaenger; en Écosse, le Fetch car il vient chercher (fetch) les hommes pour les mener à la mort. Se retrouver face à soi-même est donc funeste; la tragique ballade Ticonderoga de Robert Louis Stevenson rapporte une légende sur ce sujet. Souvenons-nous aussi de cet étrange tableau de Rossetti, How they met themselves, où deux amants se retrouvent face à eux-mêmes dans le crépuscule d'un bois. On pourrait prendre des exemples analogues dans l'oeuvre d'Hawthorne, de Dostoïevski et d'Alfred de Musset.
Pour les juifs, au contraire, l'apparition du Double n'était pas le présage d'une mort prochaine. C'était la certitude d'avoir atteint l'état prophétique. C'est ce qu'explique Gershom Scholem. Une tradition recueillie par le Talmud raconte le cas d'un homme en quête de Dieu qui se retrouva devant lui-même.
Dans le récit d'Edgar Poe, William Wilson, le Double est la conscience du héros. Celui-ci le tue et meurt. Dans la poésie de Yeats, le Double est notre envers, notre contraire, notre complément, celui que nous ne sommes pas et ne serons jamais.
Plutarque a écrit que les Grecs donnèrent le nom d'"autre moi-même" au représentant d'un roi.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

sábado, 9 de abril de 2005

 
Um livro



Obra fundamental no estudo das religiões, este Traité d'Histoire des religions de Mircea Eliade teve a sua primeira edição em 1949. Nascido em 1907, Eliade instala-se em Paris depois da II Guerra onde lecciona na Escola Prática de Altos Estudos. Em 1957 é nomeado professor do departamento de História das religiões da universidade de Chicago. Traité d'Histoire des religions é uma obra densa em que Eliade faz um levantamento exaustivo das religiões à face do planeta, encontrando pontos de contacto entre fenómenos aparentemente separados no espaço e no tempo. Esta obra é, antes de mais, um magnífico exemplo da profunda erudição de Mircea Eliade, principalmente no que se refere à explanação da estrutura e funcionamento do pensamento mítico e às noções de arquétipo e repetição, tão caras ao autor. Com um belo prefácio de Georges Dumézil, existe uma versão portuguesa, com tradução de Fernando Tomaz e Natália Nunes, das Edições Asa, editada em 1992.

 
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Correio da Cassini



Esquecemo-nos, com frequência, da aceleração brutal com que tudo se passa no espaço. Aqui a Cassini, em movimento, fotografa Titan, em movimento. Cinéticamente, tudo parece ilusório, como se, na realidade, não existisse. Só quando a realidade é fragmentada nos é acessível.


sexta-feira, 8 de abril de 2005

 
Ter paciência é... uma pequena virtude

O Barnabé, que é um blog de que não gosto, continua a sua caminhada facciosa pela mão iluminada de Daniel Oliveira. Pelos vistos a esquerda em Portugal, mal curada do processo histórico, continua a ser complacente com os pequenos conjuntos de ideias - a que pomposamente, de forma, no mínimo, pirosa teima em chamar ideologias -, continuando sempre a não pôr no mesmo pé as ditaduras de direita e de esquerda (da mesma maneira que os mortos de direita são reaccionários e os de esquerda são mártires). A resposta a Daniel Oliveira - de que os ditadores precisavam (tirei o "de" do Daniel Oliveira para, pelo menos, a pergunta ficar em bom português) fazer um grande esforço para se darem bem com Karol Wojtila - fica na impossibilidade deste eminente bloguista publicar uma fotografia do Papa com Kim Jong II, pequeno "rei" da Coreia do Norte. Provavelmente, por ser um pequeno monolito estalinista, com poder nuclear, e a fazer "frente" aos "malditos imperialistas" americanos, escumalha do mundo, de um mundo que poderia ser justo e livre se fosse regido como é a Coreia do Norte, faz com que Daniel Oliveira não entenda que, não se podendo contabilizar o horror, Pinochet foi, de facto, um menino de coro comparado com o regime que a Coreia do Norte vive desde a década de 40.

 
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Démons du judaïsme


Foto de Anjel Burbano

La superstition judaïque croyait à l'existence, entre le monde de la chair et celui de l'esprit, d'un univers peuplé d'anges et de démons. Le recensement de sa population dépassait les possibilités de l'arithmétique. L'Égypte, le Royaume de Babylone et la Perse contribuèrent, au cours du temps, à la formation de cet univers fantastique. À cause, peut-être, de l'influence chrétienne - comme le suggère Trachtenberg - la Démonologie ou Science des Démons eut moins d'importance que l'Angélogie ou Science des Anges.
Citons pourtant Keteh Meriri, Seigneur du Milieu du Jour et des Étés Torrides. Des enfants qui allaient à l'école le rencontrèrent; tous moururent sauf deux. Durant le XIII siècle, la Démonologie judaïque se peupla d'intrus latins, français et allemands qui finirent par se confondre avec les démons que cite le Talmud.

J.L. Borges e Margarita Guerrero in Le Livre des Êtres Imaginaires, 1978.

 
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Correio da Cassini




Tethys surge-nos aqui na sua órbita silenciosa, seguindo de perto o rasto delicado que os anéis traçam no negro do espaço.

quinta-feira, 7 de abril de 2005

 
Um livro







Uma parte crescente das nossas vidas é passada em supermercados, aeroportos, hotéis, auto-estradas, frente à televisão, computadores ou máquinas multibanco. Esta invasão de lugares descaracterizados a que Marc Augé chama "non-places" tem como resultado uma alteração profunda da consciência: o entendimento torna-se parcial e, de alguma forma, incoerente. Marc Augé usa o conceito de supermodernidade para explicar a lógica deste fenómeno próprio das sociedades de consumo contemporâneas. Essa lógica prende-se com o excesso de informação e com o excesso de espaço. Começando por tentar distinguir e distanciar a antropologia da História, Augé traça as distinções entre os lugares com identidade e história e os "non-places", lugares em que os indivíduos se conectam uniformemente e onde nenhuma vida social orgânica é possível. Ao contrário do conceito de modernidade de Baudelaire em que o velho e o novo interagem livremente, este conceito de supermodernidade apresenta-se com uma imensa carga de contenção. Os lugares contemporâneos são apresentado sem "espessura", como se tudo se tratasse de postais ilustrados ou publicitários. Augé alerta para a cada vez maior existência de "non-places", fazendo com que as nossas vidas pareçam estar em permanente trânsito, provocando uma nova forma de solidão, sem dúvida, um novo objecto antropológico.
Estando a edição original francesa desta obra completamente esgotada, o livro aqui apresentado é a edição inglesa traduzida por John Howe, Non-places, introduction to an antropology of supermodernity.


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